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domingo, dezembro 03, 2023

Quais são as cidades mais caras e mais baratas do mundo, segundo a revista The Economist




Buenos Aires é a cidade mais barata da América Latina

Por Cristina J. Orgaz

Uma pequena fortuna. É quanto podem custar alimentos, bebidas alcoólicas ou roupas em Singapura, a cidade mais cara do mundo para se viver, segundo um ranking elaborado pela revista britânica The Economist.

Todos os anos, a publicação prepara a lista com base no que um dólar pode comprar em cada uma das cidades que são analisadas.

Quanto mais forte for a moeda local, maior será a posição das cidades do país na lista.

Isso significa que, quanto mais forte for a moeda, mais cara será a cidade. E quanto mais fraca a moeda, mais barato o local vai figurar na tabela.

Em Singapura, uma coisa que tem um valor de extremo luxo é o custo de um certificado necessário para comprar um carro: a versão mais barata deste documento superou a cifra de US$ 106 mil (R$ 521 mil) no início de outubro.

A cidade introduziu o sistema de certificado de titularidade (conhecido pela sigla COE) em 1990 como uma medida para aliviar os congestionamentos.

Os potenciais proprietários de automóveis devem ter um COE antes de poderem adquirir um veículo. A validade do título expira após 10 anos.

Os direitos são vendidos em leilões quinzenais e o governo controla a quantidade de certificados à venda, que depende do número de carros retirados das ruas e estradas.

Apesar de ser relativamente pequena, Singapura é frequentemente classificada como um dos países com maior número de milionários no mundo e, portanto, raramente sai do primeiro lugar do ranking: a cidade-Estado ficou no topo do pódio em nove dos últimos 11 anos.

'Muitos bilionários vivem em Cingapura'

A cidade-Estado asiática aparece empatada no ranking deste ano com Zurique. Ambos os locais são considerados capitais financeiros.

A maior cidade da Suíça é sempre cara, especialmente em setores como alimentos, utensílios domésticos e entretenimento. Zurique ficou em primeiro lugar em 2020 e raramente sai das dez primeiras posições do ranking.

"A ascensão [de Zurique] ao topo da lista deve-se principalmente ao fato de o franco suíço ter valorizado mais de 10% em relação ao dólar no ano passado", contextualiza a The Economist.

"A cidade de referência da pesquisa é Nova York, portanto, se a moeda de um país se fortalecer, as cidades geralmente subirão no ranking”, explica a revista.

A fraqueza recente do dólar fez com que as cidades americanas caíssem no ranking este ano. Nova York, a cidade mais cara do ano passado, caiu para o terceiro lugar. Nessa posição, aparece ao lado de outra cidade suíça — Genebra.

Para a Unidade de Inteligência da The Economist, a crise global do custo de vida que começou em 2022 ainda persiste em 2023, apesar de os preços cobrados pela energia e os problemas da cadeia de abastecimento terem diminuído.

Mesmo assim, a inflação continua elevada em todo o mundo: os preços dos 200 produtos e serviços que foram analisados pela revista aumentaram em média 7,4% durante 2023.

Este valor é ligeiramente inferior aos 8,1% de 2022, mas ainda fica bem acima da média de 2,9% dos cinco anos anteriores.

As cidades mais baratas

A cidade mais barata no ranking continua a ser Damasco, a capital da Síria, apesar de a média de preço na moeda local ter aumentado 321% no ano.

A retirada dos subsídios governamentais e a desvalorização da moeda fizeram com que os custos de importação disparassem por lá.

Nas últimas posições do ranking, também aparecem Teerã (Irã) e Trípoli (Líbia). A taxa de inflação em Teerã é elevada, quase 49%, enquanto os preços em Trípoli subiram pouco mais de 5% no ano passado.

A The Economist afirmou que as três cidades são particularmente baratas em alimentos, bem como em itens domésticos e de higiene pessoal.

'O forte investimento interno impulsionou os preços no México'

E a América Latina?

No estudo deste ano, as três cidades que mais subiram no ranking estão na América Latina. Foram Santiago de Querétaro e Aguascalientes, no México, e San José, capital da Costa Rica.

Embora o ranking deste ano abranja 173 das principais cidades do mundo, a média global foi calculada excluindo Kiev (Ucrânia) e Caracas (Venezuela), que continuam a enfrentar um ciclo de hiperinflação acima da curva.

Na América Latina, a Cidade do México é a mais cara.

"Em 2023, o peso mexicano provou ser uma das moedas mais fortes dos mercados emergentes, graças aos aumentos das taxas de juro e ao forte investimento interno", detalha a revista.

