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domingo, junho 07, 2020

“Não informar significa o estado ser mais nocivo que a doença”, avalia Mandetta sobre o andamento da crise

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Ex-ministro diz que na Saúde é importante ter transparência
Gabriel Shinohara
O Globo
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou neste sábado, dia 6, que se o estado não informar diretamente a sociedade sobre o andamento da crise do coronavírus, ele está sendo mais nocivo do que a própria doença. O ex-ministro fez o comentário em uma transmissão ao vivo pela internet após ser questionado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sobre a possibilidade de sonegação ou alteração de informações sobre a pandemia.
Mandetta também disse que os militares estão acostumados a construir “grandes bunkers de segredos intransponíveis”, mas que na Saúde é importante ter transparência. O atual ministro da Saúde é o general Eduardo Pazuello. Na divulgação diária do número de casos e mortes pelo coronavírus na sexta-feira, o Ministério da Saúde mudou sua forma de publicação e passou a não informar mais os números totais de casos e mortes.
FORA DO AR – Além disso, retirou do ar o site mantido pelo Ministério que continha todos os dados atualizados da Covid-19. “Não se pode ser mais nocivo do que a situação que trouxe os indivíduos até nós. Não informar significa o estado ser mais nocivo que a doença, mais nocivo do que o vírus”, afirmou.
Mandetta continuou sua fala explicando que o vírus se multiplica e passa de indivíduo para indivíduo como um “mistério da natureza” e que os seres humanos têm responsabilidade de “racionalizar” e “formar juízo”. Segundo o ex-ministro, quando o número de óbitos irrita o governante ao se “agigantar”, é quase uma “atração fatal” maquiar os números.
“É quase como uma atração fatal do indivíduo. Existe a palavra maquiar os números, nesse caso não seria uma maquiagem, seria quase como uma plástica transformada da face do indivíduo, com aqueles grandes fugitivos que procuram cirurgiões plásticos para mudar seu nariz, sua boca, seu olho, para não serem achados pela polícia”, afirmou.
“CIRURGIA” – Mandetta disse também que parece que o governo quer fazer “uma grande cirurgia” nos números dos protocolos públicos. Ele destacou que problemas na divulgação dos números não são apenas de natureza de transparência, mas também para a própria formulação de políticas de enfrentamento ao vírus. Além disso, sem números claros, o campo para desinformação fica “fecundo”.
“Isso vai causar um enorme problema de notificação compulsória da doença, vai causar um enorme problema de planejamento de ações, que são necessárias baseadas nos números, isso vai causar naturalmente um problema da população não saber o que está acontecendo”, disse
De acordo com o ex-ministro, se for o caso, os estados e municípios podem divulgar as informações.”Podem o Conselho Nacional de Secretários Estaduais e Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) transmitir as informações porque é da transmissão das informações que se ganha credibilidade”, destacou.
MILITARES – O ex-ministro da Saúde também ressaltou a diferença entre a atuação de militares e de profissionais de saúde durante uma crise. Segundo ele, em uma guerra convencional, o segredo é uma arma, o que faz com que os militares estejam acostumados a segredos intransponíveis.
“Em uma guerra militar convencional, o segredo é uma arma em relação ao inimigo e os militares são muito acostumados a construir grandes bunkers de segredos intransponíveis. Já na guerra contra vírus, bactérias, guerras de saúde, a informação ela compõe a primeira linha de defesa do indivíduo”, afirmou.
Mandetta também citou uma passagem histórica de como o ditadura militar tentou esconder os números de uma epidemia de meningite nos anos 70: “Tiveram que fazer uma campanha de vacinação a jato, porque o número de mortes era escondido, e quando eclode não tem como porque a morte é um fato”.
ALTERAÇÃO DO HORÁRIO  – Além de esconder o total de mortes dos casos de Covid-19 na divulgação diária, o governo também está fazendo essa publicação cada vez mais tarde. Antes, o horário era das 17 às 19h, mas com recordes em número de casos e mortes, a divulgação passou a ser feita depois das 21h30, após os principais telejornais do país finalizarem suas edições.
Na manhã deste sábado, dia 7, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o atraso era para evitar subnotificações e inconsistências dos números. No entanto, o ex-ministro da Saúde, disse que não havia esse risco quando ele estava no cargo.
MARGEM DE ACERTO – Mandetta explicou que os números chegavam dos estados às 15h e até às 17h os técnicos do Ministério somavam os números e passavam um pente fino. Segundo o ministro, a operação não era difícil e a margem de acerto era de 99% ou 99,5%.
“Assim nós fizemos desde o início. Me causa profunda estranheza do ponto de vista de saúde. Do ponto de vista política ela se explica no campo das ciências políticas, que é esconder os números, manipular os números, não deixar as noticias ruins, não deixar a imprensa”, finalizou.

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