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sexta-feira, outubro 01, 2021

Gasolina mais cara: 4 motivos para disparada de preço dos combustíveis

 




Preço da gasolina subiu mais de 30% em 2021

Por Camilla Veras Mota, em São Paulo

O preço médio da gasolina no país segue firme acima de R$ 6 — e passa de R$ 7 em algumas localidades.

Os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontam a oitava alta consecutiva na semana até 25 de setembro, em meio a novos recordes na cotação do barril de petróleo e de temores de uma crise energética na Europa.

Entenda, a seguir, quatro fatores que ajudam a explicar por que os preços subiram tanto nos últimos meses — e por que a tendência, pelo menos no curto prazo, não é de alívio.

1. Aumento da demanda

A cotação do petróleo vem em uma sequência de alta forte desde o início do ano. O preço do barril do tipo Brent, referência internacional, passou de US$ 80 na terça-feira (28/9) pela primeira vez desde outubro de 2018.

Uma parte do aumento se deve à maior demanda. Os programas de vacinação contra a covid-19 têm permitido que diversos países reabram suas economias — e o impacto da retomada tem sido em algumas regiões mais forte do que o esperado.

Mas essa não é a única razão.

Como explica a professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Julia Braga, a China vem usando mais gás natural como substituto do carvão em suas termelétricas. A medida é parte do esforço do país para cumprir as metas para redução da emissão de poluentes e entra na política de médio e longo prazo de transição energética da China.

"Isso também pressiona o preço do barril", ressalta.

O preço do gás natural disparou nas últimas semanas com o maior consumo também na Europa, surpreendida pela redução da geração de energia renovável, que vinha tendo papel cada vez mais importante na matriz da região.

Muitos dos parques eólicos do continente estão produzindo menos do que a capacidade porque tem ventado menos. Nesta quarta (29/9), a SSE Renewables, empresa britânica do setor, afirmou em comunicado que sua produção entre abril e setembro ficou 32% abaixo do previsto e apontou como uma das razões o fato de o último verão ter sido um dos que menos ventou na Irlanda e Reino Unido.

O cenário acendeu um alerta entre as autoridades, ante a iminência da chegada do inverno no continente, quando o consumo de energia sazonalmente cresce.

'Produção entre países da Opep tem crescido em ritmo mais lento do que a demanda'

2. Restrição de oferta

Se a demanda por petróleo e derivados cresceu de um lado, a oferta não acompanhou.

Uma das razões vem da própria dinâmica da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), um cartel que reúne 13 países e concentra cerca de 33% da produção global da commodity (por volta de 30 milhões de barris por dia).

O grupo muitas vezes limita a produção para evitar quedas substanciais nos preços ou mesmo valorizar a cotação do barril.

Isso aconteceu no ano passado, quando a Opep decidiu cortar a produção por conta da pandemia. As atividades estão sendo normalizadas gradativamente, com a expectativa de que a oferta seja completamente retomada até dezembro de 2022.

A demanda, contudo, vem crescendo em ritmo mais rápido.

O salto no preço do barril nos últimos meses tem levado países como os Estados Unidos a pressionar a Opep e seus aliados (que formam, com a organização, a Opep+) a acelerar a retomada. Assim como no Brasil, o preço da gasolina nos EUA deu um salto em 2021.

'Dólar se mantém resistente acima de R$ 5'

3. Dólar alto

A valorização do barril de petróleo tem um duplo efeito para países como o Brasil, que passam por uma profunda desvalorização cambial.

O preço sobe não apenas porque a commodity em si custa mais, mas porque o dólar também está mais caro.

Uma série de fatores explica porque a moeda americana tem se mantido em patamar elevado, acima de R$ 5 por dólar. Alguns são externos, como a expectativa de aumento de juros nos Estados Unidos e de retirada do programa de estímulos monetários, outros, internos.

"Aí entra muito da crise institucional, a briga entre os poderes", explica Braga.

"E essa imagem muito ruim que o Brasil passa para o mundo inteiro, não apenas na parte política, mas também a visão anti-Ciência [do governo], a política ambiental, com aumento das queimadas, em um momento em que o mundo está cada vez mais sensível a essas questões. Tudo isso acaba afetando a decisão dos investidores internacionais de apostar no Brasil", avalia.

'Política de preços da Petrobras acompanha mercado internacional desde 2016'

4. Elevação dos preços de biocombustíveis

Os biocombustíveis que entram na composição da gasolina e do diesel também experimentam forte alta, contribuindo para pressionar o preço final dos combustíveis.

O álcool anidro responde por 27% do litro da gasolina vendida dos postos; já o biodiesel hoje equivale a 10% do diesel que sai das bombas.

O primeiro acumula alta de quase 60% desde o início do ano, conforme os dados do Cepea/Esalq. O salto é consequência direta dos efeitos climáticos adversos que têm se abatido sobre o país: a falta de chuvas e as geadas de junho e julho reduziram a produção das lavouras de cana-de-açúcar, sua matéria-prima.