"Os bancos centrais de grande parte da América Latina foram os primeiros a seguir os aumentos das taxas de juros da Reserva Federal dos EUA para apoiar as moedas locais. Como resultado, o peso mexicano e o colón costarriquenho se fortaleceram", explica a publicação.

Três cidades brasileiras aparecem no ranking da The Economist: São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus. Elas têm uma posição intermediária na América Latina — são mais caras que Assunção (Paraguai) e Buenos Aires (Argentina), mas mais baratas que Quito (Equador), Santiago (Chile) e Montevidéu (Uruguai).

'A inflação na Argentina terminará 180% em 2023, segundo especialistas'

Buenos Aires, a mais barata da América Latina

Embora as autoridades estimem que a inflação na Argentina terminará 2023 em 180% ao ano, a capital argentina é a cidade mais barata da América Latina e do Caribe.

O principal motivo é a desvalorização sofrida pelo peso.

Atualmente, quem tem dólares na capital argentina pode conseguir em troca muito mais pesos do que há um ano.

"A Argentina tem uma trajetória fiscal insustentável, uma taxa de câmbio sobrevalorizada e uma balança comercial muito vulnerável. A inflação aumentou rapidamente, enquanto o peso argentino oficial enfraqueceu mais lentamente", afirma Mali Chivakul, economista de mercados emergentes do banco J. Safra Sarasin.

"Como resultado, a taxa de câmbio real valorizou-se de forma acentuada desde 2022."

"A estimativa do FMI sobre a sobrevalorização da taxa de câmbio real situa-se entre 15% e 20%. E o mercado paralelo argentino oferece um câmbio não oficial até 150% mais fraco que o oficial”, acrescenta o especialista.

Por isso, embora a população da capital sofra intensamente com um ciclo de inflação, a comparação com o dólar torna Buenos Aires uma cidade relativamente barata em relação às demais.

BBC Brasil

As 22 facções que aterrorizam a Amazônia com tráfico, grilagem e crimes ambientais




A pesquisa mapeou a presença de 22 facções nos Estados da Amazônia

Por Letícia Mori, em São Paulo

A atuação de facções criminosas tem avançado nos Estados da Amazônia, atingindo um grande número de municípios e contribuindo para índices de violência muito acima da média do Brasil, mostra um estudo publicado nesta quinta (29), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

A pesquisa mapeou a presença de 22 facções nacionais e estrangeiras em 178 municípios da região, nos quais vive mais da metade da população (57,9%).

Além disso, cerca de um terço do total dos moradores (31,12%) da Amazônia vivem em municípios onde há disputa por poder e território entre organizações criminosas.

As consequências, mostra a pesquisa, são índices de violência muito acima aos do resto do Brasil.

A taxa média de mortes violentas intencionais foi de 33,8 em cada 100 mil habitantes, um número 45% maior do que a média nacional (de 23,3 para cada 100 mil habitantes).

Cerca de 15 municípios — a maioria no Pará e no Mato Grosso — conviveram com uma violência ainda mais extrema, de 80 mortes por cada 100 mil habitantes.

Outros marcadores de violência acompanham essa alta: a taxa de feminicídio é 30,8% maior na Amazônia do que no resto do Brasil e a taxa de estupros é 33,8% superior à média nacional.

‘Hub’ logístico do crime organizado

A região tem uma importância estratégica para organizações criminosas, que buscam controlar as rotas de transporte de drogas tanto para distribuição no Brasil quanto para o repasse para outros países, explica Renato Sergio de Lima, pesquisador do FBSP e um dos coordenadores do estudo Cartografias da Violência na Amazônia.

A pesquisa foi feita na Amazônia Legal, região composta pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão.

A atuação das facções, entretanto, não se resume ao tráfico de drogas. Segundo os pesquisadores, elas passaram a controlar cada vez mais redes criminosas mais amplas, que envolvem desde trabalho análogo à escravidão, exploração sexual e invasão de terras indígenas até crimes ambientais como exploração ilegal de madeira e minérios, tráfico ilegal de animais e pesca predatória.

“As facções vão ocupando o território e o gerindo a partir de uma simbiose entre crimes ambientais, grilagem de terra, narcotráfico e o tráfico de armas”, explica Lima. “Dá para dizer, sem nenhuma margem de erro, que hoje o principal inimigo da Amazônia, o principal inimigo do Brasil, é o crime organizado.”

A dinâmica do crime local começou a mudar principalmente a partir de 2016, diz o pesquisador, quando a organização criminosa Comando Vermelho (CV) fez uma parceria com a facção local Família do Norte para usar a rota de Tabatinga (AM) como principal via de abastecimento de drogas, principalmente cocaína e skank (ou skunk, maconha de efeitos altamente potentes).

