por Ailma Teixeira
Foto: Marcos Corrêa / PR
Ao chegar na entrada do Palácio do Alvorada, onde costuma conversar com apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi surpreendido por uma ex-apoiadora que lhe cobrou mais sensibilidade em relação às mortes decorrentes da Covid-19. O boletim do Ministério da Saúde indica que 739.503 pessoas testaram positivo para o novo coronavírus e 38.406 vidas já foram perdidas, 1.272 delas contabilizadas nas últimas 24 horas.
“Nós temos hoje 38.406 mortos por causa do Covid (...), não são 38 mil de estatística, são 38 mil famílias que estão morrendo nesse momento, 30 mil pessoas que estão chorando e o senhor, como chefe da nação... Eu votei no senhor, eu fiz campanha pra o senhor, faz tempo que o senhor me conhece e eu sinto que o senhor traiu a nossa população”, desabafou a mulher, identificada como Cris Bernart.
Ela é assessora do vereador da cidade de São Paulo, Fernando Holiday (Patriota), e membro do Movimento Brasil Livre (MBL), que hoje faz oposição a Bolsonaro e planejou o protesto em frente ao Alvorada. Para realizar o ato, Cris pediu licença não remunerada do gabinete, o que consiste no desconto do salário pelo dia de trabalho perdido com a ida a Brasília.
Ela levou ainda um cartaz com os números de óbitos da pandemia, mas Bolsonaro lhe deu as costas. Registros do momento mostram bolsonaristas dizendo que ela é uma “petista infiltrada” e que “estava no lugar errado” por “falar mal do presidente”.
“Sai daqui”, Bolsonaro e apoiadores expulsaram, agorinha, mulher que questionou presidente sobre mais de 38 mil mortes. Ela se identificou como Cris Bernardes. Tirem suas conclusões.
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Ao ver a insistência da mulher no discurso, Bolsonaro a destratou. “Se você quiser falar, sai daqui, já foi ouvido. Cobre do seu governador. Sai daqui”, rechaçou o presidente, acrescentando depois que ela seria “matéria na imprensa o dia todo”. “Alguém está preocupado?”, ironizou.
Posteriormente, Cris foi procurada pela imprensa para uma entrevista e reforçou as queixas sobre a forma como Bolsonaro tem conduzido a crise. “Eu vim fazer uma crítica, fiz até um cartaz que depois tomaram pra questionar porque ele está escondendo esses dados da gente, a população tem o direito de saber o que está acontecendo”, relatou à imprensa.
Vejam aqui a eleitora de Bolsonaro que o cobrou mais cedo sobre as 38 mil famílias que estão sofrendo a perda de entes queridos. “Eu apoiei ele na época da campanha e me sinto hoje traída como milhões de brasileiros” #BolsonaroGenocida
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Ela se refere ao fato de que, na última semana, o Ministério da Saúde retardou a divulgação do balanço oficial e pretendia não mais divulgar o número de casos e óbitos por data de registro, modelo adotado em quase todos os países afetados pelo vírus (saiba mais aqui). Diante desse contexto, Cris pasosu a apoiar o impeachment de Bolsonaro. “Estou louca pra acordar com [o vice-presidente Hamilton] Mourão gritando aquele 'bom dia' que vitou meme”.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem minimizado o número de óbitos e os demais efeitos da pandemia, além de defender o retorno das atividades comerciais, que foram suspensas em muitos estados e municípios por decretos de governadores e prefeitos.