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segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Como nasceu a Ucrânia - e quais seus vínculos históricos com a Rússia




Rio Dnieper atravessa a Ucrânia e desemboca no Mar Negro

Laços entre os países remontam ao século 9º

Desde o dia 24 de fevereiro a comunidade internacional assiste com perplexidade a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Como outras nações vizinhas, os dois países têm tanto laços históricos e culturais que as unem quanto que as separam.

Essa herança em comum remonta ao século 9º, quando Kiev, a atual capital ucraniana, era centro do primeiro Estado eslavo, criado por um povo que se autodenominava como "rus".

Foi esse grande Estado medieval, que os historiadores chamam de Rus de Kiev, que deu origem à Ucrânia e à Rússia - cuja capital atual, Moscou, surgiu no século 12.

A fé professada era a cristã ortodoxa, instituída em 988 por Vladimir 1º de Kiev (ou São Vladimir Svyatoslavich "O Grande"), que consolidou o reino Rus no território que corresponde hoje a Belarus, Rússia e Ucrânia e se estende até o Mar Báltico.

Entre um grande número de dialetos eslavos na região, as línguas ucraniana, bielorrussa e russa acabaram se desenvolvendo.

É por causa desse passado compartilhado que o presidente russo, Vladimir Putin, afirma que "russos e ucranianos são um povo, um único todo".

Especialistas apontam, entretanto, que, apesar da origem comum, a trajetória dos ucranianos tomou caminhos diferentes da dos russos pelo menos nos últimos nove séculos, quando estiveram sob domínio de diferentes povos.

Para Andrew Wilson, professor de estudos ucranianos da Universidade College London, é importante ver a Ucrânia, tanto seu território quanto sua identidade, mais como um "quebra-cabeças dinâmico" do que como uma unidade estanque.

O quebra-cabeças

Em meados do século 13, a federação de principados de Rus foi conquistada pelo Império Mongol.

Na sequência, no final do século 14, o território acabou dividido entre o Grão-Principado de Moscou e o Grão-Ducado da Lituânia (que mais tarde se juntou à Polônia), que se aproveitaram do declínio do poder mongol para avançarem sobre a região.

Kiev e as áreas adjacentes ficaram sob o domínio da Comunidade Polaco-Lituana - o que deixou a região oeste da Ucrânia mais exposta a influências ocidentais nos séculos seguintes, desde a contrarreforma (a reposta da igreja Católica à reforma protestante) até o renascimento (movimento artístico e cultural inspirado na antiguidade clássica, que rompia com os valores da Idade Média).

A chamada Galícia dos Cárpatos, também no oeste da Ucrânia, chegou a ser governada por um longo período pela dinastia dos Habsburgo, conhecida por estar à frente dos impérios Austríaco e Austro-Húngaro.

Assim, essa porção ocidental do país teve uma história completamente diferente daquela vivida no leste ucraniano, disse Geoffrey Hosking, um dos principais historiadores especializados em Rússia, ao BBC HistoryExtra.

Muitos de seus habitantes não são católicos ortodoxos, pertencendo à igreja Uniata ou às igrejas Orientais Católicas, que realizam seus ritos em ucraniano e reconhecem o Papa como chefe espiritual.

Outra parte da Ucrânia de hoje com um passado bastante particular é a Crimeia, com seus laços com gregos e tártaros e períodos sob o domínio otomano e russo.

Dois lados

No século 17, uma guerra entre a Comunidade Polaco-Lituana e o czarismo da Rússia colocou as terras a leste do rio Dnieper, região era conhecida como "margem esquerda" da Ucrânia, sob o controle da Rússia Imperial.

Décadas depois, já em 1764, a imperatriz russa Catarina, a Grande, desarticulou o Estado cossaco ucraniano que dominava as regiões central e noroeste do território e passou a avançar sobre terras ucranianos até então dominadas pela Polônia.

Durante os anos que se seguiram, uma política conhecida como russificação proibiu o uso e o estudo da língua ucraniana. As populações locais foram pressionadas a se converter à fé ortodoxa russa, para que pudessem constituir mais uma das "pequenas tribos" do grande povo russo.