“Hoje essa rota é a segunda mais importante do país”, explica Lima. “Só perde para a rota que o Primeiro Comando da Capital (PCC) controla em Ponta Porã (MS).”

Além da presença do CV (de origem carioca) e o do PCC (criado em São Paulo), há a atuação de organizações criminosas locais, como os grupos Bonde dos 13, Deus da Morte, Os Crias, Cartel do Norte, entre outros.

'Facções atuam em simbiose com redes de crimes ambientais'

Resultados dos inúmeros processos históricos de ocupação da região, a violência não é uma novidade nos Estados da Amazônia, explica Lima. Mas no caso das facções, há uma diferença.

“As frentes de expansão sempre foram como a borracha, por exemplo, onde os seringueiros iam para dentro da floresta, tiravam a borracha e iam embora. Com o garimpo, as pessoas vão, tiram os minérios e vão embora deixando condições precárias de vida para quem fica”, diz ele.

Com as facções, o processo acontece de forma diferente, de dentro para fora, explica Lima, porque elas precisam ocupar o território de forma permanente para poder consolidar as suas rotas e, inclusive, brigar com as demais facções que tentam ter esse controle.

“As facções ficam no território. Elas usam, por exemplo, a estrutura do garimpo para escoar drogas e a economia local para lavar dinheiro. Vão conectando o território. O que a gente percebe é que, no fundo, a região virou quase como um enorme hub logístico do crime organizado”, diz Lima.

“Assim como a Zona Franca de Manaus passou a ter importância estratégica para a produção industrial, a região amazônica passou a ter uma importância estratégica para a economia do crime.”

Nos últimos anos, fatores como a diminuição da fiscalização ambiental na Amazônia e o aumento de presos em prisões superlotadas e precárias (usadas como local de recrutamento) contribuíram para a consolidação das facções na região, aponta o estudo.

'As facções se aproveitam dos vazios, da ausência de Estado'

Facções internacionais

A pesquisa identificou também a atuação de pelo menos 10 organizações criminosas internacionais nas regiões de fronteira, que atuam em conjunto com os grupos brasileiros e em outras vezes disputam rotas e territórios.

Desdobramentos políticos recentes em países vizinhos também contribuíram para ampliar essa atuação, explica Rodrigo Chagas, pesquisador da Universidade Federal de Roraima (UFRR) que também participou da pesquisa do FBSP.

Alguns exemplos são a crise na Venezuela e os acordos de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Depois disso, foi registrada nas regiões de fronteiras da Amazônia brasileira a presença de grupos dissidentes das Farc, como a Frente Armando Rios, Frente Carolina Ramirez e Frente Segunda Marquetalia, além de facções peruanas, como Clã-Chuquzita, Comando de Las Fronteiras e Los Quispe-Palamino.

Em Roraima, o grupo venezuelano Trem do Aragua e os brasileiros CV e PCC disputam o controle. Há indícios também de novas facções da Venezuela atuando na capital, Boa Vista.

Apesar da presença dos criminosos estrangeiros no Brasil, a ampliação da atuação dos grupos brasileiros nos outros países da América Latina é bem mais proeminente, explicam os pesquisadores.

“Os grupos brasileiros é que estão indo em direção a esses países e constituindo controle. Se antes eles faziam contato com os grupos estrangeiros para ter acesso às rotas, hoje a gente vê a presença do PCC e do CV nos territórios desses países”, diz Lima.

Não há, segundo o estudo, um grupo que possa ser considerado hegemônico na região. As disputas de poder, inclusive, levam a conflitos de extrema violência, como o massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) em Manaus, em 2017, que resultou na morte de 54 pessoas, algumas delas decapitadas. Acre, Amazonas, Roraima e Amapá são os Estados onde as disputas têm sido mais intensas nos últimos anos.

No entanto, seria possível perceber que o PCC e o CV são tanto as facções com maior controle no Brasil quanto as que mais atuam nos países vizinhos da região.

O PCC tem atuação na Bolívia, na Guiana, na Guiana Francesa, no Suriname e na Venezuela. Já o CV tem presença registrada no Peru e na Bolívia.

“Pensando nos nove países que compõem a Amazônia, o PCC é o único grupo da região que está presente no Brasil e em mais cinco países”, destaca Lima.

Conjunto de ações

A pesquisa pontua que o aumento do narcotráfico pode ser verificado inclusive por outros indicadores, como o aumento de apreensões de cocaína pelas polícias federal e estadual.

