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sábado, abril 22, 2023

Um amigo de ditadores e criminosos de guerra no 25 de Abril




Vamos dizer as coisas como elas são: Lula é o convidado de honra das celebrações do 25 de Abril. Tenham pelo menos coragem de assumir as decisões que tomam.

Por João Marques de Almeida (foto)

Há quem não entenda as críticas da direita à vinda de Lula para discursar no Parlamento no dia 25 de Abril. Mas é muito fácil de entender. Como é costume, depois do erro inicial, a oligarquia política criou uma manha, querendo fazer dos portugueses estúpidos, afirmando que Lula não estará nas comemorações do 25 de Abril, mas fará um discurso umas horas antes. Vamos dizer as coisas como elas são: Lula é o convidado de honra das celebrações do 25 de Abril. Tenham pelo menos coragem de assumir as decisões que tomam.

O argumento de que Lula representa a democracia liberal resulta de um delírio absoluto ou de uma profunda ignorância sobre o percurso político de Lula e do PT. As suas referências foram sempre o pensamento revolucionário marxista e a ditadura comunista de Cuba, onde muitos dos fundadores do PT se exilaram durante o regime militar brasileiro. Na presidência e no governo, Lula e o PT foram pragmáticos por razões económicas, mas nunca foram liberais. Pelo contrário, reforçaram o peso do Estado na economia, usaram o banco brasileiro de desenvolvimento (BNDES) para fazer dirigismo económico e condicionamento industrial, à boa maneira de um capitalismo de Estado anti–liberal. Além disso, tudo fizeram para perpetuar o PT no poder, desde o caso do mensalão até ao lava jato. Considerar que um Presidente que comprou políticos de outros partidos para votarem a favor do seu governo no Congresso é um democrata liberal mostra uma cegueira analítica extraordinária.

É verdade que Lula lutou contra a ditadura militar brasileira e foi adversário de Bolsonaro, outro defensor do autoritarismo iliberal. Mas a oposição a ditaduras nunca transformou partidos e líderes políticos em democratas. Os portugueses sabem isso muito bem. O PCP lutou contra a ditadura do Estado Novo e nunca foi um partido democrata. Aliás, há vários exemplos pelo mundo fora de movimentos revolucionários e totalitários lutarem contra ditaduras.

Mas a actual versão de Lula parece ser ainda mais radical do que o Presidente da primeira década deste século. Numa guerra que define a posição em relação à democracia liberal, Lula está ao lado das ditaduras. Na recente visita à China, Lula não se limitou a apelar à paz. Foi muito mais longe. Ao lado de Xi, apoiou a Guerra de Putin. Por isso, convidou o MNE russo a visitar Brasília, e já tinha enviado o seu principal conselheiro de política externa, Celso Amorim, a Moscovo. Lula nunca enviou um representante a Kiev, nunca falou com Zelensky, nem nunca recebeu um ministro ucraniano. Quem quer a paz, fala com as duas partes de uma guerra. Pior, Lula responsabilizou a NATO e a UE pela Guerra e sugeriu que a Ucrânia cedesse a Crimeia, ocupada através de uma invasão militar, à Rússia. Ou seja, Lula passou duas semanas a atacar os valores fundamentais da democracia liberal.

O convite a Lula mostra a ligeireza dos responsáveis políticos portugueses. Olharam para a luta eleitoral entre Lula e Bolsonaro como a continuação da luta política contra o Chega em Portugal. É absolutamente ridículo. Não só dão uma importância exagerada a André Ventura, como colocam Lula, um radical amigo de ditadores, no mesmo plano do Presidente português, um moderado e defensor da democracia portuguesa. Esperemos que Lula, incapaz de moderar o que diz, não embarace demasiado os seus anfitriões no dia 25 de Abril. Mas uma coisa já sabemos: o convite a Lula, o amigo de ditadores e criminosos de guerra, é uma profunda ofensa à liberdade e à democracia dos portugueses.

Observador (PT)

Guerra na Ucrânia: O "difícil equilíbrio" diplomático de Lula para garantir o lugar do Brasil na "nova ordem mundial"




O presidente brasileiro quer projetar o Brasil internacionalmente e considera que a mediação na guerra da Ucrânia pode ser uma forma de o fazer. Lula tenta superar outros países emergentes e irrita EUA. 

