Carlos Chagas
Pelo antigo Código Civil de Clóvis Bevilacqua, índio era considerado incapaz. Carecia de direitos políticos. Ressurgindo do passado, eis aí um exemplo de incapacidade total do Índio da Costa, feito candidato a vice-presidente da República na chapa de José Serra, sabe-se lá porque desígnios da Providência, da tucanagem ou dos salvados do PFL.
O indigitado silvícola acaba de definir Dilma Rousseff como “atéia e esfinge do pau oco”, acusando também o PT de “ligado às Farcs e ao narcotráfico, o que há de pior”.
Convenhamos, no nome o personagem lembra o amigo do Zorro, o Tonto. No comportamento, ultrapassa qualquer medida de bom-senso. Se denunciado e chamado a comprovar as acusações em juízo, acaba parando na cadeia.
Ignora-se a reação de José Serra diante de seu parceiro. Uma forma de interromper essa cascata de aleivosias seria mantê-lo afastado da campanha, mas como ninguém poderá garantir o seu silêncio, melhor a iniciativa oposta: amarrá-lo ao candidato presidencial, mas amordaçado, com direito apenas a abanar a mão para as platéias.
A gente se pergunta como o PSDB aceitou a indicação de Índio da Costa e, pior ainda, como o DEM ousou indicá-lo. Há quem suponha a vingança dos Maia, César e Rodrigo…
Arca de Noé
Na atual fase da campanha, José Serra obriga-se a construir e navegar numa Arca de Noé, reunindo nela cobras, escorpiões, ovelhas, coelhos e sardinhas. Para enfrentar os efeitos do dilúvio desencadeado pelo presidente Lula, outra saída não haverá senão tentar conciliar o inconciliável. Não pode rejeitar o apoio dos neoliberais, muito menos a legião dos que recebem o bolsa-família. Deve dar razão aos estatizantes e aos privatizantes. Precisa tecer loas ao capital e ao trabalho. Até para com os fumantes deve ser condescendente, para não falar nas exigências dos nordestinos, dos amazônidas e dos gaúchos.
O problema, para o ex-governador de São Paulo, é evitar o sentido plebiscitário das eleições, ou seja, não pode insurgir-se contra Jeová e maldizer as águas que ainda sobem. Melhor continuar navegando e esperar que no segundo turno alguma pombinha retorne com uma planta no bico, prenunciando o fim da tempestade. Nem a História nem a Bíblia particularizam como Noé reconstruiu a civilização, mas a verdade é que a Humanidade sobreviveu. São as esperanças do candidato.
Livro-bomba
Em Brasília, não apenas os políticos andam perdendo o sono e os cabelos. Empresários também, dos grandes. Até figuras exponenciais do society demonstram pavor, sem falar de jornalistas.
Tudo por conta do livro que o ex-governador José Roberto Arruda já escreveu e aguarda o momento de ser editado, contando a sua versão sobre os escândalos que o despacharam do poder para a prisão.
Imaginou-se o texto vindo a público antes das eleições de outubro, para prejudicar muita gente, mas a vingança de Arruda parece mais sutil. Publicar depois das posses o envolvimento de tanta gente nas trapalhadas aqui verificadas será bem mais letal. O ex-governador está para a capital federal mais ou menos como os trabalhadores da Europa estavam para o Manifesto Comunista de Marx e Engels: não tem nada a perder…
Fonte: Tribuna da Imprensa