Carlos Chagas
Começam mal o ano os candidatos já dispostos para a corrida sucessória presidencial. Porque insistem, como se vê na mídia, em relacionar obras inauguradas ou por inaugurar, com a peculiaridade de que nem lhes pertence totalmente a autoria. Dilma Rousseff expõe realizações do governo Lula e fala, no máximo, em continuidade. José Serra, mesmo a contragosto, vai desfiando a ladainha do modelo aplicado por Fernando Henrique Cardoso. Dos outros pretendentes, nem se fala.
Esquecem os dois principais candidatos ser o futuro bem mais necessário do que o passado, se querem ganhar a eleição. O que farão, uma vez instalados no palácio do Planalto? Que planos, programas e metas pretendem atingir, além de funcionarem, ao menos até agora, como vídeo-tapes de mentores e antecessores?
Em seguida à boa fase da economia nacional, quais os pontos de estrangulamento a enfrentar? Como multiplicar a imprescindível infra-estrutura hoje revelando portos inadequados e insuficientes, rodovias esburacadas e ferrovias inexistentes? Onde ampliar a fronteira agrícola, em que termos e objetivos? De que forma reduzir a orgia financeira que só faz engordar os bancos e seus lucros, sem maiores reflexos no crédito ou, muito menos, na redução da carga fiscal?
Sequer demonstrar a fonte de recursos e de tecnologia para futuras gerações usufruírem a riqueza por enquanto ilusória do pré-sal eles demonstram. Como, da mesma forma, ignoram de que forma transformar o assistencialismo do bolsa-família em força motriz do aprimoramento social.
Já era para estarem apresentando as linhas-mestras com as quais disputarão o voto popular, mas, por cautela, temor ou incapacidade, preferem comportar-se como marionetes sem vontade própria.
Ficou para agosto, pode ficar para novembro…
Não se passaram 24 horas do comentário aqui exposto, sobre estarem os partidários de Dilma Rousseff adiando a previsão da decolagem de sua candidatura. Esperavam outubro do ano passado como o período da virada, adiaram para dezembro, em seguida fixaram março. Pois não é que vem o ministro Tarso Genro, anunciando que só em agosto a candidata poderá ultrapassar José Serra? O competente titular da pasta da Justiça é antes de tudo um realista e prevê que apenas com o início da propaganda eleitoral gratuita dona Dilma crescerá como opção viável. Quem garante, porém, que mais um adiamento se torne inevitável? Setembro? Outubro já não dará mais, devendo a s eleições realizar-se no domingo, dia 3. Por que não novembro?
Embalagens e conteúdo
Virou moda, faz muito, embrulhar coisas sem nenhum valor em embalagens preciosas. Com todo o respeito, vamos abordar hoje a figura de outro barbudo, não esse que o leitor estará imaginando, hóspede do palácio da Alvorada.
Falamos daquele quatro mil anos mais velho, que não sabemos exatamente onde habita, em especial depois da descoberta de que a Terra é redonda, ou seja, tornando difícil identificar se o céu está em cima, em baixo ou do lado.
O Personagem já foi acusado de vingativo, vaidoso, invejoso e presunçoso, sem senso de justiça. Nem ao menos quis morar no mundo que dizem haver criado em sete dias, ignorando-se estar instalado nas aglomerações de esferas em chamas ou no caos permanente das frias nebulosas sem rumo. Absurdo, mesmo, é imaginar que tenha oferecido seu Filho em sacrifício para conjurar a maldade dos homens que Ele mesmo criou. Porque se teve um Herdeiro único, como explicar sua passividade de Pai diante da violência perpetrada na cruz contra um Inocente?
Manteve suas Vastas Mãos abanando, em inexplicável desdém, chamado por uns de Padre Eterno, por outros de Jeová, sem esquecer os que O veneram como Alah, Tupã, Icknaton e sucedâneos.
Mesmo correndo o risco da incompreensão e da sagrada ira dos que acreditam, vale deixar uma conclusão. Nada mais edificante do que assistir tantas demonstrações de fé e estoicismo, não obstante excessos praticados em nome desses sentimentos. Multidões queimaram na fogueira, na Idade Média, como hoje explodem em atentados irracionais no Oriente também Médio. Antes, em defesa ou contra a Reforma. Agora, chamados xiitas ou sunitas em conflito. Embalagens, todas, mas, e o conteúdo?
Fugir para Minas
Estão os tucanos preparando imensa concentração em Belo Horizonte, até contrariando o maior de nossos poetas, aquele que quando quis fugir para Minas, verificou que Minas não havia mais. Pois agora há. O objetivo da reunião é obter do governador Aécio Neves que não feche as portas para a formação da chapa sucessória quase imbatível com José Serra na cabeça. Longe de exigir dele que aceite desde já a composição, Sérgio Guerra, Fernando Henrique e o ninho inteiro vão prestar-lhe a vassalagem necessária para que admita a hipótese, no futuro. Pelo menos, para não sepultá-la de vez. Como dizia o avô, o tempo é o senhor das circunstâncias…
Fonte: Tribuna da Imprensa