Pedro do Coutto
No amanhecer de ontem, domingo, tão logo recebi os jornais, li a entrevista do historiador José Murilo de Carvalho a Miriam Leitão. Nela ele acentuou que o país corre o risco de uma ditadura. Horas depois, em Brasília o presidente Bolsonaro cavalgava ao lado de cartazes que propunham novamente o fechamento do Congresso e do Supremo. A temperatura política subiu ameaçando ferver.
Depois do Globo recebi na manhã de segunda-feira a Folha de São Paulo que publicou reportagem de Mônica Bergamo e Igor Gielow reproduzindo mensagem que o ministro Celso de Mello destinou aos ministros da Corte Suprema.
DESPREZÍVEL E ABJETA – “Os bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia nada mais desejam senão a instauração no Brasil de uma desprezível e abjeta ditadura militar”, escreveu o ministro Celso de Melo, citando o filme “O Ovo da Serpente”, de Ingmar Bergman, que focaliza a ascensão do nazismo na Alemanha.
Aliás, sobre esse processo hediondo existe a obra extraordinária do jornalista William Shirer, “Ascensão e Queda do III Reich”. Hitler digo eu, não foi eleito. Pelo contrário. Nas eleições de 1932 obteve 25% dos votos contra 75% de Paul Von Hindenburg.
Como os comunistas na época atacavam os dois, Hindenburg convidou Hitler para primeiro ministro. Mas em 1933 ficou doente e Hitler implantou a ditadura que durou até o desabamento de 1945. Mas esta é outra questão.
CAVALGADA – Continuando a reportagem, a Folha destaca que a cavalgada de Bolsonaro criou um clima de forte tensão institucional sensibilizando integrantes das próprias Forças Armadas que rechaçam a hipótese golpista. Além disso, os militares receberam com surpresa a presença do general Fernando Azevedo, ministro da Defesa, no helicóptero que conduziu Bolsonaro antes da cavalgada que liderou.
O posicionamento de Celso de Melo repercutiu profundamente entre os ministros da Corte Suprema. Sobretudo porque ele é o relator do processo que envolve a interferência do presidente da República na Polícia Federal. E Edson Fachin relata o processo das fake news.
VERDADEIRA FACE – O documento de Celso de Melo, a meu ver foi o mais importante descortinando a verdadeira face da crise política atual.
Na mesma edição da Folha, Tiago Rezende e Talita Fernandes ressaltam manifestação de direitistas trazendo nas mãos tochas acesas que lembram acontecimentos que envolveram a KKK. A figura do ministro Alexandre de Moraes foi atingida por fortes ataques. Foi ele o responsável pela instauração de inquérito destina a apurar as manifestações contra a Democracia.
Penso que a partir de agora o confronto tornou-se mais aberto e inclusive com a revelação e seus principais atores e suas verdadeiras faces e projetos. A partir de hoje, a realidade brasileira passa a ser outra, na qual se acentua o impasse entre a Democracia e a ditadura.
O processo é diferente do anterior que marcou o desfecho de 1964. Não existe a influência externa que Marcos Sá Correia focalizou no passado. A diferença é grande, a começar pelo intervalo de 56 anos.