A soja usada no biodiesel, por sua vez, também está mais cara. Com maior demanda e a oferta também prejudicada pelas estiagens, a cotação da commodity acumula alta de mais de 70%.

'Plano estratégico da Petrobras foca na extração e reduz refino'

E a Petrobras?

O dólar e a cotação do petróleo vêm tendo mais influência sobre os preços de combustíveis no Brasil desde 2016, quando a Petrobras passou a praticar o Preço de Paridade Internacional (PPI), que se orienta pelas flutuações do mercado internacional.

A mudança de política foi uma resposta ao controle de preços que vigorou na estatal entre 2011 e 2014 como parte de uma estratégia do governo da então presidente Dilma Rousseff (PT) para segurar a inflação.

O caixa da companhia foi duramente afetado. De um lado, arrecadava menos que o potencial; de outro, chegava a subsidiar o preço, importando muitas vezes combustível mais caro e vendendo-o mais barato no mercado interno para fazer frente à demanda.

Os desequilíbrios levaram a empresa a elevar seu nível de endividamento, comprometendo a capacidade de investimento. Esse também foi um período em que bilhões em recursos foram desviados em grandes esquemas de corrupção.

Apesar de a estatal não ter monopólio sobre o refino no Brasil, a Petrobras ainda é a principal fornecedora de combustíveis no país. É dona de 13 das 18 refinarias em território nacional e concentra 98,6% da capacidade total de produção, conforme os dados da ANP relativos a 2020. Assim, os preços praticados pela empresa acabam tendo reflexo sobre toda a cadeia.

É uma companhia de economia mista e com capital aberto, com investidores privados. A União, contudo, é acionista majoritária.

Nos últimos anos, a companhia não apenas mudou sua política de preços. Ela também mudou seu foco, hoje mais concentrado na extração de petróleo do que no refino, pontua a professora da UFF Julia Braga. O chamado "plano de desinvestimento" da estatal prevê a venda de 8 de suas 13 refinarias.

"O pré-sal é um sucesso retumbante, tem um custo baixíssimo, enquanto a parte do refino não tem tanta competitividade. Então prevaleceu essa ideia de 'desverticalizar' para preservar sua geração de lucro", afirma a economista.

Uma capacidade menor de refino, diz a economista, significa maior dependência das importações, o que deixa a empresa com menor margem de manobra para amortecer as flutuações do mercado internacional sobre os preços.

"Agora a gente está vendo que esse outro extremo [em termos de visão para a empresa] 'cobra seu preço'. Você perde esse instrumento que poderia ser usado para tentar não repassar de imediato toda a volatilidade que se vê nos preços do petróleo", completa.

E o ICMS?

No caso da gasolina, a Petrobras responde por cerca de 34% do preço pago pelos consumidores. A estrutura de precificação foi utilizada nesta semana pelo presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, como argumento para defender a atual política de preços. Na ocasião, ele afirmou que "tudo o que excede R$ 2" não é responsabilidade da companhia.

Além dos 34% da Petrobras, cerca de 16,5% representam o custo do etanol anidro, 10,7% vão para distribuição e revenda, 11,3% correspondem aos tributos federais PIS/Pasep e Cofins e 27,7% ao ICMS, tributo estadual.

Há meses o ICMS tem sido objeto de atritos entre o governo federal e os Estados. No fim de agosto, Bolsonaro chegou a afirmar em entrevista que a alta dos combustíveis se devia à "ganância dos governadores".

Nesse sentido, Braga pondera que as alíquotas de ICMS praticadas pelos Estados não foram alteradas e, assim, não se pode atribuir o aumento nos preços ao tributo.

O valor nominal de ICMS pago por litro de combustível cresceu porque seu custo, usado como base para o cálculo, está maior.

As alíquotas, contudo, são as mesmas praticadas antes da atual crise: tanto em maio do ano passado, quando a gasolina custava em média R$ 4,00, quanto neste mês de setembro, com o preço a R$ 6, o percentual cobrado em São Paulo, por exemplo, é o mesmo, 25%. 

BBC Brasil

O espetáculo na pandemia

 



Os líderes da CPI precisam levar em conta as mudanças de cenário e não perder o foco. O objetivo não é promover um carnaval midiático

Por Luiz Carlos Azedo 

Ninguém tem dúvida de que a CPI da Covid no Senado tornou-se o epicentro da disputa política entre governo e oposição na conjuntura marcada pelo novo coronavírus. Entretanto, a pandemia está sendo domada, na medida em que a vacinação avança, enquanto o desemprego e a alta da inflação, dos juros e da cotação do dólar começam a ser os fatores de maior repercussão na vida da população. Ou seja, a urgência política está mudando e a comissão começa a perder o protagonismo que tinha, apesar de o elevado número de óbitos por covid-19 ter se tornado um trauma que enluta mais de 600 mil famílias. É muita gente.

