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segunda-feira, janeiro 03, 2022

Marcelo Queiroga e MIlton Ribeiro são obstáculos à previsão da FGV para PIB de 2022

Publicado em 3 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet

Saúde e Educação não apresentam avanços compatíveis às demandas

Pedro do Coutto

A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim de Macroeconomia da Fundação Getúlio Vargas, elaborou um estudo concluindo por um impulso nos setores de Educação, Saúde, Serviços e Agronegócio para o avanço do Produto Interno Bruto do Brasil em 2022. Reportagem, aliás excelente, de Cássia Almeida, O Globo de domingo, focaliza a previsão que se baseia no fato de que os setores citados correspondem a 38% do PIB. Portanto, o valor de R$ 2,38 trilhões descontados os tributos.

Na minha opinião, os setores de Serviços e Agronegócio podem avançar como prevê Silvia Matos. Mas a Educação e a Saúde, tão essenciais à vida humana quanto ao progresso do país, não dão ideia de que possam apresentar avanços compatíveis com as necessidades do governo, da população, e que sustentem o crescimento do PIB.

DESEMPENHOS QUESTIONÁVEIS – Os dois titulares das pastas fundamentais, tanto para o presente quanto para o futuro próximo, são Marcelo Queiroga e Milton Ribeiro. Não creio que haja a necessidade de adjetivar o desempenho dos ministros da Saúde e da Educação para verificar que a realidade não conduz à visão macroeconômica produzida e refletida nas páginas da FGV. As páginas de Cássia Almeida são melhores do que as da Fundação Getúlio Vargas.

Inclusive, no texto macroeconômico, baseando-se em impressões do grupo técnico do Bradesco que acompanham os anúncios das empresas, os investimentos estão calculados na base de R$ 766,9 bilhões. Pode ser, mas é preciso considerar, como se diz sempre por aí, que uma coisa é a teoria, outra é a realidade. E tem mais, o papel de ontem e as telas dos computadores de hoje aceitam os dados que lhe forem destinados. Mas o plano concreto reage à ficção, seja ela leve ou mais profunda.

Um dado curioso é a avaliação reproduzida por Cássia Almeida, incluída na reportagem, da economista do Bradesco, Fabiana D’Artri, que calcula os possíveis aportes de capital com base nos anúncios das empresas publicados nos jornais e principalmente nas telas da TV Globo e da GloboNews. As emissoras de maiores audiências em seus respectivos setores.

“MILGARE BRASILEIRO” – Acontece que a pesquisa só pode ter se baseado nos anúncios de 2021, pois a propaganda de 2022 ainda não foi iniciada. Previsões me conduzem sempre a uma frase do ex-ministro Delfim Netto, quando titular da Fazenda, procurando justificar o chamado “milagre brasileiro”, que teria ocorrido no governo Médici, adaptando ao Brasil o milagre econômico alemão do pós-guerra quando o país foi governado pelo primeiro-ministro Adenauer.

Delfim Netto chegou a afirmar “primeiro vamos fazer crescer o bolo para depois dividi-lo”. Referia-se ao eterno problema da redistribuição de renda, a qual só pode ocorrer através do pleno emprego e da valorização dos salários. Não há outro caminho e o desencontro entre a remuneração do capital e a do trabalho atravessa não só os séculos, mas até os milênios.

REELEIÇÃO –  Em seu artigo de ontem, no O Globo e na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari terminou dizendo, com toda a razão, que a reeleição adotada no Brasil a partir do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso é uma “praga”. Uma praga verdadeira, sem dúvida, pois todos os que se elegem anunciam o seu fim, mas terminam aderindo à renovação de seus mandatos no poder.

A reeleição começou como uma praga e se mantém como tal. Foi um marco que sintetiza um surto anunciando de corrupção que depois da emenda constitucional aprovada pelo Congresso produziu o mensalão, o petrolão, a noite paulista de um carregador de mala e conduziu o governo Bolsonaro a um desastre absoluto.

Mas falei no início de Queiroga e Ribeiro. O primeiro assumiu uma posição condenada pela classe médica e científica a respeito da vacinação, caminho no qual para agradar a Bolsonaro foi colocando obstáculos. Milton Ribeiro, na pasta da Educação, até hoje não produziu um projeto sequer de modernização, ampliação ou pelo menos racionalização do acesso dos estudantes ao acesso de ensino público.

CONFUSÃO – Confundiu tudo. Tentou intervir nas universidades sobre o atestado de vacina. É um ministro que parece estar limitado a despachos administrativos de rotina. Não parece ser movido por impulso algum de progresso e de ampliação do ensino em todos os níveis. Estacionou no tempo.

A reeleição é marcada ainda por uma contradição absoluta. Os presidentes da República, governadores e prefeitos que disputam reeleição não precisam se afastar de seus cargos. Entretanto, se um ministro ou um dirigente de estatal for lançado candidato a qualquer cargo, inclusive legislativo, necessita desincompatibilizar-se seis meses antes das urnas.

A contradição é evidente. Para o presidente da República a lei não exige afastamento como exige por exemplo para o presidente da Petrobras ou do Banco do Brasil. Impressionante o contraste. Aliás de contradições, a política brasileira está repleta.

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