Publicado em 7 de janeiro de 2022 por Tribuna da Internet
Roberto Nascimento
O jornalista Marcelo Ninio, direto de Qufu, na China, publicou em O Globo uma interessante reportagem sobre uma cerimônia na cidade onde nasceu o filósofo Confúcio, pai e guia espiritual da cultura chinesa, para celebrar o seu nascimento há 2752 anos.
O atual presidente da China, Xi Jinping, vem intensificando o processo de reabilitação de Confúcio, indo na direção contrária do timoneiro Mao Tse Tung, que na Revolução Cultural (1966-1976) mandou queimar todos os livros de Confúcio e dinamitar seu túmulo na cidade de Qufu.
TIDO COMO CONSERVADOR – Os maoístas consideravam Confúcio um obstáculo ao progresso e um propagador e símbolo do reacionarismo burguês.
A reabilitação de Confúcio serve aos propósitos de o atual líder Xi Jinping se perpetuar no Poder, para se tornar um novo Imperador do Sol Nascente. Para isso, pouco se importa com a contradição entre um Estado laico como a China, inspirado nas ideias de Marx, Engels e Mao Tsé-Tung, e o tom religioso da reabilitação de Confúcio. É uma fé sem Deus, conforme retrata o jornalista Marcelo Ninio.
O Partido Comunista Chinês sabe que o povo precisa de fé, de uma filosofia que ajude a seguir unido em torno de seu líder, que completa dez anos de mandato e se pretende vitalício.
SEM RENOVAÇÃO – Nesse particular, Xi Jinping quer romper a linha seguida por Deng Xiaoping, sucessor de Mao, que elaborou o modelo de renovação das lideranças máximas, através de mandatos fixos para os presidentes, para evitar a personificação do presidente, o que chamam de Culto à Personalidade, inaugurado por Mao Tse Tung, o líder da Revolução Chinesa, que tomou o Poder em 1949 até sua morte em 1976.
Essa nova mudança de rumos da China visa impedir que o maior país asiático possa repetir o fenômeno ocorrido na União Soviética (URSS). Os líderes chineses temem a divisão do país, a semelhança do que ocorreu com os soviéticos, após a abertura democrática idealizada pelo presidente Mikhail Gorbachev, que provocou movimentos separatistas e enfraqueceu a potência econômica e militar do antigo regime.
A China não é mais um país comunista puro, tornou-se uma nação capitalista na economia e centralista no regime de governo (ditadura de esquerda). Quem manda na China é o líder respaldado pelo Partido Comunista.
SE JINPING MORRER? – Uma grande questão é a estabilidade do país após a morte de Xi Jinping? Lembrem-se que a China enfrentou forte turbulência quando o grande timoneiro Mao Tse Tung morreu e foi sucedido pela mulher e três auxiliares, apelidados de a “Gangue dos Quatro”. Foram logo derrubados, e assumiu então as rédeas do país o líder Deng Xiaoping, responsável pela abertura da economia para o mundo ocidental, tornando o país num novo eldorado capitalista, devido aos baixos impostos, salários irrisórios e inexistência de leis ambientais
A preocupação da elite do poder na China é com a perda do controle das massas. Qualquer movimento libertador é logo sufocado, a censura caracteriza a imprensa e a internet é controlada. Assim, embora tenha se aproximado do capitalismo, a China continua distante da democracia, com ou sem a volta de Confúcio.