A ação de vândalos aos sítios arqueológicos de Paulo Afonso (546 km de Salvador) preocupa arqueólogos e pesquisadores do Campus VI da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) que buscam ajuda para estruturar os 112 sítios até o momento catalogados no povoado de Rio do Sal. Estes foram destruídos inicialmente pela atividade pedreira, tradicional na região e agora são alvo de vandalismo.
Do total, 64 sítios arqueológicos ainda estão intactos apresentando as pinturas rupestres e presença de civilização datada de nove mil anos, mas 48 foram destruídos e a pouca estrutura para visitação tem sido alvo de vândalos que com revólveres, atiraram contra as placas colocadas nos locais e destruíram as proteções e passarelas de madeira colocadas em volta das pedras com as inscrições.
Mas a situação também pontua uma preocupante situação social. “Desde 2008, as 70 famílias que vivem na comunidade de Rio do Sal pararam a atividade de quebrar as pedras para fazer paralalelepídedos e, na época assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o compromisso de a prefeitura pagar uma bolsa no valor de um salário mínimo até que as famílias tivessem nova atividade para geração de renda”, explica Cleonice Vergne, arqueóloga responsável pelo Centro e Antropologia e Arqueologia de Paulo Afonso (Caapa).
O acordo só funcionou por seis meses e depois disso, a administração municipal posterior não deu continuidade colocando em lados opostos a preocupação de preservar a história e a necessidade de garantir emprego e renda a mais de 300 pessoas. O que poderia andar junto em trabalho educativo e busca por novas atividades de trabalho acabou em intimação do Ministério Público aos envolvidos.
Sem ajuda - A arqueóloga explica que cada trabalhador quebrava um milheiro a custo de R$ 100 e os atravessadores chegam a vender até por R$ 60 o m². “Isso sem falar no risco que eles corriam com o material usado para quebrar as pedras como dinamite que causou várias mutilações”, ressalta o diretor da Uneb em Paulo Afonso, Juracy Marques. Os arqueólogos lembram ainda que a atividade provocava doenças nas pessoas que ao quebrar as pedras entravam em contato com o pó que petrifica os pulmões e causa a morte.
De acordo com o secretário de Turismo Jânio Soares a prefeitura decidiu não renovar o acordo por entender que essa medida seria paliativa e não ajudaria as famílias que poderiam ficar acomodadas recebendo o salário sem uma atividade em andamento. “Temos total interesse em apoiar o projeto dos pesquisadores, em incluir os sítios nos roteiros turísticos da cidade, mas sabemos que é preciso sentar com representações dos governos estadual e federal para ter uma ideia do que poderá ser feito de concreto”, explica.
As pesquisas que possibilitaram o trabalho de estruturação e catalogou os sítios em condições de visitação receberam recursos da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e da Secretaria de Meio Ambiente da Bahia (Sema), mas o trabalho poderia ter sido mais abrangente se houvesse apoio municipal, diz Cleonice Vergne.
“A prefeitura recebe os royaltes mensais da Chesf e poderia contribuir com o pagamento das bolsas para que as famílias que deixaram de trabalhar nas pedreiras pudessem ser capacitadas em novas atividades que resultariam em novas profissões e geração de renda”, explica.
Na comunidade de Rio do Sal, vivem hoje as 70 famílias que tiveram de abandonar a atividade nas pedreiras. Sem saber o que fazer e onde procurar trabalho, os ex-quebradores de pedras dizem estar esquecidos pelo poder público.
Fonte: A Tarde