Em paralelo, o nacionalismo se intensificou nas terras mais ocidentais, que passaram da Polônia para o Império Austríaco, onde muitos começaram a se chamar de "ucranianos" para se diferenciar dos russos.

Com o século 20, veio a Revolução Russa e a criação da União Soviética, que fez seu próprio rearranjo do quebra-cabeças ucraniano.

Dominação soviética

A parte ocidental da Ucrânia foi tomada da Polônia pelo líder soviético Joseph Stalin no final da Segunda Guerra Mundial, quando foi constituída a República Socialista Soviética da Ucrânia.

Sob o manto comum soviético, na década de 1950 Moscou atendeu a uma demanda antiga da república ucraniana e transferiu a península da Crimeia para o país.

Localizada no Mar Negro, no sul, a região também tem laços fortes com a Rússia, que mantém até hoje uma base naval na cidade de Sebastopol. A Crimeia voltou para controle russo em 2014, quando a Rússia de Putin a invadiu e anexou.

Durante o período de dominação soviética, a tentativa de submeter a Ucrânia à influência russa se intensificou, muitas vezes a um custo humano elevado.

Milhões de ucranianos que já faziam parte da União Soviética na década de 1930 morreram em uma grande fome - que ficou conhecida como Holodomor - promovida por Stalin como estratégia para forçar os camponeses a se unirem à política comunista de fazendas coletivas.

Stalin chegou a enviar um grande número de cidadãos soviéticos, muitos sem conhecimento do idioma ucraniano e com poucos laços com a região, para tentar repovoar o leste do país.

Mesmo assim, a Moscou soviética nunca dominou culturalmente a Ucrânia.

Decisões econômicas, políticas e militares foram impostas a partir do centro, afirma Hosking, mas a Ucrânia "tinha certa autonomia" nas áreas de cultura e educação.

Embora o russo fosse a língua dominante, as crianças aprendiam ucraniano no ensino primário, muitos livros eram publicados no idioma local e, na segunda metade do século 20, "um forte movimento nacionalista ucraniano protagonizado por pessoas que tiveram uma educação ucraniana" cresceu na União Soviética.

Divisões profundas

Em 1991, a União Soviética entrou em colapso e, em 1997, um tratado entre Rússia e Ucrânia estabeleceu a integridade das fronteiras ucranianas.

Os diferentes legados que caracterizam as regiões do país deixaram, contudo, divisões que muitas vezes parecem abismos.

As regiões de cada um dos lados do rio Dnieper têm contrastes profundos, marcados pela extensão do domínio russo.

A leste, os laços com Moscou são mais fortes, e a população tende mais a seguir a religião ortodoxa e a falar o idioma russo.

Na parte ocidental, os séculos sob o domínio de potências europeias, como a Polônia e o Império Austro-Húngaro, acabam contribuindo para que muitos de seus habitantes fossem católicos e que preferissem falar a língua local.

Cada lado com seus próprios interesses: alguns anseiam por retornar ao que consideram sua pátria-mãe, enquanto outros anseiam por trilhar caminhos independentes.

BBC Brasil

Alemanha investirá 100 bilhões de euros nas Forças Armadas

 




Anúncio foi feito pelo chanceler federal, Olaf Scholz, em discurso no Bundestag, diante das ameaças russas ao Ocidente. Governo alemão também destinará mais de 2% de seu PIB, anualmente, para a defesa.

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, anunciou neste domingo (27/02) um investimento de 100 bilhões de euros para modernizar as Forças Armadas Alemãs (Bundeswehr) e um repasse anual de mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa nacional.

Em um discurso no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), em uma sessão extraordinária para discutir a guerra na Ucrânia, Scholz enfatizou a necessidade de contar com uma Bundeswehr "eficiente, avançada e de ponta" para proteger o país, entre outras ameaças, da Rússia de Vladimir Putin.

"Melhores equipamentos, equipamentos modernos, mais pessoas, isso custa muito dinheiro", reconheceu, acrescentando, porém, que isso é algo possível para um país do tamanho e da importância da Alemanha na Europa. Para Scholz, o país deve investir mais em sua segurança para proteger a liberdade e a democracia.

