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quinta-feira, julho 08, 2010

Ilusões ao mar

Carlos Chagas

Mais grave do que Dilma Rousseff haver trocado seu progressista programa de governo por outro insosso e inodoro, horas depois de apresentá-lo no Tribunal Superior Eleitoral, é saber porque a candidata promoveu a mudança. Não que tenha inovado alguma coisa. O Lula está cansado de fazer o mesmo, desde 2002, quando nos palanques prometeu reformas de verdade e acabou escrevendo a tal “Carta aos Brasileiros”. Ainda há pouco assinou o Plano Nacional dos Direitos Humanos e depois rasgou, uma por uma, suas inovações.

O triste, nesse episódio ocorrido na inauguração da campanha eleitoral, é que a candidata cedeu às mesmas pressões que vem marcando o governo de seu patrocinador. Importa menos ter sido intermediário Antônio Palocci, como representante das elites. Frustrante foi ver Dilma retirar do texto propostas como a taxação das grandes fortunas, a função social da imprensa, a redução da jornada de trabalho, o fim da criminalização dos movimentos sociais e outras de igual significado.

Está em festa o andar de cima, cientes seus inquilinos de poder fazer com ela o que tem feito com ele, ou seja, impor a permanência de seus privilégios. Ainda assim, passaram recibo através dos editoriais dos jornalões, seus porta-vozes. Admoestaram Dilma por haver ousado apresentar o texto inicial, mesmo tendo sido retirado horas depois. Daqui a pouco estarão proibindo a ex-ministra até de pensar diferente deles. Se esse ensaio-geral exprime a peça a ser encenada pelo novo governo, no caso de vitória da candidata, melhor será deitar ao mar as ilusões, se alguém ainda as possui.

Estar ou ser governo

Em janeiro de 1951, quando de sua segunda posse, então eleito constitucionalmente, Getúlio Vargas não se limitou a discursar perante o Congresso. A capital era no Rio e, deixando o plenário do palácio Tiradentes, o novo presidente ocupou um palanque armado logo abaixo e falou para a multidão. Dirigindo-se aos trabalhadores, disse que a partir daquele instante eles estariam no governo, mas acrescentou: “Em breve sereis o governo”.

Vaticínio igual poucas vezes se tem visto. Cinqüenta anos depois elegeu-se presidente da República um torneiro-mecânico, mas a pergunta que se faz é se os trabalhadores são mesmo o governo. Pelo jeito, não, tantas as restrições que ainda pesam sobre o trabalho. Ainda agora mobiliza-se o capital para impedir a aprovação de projeto reduzindo de 45 para 40 horas a jornada semanal. E quem dá suporte à negativa? O governo chefiado por um operário…

A nova legislatura

Com exceção de um terço dos senadores, na teoria o Congresso inteiro poderá ser renovado nas urnas, em outubro. Indaga-se qual o índice de permanência dos atuais parlamentares, já que quase todos se candidatarão a um novo mandato. Nos últimos anos a renovação tem sido pouco menor de cinqüenta por cento, mas há quem suponha novidades, desta vez. O desgaste de Câmara e Senado parece ultrapassar os limites anteriores.

A pergunta é se os que vão chegar serão iguais aos que vão partir. Porque o Congresso é o retrato da nação. Nem melhor nem pior do que ela.

Do México vem um exemplo. Na primeira metade do século passado, entusiasmados com sua revolução mais recente, os mexicanos impuseram regra eleitoral obrigatória: “no reeleciones!” Ninguém poderia ser reeleito para o mesmo cargo. Vieram os resultados, a euforia logo se desfez. Mesmo com novos personagens, o Congresso continuou igualzinho.

Cheiro de povo

Neste mês que antecede o início da propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e a televisão, e estando proibida a promoção comercial dos candidatos, a mente ágil dos políticos criou um derivativo: ganhar literalmente as ruas. Dilma, Serra, Marina e os demais começaram a temporada das passeatas. Um dia sim, outro também, podem ser vistos no centro e na periferia das capitais e grandes cidades, acompanhados dos tradicionais papagaios de pirata, cumprimentando populares, tomando cafezinho nas padarias e beijando criancinhas. Despertam as atenções, é claro. Pequenas multidões se formam ao redor deles, telefones celulares tiram fotografias aos montes, a curiosidade transforma-se ilusoriamente em apoio. Não há um candidato que não se sinta reconfortado e confiante na vitória.

Trata-se de oportunidade singular para todos, porque a partir de 17 de agosto estarão quase que exclusivamente nas telinhas e nos microfones. Dentro das casas, mas fora das ruas. Tomara que aprendam alguma coisa neste interregno urbano.

Fonte: Tribuna da Imprensa

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