Vera Araújo
João Paulo Saconi
O Globo
João Paulo Saconi
O Globo
Policiais da Delegacia de Homicídios (DH) da Polícia Civil do Rio e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) apreenderam nesta quinta-feira, dia 7, o sistema de mídia da portaria do condomínio Vivendas da Barra , na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, um dos acusados pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Um dos porteiros do condomínio disse à Polícia Civil que liberou a entrada do ex-policial militar Élcio de Queiroz no Vivendas após ter sido supostamente autorizado pela voz do então deputado Jair Bolsonaro — ele também era morador do residencial.
Isso teria ocorrido no dia 14 de março de 2018, horas antes do momento em que Marielle Franco e Anderson foram assassinados. Élcio é suspeito de ter participado do crime junto com Lessa. Naquele dia, Bolsonaro estava na Câmara dos Deputados, em Brasília.
“MENTIRA, EQUÍVOCO OU ESQUECIMENTO” – Na terça-feira passada, o Jornal Nacional noticiou o teor do depoimento do porteiro e explicou que Bolsonaro estava em Brasília naquele momento. No dia seguinte, em entrevista coletiva na sede do Ministério Público do Rio (MP-RJ), a promotora Simone Sibilio afirmou que o porteiro “mentiu” à polícia em seu depoimento. Depois, ela disse que ainda seria esclarecido pela investigação se o porteiro “mentiu, se equivocou ou esqueceu”.
A convicção do MP de que o profissional deu informações falsas à polícia baseou-se na análise da gravação de um diálogo em que o interlocutor do porteiro era Lessa. Os critérios que basearam a análise, feita por peritos do MP, foram definidos pouco mais de duras horas antes da coletiva das promotoras.
CRÍTICA – A perícia foi criticada por não ter analisado o sistema de gravação de conversas da guarita, mas apenas os áudios cedidos pelo síndico em um CD. Procurado, o Ministério Público do Rio afirmou que acompanha todos os atos de investigação relacionados ao caso, mas que as diligências tramitam sob sigilo.
A promotoria também informou que as gravações entregues pelo síndico do condomínio seguiram para o setor de análise no dia 15 de outubro e que, portanto, a perícia do material não foi feita em apenas 2h30m.
INQUÉRITO NA PF – A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF) instaurou na quarta-feira, dia 6, um inquérito para apurar se o porteiro do condomínio cometeu crime ao mencionar o nome do presidente Bolsonaro em dois depoimentos sobre o caso Marielle.
A procuradoria quer que a PF investigue se o profissional cometeu os crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho e denunciação caluniosa. Também há um pedido para que seja averiguada a possibilidade de o porteiro ter infringido o artigo 26 da Lei de Segurança Nacional.
INQUÉRITO – A legislação prevê de 1 a 4 anos de prisão para quem calunia ou difama autoridades, como o presidente, imputando a elas fatos criminosos ou ofensivos à reputação. A abertura do inquérito havia sido requisitada na última semana pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Em ofício enviado ao procurador-geral da República, Augusto Aras, ele solicitou que fossem verficadas as circunstâncias da menção ao nome de Bolsonaro. Aras expediu um ofício no último 30 demandando o MPF.