O depoimento do empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, ontem, na CPI, ilustra a nova situação, na sequência das espantosas revelações da advogada Bruna Morato, na terça-feira, cujo relato da rotina de ameaças a médicos da operadora de saúde Prevent Senior durante a pandemia foi estarrecedor. Enquanto Morato denunciou a falta de autonomia dos profissionais, a exigência da prescrição de remédios ineficazes e o envolvimento da empresa em um “pacto” com o chamado “gabinete paralelo” do Palácio do Planalto, Hang fez de seu depoimento um case de marketing político e comercial ao confrontar a CPI, porque sustentou as posições negacionistas de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, e ainda aproveitou para fazer propaganda de sua cadeia de lojas de departamentos.

Segundo o relator da CPI, senador Renan Calheiros(MDB-AL), Hang orientava o presidente sobre condutas para o enfrentamento da pandemia e fazia parte do chamado “gabinete paralelo”, supostamente o estado-maior da política de enfrentamento da pandemia executada pelo Ministério da Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello. A grande contradição de seu depoimento foi o fato de não ter questionado o atestado de óbito de sua mãe, que morreu de covid-19, quando estava sob os cuidados da Prevent Sênior — a informação não consta como causa mortis no documento. O empresário admitiu que autorizou a utilização do chamado kit covid durante o tratamento, porém atribuiu a subnotificação a um erro do plantonista e não à intenção de omitir o fato da opinião pública.

Outras prioridades

Mais importante do que o conteúdo do depoimento, porém, foi o circo armado pelo “velho da Havan” e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na própria CPI, cuja sessão foi das mais tumultuadas. Hang foi evasivo e driblou perguntas feitas pelos senadores sobre a operadora de saúde Prevent Senior, o que irritou o presidente da comissão, senador Omar Azis (PSD- AM), e o chamado grupo dos sete, formado por senadores de oposição e independentes. A maior utilidade do depoimento foi revelar que a atuação de empresários bolsonaristas na pandemia, a estratégia adotada pela Prevent Sênior e a política de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde estavam em linha com o propósito de Bolsonaro de manter a economia funcionando a qualquer custo, mesmo que o preço a pagar fosse o alto número de óbitos, como acabou acontecendo.

A chamada “sociedade do espetáculo” é considerada uma forma perversa de ser da sociedade de consumo. Trata-se da multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum. É um fenômeno contemporâneo, que vem sendo estudado há mais de 50 anos, cuja característica principal é a transformação das relações entre as pessoas em imagens e espetáculo, como acontece nas redes sociais. Não existe mais um limite entre a realidade e o espetáculo.

É aí que os líderes da CPI precisam levar em conta as mudanças de cenário e tomar cuidado para não perderem o foco. O objetivo da comissão não é promover um carnaval midiático, no qual os critérios de verdade e validade acabam diluídos pela retórica do conflito político, como aconteceu na sessão de ontem. Talvez seja a hora de os integrantes da CPI priorizarem a elaboração de um relatório robusto, no qual os responsáveis pela tragédia humanitária em que se converteu a pandemia sejam apontados com rigor, bem como os crimes cometidos, devidamente tipificados e comprovados. Ou seja, é preciso partir para os “finalmentes”.

Correio Braziliense

Por que preço global de alimentos hoje é um dos mais altos da História moderna




O preço dos alimentos tem subido nos últimos anos, mas agora atingiu patamares inéditos na história recente

Por Alastair Smith*, The Conversation

Os preços dos alimentos no mundo dispararam quase 33% em setembro de 2021 em comparação com o mesmo período do ano anterior.

O dado é do índice de preços de alimentos mensal da Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, que também identificou que os preços globais subiram mais de 3% desde julho, alcançando níveis que não eram vistos desde 2011.

O índice de preços dos alimentos é programado para registrar o resultado das alterações combinadas de preço numa gama de produtos alimentícios, entre eles azeites vegetais, cereais, carne e açúcar - e compará-los mês a mês.

Ele converte os preços praticados atualmente em um índice, que os compara aos níveis de preços médios entre 2002 e 2004. Esta é a fonte padrão para rastrear os preços dos alimentos, conhecidos como preços nominais (que não são ajustados pela inflação).

Embora os preços nominais nos digam o custo monetário da compra de alimentos no mercado, os preços ajustados pela inflação(o que os economistas chamam de preços "reais") são muito mais relevantes para a segurança alimentar: demonstram a facilidade com que as pessoas podem ter acesso à sua própria nutrição.

Os preços de todos os produtos e serviços tendem a aumentar mais rapidamente do que a renda média (embora nem sempre). A inflação significa que os consumidores não só têm que pagar mais por unidade de alimento (devido ao aumento do preço nominal), mas também têm proporcionalmente menos dinheiro para gastar com isso, devido ao aumento paralelo dos preços de tudo o mais, exceto de seus salários e outros proventos. .

Em agosto passado, analisei o Índice de Preços de Alimentos da FAO ajustado pela inflação e descobri que os preços globais reais dos alimentos estavam mais altos do que em 2011, quando os distúrbios alimentares contribuíram para a derrubada de governos na Líbia e no Egito.