Por José Carlos Duarte 

China, Emirados Árabes Unidos, Portugal, Espanha. Em cerca de uma semana e meia, Lula da Silva cumpre uma maratona diplomática que atravessa continentes e que ainda vai a meio. Mesmo quando esteve em Brasília, nos dias entre a chegada de Abu Dhabi e a viagem para Lisboa (onde chegou esta sexta-feira e ficará até ao dia 25 de abril), o Presidente brasileiro recebeu o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, e o seu homólogo romeno, Klaus Iohannis. Em todos estes momentos, o Chefe de Estado brasileiro aproveitou a oportunidade para debater a guerra na Ucrânia, expondo os seus planos e realçando a necessidade de terminar o conflito o mais cedo possível.

Se o tema da guerra foi uma constante nos encontros com os líderes de vários países, o mesmo não aconteceu nas posições que o Presidente brasileiro foi assumindo em cada uma dessas etapas diplomáticas. O discurso de Lula da Silva sobre o conflito sofreu, aliás, várias alterações numa questão de dias.

Na China, o Presidente brasileiro disse que está “unido” com Pequim na forma como encaram a guerra. Em Abu Dhabi, o líder do Brasil acusou a União Europeia e os Estados Unidos de contribuírem para a “continuidade” do conflito. E na receção a Sergei Lavrov o governo brasileiro destacou que se posicionava contra as sanções aplicadas à Rússia, frisando o sentimento de “união” entre os dois países. A inversão do discurso — um recuo em relação a algumas das posições assumidas durante esse périplo diplomático — seguiu-se às reações que as palavras de Lula provocaram.

As primeiras palavras de Lula da Silva não agradaram nem à Ucrânia nem ao Ocidente. A União Europeia (UE) e os Estados Unidos (EUA) criticaram as declarações do líder brasileiro — Washington chegou mesmo a acusá-lo de “papaguear propaganda russa e chinesa” sem “olhar para o factos”. Por sua vez, Kiev convidou o líder do Brasil a ir ao país para ver de perto, com os próprios olhos, a realidade da guerra. E, em Portugal, António Costa assinalou as “divergências” entre Brasília e Lisboa em relação à guerra na Ucrânia, sublinhando que um e o outro assumiam “posições radicalmente diversas” em relação ao conflito.

Depois desta onda de condenações e distanciamentos, o Presidente brasileiro retratou-se. E, num almoço com o Chefe de Estado da Roménia (líder de um país da UE e da NATO), fez questão de condenar a “violação da integridade territorial da Ucrânia” cometida pela Rússia em fevereiro do ano passado.

Qual é o motivo destas contradições no discurso? “Lula é um político hábil”, começa por dizer ao Observador, Mariano Aguirre, membro associado do think tank Chatham House e assessor da Rede Latinoamericana de Segurança da Fundação Friedrich Ebert, salientando que a presidência brasileira apoia-se numa rede diplomática “com grande experiência” — acumulada nos outros mandatos da Lula da Silva — e que segue uma linha de política externa bem definida para alcançar os objetivos do país na comunidade internacional.

“Dá-se bem com Washington, com Bruxelas e com os ecologistas na conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) no Cairo. Ao mesmo tempo, trata o governo chinês e russo de igual para igual — e obtém bons contratos e investimentos”, exemplifica Mariano Aguirre, acrescentando que, por todos os sítios por que passa, Lula da Silva diz aos líderes mundiais “o que eles querem ouvir” e não entra em “divergências de fundo com ninguém”. “Sabe que todos, de alguma forma, necessitam de si, ou, pelo menos, querem aparecer junto a ele.”

A descrição do comportamento feita por Mariano Aguirre parece coincidir com as declarações e as tomadas de posição de Lula da Silva nos últimos dias. Em declarações ao Observador, Christopher Sabatini, professor convidado na London School of Economics e membro sénior do think tank Chatham House nos tópicos da América Latina, aponta “duas razões” para justificar as ações do líder do Brasil — uma que está alinhada com a história da política externa brasileira e outra com os reais objetivos do Chefe de Estado brasileiro de se posicionar com uma figura válida para mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia.

As opções de política externa brasileira e o papel do país numa “nova ordem mundial”

Na ótica de Christopher Sabatini, “o ADN da política externa” brasileira sempre privilegiou a “neutralidade” e o não alinhamento em conflitos estrangeiros. “O Brasil, em particular com os mandatos de Lula da Silva, aposta numa política de diálogo e da promoção de negociações”, esclarece o especialista, destacando igualmente que Brasília sempre adotou uma postura defensora das “instituições que promovam o multilateralismo”, como a ONU.

