Pedro do Coutto
O Comitê de Política Monetária elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 12,25% ao ano, alta de um ponto percentual. Em decisão unânime, o colegiado indicou ajustes de um ponto nas próximas duas reuniões, o que deve elevar os juros a 14,25% até o fim de março de 2025. Desde outubro de 2016, a taxa básica não chegava a esse patamar.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, apontou comunicado.
DÍVIDA – A cada elevação de um ponto percentual, a dívida líquida aumenta R$ 55,2 bilhões. A nova alta na taxa Selic deve piorar o quadro de pedidos de recuperação judicial no país, uma vez que essa alta cria um ambiente ainda mais desfavorável para a renegociação de dívidas pelas empresas, que já vêm enfrentando dificuldades nos últimos anos.
O quadro atual é preocupante, porque a rolagem das dívidas pelas empresas, nas atuais taxas básicas de juros, dificulta ainda mais as operações, e o quadro de juros altos e inadimplência elevada reforçam um cenário desfavorável ao governo e ao próprio país.
De janeiro a outubro deste ano, já foram registrados quase dois mil pedidos de recuperação judicial no Brasil. Somente no mês de outubro, foram 223 pedidos – o que representou um aumento de 37,7% em comparação com o mesmo período de 2023. Entre janeiro e setembro deste ano, o número total de pedidos de recuperação foi 73% superior ao do mesmo período do ano passado, um recorde.
INSOLVÊNCIA – A alta taxa de juros tem levado os devedores praticamente a uma situação de insolvência, uma vez que os juros altos inviabilizam o fluxo de pagamento das famílias, o que aumenta a inadimplência e compromete severamente a saúde financeira das empresas.
A situação contraria frontalmente a vontade política do governo Lula, que era a de reduzir os juros. Para o ministro Fernando Haddad, a elevação da taxa Selic representa “surpresa por um lado”, mas, segundo ele, já estava prevista pelo mercado financeiro, acrescentando que está perseguindo as metas fiscais, destacando que o pacote de corte de gastos enviado ao Congresso é “adequado e viável politicamente”.
“Foi surpresa por um lado. Mas, por outro lado, tinha uma precificação [do mercado financeiro] nesse sentido. Vou ler com calma, analisar o comunicado, falar com algumas pessoas depois do período de silêncio”, declarou Haddad ao deixar o Ministério da Fazenda cerca de uma hora após o fim da reunião do Copom, sem entrar em detalhes sobre a decisão do BC.