Entre 2019 e 2022, a apreensão de cocaína pelas polícias locais cresceu 194%, com um total de mais de 20 toneladas em 2022.

Mas o estudo destaca que, nesse mesmo período, as apreensões pelo Exército e pela Marinha tiveram um volume quase insignificante. Em 2022, por exemplo, a soma de maconha e cocaína apreendida por ambos os órgãos não chegou a 4 toneladas.

A integração da atuação do Exército e da Marinha com as polícias locais, a Polícia Federal e instituições como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) é uma das iniciativas apontadas pelos pesquisadores como essenciais para combater as facções. Também é preciso investir em investigação para esclarecer crimes, reduzir a impunidade e melhorar as condições do sistema penitenciário.

Mas segundo os pesquisadores, recuperar os territórios e diminuir os índices de violência é uma tarefa que exige um conjunto de ações além da esfera criminal - ela vai desde impedir a invasão das reservas indígenas até fortalecer a economia local e garantir fontes de renda legais para a população.

“As facções se aproveitam dos vazios, da ausência de Estado”, diz Lima. “É preciso prevenir a violência levando direitos. Os povos indígenas, os quilombolas, têm que ter suas terras garantidas. Nós precisamos garantir isso, garantir que eles não sejam expulsos pelas facções. É preciso ter serviço público, política pública. É preciso ter estrada, ter financiamento para uma produção que seja sustentável.”

BBC Brasil

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Manchetes deste domingo

 Foto: Arquivo/Agência Brasil

Confira os destaques deste domingo (3)03 de dezembro de 2023 | 07:00

Manchetes deste domingo

BRASIL

Folha de S. Paulo: China busca fabricar superchips e driblar guerra fria tecnológica

O Estado de S. Paulo: Petrobras retoma linha de gestão que falhou em governos petistas

O Globo: Juízes receberam R$ 3,4 bilhões em indenizações nos últimos três anos

Tribuna: Um jogo de vida ou morte para o Bahia

A Tarde: Verão chapa quente: veja como lidar com o calor

STF engata decisões controversas para liberdade de expressão em sintonia com TSE

 Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Medidas envolvem imprensa, políticos e partidos02 de dezembro de 2023 | 17:02

STF engata decisões controversas para liberdade de expressão em sintonia com TSE

BRASIL

A tese do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a responsabilização de veículos jornalísticos por falas de entrevistados abre debate sobre se há um contrafluxo da cúpula do Judiciário no entendimento sobre liberdade de expressão e de imprensa.

A reputação da corte como defensora de uma visão ampla da liberdade de expressão havia se consolidado após um período de julgamentos de visibilidade. Entre eles, a derrubada da Lei de Imprensa da ditadura militar, em 2009, e a liberação de biografias não autorizadas, em 2015 – tema que fez a ministra Cármen Lúcia afirmar em sessão: “Cala a boca já morreu”.

Essa imagem começou a mudar nos últimos anos, em decisões tomadas em meio aos ataques do bolsonarismo à corte e à democracia e ao crescimento das redes sociais.

A mais recente dessas decisões, aprovada na última quarta (29), tratou de uma tese geral sobre a possibilidade de responsabilização de veículos de imprensa quando houver “indícios concretos da falsidade” de imputação feita por entrevistado de crime a alguém.

A regra fala ainda em possível remoção de conteúdo e sanção “por informações comprovadamente injuriosas, difamantes, caluniosas, mentirosas”.

Há outras em série. Em 2019, o ministro Alexandre de Moraes determinou que os sites da revista Crusoé e de O Antagonista retirassem do ar reportagem sobre o então presidente da corte, Dias Toffoli. A decisão foi parte do controverso e, à época, recém-instaurado inquérito das fake news.

Meses antes, na corrida eleitoral de 2018, o ministro Luiz Fux proibiu o então ex-presidente Lula (PT) de conceder entrevista à Folha na prisão. Determinou ainda que, se ela já tivesse sido realizada, sua divulgação estaria censurada.

Em outra frente, multiplicam-se os casos de suspensões de perfis e contas em redes sociais no STF, em geral, por decisões de Moraes. O plenário da corte chegou a se debruçar e ratificou, por exemplo, o bloqueio dos perfis do PCO (Partido da Causa Operária) em uma petição.

Por sua vez, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), presidido por Moraes desde o ano passado, passou a atuar de modo mais intensivo e determinou a remoção de conteúdo que considerou “substancialmente manipulados” ou “gravemente descontextualizados sobre candidatos”.

Conteúdos jornalísticos foram removidos, e um documentário da produtora Brasil Paralelo teve sua divulgação proibida até a eleição.