Daí que Lula da Silva defenda uma resolução do conflito através de negociações, e que as incentive. Recentemente, o Presidente brasileiro reforçou, nas suas deslocações ao estrangeiro e na receção de líderes no Brasil, a importância de formar um grupo de países neutrais que convençam a Rússia e a Ucrânia a sentarem-se à mesa de negociações. “A China quer paz, o Brasil quer paz, a Indonésia quer paz, a Índia quer paz. Então, temos de juntar esses países e fazer uma proposta de paz”, afirmou o Chefe de Estado numa entrevista a um canal estatal chinês.

Embora Lula da Silva seja o rosto mais visível na América Latina a propor uma resolução do conflito na Ucrânia, esta atitude não é exclusiva do Presidente brasileiro. Ao Observador, Vladimir Rouvinski, professor de nacionalidade russa, membro do departamento de Estudos Políticos na Universidade da Colômbia Icesi, explica que as “declarações de Lula refletem uma visão partilhada por vários outros líderes da esquerda dos países da América Latina”.

Naquela zona do globo existe, de acordo o mesmo especialista, uma “crescente preocupação e incerteza” dos impactos que poderá ter a guerra na Ucrânia no “futuro da ordem internacional”. Vladimir Rouvinski sinaliza que crescem, na América Latina, as “dúvidas de que os Estados Unidos e outros países ocidentais sejam capazes de manter o status quo quanto às regras do jogo que existiam antes da guerra”.

Christopher Sabatini concorda e elabora ainda mais o raciocínio. A guerra na Ucrânia pode simbolizar o momento ideal para “construir uma nova ordem mundial — de cariz multipolar —, que ouça as vozes do Sul Global e dos países em desenvolvimento”. A diplomacia brasileira estará, nesta lógica, a “usar” o conflito na Ucrânia para colocar em prática essa “visão” da comunidade internacional, tendo como pano de fundo a ideia de que a influência dos “Estados Unidos está a decair”.

Neste contexto, e num cenário que implique uma possível derrota (mesmo que parcial) da Ucrânia face à Rússia (o que levaria a um inevitável revés para a política externa defendida pela esmagadora maioria dos países do Ocidente), a leitura de Vladimir Rouvinski é a de que o “Brasil tenta não ficar de fora do processo de aprovação de novas regras do jogo se as velhas começarem a desaparecer”.

O interesse em criar uma nova ordem mundial é partilhado com a Rússia, que tem reiterado por várias vezes que considera o atual contexto geopolítico mundial injusto, devido à posição hegemónica assumida pelos Estados Unidos. Ainda na visita a Brasília, Sergei Lavrov destacou que as visões russas e brasileiras são “únicas” no que concerne à comunidade internacional, uma vez que implicam a construção de uma “ordem mundial mais justa, correta, baseada no Direito”, tendo ainda em consideração a “visão de mundo multipolar”.

O chefe da diplomacia russa aproveitou para elogiar as diretrizes seguidas pela política externa brasileira e, durante a conferência de imprensa com o seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, Sergei Lavrov trouxe para cima da mesa uma das principais ambições do Brasil na cena internacional, sinalizando que era a “favor da participação do Brasil como membro permanente” do Conselho de Segurança das Nações Unidas (do qual fazem parte Rússia, China, Estados Unidos, Reino Unido e França).

A integração de mais membros permanentes no Conselho de Segurança tem sido alvo de debate nas últimas décadas, principalmente por parte dos países do Sul Global — que reclamam um lugar naquele que é o órgão mais importante da ONU. Sendo o maior país da América Latina, o Brasil tem sido um dos nomes mais falados para se tornar membro fixo, um lugar que se compatibiliza, segundo Christopher Sabatini, com as aspirações brasileiras em desempenhar um “papel mais importante” na comunidade internacional.

O interesse na mediação do Brasil

Lula da Silva almeja participar na construção daquilo que considera que seria uma ordem internacional mais justa e entende que a guerra na Ucrânia é a oportunidade para repensar os alicerces do sistema atual. Na mesma medida, o Presidente brasileiro acredita que a mediação do conflito poderá tornar-se num dos seus principais trunfos para alcançar esse objetivo.

“O Presidente brasileiro sabe, e os seus diplomatas sabem, que a guerra na Ucrânia terminará em algum momento com uma negociação complexa que incluirá Kiev, Moscovo, Washington, Bruxelas, Pequim e possivelmente um país emergente“, aclara Mariano Aguirre. Ora, é essa última vaga que o Brasil quer disputar — e, evidentemente, agarrar.