'Protestos no Oriente Médio e Norte da África por causa do alto preço dos alimentos contribuíram para a queda de vários governos'

Com base nos preços reais, atualmente é mais difícil comprar alimentos no mercado internacional do que em quase qualquer outro ano desde que a ONU começou a registrar esses dados, em 1961. As únicas exceções são 1974 e 1975- aumentos que ocorreram após um pico no preço do petróleo em 1973, que gerou inflação acelerada em vários setores da economia global, incluindo produção e distribuição de alimentos.

Então, o que está levando os preços dos alimentos a altas recordes agora?

Preço dos combustíveis, clima e covid-19

Os impulsionadores dos preços médios internacionais dos alimentos são sempre complicados. Os preços dos diferentes produtos sobem e descem com base em fatores universais, bem como com base em fatores que são específicos de cada produto e região.

Por exemplo, a alta do preço do petróleo iniciada em 2020 afetou os preços de todos os produtos alimentícios do índice da FAO, ao elevar os custos de produção e transporte de alimentos.

A escassez de mão-de-obra como resultado da pandemia de covid-19 reduziu a disponibilidade de trabalhadores para cultivar, colher, processar e distribuir alimentos- outra razão universal para o aumento dos preços das commodities.

Mas o preço médio real dos alimentos vem subindo desde 2000, revertendo a tendência de queda anterior, iniciada na década de 1960.

Apesar dos esforços globais - que, em parte, responderam às metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e subsequentes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para reduzir a fome - os preços têm consistentemente tornado os alimentos menos acessíveis.

'Os consumidores não só têm de pagar mais caro por cada alimento, mas também têm renda que vale menos'.

Cultivos cruciais

Nenhum produto tem sido consistentemente responsável pelo aumento do preço real médio desde 2000. Mas o índice de preços dos óleos comestíveis aumentou significativamente desde março de 2020, impulsionado principalmente pelos preços dos óleos vegetais, que dispararam 16,9% entre 2019 e 2020. De acordo com os relatórios da FAO, isso foi devido ao aumento da demanda por biodiesel e padrões climáticos que não contribuíram para a produção rural.

A outra categoria de alimentos com maior efeito no aumento dos preços é o açúcar. Aqui, novamente, o clima desfavorável, incluindo danos causados ​​pela geada no Brasil, reduziu a oferta e inflou os preços.

Os grãos contribuíram menos para o aumento geral dos preços, mas sua disponibilidade em todo o mundo é particularmente importante para a segurança alimentar. Trigo, cevada, milho, sorgo e arroz são responsáveis ​​por pelo menos 50% da nutrição global e até 80% nos países mais pobres.

O estoque global armazenado dessas safras tem diminuído desde 2017, já que a demanda superou a oferta. A queda nos estoques ajudou a estabilizar os mercados globais, mas os preços subiram acentuadamente desde 2019.

Novamente, as razões por trás das flutuações de cada alimento são complicadas. Mas uma coisa que merece atenção é o número de vezes, desde 2000, que clima "imprevisível" e "desfavorável" tem sido relatado pela FAO como causa de "expectativas de safra reduzidas", "safras afetadas pelo clima" e "declínio da produção".

Medidas urgentes

Os europeus podem só se preocupar com o preço do macarrão quando as secas no Canadá reduzirem a safra de trigo. Mas, à medida que o índice de preço real dos grãos se aproxima dos níveis que transformaram protestos pelo preço do pão em grandes revoltas em 2011, há uma necessidade urgente de considerar como as comunidades em regiões menos ricas podem lidar com essas tensões e evitar distúrbios.

Nossa capacidade tecnológica e organização socioeconômica não conseguem lidar com condições climáticas imprevisíveis e desfavoráveis. Este seria um bom momento para imaginar o abastecimento de alimentos em um mundo mais quente em mais de 2° C, um resultado que hoje é considerado cada vez mais provável de acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

Sem mudanças radicais, a deterioração do clima continuará a reduzir o acesso internacional aos alimentos importados, muito além de qualquer precedente histórico.

'O aquecimento global deve afetar a segurança alimentar de milhões de pessoas pelo mundo'

Preços mais altos reduzirão a segurança alimentar e, se há alguma certeza sólida nas ciências sociais, é que pessoas que passam fome são capazes de adotar medidas radicais para garantir seu sustento.

*lastair Smith é professor de Desenvolvimento Global Sustentável na University of Warwick, Reino Unido

BBC Brasil

Estátua acusada de sexismo provoca polêmica reveladora

 




O curioso é que a censura sempre foi repudiada como algo associado a ditaduras, particularmente ditaduras de direita. Mas, ultimamente, a censura vem sendo reabilitada e claramente defendida pelo campo dito progressista como uma arma de defesa da democracia. 