Segundo o chanceler, diante desta "mudança de época" provocada pela agressão de Putin, "tudo o que for necessário para garantir a paz na Europa" será feito - e a Alemanha será solidária em sua contribuição. Para isso, no entanto, a Bundeswehr precisa de "novas e importantes capacidades", declarou Scholz.

Mudança de postura

A guerra na Ucrânia está levando o governo alemão a repensar sua política externa e de segurança.Scholz já havia revisado posições centrais no sábado. Depois de um logo período de negativas, a Alemanha finalmente concordou em enviar armamento letal à Ucrânia - incluindo 1.000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar do estoque da Bundeswehr. "Não poderia haver outra resposta à agressão de Putin", enfatizou o chanceler federal.

Além disso, Berlim permitiu neste sábado que a Holanda enviasse à Ucrânia 400 bazucas e que a Estônia fornecesse a Kiev peças de artilharia do estoque da antiga Alemanha Oriental, que por acordos contratuais, exigiam a aprovação da Alemanha antes de serem repassadas.

As medidas revertem um princípio de longa data adotado pela Alemanha. Durante anos, Berlim se recusou a exportar armas para zonas de guerra ou permitir que países terceiros enviassem armas fabricadas na Alemanha para áreas de conflito. A política está enraizada na história da Alemanha como agressora durante a Segunda Guerra Mundial. 

Ao anunciar a reversão da política no sábado, Scholz disse que a "invasão russa da Ucrânia marca um ponto de virada".  

Scholz afirmou que o presidente russo quer "criar uma nova ordem na Europa e não tem escrúpulos em usar capacidades militares para alcançá-la". 

"Nunca nos resignaremos à violência como meio de política. Não descansaremos até que a paz seja assegurada na Europa", escreveu no Twitter. 

Há tempos, a Alemanha vinha sendo criticada por sua postura de não permitir o envio de armas. Outros países da OTAN, incluindo o Reino Unido e os EUA, já haviam fornecido armas à Ucrânia nas últimas semanas.

UE enviará armas à Ucrânia

Também neste domingo, a União Europeia (UE), com o apoio da Alemanha, concordou em conceder 450 milhões de euros para financiar o fornecimento de equipamento militar letal à Ucrânia, e outros 50 milhões de euros para equipamento não letal, como combustível e equipamento de proteção. O anúncio foi feito pelo alto representante de Política Externa da UE, Josep Borrell, em entrevista coletiva.

Borrell explicou que esse montante será coberto pelo Fundo Europeu para a Paz e pelo fundo intergovernamental, que conta com 5 bilhões de euros para usar entre 2021 e 2027 e é financiado pelos Estados-membros, não pelo orçamento da UE.

O chefe da diplomacia europeia salientou que esta é "a primeira vez na história" que a UE vai financiar conjuntamente este tipo de equipamento, para o que "todos concordaram ou, pelo menos, não obstruíram esta decisão".

Borrell também disse que a Polônia, país que faz fronteira com a Ucrânia, se ofereceu como centro logístico para montar o equipamento antes de sua entrega aos ucranianos, e acrescentou que, nesta segunda-feira, os ministros de Defesa do bloco se reunirão para discutir os detalhes.

Quando questionado se a ativação das equipes de contenção nuclear da Rússia diante das sanções que o Ocidente lhe impõe atrapalha os planos dos europeus, Borrell respondeu que "todos estão cientes dessa ameaça, mas isso não nos impede de fazer o que tem de ser feito".

"A UE é um projeto de paz e queremos continuar a lutar pela paz na Europa", completou. 

Deutsche Welle

As consequências econômicas da guerra

 




Os custos econômicos de tentar travar Putin são sem dúvida consideráveis para a Europa. Mas são de certa forma controláveis, face ao custo que seria deixar esta invasão ilegal sem uma resposta firme.

Por Inês Domingos (foto)

A destruição, a insegurança, os refugiados e as mortes, tanto do lado dos Ucranianos como daqueles, dentro da Rússia, que se opõem a esta guerra, são uma tragédia inqualificável.

No plano económico, existe uma enorme incerteza sobre o que poderão ser as suas consequências para a Europa e para o mundo, mas para já não se pode descartar o risco de recessão. Desde logo pelo efeito que uma guerra que muitos acreditavam ser impossível às portas da Europa poderá ter na confiança das famílias e das empresas com a consequente retração do consumo e investimento. É um impacto que poderá não ser limitado à fronteira leste da UE mas alargar-se a toda a Europa.

