Matheus Lara
Estadão
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A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou em participação no Brazil Forum UK 2020 que não vê um cenário possível a um impeachment do presidente Jair Bolsonaro neste momento. O evento promovido pela comunidade de estudantes de pós-graduação no Reino Unido foi transmitido pelo Estadão.
Para Dilma, a oposição ao presidente encontra “limites” que às vezes estão ligados à pauta neoliberal na economia. “Não acredito que estejam dadas as condições para Bolsonaro sofrer um impeachment e também acho que não tem condição de fazer um autogolpe”, afirmou a petista. “Tem limites na oposição. Bolsonaro consegue colocar nas pautas as reformas neoliberais, chegam a não conseguir propor impeachment.”
AUTORITARISMO – Dilma disse que, em sua leitura, a base do governo é formada por um grupo que tem visão autoritária, que seria um segmento neofascista, e ao mesmo tempo pelos que se aliaram ao presidente para adotar no Brasil uma política de formas neoliberais. “A ala neolibera achava que quando o presidente assumisse, ele poderia ser moderado, mas o neofascimento não tem o chip da moderação”, afirmou. “Uma parte da direita brasileira rompeu com o neofascismo, mas sustenta o neoliberalismo de (Paulo) Guedes (ministro da Economia).”
A ex-presidente diz ver uma escalada autoritária no País relacionada às atitudes de Bolsonaro que coloca a polarização política em seu patamar mais alto. Dilma sofreu impeachment em 2016 durante período de marcada polarização desde a eleição de 2014.
POLARIZAÇÃO – “O governo (Bolsonaro) trabalha na base da polarização da sociedade. É o tratamento dos adversários políticos como inimigos. É a política de ódio e violência. A polarização está no seu auge. Há uma anomia do presidente, que nega a existência de uma crise, tenta atribui-la aos governadores, não tem uma liderança porque não é capaz de reoconhecer a crise.”
Dilma também falou da relação de Bolsonaro com o Centrão. O presidente tem se aproximado com o grupo no Congresso. Para ela, o Centrão tem mais apreço pela democracia do que o presidente. “Para combater o PT, criminalizaram a política”, afirmou a ex-presidente.
“Bolsonaro se elege falando da velha política, mas essa história de velha e nova política é fachada. O fascismo de Bolsonaro é mais antigo que a política do Centrão. O Centrão convive mais com democracia do que o neofascimo, que corrói a democracia.”