A corte eleitoral referendou, por exemplo, a remoção de vídeo da Jovem Pan com entrevista da senadora Mara Gabrilli, então candidata à Vice-Presidência, relacionando Lula ao caso do assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel em 2002. Em seu voto, Moraes afirmou que houve uma “instrumentalização reiterada da mídia tradicional para propagação de desinformação”.

Ele também determinou a remoção de vídeos, por parte da campanha petista, associando a pedofilia a uma fala do então presidente Jair Bolsonaro (PL) de que “pintou um clima” entre ele e adolescentes venezuelanas.

Além disso, a dez dias do segundo turno, o TSE concedeu a si próprio poderes amplos para sua atuação na regulação do discurso eleitoral.

Questionada pelo então procurador-geral da República, Augusto Aras, no Supremo, a resolução foi usada pela corte para derrubada de grupos defendendo golpe militar e bloqueio de perfis, inclusive de parlamentares espalhando desinformação sobre as urnas, isso sem ser provocada.

Essa atuação proativa se deu em meio a críticas de omissão do Ministério Público Eleitoral.

Para Miguel Godoy, professor de direito constitucional da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da UnB (Universidade de Brasília), há um movimento de contrafluxo do STF, indo na direção oposta ao posicionamento que, a seu ver, sempre reconheceu um privilegiado lugar à liberdade de expressão.

Ele cita como exemplo diversas reclamações em que a corte decidiu contrariamente à censura da imprensa.

“Parece-me que o Supremo mira com a afirmação da tese de responsabilização dos veículos de mídia aqueles que se destinam a propalar falsas acusações, ataques sabidamente mentirosos, contra pessoas e instituições”, diz. “Todavia, o Supremo parece ter mirado no carteiro, ao invés de ter restringido a carta.”

Para Marcelo Malheiros Cerqueira, mestre e doutorando pela Universidade de Sevilha, embora os ministros do STF continuem a escrever que a liberdade de expressão tem “posição preferencial” em relação a outros direitos, importando expressão americana, na prática isso não tem acontecido.

A decisão recente seria exemplar nesse sentido, uma vez que, nos Estados Unidos, para provar difamação, é necessário comprovar má-fé de quem divulgou a afirmação. Já no caso brasileiro, a tese de repercussão geral abre espaço à punição por mera negligência.

Autor de “Censura, Justiça e Regulação da Mídia na Redemocratização” (Appris, 2022), Ivan Paganotti, professor da Universidade Metodista de São Paulo, avalia que a imagem de uma ruptura na orientação do STF é mais uma questão de percepção.

Segundo ele, desde a virada do milênio o STF manteve posição contra a censura prévia, mas nunca deixou de abrir espaço para a responsabilização depois da publicação, nem mesmo na decisão sobre biografias.

O tribunal também demonstrou sempre preocupação grande com a proteção da honra em processos movidos por indivíduos, afirma. “O grande elemento de mudança é que, nos últimos anos, o STF passou a ser alvo de crítica e a se preocupar com a reputação de ministros e familiares”, diz.

Avaliação semelhante tem o professor da PUC-Rio Fábio Carvalho Leite. “Não há uma preocupação em avançar na proteção da liberdade de expressão, garantindo direito a ofensa, estabelecendo até que ponto é garantida manifestação crítica.”

Clara Iglesias Keller, líder de pesquisa em tecnologia, poder e dominação no Weizenbaum Institute de Berlim, considera a decisão sobre responsabilização que fala em “dever de cuidado” destoa da tendência estabelecida pelo STF ao derrubar a Lei de Imprensa. Diz, no entanto, que apenas a partir dela não é possível dizer que a corte vá inaugurar algum tipo de entendimento contrário ao que vinha aplicando.

Ela aponta ainda que a centralidade que o Judiciário ganhou no combate à desinformação tornou essa pauta muito próxima dos ministros.

“Não acho irrazoável a gente pensar que isso vem influenciando também o pensamento e a interpretação que eles fazem da liberdade de expressão em contextos além da desinformação digital ou da desinformação eleitoral”, diz.

Clarissa Maia, advogada eleitoral e doutora em direito constitucional, destaca, quanto à atuação do TSE, que não é possível usar o mesmo padrão de análise para o processo eleitoral em relação à liberdade de expressão. “Não se protege a honra do candidato, mas o processo eleitoral em si.”

Ela avalia que o TSE vem fortalecendo uma posição de restringir conteúdos sabidamente inverídicos de modo mais veemente desde 2019, adotando a mesma posição em relação à violência de gênero e ao discurso de ódio.

Angela Pinho e Renata Galf / Folha de S. PauloPolítica Livre

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