Outro fator de incerteza é a escalada dos preços energéticos, dos cereais e dos metais, como o paládio. A Rússia é um fornecedor relevante de importantes matérias-primas e as sanções poderão afetar não só a Rússia como os seus clientes. Embora na passada sexta-feira os mercados tenham revertido uma parte do aumento dos preços do dia anterior, as sanções económicas cada vez mais significativas, e politicamente necessárias, poderão exacerbar a tendência de subida dos preços das matérias-primas. Nomeadamente, a expulsão do sistema SWIFT que assegura as instruções de transferências internacionais, a concretizar-se, será um rude golpe para a Rússia, com custos elevados também para Europa mais dependente de alguns bens russos.

A resposta dos Bancos Centrais para enfrentar esta crise será decisiva. A normalização da política monetária ainda este ano, que parecia segura nos Estados Unidos e um cenário cada vez mais provável na zona euro, poderá ficar comprometida. Por um lado, a inflação provocada por um choque negativo na oferta, como é o caso de uma guerra, não se resolve com um aumento das taxas de juros. Por outro, o efeito sobre a procura é muito incerto e os riscos de um abrandamento e até contração não são insignificantes, sobretudo na Europa.

Mas no longo prazo o efeito económico mais relevante a nível global poderá ser o da reconfiguração geopolítica a que esta invasão obriga. No passado, a integração da Rússia e da Ásia no comércio internacional beneficiou todos. Agora, o divórcio inevitável entre a Rússia e o Ocidente, bem como o crescente distanciamento do Ocidente face à China terão o efeito oposto. Em primeiro lugar porque, ainda que as importações vindas da Rússia de certos bens possam ser asseguradas por outras regiões, a redução da diversidade de oferta é sempre menos eficiente. Em segundo lugar porque esta crise obriga a uma reconfiguração da produção na UE, no sentido de um maior investimento na segurança, que é, na sua maioria, pouco reprodutivo. Por fim, porque as sanções terão um efeito relevante no potencial de crescimento da Rússia, condenando um povo e uma região a um longo período de estagnação ou até recessão, que não beneficia ninguém.

Os custos económicos de tentar travar Putin são sem dúvida consideráveis, sobretudo para a Europa, que já se ressente da incerteza provocada pela invasão. Mas são mensuráveis e de certa forma controláveis, face ao custo que seria deixar esta invasão ilegal sem uma resposta firme. Impor sanções mais significativas rapidamente poderá fazer uma diferença grande na ambição de Putin e do seu círculo mais próximo de implementarem uma política expansionista na Europa, que neste momento ninguém tem a certeza onde pode terminar.

Observador (PT)

Bolsonaro, Orbán e Putin




Bolsonaro, Putin, Orbán

Admirador de chefões autoritários, o presidente prefere passear de moto a falar sobre um ato de banditismo internacional

Por Rolf Kuntz

Dois chefões autoritários, um de direita, outro com carteirinha de comunista, foram visitados e afagados pelo presidente Jair Bolsonaro em sua última excursão fora do Brasil. O de direita, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, foi saudado num discurso de inspiração fascista, com referência a valores comuns: Deus, pátria, família e liberdade. Ao outro, Vladimir Putin, presidente da Rússia, Bolsonaro se declarou solidário, apesar da conhecida ameaça de ataque à Ucrânia. A invasão, com forças de terra, mar e ar, ocorreu na semana seguinte.

Atacada a Ucrânia, Bolsonaro evitou comentar o assunto, enquanto o Itamaraty publicava uma nota vergonhosa, conclamando as partes a “negociações conducentes a uma solução diplomática da questão”. O agredido tem de negociar com o agressor? Os dois são culpados pela violência? Não houve espaço ou tinta para uma palavrinha de censura a um ato de banditismo? O vicepresidente Hamilton Mourão fez uma declaração séria, comparando o ataque russo ao expansionismo nazista, mas foi desautorizado. “Quem fala sobre o assunto é o presidente da República”, disse Bolsonaro, mas quem esperou sua fala perdeu tempo.