No lote de países emergentes que podem desempenhar um papel na mediação, poderão estar, de acordo com Mariano Aguirre, a Turquia, a Índia, a África do Sul, um país do Médio Oriente ou então uma “combinação desses Estados”. No entanto, o especialista nota que, à exceção de Brasília, “nenhum daqueles atores está a planear um plano de paz”. “O Brasil distancia-se daqueles que dizem que ‘não é o momento de negociar’ e vai um passo mais à frente daqueles que querem pedir a paz ou um cessar-fogo, mas não o expressam”, clarifica Mariano Aguirre.

Por seu turno, Vladimir Rouvinski corrobora e diz que Lula da Silva tem interesse em formar um grupo de países neutrais. “Tendo em conta a sua aposta em ser um ator global com mais relevo, uma hipotética — pelo menos por agora — plataforma de vários países [para mediar o conflito] é o que mais convém ao Brasil que, com certeza, sozinho não pode ser um mediador central, mas sim parte de um grupo de países.”

“A preocupação” dos Estados Unidos e do Ocidente

As intenções brasileiras em resolver o conflito agradam a Pequim e a Moscovo. Aliás, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já mostrou disponibilidade para ouvir as propostas de paz do Brasil, que “merece atenção”, desde que “tenham em consideração os interesses da Rússia, as preocupações da Rússia”. Adicionalmente, em Brasília, Sergei Lavrov sublinhou que Moscovo quer que a guerra na Ucrânia acabe o mais cedo possível, permitindo ao líder brasileiro sonhar com um papel de mediador.

No entanto, os Estados Unidos e a Europa olham com desconfiança para a estratégia brasileira. A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou, esta terça-feira, que o Brasil não assume uma posição de “neutralidade” no conflito — beneficiando a Rússia — e demonstrou a sua insatisfação com as recentes declarações de Lula e do ministro Mauro Vieira.

Esta não foi, ainda assim, a única crítica de Washington dirigida a Brasília. Na segunda-feira, John Kirby atacou o Presidente do Brasil, classificando como “profundamente problemática” a forma como Lula da Silva está a lidar com a guerra na Ucrânia. “Sugeriu que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que partilham a responsabilidade na guerra”, algo que não faz sentido para os Estados Unidos, que culpam a Rússia por não estar disposta a aceitar um cessar-fogo.

Diplomatas norte-americanos ouvidos pelo G1 demonstram frustração com as críticas de Lula da Silva. “Onde estavam a China e Rússia quando a democracia brasileira estava em perigo?”, desabafou uma fonte da diplomacia americana, ressaltando que os Estados Unidos defenderam “o sistema eleitoral brasileiro, as instituições democráticas e o resultado das eleições”, condenando em toda a linha a invasão à Praça dos Três Poderes, no início de janeiro.

Ao Observador, Christopher Sabatini assume que as autoridades norte-americanas veem com “preocupação” as declarações de Lula da Silva. O Presidente brasileiro parece estar a abandonar uma posição neutral, alinhando-se com a Rússia e a China. Isso faz com que o posicionamento sobre a guerra colida contra o que defendem os Estados Unidos. O especialista sugere que a “neutralidade” do Brasil implica alguma “amoralidade”, o que é “profundamente problemático” para os EUA, que consideram existir “uma parte culpada e um agressor” — o Kremlin.

Diplomata dos EUA à G1

Os Estados Unidos, acredita Christopher Sabatini, estão a “perder a confiança” no Brasil na cena internacional, vendo-o cada vez mais distante e cada vez menos como um aliado. “Francamente, essa é uma opção de Lula da Silva, que não quer seguir o manual de regras norte-americano. Prefere tomar uma posição no mundo e ganhar preponderância na comunidade internacional, mesmo que isso implique retirar poder a Washington.”

Essa atitude terá consequências diplomáticas? Os especialistas ouvidos pelo Observador têm dúvidas de que esse seja o resultado. Apesar de os Estados Unidos terem ficado “incomodados” com os recentes comentários de Lula, Mariano Aguirre esclarece que Washington não se pode dar ao luxo de “perder a relação que mantém” com o Brasil.

“O problema é que os Estados Unidos precisam do Brasil, precisam de um parceiro no hemisfério sul para tratar de questões como a Venezuela e as relacionadas com o ambiente”, confirma Christopher Sabatini. Washington terá, assim, de reconhecer que o Brasil trata a guerra na Ucrânia “nos seus próprios termos”.

