Charge do Miguel (Jornal do Commercio)
Carlos Newton
O Planalto está à meia bomba. Ao invés de empenho total no esforço para enfrentar a crise da covid-19, que ainda vai se agravar muito, os ministros do núcleo duro do governo só pensam em salvar o mandato de Jair Bolsonaro, ameaçado na Justiça Eleitoral com oito processos, no Supremo com dois inquéritos e no Congresso com 35 pedidos de impeachment e mais sete para convocar Comissões Parlamentares de Inquéritos para investigar Bolsonaro,
É surpreendente e estonteante que o presidente tenha chegado a essa situação com menos de um ano e meio de mandato. Mas é preciso reconhecer que Bolsonaro se esforçou muito para chegar a esse ponto de ruptura, ao criar praticamente uma crise por dia.
INQUÉRITOS E PROCESSOS – Analisando-se friamente a situação do ainda presidente, pode-se dizer que os pedidos de impeachment e de CPIs estão todos sob controle, porque os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, já afirmaram, repetidas vezes, que não pretendem colocar em tramitação nenhuma dessas propostas, enquanto a pandemia não estiver debelada.
Portanto, sobram os oito processos eleitorais e os dois inquéritos no Supremo, um a respeito de fake news e outro sobre a demissão do ministro Sérgio Moro.
E de repente os processos eleitorais entraram em cena, sob relatoria do novato ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, que na semana passada levou o Planalto à loucura, ao oferecer compartilhamento de provas ao ministro Alexandre de Moraes, que combate com máximo rigor as fake news e acumula cargos no STF e no TSE.
SINAL VERMELHO – A troca de figurinhas entre Og e Moraes acendeu o sinal vermelho. De repente, os processos sobre fake news eleitorais ganharam força. Até então, nem preocupavam o governo. Com poucas provas, iam direito para o arquivo. No entanto, se forem acrescentadas as provas já colhidas pela Polícia Federal contra o chamado “Gabinete do Ódio”, a coisa muda de figura, porque o ministro Moraes pediu vista, tudo pode acontecer.
A nova situação preocupa muito também aquele Poder Moderador que “não existe”, mas se chama Alto-Comando do Exército, reforçado pelos Altos-Comandos da Marinha e da Aeronáutica.
O mais grave é que a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão não será aceita pelo Poder Moderador, que faz tempo já desistiu de Bolsanaro e está torcendo para que o impeachment saia e Mourão assuma logo o governo, para evitar que o Brasil mergulhe no abismo. Mas vamos ser otimistas, porque tudo indica que o TSE saberá entender a gravidade do momento.
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P.S. – Como Bolsonaro costuma repetir, a verdade nos libertará. E a verdade é que ele já se tornou uma carta fora do baralho, como um presidente “lame duck” (pato manco), que não manda mais em ninguém, como dizem os americanos, referindo-se aos governantes em final de mandato e sem chance de se reelegerem. (C.N.)