Enquanto as tropas de Putin bombardeavam, aterrorizavam e ocupavam a Ucrânia, na quinta-feira, Bolsonaro liderava um desfile de motocicletas, a tal “motociata”, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Tendo ido até lá para inaugurar um trecho de rodovia, aproveitou para fazer campanha eleitoral e para exibir uma de suas especialidades, o passeio de moto. Com ele estava o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, conhecido usuário da garupa presidencial.

Será errado, no entanto, acusar Bolsonaro de se dedicar principalmente a exibir o talento de motoqueiro. Também errará quem o imagina empenhado em atividades típicas de um presidente, como administrar o País, planejar, negociar e executar políticas de modernização, de crescimento econômico e de inclusão social. Outras prioridades são muito mais visíveis em sua pauta. Sobra pouco tempo para atividades mais corriqueiras, como governar, quando é preciso cuidar da reeleição, evitar investigações inconvenientes para a família, fugir de conversas sobre rachadinhas e, é claro, satisfazer com dinheiro público o apetite do Centrão.

Quem se ocupa de assuntos tão importantes deve ter pouco tempo para questões como a invasão da Ucrânia. Ataques armados e violações territoriais podem ter relevância para a ordem global e para dezenas de economias, incluída a brasileira, mas nenhum presidente pode cuidar de tudo. Guerra, no entanto, é assunto importante na agenda presidencial brasileira. Não a da Rússia contra um país vizinho, ex-integrante da União Soviética, mas a guerra pessoal de Bolsonaro contra um conjunto de adversários – o governador de São Paulo, os defensores da vacinação obrigatória, os outros candidatos à Presidência, o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, de modo mais amplo, as instituições democráticas e republicanas.

“Não vamos perder essa guerra”, disse o presidente, há poucos dias, em mais uma crítica estapafúrdia à urna eletrônica e, por tabela, ao TSE. Naquele momento, o amigo Putin, apoiado também por Donald Trump, ainda se preparava para ordenar a invasão.

A referência à guerra com o TSE foi parte de um discurso a empresários e investidores financeiros, em São Paulo. Bolsonaro afirmou, quase aos berros, a disposição de brigar para se manter na Presidência. Só Deus, disse ele, conseguirá tirá-lo do Palácio do Planalto. Não contou detalhes dos planos divinos, mas fez uma insinuação ameaçadora ao falar de uma possível vitória petista. Vencedor, disse o presidente, Lula revogará o teto de gastos e a reforma trabalhista. “É isso que nós queremos para o Brasil? Dá para deixar tudo rolar numa boa, quem chegar chegou?”

Bolsonaro pode estranhar, mas isso é o normal numa democracia. Nesse regime, quem chegar chegou. Contados os votos, o vitorioso toma posse. O vencido aceita o resultado e, se achar conveniente, vai para a oposição. Essa é a rotina, principalmente quando o processo eleitoral é moderno e comprovadamente seguro, como no Brasil. Mas ele perguntou se “dá para deixar tudo rolar numa boa”.

Essa pergunta deveria inquietar qualquer democrata, como devem ser, espera-se, os participantes do encontro em São Paulo. Alguém, dentre eles, terá achado inconveniente “deixar tudo rolar”, se o mais votado for um candidato fora de suas preferências?

Enquanto Bolsonaro trata de interesses pessoais e familiares e rosna para as instituições, os brasileiros enfrentam desemprego elevado, inflação acelerada e economia emperrada. Os desempregados eram 11,1% da força de trabalho no trimestre final de 2021. A inflação chegou a 10,38% nos 12 meses até janeiro. As projeções de crescimento econômico para este ano raramente superam 0,5%. Não basta, enfim, ser admirador e imitador, tanto quanto possível, de Trump, Orbán e Putin. Uma boa dose de incompetência pode completar um conjunto harmonioso. 

O Estado de São Paulo

A candidatura de Bolsonaro tem jeito?




Pode ele reconhecer os erros, corrigir sua trajetória e se empenhar em entender as necessidades vitais do povo brasileiro?

Por José Augusto Guilhon Albuquerque* (foto)

A conduta do presidente assusta o Planalto e desafia seus opositores, pois parece haver consenso entre as elites dirigentes. Ou ele muda de atitude – para de provocar controvérsias irrelevantes, de se opor a pautas majoritárias na população, para de hesitar diante de decisões vitais para a parte mais vulnerável do eleitorado, e começa a governar seriamente – ou não chegará ao segundo turno.

