Renata Rios
Correio Braziliense
Correio Braziliense
O ex –ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta concedeu na tarde desta segunda-feira, dia 15, uma entrevista ao colunista do UOL, Tales Faria. Durante quase uma hora, o médico respondeu a questionamentos sobre assuntos diversos e polêmicos, como a flexibilização da quarentena, como será o futuro, a postura do presidente Jair Bolsonaro nos últimos meses, a demissão do Ministério da Saúde e o uso da pasta para barganhas políticas.
Apesar da situação difícil do Brasil, ele destacou o Sistema Único de Saúde. “O SUS é o grande vitorioso essa história e conseguiu dar dignidade.” Sobre a situação de trocas constantes na pasta, Mandetta lamentou a situação de uso da pasta com interesses políticos nos últimos governos.
TOMA LÁ, DÁ CÁ – Para ele, não há novidade: “Ministro não permanece mais de um ano. É um ministério muito utilizado para toma lá, dá cá”, lamentou. Ele ainda ressaltou que acredita que após a pandemia, haverá a utilização da pasta para recomposição da base do presidente no Congresso.
“A gente sempre viu o Ministério da Saúde ser um ministério usado para barganhas políticas e talvez seja esse, mais uma vez, o destino dele”, disse. “O Ministério da Saúde um dia vai ser olhado com mais carinho pelos presidentes”, projetou otimista.
Quando questionado sobre a declaração do presidente, que incentivou que as pessoas invadirem hospitais, Mandetta declarou: “Às vezes a pessoa é atormentada, ela fica com a qualidade do sono muito baixa e durante o dia ela acaba cometendo alguns equívocos. Mas isso deve estar sendo fruto da pressão. Eles achavam que era uma gripezinha, que a doença ia passar com algumas gotas de cloroquina e a doença se mostrou muito agressiva”, ponderou o médico. “Isso é um desrespeito com todos os médicos, com todos os enfermeiros”, se solidarizou com os profissionais.
SEM COMENTÁRIO – “O presidente, como toda pessoa que faz política está tentando achar um culpado”, criticou lembrando que o primeiro alvo foi a China. “Ele virou o canhãozinho dele e resolveu bater na Organização Mundial da Saúde”, seguiu. Até que lembrou quando passou a ser responsabilizado pela má situação que o país enfrenta. “É muito pequeno, não cabe nenhum tipo de comentário”, lamentou.
Ao ser perguntado sobre o que fazer em relação ao presidente em um caso desses se referindo ainda a questão das invasões, respondeu “Eu rezo”. Logo no início da entrevista o ex-ministro se pronunciou sobre a demissão dele do cargo de ministro. “Acho que foi a primeira vez que um ministro colocou claramente que médico não abandona um paciente” e disse na sequência: “Fui exonerado, com muito orgulho”.
MAQUIAGEM – Ao falar da situação do Brasil em meio a pandemia que assola o mundo, Mandetta disse que o Brasil se tornou um exemplo de tudo que não se deve fazer. “Nos tornamos o epicentro mundial, a referência de tudo que não devia ser feito”. Ele criticou também a tentativa de maquiar os dados relativos à pandemia. “Precisou um ministro do STF falar que não pode maquiar”, criticou ainda sobre o assunto.
Porém, apesar da visão, ele não acha que a flexibilização seja um assunto fácil de ser tratado. Para ele, cada local no Brasil vive uma realidade diferente. “O Brasil é um continente”, disse. “Eu acho que vamos ter várias epidemias em momentos diferentes. Em São Paulo, nossa maior cidade, a cidade mostra sinais de queda, mas o interior mostra números crescentes”, exemplificou. Mandetta ainda falou da realidade brasileira, como as favelas, que tornam o problema ainda mais difícil de ser tratado.