Carlos Chagas
Parece claro o objetivo do presidente Lula ao reunir o ministério, hoje, aqui em Brasília: botar a máquina administrativa para operar em ritmo total, se possível frenético. Não deixar um setor, sequer, devagar, quase parando, como vinha acontecendo em alguns. Cada ministro será chamado a relatar suas atividades e, em especial, o que ainda pode ser feito até o final do seu mandato.
Esse tour de force obviamente beneficiará a candidatura Dilma Rousseff, devendo a equipe ser exortada para também atuar politicamente em favor dela, por certo que depois do expediente e nos fins de semana. A preocupação do presidente, no entanto, centraliza-se no seu governo. Pretende que sua aceitação pela opinião pública venha a crescer mais ainda, nas próximas pesquisas, se possível acima dos 80%. Está atento para as críticas formuladas na campanha eleitoral, especialmente por parte de José Serra. Elas devem ser respondidas de imediato.
O Lula prepara o futuro, não apenas a cargo de Dilma Rousseff, se ela for eleita, mas no que diz respeito a ele mesmo. Mostra-se disposto a permanecer na política, liderando o PT. Seus planos são exatamente contrários à performance de Fernando Henrique, isto é, não tornará pública qualquer análise sobre o futuro governo. Pretende centralizar sua atividade na defesa de reformas institucionais, ainda que sem atropelar as iniciativas de quem vier a sucedê-lo. No caso, imagina venha a ser Dilma, mas se for Serra, dá mesma forma.
Sobre voltar ao poder em 2014, não fala. Nem precisa.
É o que dá trocar de camisa
Com as devidas desculpas ao colegas dedicados ao esporte, torna-se necessário meter a colher no caldeirão deles. Não deu para nenhum rubro-negro entender porque o Flamengo entrou em campo fantasiado, domingo, no Pacaembu. Camisas e meias zebradas de azul e amarelo só podiam resultar em derrota diante do Corintians. Jamais se viu ridículo igual. É preciso identificar e despedir o diretor que optou por essa pantomima, bem como tomar a decisão de que o clube jamais abandonará outra vez o preto e vermelho. É mais ou menos como se o PT fosse para a campanha eleitoral de roxo, lilás ou cor de burro-quando-foge, em vez das tradicionais bandeiras vermelhas. Ninguém pode ser contra a modernidade, mas tudo tem limite. Bem feito…
Menos arrogância, por favor
Dá o que pensar a série de entrevistas que o Jornal Nacional iniciou ontem e continua hoje e esta semana com os candidatos presidenciais. Primeiro, porque desde Guttemberg prevalece a regra de que a estrela, em entrevistas de qualquer espécie, é o entrevistado. Nunca o entrevistador. Entre nós, de uns tempos para cá, a moda pegou ao contrário: muitos são os jornalistas que em vez de perguntas fazem discursos e perorações, como se o público estivesse interessado em suas opiniões.
Outra falha ética é estabelecer uma relação de superioridade com os convidados. Poderia o casal da Rede Globo ter chamado Dilma Rousseff de ministra, título a que tem direito mesmo depois de haver deixado o ministério, assim como Marina Silva merece coisa igual. Da mesma forma, chamar José Serra de governador seria o lógico. O que não dá é dirigir-se como a ela, ontem, com um arrogante “CANDIDATA!”, tentativa de estabelecer uma relação de superioridade diante de quem comparece perante câmeras e microfones. Um pouco de humildade não faria falta a quantos, do lado de cá, deveriam ter presente estar prestando um serviço público, jamais concorrendo a um concurso de beleza ou de popularidade.
Levar para o segundo turno
Mudanças à vista na estratégia de campanha de Antônio Anastasia, em Minas, certamente por decisão de Aécio Neves. O objetivo, agora, é levar o candidato ao segundo turno, sem pretensões de emplacá-lo no primeiro. Alguma coisa parecida com o ocorrido na campanha para a prefeitura de Belo Horizonte, em 2006, quando Márcio Lacerda virou o jogo na segunda votação, depois de sofrível performance na primeira. Com os pés no chão, o PSDB prepara-se para empreender todos os esforços visando manter o governador atual no páreo, dia 3 de outubro. Depois, até o final do mês, Minas viverá o maior dos confrontos eleitorais dos últimos anos. Coisa parecida como quando Hélio Costa, por coincidência, ganhou na votação inicial mas perdeu para Eduardo Azeredo, na outra.
Fonte: Tribuna da Imprensa