“Os Estados Unidos não podem simplesmente desmerecer o papel do Brasil, têm de tentar balancear as críticas mantendo boas relações noutros assuntos”, reforça o especialista. Prova disso é que, esta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vai pedir ao Congresso norte-americano a aprovação de um desembolso de 500 milhões de dólares (455,7 milhões de euros) para o Fundo Amazónia, do Brasil.

A porta-voz da Casa Branca já tinha assinalado, na terça-feira, que, apesar das posições divergentes no conflito ucraniano, o Brasil e os Estados Unidos mantêm uma boa relação. Mas, reforça Christopher Sabatini, terá de haver um “equilíbrio difícil” na diplomacia dos dois países no que concerne à guerra da Ucrânia, para não afetar “a histórica aliança” que mantêm.

Lula tenta recuperar confiança perdida do Ocidente

Embora tendo noção de que os Estados Unidos e a União Europeia nunca vão hostilizar por completo o Brasil, Lula da Silva não está completamente satisfeito com as críticas do Ocidente. A insatisfação dos EUA e da UE coloca em causa o que defendeu no discurso de vitória das últimas eleições, em que prometeu que o “Brasil estava de volta ao mundo”, numa clara alusão aos quatro anos de isolamento internacional promovido pelo governo de Jair Bolsonaro.

De acordo com Christopher Sabatini, a presidência brasileira está mesmo a tentar “recuperar a ambição e o perfil” da política externa brasileira, apostando na neutralidade e no reforço da relevância do Brasil na cena internacional. Ao mesmo tempo, a nova Administração brasileira quer virar costas à herança de Bolsonaro, que seguia uma agenda “anticomunista e antisocialista”, alinhando-se com líderes como o antigo Presidente dos EUA, Donald Trump, ou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban.

Ficar mal visto aos olhos do Ocidente não agrada, por isso, à presidência brasileira. E, depois de as suas declarações serem interpretadas como um ataque ao eixo Bruxelas-Washington, Lula da Silva clarificou, na terça-feira, a sua posição, garantindo que condena a “violação territorial” da Ucrânia — uma ideia que se aproxima (e aproxima o Brasil) do Ocidente. Mas a equipa que o acompanha terá traçado um plano ainda mais ambicioso para tentar suavizar ainda mais as críticas.

A deslocação de Lula da Silva a Lisboa e a Madrid, entre o final desta semana e o início da próxima, poderá ser já uma estratégia para que o Ocidente acredite que Lula da Silva não está alinhado com a Rússia e a China. Mas não é a única iniciativa diplomática para ensaiar uma reaproximação do Ocidente. De acordo com o que a CNN Brasil apurou junto de fontes do governo, o Presidente brasileiro deverá participar na coroação do Rei Carlos III, em Londres, tendo esse objetivo em mente.

Além disso, o Chefe de Estado brasileiro deverá aceitar o convite para participar, enquanto convidado, na próxima cimeira do G7 (que inclui as sete economias mais fortes do mundo que se assumem enquanto aliados da Ucrânia — Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia), que se realizará em meados de maio, em Hiroshima, no Japão.

Durante o encontro em Hiroshima, revelaram fontes do governo à CNN Brasil, Lula da Silva tentará tranquilizar os líderes ocidentais da sua posição sobre a guerra na Ucrânia, insistindo na importância da paz e apresentando-se como um mediador credível — e não alinhado com a Rússia ou com a China.

Estes encontros planeados mostram que Lula da Silva vai continuar a adaptar o discurso conforme o interlocutor, jogando em vários tabuleiros e procurando nunca hostilizar diretamente nenhuma potência. Tornar o Brasil uma voz importante no seio da comunidade internacional após os quatro anos de isolamento do antecessor parece ser o principal objetivo do Presidente brasileiro. Resta saber se, ao tentar agradar gregos e troianos, o líder do Brasil não vai acabar por perder a confiança de alguns dos seus principais parceiros.

Observador (PT)

Ucrânia recebe apoio de aliados para suas forças de tanques antes de contraofensiva




Tanques Abraham M1A2 são a aposta dos aliados ocidentais para ajudar a Ucrânia durante contra-ofensiva

Estados Unidos vão treinar tropas para utilizar seus tanques Abrams, enquanto a Alemanha anunciou um acordo para organizar um centro de reparo de tanques na Polônia; Kiev quer envio de armas mais poderosas 

Os Estados Unidos disseram que em breve começarão a treinar tropas ucranianas para usar seus tanques Abrams, e a Alemanha anunciou um acordo para organizar um centro de reparo de tanques na Polônia, com os EUA sediando uma reunião de aliados.

