Pedro do Coutto
A prisão no amanhecer de hoje de Fabrício Queiroz e a permanência de Abraham Weintraub são peças de uma tragédia política que explodiu, abalando o governo e contribuindo intensamente para isolar o presidente Jair Bolsonaro numa base de apoio que no momento só conta com os extremistas da direita. Mesmo assim, a reação dos ministros do STF adicionou mais evidências de uma crise causada pelo próprio Palácio do Planalto.
Não se trata de interpretações voltadas para acusar a imprensa e os meios de comunicação. Trata-se de dois fatos concretos: absoluta incapacidade de Weintraub e a condição de foragido da Justiça quanto a Fabrício Queiroz.
NA CASA DO ADVOGADO – Ele se encontrava há um ano, como revelaram os meios televisivos, foragido na casa do advogado da família Bolsonaro em Atibaia, litoral paulista.
A Polícia Federal ajudou a Polícia Civil a cumprir mandado expedido pela Justiça para capturar o homem que se tornou ao mesmo tempo, uma bomba política e um enigma que agora vai ser desvendado.
Portanto, não adiantaram as mudanças realizadas pelo governo na Polícia Federal, investindo na direção geral da PF e na superintendência do Rio de janeiro pessoas que substituíram os até então titulares dos dois postos.
JUNTO AOS EXTREMISTAS – Falei em isolamento político do presidente Bolsonaro e dos extremistas, estes alvo das investigações solicitadas pelo Procurador Geral, Augusto Aras, e pelos ministros do STF, os quais numa só voz repudiaram ameaças e incitações aos crimes de estupro e homicídio. Foi demais.
Agora, mais uma vez verifica-se que o Planalto produziu falsos aliados ao mesmo tempo que falsos amigos. Porque é um erro confundir uma aparente fidelidade canina, o que caracteriza os aspones, com impulsos legítimos e construtivos.
Esse erro atravessa a história e atinge no seu percurso interminável o poder político, aviltando seu exercício constitucional.
DOIS FATOS – Falei em isolamento e imobilização do presidente, pois ela está caracterizada em dois fatos extremamente importantes. A decisão do Supremo quanto às fake news, reportagem de Carolina Brígido, O Globo, e as pressões militares no sentido da demissão de Weintraub, episódio narrado por Paula Ferreira, Bela Megali e Vitor Farias, também publicada em O Globo.
Escrevo este artigo na manhã de hoje e tenho a impressão que até o final da tarde o presidente Bolsonaro finalmente demitirá o ministro da deseducação de seu governo. Não quero fazer profecias, já que estas não se coadunam com a política.
Mas tenho a impressão que demitir Weintraub, hoje, é a única saída de Bolsonaro na tentativa de afastar sobre si mesmo a onda que os dois episódios citados no título conduzem seu mandato para o impasse gravíssimo que se volta contra a própria Democracia e os princípios éticos e morais incompatíveis com as excitações aos crimes de estupro e assassinatos.
ENVOLVIMENTO – Não há a menor possibilidade de a população brasileira conviver com os personagens dramáticos da atual crise que está envolvendo o Palácio do Planalto. Envolvimento este que, como disse há pouco está abalando os alicerces fragilizados do poder político conquistado pelas urnas de 2018.
As urnas de 2018 já pertencem ao passado próximo. Não funcionam para sustentar atos absurdos, sobretudo porque os atos absurdos não confirmam os compromissos do candidato vitorioso.