Publicado em 12 de abril de 2022 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Nada como um dia atrás do outro, diz o velho ditado, que agora se adapta perfeitamente à sucessão presidencial, que tem como novo protagonista o deputado pernambucano Luciano Bivar, presidente do União Brasil, resultado da fusão de PSL e DEM.
A sucessão parecia inevitável entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro, até que Bivar entrou no jogo, costurando nos bastidores a unificação da candidatura da terceira via, que pode mudar completamente os rumos da eleição.
É o único fato novo na disputa presidencial, que parecia estratificada pela polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Mas antes da reta de chegada, já Bivar conseguiu unir quatro partidos num objetivo comum – União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania. E as bases da polarização começaram a ser abaladas.
ERAM AMIGOS – Deve-se lembrar que Bolsonaro e Bivar eram amigos na bancada do Centrão, formada desde a Constituinte de 1987/88 para representar o baixo clero da Câmara.
Quando Bolsonaro resolveu se aventurar numa campanha presidencial, fez um minucioso preparativo. Primeiro, filiou-se ao PSC, partido evangélico criado e então presidido pelo pastor Everaldo Pereira, que em 2016 levou Bolsonaro a Jerusalém, para batizá-lo nas águas poluídas do Rio Jordão.
Ninguém sabe a razão, mas em 2018, quando Bolsonaro pediu ao pastor Everaldo que apoiasse sua candidatura à Presidência, o piedoso reverendo recusou-lhe a legenda.
ATRÁS DE UM PARTIDO – Bolsonaro não desistiu e saiu em busca de um novo partido, porém nenhum deles aceitava bancar a candidatura. Acabou se acertando com o Patriota, que antes era PEN (Partido Ecológico Nacional) e trocara de nome.
Tudo certo, Bolsonaro até assinou um documento pré-filiação, mas as negociações emperraram, porque seus filhos Zero Um, Zero Dois e Zero Três queriam mandar no Patriota e foram escorraçados.
O tempo passava e Bolsonaro ia se desesperando, até que, já perto do prazo fatal de filiação, Luciano Bivar lhe estendeu a mão e aceitou que o candidato se filiasse ao PSL, mas adotou providências para que os três Zeros não tentassem tomar o partido de assalto.
DEPOIS DA POSSE – Assim que assumiram o poder, Bolsonaro e os filhos resolveram dominar o PSL, mas Bivar estava atento, resistiu ao ataque e lhes mostrou que a porta de saída era serventia da casa.
Deu-se, então, o maior vexame da famiglia Bolsonaro. Os três Zeros saíram em campo para criar seu próprio partido, o Aliança Brasil, e não conseguiram. O resultado foi um zero à esquerda, como se diz. Assim, Bolsonaro ficou sem legenda e teve de se homiziar no PL, presidido do Valdemar Costa Neto, um dos grandes ícones da corrupção política brasileira.
E o deputado Luciano Bivar agora está lhe dando o troco, ao articular a unificação da candidatura da terceira via, que mudar completamente a política brasileira.
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P.S. – A negociação conduzida por Bivar está quase concluída e tem apoio de mais dois partidos – Podemos e Novo. Só falta mesmo a aceitação formal de Ciro Gomes (PDT), que já participa das conversações e se reuniu com Bivar, mas ainda não declarou oficialmente se apoia a unificação das candidaturas, para livrar o país da sinistra polarização. Mas isso é só uma questão de tempo. Se não participar, Ciro estará jogando fora sua própria carreira política. (C.N.)