Mídia do continente destaca o triunfo apertado do candidato petista e os desafios que ele terá para governar. Silêncio de Bolsonaro também é tema.
Veículos de imprensa de vários países da Europa repercutiram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição brasileira, realizado neste domingo (30/10). A imprensa destacou o triunfo apertado de Lula, que obteve 50,9% dos votos, contra 49,1% do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).
Alemanha
O portal alemão Tagesschau, por exemplo, destaca o retorno de Lula ao cargo que ocupou entre 2003 e 2010, quando, escreve o jornal, programas sociais retiraram milhões de pessoas da pobreza, ao mesmo tempo que o nome de Lula esteve ligado a escândalos de corrupção.
O Tagesschau também noticiou os cumprimentos enviados pelo chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que, no Twitter, disse que está ansioso para trabalhar em conjunto com Lula, principalmente em questões comerciais e de proteção climática.
E reproduz ainda a fala da ministra do Exterior, Annalena Baerbock, que disse que a eleição no Brasil teve vários vencedores, sendo a democracia o maior deles. Ela também falou que eleições "transparentes e justas" como a brasileira são importantes para a confiança na democracia e no Estado democrático de direito.
A revista alemã Der Spiegel estampa uma reportagem com o título Triunfo do conciliador, destacando que, ainda que muitos tivessem pensado que a carreira política de Lula havia terminado, após sua prisão, em 2018, ele retornará para ser presidente mais uma vez. A revista também aborda que "tarefas pesadas" aguardam o futuro mandatário, e o fato de o presidente derrotado Bolsonaro não ter imediatamente se manifestado.
O Süddeutsche Zeitung reservou uma área só para a eleição brasileira em seu site, destacando principalmente o "estrondoso silêncio" de Bolsonaro, mas também a emoção dos brasileiros com a vitória, sob o título Um novo capítulo na história do Brasil.
Em um texto de opinião sobre a eleição, intitulado Os problemas começam agora, o jornal escreve: "Lula tem tarefas difíceis pela frente. Uma profunda divisão atravessa o país – tão grande que não está claro se pontes podem ser construídas."
Reino Unido e Irlanda
A eleição brasileira foi manchete do site do britânico The Guardian, que mostrou a festa dos eleitores de Lula na Av. Paulista, em São Paulo, e também destacou a demora para Bolsonaro se manifestar sobre a eleição. O veículo exibiu ainda uma reportagem intitulada Lula: a ascensão e queda e a nova ascensão do presidente eleito do Brasil.
Lula e a eleição brasileira foram também os principais destaques da newsletter desta segunda-feira do Guardian, que questiona: "O que a vitória de Lula significa para o futuro do Brasil?". E escreve sobre cinco tópicos: democracia, meio ambiente, economia, direitos civis e se haverá algum golpe por parte de Bolsonaro.
Na Irlanda, o Irish Times também colocou a eleição brasileira como principal assunto do dia. O veículo diz que, apesar da vitória apertada, não tardou para que líderes mundiais parabenizassem Lula. E que o petista deve encarar "'fortes ventos' em uma sociedade politicamente polarizada".
Itália e França
O italiano La Repubblica descreve a noite de domingo como a "noite da libertação": "Grande festa em vermelho na Avenida Paulista na eleição do líder esquerdista para a Presidência [...] uma noite que para muitos marca o fim de um pesadelo".
O francês Le Monde narra a tensão entre partidários de Lula durante a apuração. Mesmo quando Lula virou, disse o jornal, seus apoiadores permaneceram concentrados: "Uma espera longa, ansiosa e silenciosa, que termina com um grito de alegria".
O jornal francês também responde a uma série de perguntas sobre as eleições brasileiras e destaca, por exemplo, operações feitas pela Polícia Rodoviária Federal, que, segundo denúncias, teriam atrapalhando a votação pelo país, sobretudo no Nordeste: "A PRF e seu diretor geral cometeram um crime eleitoral muito grave no domingo".
Espanha e Portugal
O espanhol El País publicou um editorial no qual destaca que Lula derrotou a "ultradireita em um país politicamente fraturado", e que "será crucial um grande acordo entre as forças democráticas": "Lula deverá convencer os brasileiros da necessidade de unir esforços e iniciar uma reconstrução nacional".
Em outro texto, o El País destaca que "Lula ganha, mas a batalha continua", em alusão às possíveis reações de Bolsonaro e a futura convivência no país.
O Diário de Notícias, de Portugal, escreve no título da principal reportagem sobre as eleições brasileiras: "Lula terá mandato difícil e primeiro desafio é o silêncio de Bolsonaro".
"Consciente dos desafios que enfrentará a partir de 1 de janeiro de 2023, quando irá regressar ao Palácio do Planalto, Lula reconheceu no seu discurso após a vitória que governará 'numa situação muito difícil'", escreve o jornal português.
O Diário de Notícias também diz que "desde o início do funcionamento das urnas eletrônicas nas eleições presidenciais, em 1998, é a primeira vez que um candidato derrotado não fez declarações públicas após o resultado".
Holanda e Bélgica
O discurso de Lula e a eleição brasileira são o principal destaque da editoria de Mundo do jornal holandês Het Parool, sob o título Lula prega "paz e unidade" em um Brasil dividido, e Bolsonaro ainda não admitiu a derrota.
O veículo cita ainda que, em seu discurso de vitória, o petista disse que vai governar não apenas para o povo que votou nele, mas sim para "todos os 215 milhões de brasileiros".
Na Bélgica, o Brussels Times define a vitória de Lula como "alívio europeu, apesar de grandes diferenças de política externa" entre a União Europeia (UE) e o Brasil. "O alívio foi palpável entre quase todos líderes da UE, com muitos declarando suas esperanças de renovar a cooperação para enfrentar os desafios comuns, tanto econômicos quanto ambientais."
O jornal belga também destaca que "especialistas e ativistas climáticos enfatizaram repetidamente a importância de uma vitória de Lula, com muitos avisos de que outro mandato presidencial de Bolsonaro amaeaçaria colocar o mundo em ciclos de aquecimento irreversível".
Por outro, lembra a rusga entre a UE e Lula por causa da guerra na Ucrânia: "Em maio, Lula provocou a indignação de muitos líderes ocidentais quando sugeriu que a Ucrânia era igualmente culpada pela invasão russa".
Deutsche Welle