Interpretar suas motivações parece ser urgente. Mas não se pode abrir a cabeça das pessoas e observar o que se passa lá dentro. Para entender o comportamento de um político, antes de especular sobre conversas de bastidores ou declarações de intenções, convém observar... o seu comportamento.

Muitos são os registros das condutas de Jair Bolsonaro como oficial do Exército e como parlamentar, e acompanhamos seu comportamento público durante três anos de mandato presidencial. As questões relevantes a observar nessas funções seriam: saber se seu comportamento segue um padrão ou é errático; em que consiste esse padrão, se houver; e qual é seu objetivo.

É preciso saber se existe continuidade de padrão entre essas funções ou em que consistiriam as eventuais mudanças de padrão e de objetivo. Resta, ainda, saber se é possível o presidente alterar sua conduta, tornando-a compatível com uma candidatura competitiva no segundo turno de 2022.

A análise dessas observações suscita um conjunto de hipóteses sobre o comportamento futuro do candidato. Sua conduta, nos três casos, segue um padrão definido, embora à primeira vista pareça ser errática: em todos os casos, destacam-se a revolta contra a autoridade, a total ausência de autodisciplina (cujo efeito é a aparência errática), sua submissão a seus supostos liderados, uma espécie de enclausuramento na célula familiar estendida (filhos, ex-mulheres, subordinados imediatos) – que eu chamaria de “familialismo” –, além de uma atitude agressiva com 360° de azimute, contra tudo e contra todos.

Sua conduta, nos três casos, só é errática na aparência.

Ao contrário, apresenta um padrão definido, faltando estabelecer se existe, em todos eles, um objetivo claro a ser atingido e de que objetivo se trata.

Sua carreira no Exército é a mais obscura. Do pouco que se sabe, dois objetivos se salientam, associados a dois de seus padrões de conduta: legitimar sua revolta contra a autoridade como expressão de uma suposta demanda coletiva do baixo clero militar e dar crédito à sua pretensão de liderar uma parcela de seus pares. Relatos de seu ativismo insubordinado e de sua atuação como porta-voz de demandas sindicais são conhecidos.

No Parlamento, seu comportamento em plenário comprova as ofensas, contra tudo e contra todos, como um objetivo permanente e indiscutível. A falta de agenda legislativa e a ausência de qualquer posto de liderança contrastam com o familialismo enraizado. O familialismo não se limita às vantagens colaterais do mandato parlamentar, trata-se de uma forma de exercício de poder, que traça “quatro linhas”, dentro das quais não há limites para a conduta dos poucos escolhidos e fora das quais a sobrevivência exige total submissão.

Na carreira de chefe do Executivo, os fatos comprovados são abundantes e compartilhados diuturnamente por todos nós. Sua revolta contra a autoridade é patente, seja diante de instituições superiores, como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, seja diante dos entes federados. O mesmo quanto às prerrogativas de carreiras de Estado e órgãos autônomos da administração pública, tais como agências, autarquias ou órgãos encarregados da ordem pública e da defesa, além de sua desconsideração dos obstáculos imaginários ou reais a suas birras.

A falta de autodisciplina alcança outro patamar na Presidência. Sua oscilação entre ativismo verbal e paralisia decisória afeta questões de vida e morte, como a fome, o desabrigo e a vulnerabilidade ante a pandemia, num contexto de imprevisibilidade dos rumos da economia.

A inversão de papéis entre o mito e a realidade de sua subordinação às agendas que lhe são impostas por seus supostos seguidores é outro de seus padrões de comportamento. Ela ocorre tanto com agendas de seus pequenos grupos de interesses – religiosos, profissionais ou sindicais – quanto para sua relação com o chamado Centrão, cujos objetivos hoje predominam sobre as iniciativas presidenciais.

Quanto ao familialismo, bastaria citar todos os imbróglios compartilhados entre a família presidencial e a Polícia Federal, a Abin, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o STJ, o Coaf, para entender o que significam as “quatro linhas” dentro das quais o presidente admite operar.