Por Luciano Trigo 

Uma controvérsia interessante está em curso. Começou em uma pequena cidade na Itália, mas já tem repercussão internacional. No último domingo, foi inaugurada em Sapri, com a presença de políticos locais e nacionais, a estátua "La Spigolatrice di Sapri" (“A respigadora de Sapri”). Trata-se de uma escultura do artista Emanuele Stifano que retrata, com um vestido transparente e um braço cobrindo os seios, a personagem de um famoso poema escrito por Luigi Mercantini em 1857.

As reações foram imediatas. Uma deputada declarou que a estátua “é uma ofensa às mulheres”: “Como as instituições podem aceitar a representação das mulheres como um corpo sexualizado?”, perguntou. Um grupo feminista foi além, exigindo a imediata destruição da escultura de bronze. O argumento: “Mais uma vez, temos que sofrer a humilhação de nos ver representadas sob a forma de um corpo sexualizado, sem alma e sem qualquer conexão com as questões sociais e políticas da História." O episódio é revelador de diferentes aspectos do nosso confuso Zeitgeist, do estranho espírito do nosso tempo, do sufocante clima de guerra cultural que estamos atravessando. Abordarei a seguir, de forma aleatória e assistemática, alguns aspectos reveladores dessa polêmica, todos eles entrelaçados – sempre partindo da premissa de que o debate é legítimo.

Censura

Evidentemente, a mobilização em curso contra a estátua subentende uma legitimação da censura. A premissa é: se eu julgo que uma obra de arte ofende a mim ou ao grupo a que pertenço, tenho o direito de exigir que ela seja censurada e destruída. Em outras palavras: há situações em que a censura é não somente aceitável, como também recomendável.

O curioso é que a censura sempre foi repudiada como algo associado a ditaduras, particularmente ditaduras de direita (ainda que, hoje, sejam as ditaduras de esquerda as que mais censuram). Mas, ultimamente, a censura vem sendo reabilitada e claramente defendida pelo campo dito progressista como uma arma de defesa da democracia.

Muita gente que se acha “do bem” sente um prazer quase sexual quando qualquer manifestação (artística ou não) contrária às suas convicções é censurada, inconsciente (ou não) de que a censura representa uma ameaça à sua própria liberdade.

Moralismo

O que foi dito acima remete ao fenômeno mais amplo que é a ascensão do moralismo de esquerda. Outra estranha inversão acontece aqui: atitudes moralistas eram invariavelmente associadas à direita e costumavam ser interpretadas como estúpidas e reacionárias. Mas, hoje, o moralismo – quando convém – é abraçado com entusiasmo pelo campo progressista.

Objetivamente, a estátua em questão retrata uma mulher jovem e bonita usando um vestido transparente, algo que só pode causar escândalo em moralistas. E a melhor definição de moralismo que já li é: o moralismo é uma patologia da moral: é a tentativa de imposição ao conjunto da sociedade de valores e padrões morais e estéticos singulares, circunscritos a um grupo ou ideologia.

Mas o campo progressista acha que tem esse direito de impor sua visão de mundo sobre os demais, porque acredita (ou finge acreditar) ser a detentora do monopólio das boas intenções e da superioridade moral, que dispensa qualquer autocrítica.

Belezafobia

Mas o que incomoda na escultura em questão não é nem poderia ser a (semi)nudez da mulher, desde sempre presente na História da arte: é a opção do artista por representar a personagem de um poema como uma mulher jovem, bonita e “sexualizada”.

A beleza e o “sex appeal” são hoje inaceitáveis. Se vivemos em uma sociedade que garante a todos o direito de apontar o dedo e se fazer de vítima, uma sociedade onde tudo ofende, inclusive o mérito, eu tenho o direito de ficar ofendido diante da representação artística de um corpo sensual: só aceito representações assexuadas do ser humano, e quem discordar de mim é fascista.

Nesse contexto, está se tornando algo normal e aceitável censurar imagens de jovens, para não ofender os idosos; censurar imagens de pessoas magras, para não ofender as gordas; censurar imagens de pessoas saudáveis, para não ofender às doentes; censurar imagens de pessoas bem-sucedidas, para não ofender as fracassadas.

Em 2018 eu já escrevia sobre isso em um artigo sobre a proibição da FIFA de exibir imagens de torcedoras bonitas nas transmissões dos jogos da Copa do Mundo. De lá pra cá, a coisa só piorou:

“Em qualquer lugar e em qualquer época a beleza sempre foi um fato da vida. Um passeio pela História da Arte mostra que os padrões variam, mas sempre haverá pessoas que se destacam – e despertam inveja - por serem bonitas. Mas, se o belo sempre incomodou e até ofendeu, pela primeira vez na História o ressentimento de quem não suporta a beleza alheia ousou sair do armário.

Vocalizado e amplificado pelas redes sociais, o ressentimento ganha ares de virtude, e o “ódio do bem” prospera em um ambiente onde todos sentem prazer em apontar o dedo para o outro. Vinicius de Moraes seria hoje linchado em praça pública se pedisse desculpa às feias e afirmasse que a beleza é fundamental. Porque, na nossa sociedade, são as bonitas que devem se desculpar. Morte ao belo, morte a tudo que agrada aos sentidos: serão estes os lemas da nossa época?”

