Publicado em 8 de abril de 2022 por Tribuna da Internet
Patrik Camporez e Eduardo Gonçalves
O Globo
O pastor Arilton Moura se recusou a comparecer ao Senado nesta quinta-feira para explicar as denúncias envolvendo lobby e pedidos de propina a prefeitos para liberar verbas do Ministério da Educação (MEC). O religioso, contudo, conhece bem o Congresso. Nos últimos quatro anos, segundo documentos obtidos pelo GLOBO, ele visitou ao menos 90 vezes a Câmara entre janeiro de 2019 e março de 2022.
Dentre os destinos registrados no sistema de segurança, estão ao menos dez gabinetes de parlamentares de diferentes legendas, do PL ao PSB — e do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
LOBBY E PROPINAS – Arilton Moura está na mira da uma investigação da Polícia Federal sob a suspeita de intermediar a liberação de recursos da Educação para prefeituras. O religioso foi acusado de pedir propina em Bíblias, conforme revelou O GLOBO, e de atuar em parceria com o pastor Gilmar Santos.
Convidados pelo Senado para esclarecer os fatos nesta quinta-feira, a dupla declinou do convite alegando que já é alvo de “procedimentos na esfera judicial”. Procurado, Arilton Moura não se pronunciou. Em suas redes sociais, Gilmar Santos nega qualquer irregularidade. O escândalo no MEC resultou no pedido de demissão do então ministro Milton Ribeiro.
De acordo com os registros de visitantes da Câmara, em 16 de outubro de 2019, Moura informou que iria ao gabinete 350 no Anexo IV, ocupado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Dois dias depois, o pastor acompanhou o seu colega Gilmar Santos em um encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Procurado, o parlamentar não quis comentar a agenda com o lobista do MEC.
DIZ O DEPUTADO – O congressista que mais recebeu Arilton Moura na Câmara foi João Campos (Republicanos-GO) — ao menos cinco vezes. O parlamentar também foi o anfitrião das duas oportunidades em que Gilmar Santos esteve na Câmara. Ao GLOBO, Campos afirmou que Santos lhe pediu recursos de emenda parlamentar para uma fundação ligada a uma igreja.
— Ele falou que tinha um projeto social lá, perguntou se eu poderia ofertar uma emenda para isso. Mas a entidade dele não preenchia os requisitos para receber os recursos. Então, acabei não fazendo, mas, se estivesse regularizada, eu faria — disse o deputado goiano.
Parlamentar que teve o mandato mais longevo como presidente da bancada evangélica, Campos é amigo de Santos há mais de 30 anos. O deputado já morou no mesmo prédio que o pastor e, segundo o próprio AriltonCampos, os dois chegaram a frequentar a mesma igreja em Goiânia. “A minha relação com ele antecede a política — disse o parlamentar, que emprega a filha de Gilmar Santos em seu escritório político na capital de Goiás.
CONSELHO POLÍTICO – Em relação ao pastor Arilton Moura, o deputado diz que o conheceu no início do ano passado por meio de Gilmar Santos, que lhe apresentou como “presidente do conselho político da igreja”.
O segundo parlamentar que mais teve audiências com o pastor Moura foi Marcelo Brum (União-RS) – ao todo, quatro entre 2019 e 2022. Ele ocupou a cadeira de deputado temporariamente e voltou a ser suplente nesta semana, quando o titular do posto, Ônyx Lorenzoni, renunciou ao comando do ministério do Trabalho para disputar as eleições deste ano.
— Foi para solicitar recursos. As vezes em que o pastor foi no gabinete era em busca de recursos para os projetos sociais da igreja, para idosos — detalhou Brum, frisando que não enviou os recursos porque ele era um deputado do Rio Grande do Sul e a igreja se situava em Goiás — Não tem como um deputado de um estado mandar para outro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ao invés de cuidar de suas ovelhas nos templos, os pastores preferiam as tetas da viúva, sempre em busca de propinas em dinheiro ou em ouro. E os deputados caíam na conversa fiada deles. Como dizem os irmãos Ringling, reis do circo nos EUA, a cada 30 segundos nasce um otário. (C.N.)