Aparentemente disparatados, os objetivos da conduta presidencial redundam, na prática, em substituir o aparato constitucional da República pelos devaneios de um candidato a déspota.

Pode ele reverter um padrão de conduta tão arraigado? Reconhecer os erros, corrigir sua trajetória e se empenhar em entender as necessidades vitais do povo brasileiro? Se disso depender seu acesso ao segundo turno, pode esquecer.

*Professor titular de Ciência Política da USP

O Estado de São Paulo

EUA, Otan e Ucrânia reagem a ordem de Putin, que colocou forças de dissuasão nuclear em alerta


Jen Psaki,


O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou neste domingo (27) que colocará em alerta a "força de dissuasão" do Exército russo, que pode incluir um componente nuclear. Ucrânia, EUA e Otan reagiram em repúdio.

"Ordeno ao ministro da Defesa e ao chefe do Estado-Maior que coloquem as forças de dissuasão do Exército russo em alerta especial de combate", disse Putin em uma reunião com os líderes militares russos.

O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, respondeu: "Afirmativo".

Em reação, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia disse que Kiev não vai ceder nas negociações com a Rússia, acusando Putin de tentar aumentar a "pressão".

"Não vamos nos render, não vamos capitular, não vamos desistir de um único centímetro de nosso território", declarou Dmytro Kuleba em uma coletiva de imprensa transmitida online.

Os Estados Unidos, por sua vez, afirmaram que Putin está "fabricando ameaças".

"Este é um padrão do presidente Putin que temos visto ao longo deste conflito, que está fabricando ameaças que não existem para justificar novas agressões", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, ao canal ABC.

Enquanto isso, a embaixadora de Washington na ONU, Linda Thomas-Greenfield, condenou veementemente o alerta das forças de dissuasão nuclear russas.

"Significa que o presidente Putin continua instensificando essa guerra de uma maneira totalmente inaceitável", reagiu ela em entrevista à CBS.

Para a Otan, o alerta russo é "irresponsável". "Esta é uma retórica perigosa. Este é um comportamento irresponsável", disse o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, à CNN.

"E, é claro, se você combinar essa retórica com o que eles estão fazendo na Ucrânia, travando uma guerra contra a nação soberana independente, conduzindo uma invasão total da Ucrânia, isso aumenta a gravidade da situação", adicionou.

As tensões internacionais já aumentaram com a invasão da Ucrânia pela Rússia e a ordem de Putin pode causar ainda mais alarme.

Moscou possui o maior arsenal de armas nucleares do mundo e um enorme arsenal de mísseis balísticos, que formam a espinha dorsal das forças de dissuasão do país.

"Eles veem que os países ocidentais não são apenas hostis ao nosso país no campo econômico, quero dizer as sanções ilegítimas", acrescentou, em um discurso televisionado.

"Oficiais seniores dos principais países da Otan também permitem declarações agressivas contra nosso país", disse ele.

O presidente russo ordenou a invasão da Ucrânia na manhã desta quinta-feira.

Desde então, tropas entraram no país pelo norte, leste e sul, mas enfrentaram forte resistência das tropas ucranianas.

Autoridades ucranianas dizem que algumas tropas russas estão desmoralizadas e exaustas, dizendo que dezenas se renderam.

AFP / Estado de Minas

Forças ucranianas reassumiram controlo da segunda maior cidade do país

 




Kharkiv

As forças ucranianas reassumiram o controlo de Kharkiv, disse este domingo o governador regional, Oleg Sinegubov, horas depois de ter anunciado um avanço do exército russo e combates de rua na segunda cidade da Ucrânia.

"Kharkiv está sob o nosso total controlo", escreveu Sinegubov nas redes sociais, citado pela agência francesa AFP.

Sinegubov disse que estava em curso uma "eliminação de inimigos na cidade".

Com 1,4 milhões de habitantes, Kharkiv situa-se no nordeste da Ucrânia, a cerca de 20 quilómetros da fronteira com a Rússia.

Segundo Sinegubov, "o inimigo russo está totalmente desmoralizado".

Grupos de soldados abandonaram os seus veículos e "renderam-se aos militares ucranianos", disse.