Indignação seletiva

Este é talvez o aspecto mais preocupante e doentio da nossa época: a dupla moral, a capacidade que as pessoas demonstram, de cara lavada, de escolher os objetos de sua indignação conforme conveniências políticas do momento.

Periodicamente, o campo progressista se une na defesa da liberdade artística, bastando citar os casos recentes da performance que expôs uma menina de 6 anos ao contato com o corpo de um homem adulto nu (para deleite de uma plateia de adultos vestidos), e da exposição “Queermuseu”, que incluía, por exemplo, uma pintura representando “crianças viadas” e “crianças travestis”.

Na época, quem se sentiu ofendido foi desqualificado pelo campo progressista como reacionário ignorante, incapaz de compreender a profundidade das obras. Ou seja, as pessoas têm o direito de se revoltar contra a estátua de bronze de Sapri, mas não podem se sentir ofendidas diante de obras de arte que tangenciam a pedofilia.

Gazeta do Povo (PR)

Luciano Hang lidera bolsonarismo contra o Leviatã




Enquanto dono da Havan explora revolta contra poder do Estado na pandemia, Bolsonaro cuida de manter o espetáculo na outra ponta com carimbo sobre wi-fi e microcrédito

Por Maria Cristina Fernandes (foto)

O depoimento do dono das lojas Havan à CPI da Covid no Senado mostrou que a oposição ainda está despreparada para enfrentar o bolsonarismo na sucessão presidencial de 2022. Levou quatro horas para Luciano Hang começar a falar o que, de fato, importava para sua vinculação com o gabinete paralelo da pandemia e o financiamento das “fake news”.

Até lá, Hang teve palco para se apresentar como representante daquela fatia do eleitorado que está mais fechada com o presidente Jair Bolsonaro. Até vídeo-propaganda de sua empresa teve oportunidade de exibir. O Datafolha chama de empresários e o Atlas de empreendedores, mas os dois institutos convergem na constatação de que este é o segmento em que o presidente colhe seu melhor desempenho, com 48% de aprovação.

Entre eles não se incluem grandes empresários e banqueiros que se mobilizam por uma terceira via, mas donos de restaurantes e botecos, feirantes, cabeleireiras e empreendedores de toda ordem que se multiplicaram com a epidemia do desemprego. Eles se identificam com Bolsonaro porque seu negócio faliu ou foi severamente afetado pelas medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos.

Não são adoradores do presidente, mas é ele quem encarna hoje a rejeição ao Estado interventor, esse Leviatã que trancou as pessoas em casa, obrigou o uso de máscaras e multou estabelecimentos que desafiassem horários restritos de funcionamento. Esta mentalidade que remete ao monstro bíblico ao qual foi equiparado o Estado absolutista, foi vitaminada pela pandemia. Não se trata de um fenômeno tupiniquim. Acomete negacionistas no mundo inteiro e tem, no Brasil, um lídimo representante em Luciano Hang.

Até a CPI entrar no que realmente importa para vinculá-lo aos crimes da pandemia, o dono da Havan teve a oportunidade de buscar empatia com a plateia ao longo da sessão da CPI. Filho de operários, teve dislexia na infância e vendia biscoitos na escola. Foi operário até se arriscar como comerciante com uma pequena loja de tecidos.

Nega ser empresário, como o faria qualquer dono de bodega. Fala de si como comerciante, apesar de ter um conglomerado de 164 lojas em 20 Estados. Para todo pecado levantado pela CPI, apresentava uma história capaz de comover seus pares. Contas bancárias e offshores no exterior? Claro, como poderia importar sem uma empresa lá fora para amortizar a flutuação do câmbio? Empréstimos de R$ 27 milhões no BNDES? Sim, mas não porque precisasse. Fatura mais do que isso por dia. Passou a vender cestas básicas para se enquadrar no critério de atividade essencial? Sim, mas se pode vender chocolate por que não feijão e arroz?

É claro que foi contraditado pelos senadores. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), lembrou que enquanto dona Maria não consegue R$ 1 mil de crédito para comprar uma máquina de costura, o empresário que se veste de verde-amarelo para se fingir de patriota pegou dinheiro que não precisa. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL) tirou dele que os sites para onde destina R$ 150 milhões por ano em publicidade são escolhidos a dedo e mostrou vídeo em que Hang, ao contrário do que dissera, coagiu funcionários a votar em Bolsonaro em 2018.

Hang quis desenhar para os senadores a diferença entre tratamento preventivo e inicial com o kit covid quando, na verdade, nenhum dos dois funciona. Preparou, como clímax do depoimento, a imagem de filho zeloso que ganhara dinheiro para que os pais tivessem a vida digna que foi negada aos avós. Por isso, autorizou até kit-covid para salvar a mãe, mas foi obrigado a reconhecer a omissão da causa de sua morte no atestado de óbito.