Jornal de Notícias (PT)

UE, EUA e Reino Unido entram em acordo sobre Swift




Na noite deste sábado (26), após dias de negociações, os países-membros da União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido anunciaram que chegaram a um acordo para excluir “alguns bancos russos” do sistema financeiro Swift e para congelar ativos e bens do Banco Central da Rússia.

A medida deve ser formalizada ainda neste domingo (27) pelo bloco e pelos países no mais duro pacote de sanções anunciado até o momento. O documento ainda deve conter o fechamento do espaço aéreo de toda a União Europeia.

Além disso, o bloco europeu vai restringir os chamados “passaportes de ouro”, que concedem cidadania europeia para oligarcas ricos que compram residências caríssimas em países do bloco. As sanções visam isolar cada vez mais os russos no cenário internacional e se somam às já aplicadas ao presidente Vladimir Putin, ao ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, além de oligarcas, empresários e instituições.

Em nota conjunta, os aliados “condenam a guerra escolhida” por Vladimir Putin e reforçam seu apoio ao governo e à população ucraniana “no heroico esforço de resistir à invasão russa”.

“Essa guerra representa um ataque às normas internacionais fundamentais e aquilo que prevalecia desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nós asseguramos que essa guerra será uma falência estratégica de Putin e continuaremos a impor custos à Rússia para isolá-la ainda mais dos sistemas financeiros e das nossas economias”, diz o comunicado.

A lista de bancos russos que serão excluídos do Swift será ainda formalizada. O sistema é o mais importante do mundo e conecta mais de 11 mil bancos em 200 países. Ele permite a troca de mensagens instantâneas e de ordens de pagamento (cerca de 40 milhões por dia) que padronizam e facilitam o pagamento nas compras internacionais. O bloqueio impactará, especialmente, os setores de petróleo e gás.

A Alemanha e os Estados Unidos eram os mais relutantes a aceitar a exclusão porque os efeitos não são sentidos apenas na Rússia, mas em todo o mundo.

Neste domingo (27), o chanceler alemão, Olaf Scholz, fez um discurso na Bundestag (Parlamento) e afirmou que a posição histórica do país mudou em “180 graus”. Reconhecendo que a exclusão da compra de gás russo terá impacto na nação, o político afirmou que já está sendo negociada a compra do combustível de outros fornecedores.

“Vivemos uma época histórica e o mundo do depois não será mais como conhecíamos. Ao lado da Ucrânia, estamos do lado certo da história e precisamos apoiar a Ucrânia nessa situação desesperada”, disse Scholz lembrando que, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, o país aprovou o envio de armamentos para uma nação em área de conflito.

“A guerra é uma catástrofe para a Ucrânia, mas também mostrará ser uma catástrofe para a Rússia. Putin não mudará suas atitudes da noite para o dia, mas já há efeitos das sanções”, acrescentou, reforçando que o governo irá fazer uma mudança nos recursos aplicados na segurança também dos alemães.

Já sobre o Banco Central russo, a ideia é impedir que a instituição “use suas reservas internacionais” para conseguir atenuar os efeitos das sanções econômicas. Segundo estimativas de fontes ligadas aos governos, há cerca de US$ 643 bilhões em reservas que Putin ordenou acumular antes da invasão planejada.

“Nos comprometemos a agir contra as pessoas e as entidades que facilitam a guerra na Ucrânia. Em particular, nos comprometemos a tomar medidas que limitem os passaportes de ouro, que permitem que os russos ricos ligados a Moscou virem cidadãos dos nossos países e tenham acesso aos nossos sistemas financeiros”, ressaltam os líderes.

“Haverá uma força-tarefa transatlântica para assegurar a efetiva implementação das sanções financeiras identificando e congelando os ativos dos indivíduos e das sociedades sobre os quais impusemos sanções. Estamos com o povo ucraniano nesse momento escuro e estamos prontos a tomar novas medidas”, diz ainda o comunicado.

Neste domingo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, agradeceu a “formação de uma coalizão internacional” para ajudar o país e combater a Rússia.

“Estamos recebendo armas, remédios, comida, combustíveis e dinheiro. Formou-se uma coalizão internacional para apoiar a Ucrânia, uma coalizão contra a guerra”, disse em vídeo divulgado nas redes sociais. 

ANSA / Daynews

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