Os senadores da oposição concluíram sua intervenção constatando a utilidade do depoimento. Será? O que o empresário disse naquela comissão que já não fosse do conhecimento do inquérito das “fake news” no Supremo Tribunal Federal ou da própria CPI? Há informações que ajudarão a compor o relatório, como o do encontro entre Hang e o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), horas antes da sessão. A dúvida que se coloca é a do custo-benefício do depoimento.

Os próprios senadores alertaram que uma rede de robôs havia entrado em ação para atacar seus perfis sociais durante a sessão. O filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que estava sumido da CPI, reapareceu com o claro intuito de provocar os colegas. Foi, em parte, bem sucedido, como mostraram as mãos trêmulas do senador Rogério Carvalho (PT-SE) quando exigiu que o advogado do depoente deixasse a sala por desacato.

As imagens do depoimento já foram devidamente editadas e caíram na rede para mostrar uma goleada de Hang, a começar pela transmissão ao vivo em rede social dos próprios deputados da tropa de choque bolsonarista, como Daniel Freitas (PSL-SC) e Bia Kicis (PSL-DF), lá presentes.

Não importa que esta goleada-fake se destine a convertidos como aqueles que lotaram a avenida Paulista no 7 de setembro. O presidente está dedicado à outra ponta do eleitorado. Não apenas com um auxílio emergencial vitaminado mas também com o carimbo que busca imprimir ao programa “Wi-fi para todos”, versão bolsonarista do petista “Luz para todos”, e, mais recentemente, com a investida para tomar o controle do Centrão sobre o microcrédito do Banco do Nordeste do Brasil.

Enquanto Hang mantém o picadeiro do circo armado, Bolsonaro cuida de garantir o sucesso de atrações como a da oposição ao seu próprio governo. Deixou isso claro no dueto com o presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, em torno do preço dos combustíveis. Um finge que bate enquanto o outro se mantém irredutível contra o intrépido presidente em sua luta contra a carestia.

Os espetáculos se sucedem enquanto Bolsonaro cuida, na coxia, de esticar a corda com o Centrão, como no BNB, certo de que três datas ainda terão que ser vencidas para que algum desembarque se concretize: a votação do Orçamento de 2022 até 31 de dezembro, o empenho das emendas parlamentares, em 2 de abril, e o encerramento de sua execução financeira, em 2 de julho. É este o prazo que a oposição tem para aprender a enfrentar o bolsonarismo sem dar palco para maluco.

Valor Econômico

Empresário bolsonarista defende postura negacionista na CPI




Empresário Otávio Fakhoury, suspeito de financiar notícias falsas sobre a pandemia, em depoimento à CPI no Senado

Otávio Fakhoury nega ter financiado disseminação de notícias falsas sobre a pandemia. Além de questionar vacinas contra covid-19, ele disse ser contra o uso de máscaras e defende o chamado "kit covid".

A CPI da Pandemia no Senado ouviu nesta quinta-feira (30/09) o empresário Otávio Fakhoury, suspeito de ter financiado a disseminação de notícias falsas sobre a pandemia de covid-19.  Ele também é investigado pelo Supremo Tribunal Federal em dois inquéritos sobre divulgação de notícias falsas e organização de atos democráticos, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Fakhoury é um dos idealizadores do partido Aliança pelo Brasil, que o presidente Jair Bolsonaro tentou criar, mas que ainda não obteve o número mínimo de assinaturas necessárias. 

Ele é vice-presidente do instituto Força Brasil, que tentou vender vacinas superfaturadas ao governo brasileiro por meio da Davati Medical Supply. Fakhoury é o atual presidente do diretório paulista do PTB, e em suas redes sociais se identifica como "conservador, antiglobalista, anticomunista". 

O empresário é do ramo imobiliário foi militante do grupo Vem Pra Rua durante os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Ele negou ser um divulgador de notícias falsas e disse que não tem relação pessoal com o presidente Jair Bolsonaro, e que tampouco coordena com ele a produção e disseminação de conteúdos. O empresário afirmou que não produz notícias nem é jornalista, mas "um cidadão com opinião". 

Instituto Força Brasil

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de convocação de Fakhoury, afirmou que o empresário havia sido identificado "como o maior financiador de disseminação de notícias falsas", que teriam sido distribuídas por canais como Instituto Força Brasil, Terça Livre e Brasil Paralelo.

Fakhoury é vice-presidente do Força Brasil, que, ao lado das outros portais de internet, compartilharam informações falsas para estimular o uso do "tratamento precoce" sem eficácia contra a covid-19 e questionando a necessidade de distanciamento social durante a pandemia.

O empresário afirmou não saber o motivo e o responsável por publicações do Instituto Força Brasil que questionavam as vacinas, criticavam o uso de máscaras e incentivavam o uso do "tratamento precoce". Ele também disse não saber por qual motivo o instituto tirou o site e suas páginas do ar depois que o presidente do instituto, Helcio Bruno, depôs à comissão.

O Força Brasil, que tentou vender vacinas superfaturadas ao governo brasileiro por meio da Davati Medical Supply e se apresentava como representante da farmacêutica AstraZeneca. A Davati ofereceu ao governo 400 milhões de doses do imunizante a preços superfaturados.

Bruno está implicado em outro ramo de investigação da CPI. Foi ele quem apresentou ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, a representantes da empresa Davati Medical Supply, envolvidos em uma negociação não concretizada para uma venda suspeita de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao governo federal, também no foco da CPI.

Negacionismo sobre covid-19

Fakhoury reafirmou na CPI sua defesa de práticas contrárias ao recomendado pela ciência para o enfrentamento da pandemia. Ele disse ser contra o uso de máscaras, questionou as vacinas contra a covid-19 e defendeu o uso de medicamentos do chamado "kit covid", que não são eficazes contra a doença e podem agravar o estado de saúde do paciente, como a cloroquina e a ivermectina.

"As vacinas têm que ser adquiridas e oferecidas pelo governo, porém ainda hoje se encontram em estágio experimental. A minha posição é que elas não devem ser obrigatórias. Aguardo o término dos testes para decidir se imunizo minha família ou não", disse Fakhoury.

Ele afirmou que o uso de máscaras só seria eficiente para os portadores de covid-19, e disse que sua família fez uso dos medicamentos do "tratamento precoce" contra a doença. Segundo Fakhoury, ele estaria exercendo sua liberdade de expressão ao se manifestar sobre esses temas.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, afirmou que Fakhoury estaria infringindo o artigo 268 do Código Penal, que pune infringir determinaçÃo do poder público para impedir propagação de doença contagiosa.

Financiamento de materiais de campanha pró-Bolsonaro

Fakhoury reconheceu durante a CPI que financiou materiais de divulgação da campanha de Bolsonaro em 2018, impressos por quatro grupos da região Nordeste. "Uma campanha feita pelas pessoas, por livre e espontânea vontade, que imprimiram seu material e saíam às ruas (...) Nunca fui solicitado por alguém da campanha", disse o empresário.

Renan mencionou que a Polícia Federal localizou notas fiscais emitidas por gráficas no Nordeste sobre a impressão de 560 mil itens de propaganda eleitoral para Bolsonaro sem declaração à Justiça Eleitoral.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO), apoiador do governo Bolsonaro, protestou que o tema não teria relação com o escopo da CPI.

Ataque homofóbico

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) ocupou por alguns minutos a cadeira da presidência da CPI da Pandemia para reagir a uma ofensa homofóbica feita por Fakhoury. Uma postagem do empresário no Twitter insinuava que Contarato teria se "cativado” por algum outro parlamentar, sugerindo que isso teria ocorrido em razão de sua orientação sexual.

Fakhoury ironizou um erro gramatical feito pelo senador ao postar um comentário sobre o depoimento à CPI do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.

Por erro de digitação, Contarato trocou o termo "estado flagrancial" por "estado fragancial". Fakhoury retuitou a postagem, e comentou: "O delegado [Contarato], homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário... Quem seria o 'perfumado' que lhe cativou?".

Depois das declarações iniciais do depoente, nas quais exaltou "valores familiares” como regras que regem sua atuação político-partidária, Contarato, que é homossexual,  ocupou a cadeira do presidente da CPI, Omar Aziz, para responder à ofensa.

Em uma fala emocionada, o senador disse ter orgulho de ser casado com um homem e ter dois filhos, e disse para Fakhoury: "O senhor não é um adolescente. O senhor é casado, tem filhos. A sua família não é melhor que a minha."

O senador também afirmou: "Eu sonho com o dia em que eu não vou ser julgado por minha orientação sexual. Sonho com o dia que meus filhos não serão julgados por ser negros."

"Orientação sexual, cor da pele e poder aquisitivo não definem caráter. Se o senhor faz isso comigo como senador, imagine no Brasil que mais mata a população LGBTQIA+. O mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpas a toda a população LGBTQIA+”, disse Contarato.

"Nada te dá direito de fazer o que o senhor fez. Não tem dinheiro que pague isso”, completou.

O empresário pediu desculpas, disse que sua postagem havia sido infeliz e que não tinha a intenção de ofender. "Realmente, o meu comentário foi infeliz, em tom de brincadeira. Porém, é uma brincadeira de mau gosto. Declaro que meu comentário não teve a intenção de lhe ofender, e sei que, se ofendi, foi profundamente”, disse Fakhoury.

Relatório em 20 de outubro

Antes do depoimento de Fakhoury, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que o relatório final da comissão será apresentado por Renan no dia 19 de outubro e votado pelos senadores do colegiado no dia seguinte.

No relatório, Renan deverá propor ao Ministério Público o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro, de membros do governo e de apoiadores de Bolsonaro, entre outros, por supostos crimes relacionados à pandemia.

Deutsche Welle

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