A reunião na base aérea de Ramstein, a mais recente de uma série de conferências com promessas de envios de armas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, não fez grandes anúncios sobre armamentos, mas disse que o foco era defesa aérea e munição.

Também garantiu apoio inabalável à Ucrânia e apoiou sua ambição de entrar na Otan em algum momento, mas autoridades sublinharam que o foco imediato é o campo de batalha.

A Ucrânia tem pressionado seus aliados por armas de longo alcance, caças e munições, antes de uma contraofensiva que é esperada para os próximos meses e semanas.

“O tanque M1, quando for entregue, fará a diferença”, disse o general do Exército dos EUA, Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Os tanques Abrams chegarão à Alemanha nas próximas semanas para as tropas ucranianas começarem o treinamento, disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, a repórteres. Uma autoridade norte-americana, falando sob condição de anonimato, acrescentou que o treinamento durará cerca de 10 semanas e envolverá centenas de soldados ucranianos.

Em janeiro, Washington prometeu entregar 31 tanques avançados M1A2 Abrams para Kiev.

Estados-membros da Otan e seus aliados têm fornecido armas e equipamentos à Ucrânia, mas Kiev tem repetidamente pedido armamentos mais poderosos e entregas mais rápidas.

Questionado sobre as demandas por caças avançados, Milley disse que a Ucrânia precisava primeiro de uma defesa aérea terrestre.

“Os russos são cautelosos em entrar na Ucrânia por causa do uso eficiente do sistema de defesa aéreo ucraniano. Esse é o ponto mais crítico no momento”, afirmou Milley.

Ele também disse que tropas ucranianas começarão a receber treinos para usar tanques Leopard e que a promessa de Berlim de entregar cerca de 80 deles até meados de 2023 estava progredindo rapidamente.

“O que tudo isso mostra? Mostra a nossa determinação e que queremos perseverar”, disse.

Reportagem de Matthias Williams, Phil Stewart, Tom Balmforth, Sabine Siebold, Benoit Van Overstraeten, Rachel More, Karol Badohal e David Ljunggren

Reuters / CNN

***

EUA anunciam treinamento de ucranianos nos tanques Abrams

Washington prepara envio de 31 blindados à frente de batalha contra a Rússia. Alemanha e Polônia também fecham acordo para criar base de manutenção de tanques próxima da fronteira ucraniana.

Os Estados Unidos iniciarão nas próximas semanas o treinamento de militares ucranianos com os tanques de combate Abrams, que devem enviados no segundo semestre do ano para a frente de batalha contra os russos na guerra da Ucrânia.

Em janeiro, Washington comprometeu-se a enviar 31 tanques Abrams modelo M1A1 a Kiev, depois de meses protelando a decisão sob a justificativa de que eles eram muito complexos e de difícil manutenção para o uso na Ucrânia.

A decisão americana fez parte de uma negociação política que abriu caminho para Berlim também anunciar o envio de 14 tanques de fabricação alemã Leopard 2 à Ucrânia e autorizar outros países que possuem o blindado a fazerem o mesmo.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou nesta sexta-feira (21/04) que 31 tanques de treinamento chegarão no final de maio à base Grafenwoehr, na Alemanha, onde os militares ucranianos começarão a ser treinados algumas semanas depois. O curso deve durar cerca de dez semanas.

Os 31 tanques de batalha Abrams que serão enviados à Ucrânia estão passando por uma revisão nos Estados Unidos e seguirão para a frente de batalha posteriormente, possivelmente no outono do Hemisfério Norte, segundo uma fonte oficial disse à agência de notícias Associated Press sob condição de anonimato.

O anúncio de Lloyd foi feito durante uma reunião de autoridades de defesa de cerca de 50 países na base militar Ramstein, na Alemanha, para coordenar o envio de equipamentos bélicos e munição para a Ucrânia.

O general americano Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, disse acreditar que os tanques americanos Abrams "farão a diferença" no campo de batalha, mas alertou que "não há bala de prata na guerra".

Base para manutenção na Polônia

Também nesta sexta-feira, foi anunciado que Alemanha, Polônia e Ucrânia assinaram um memorando para criar uma base de manutenção dos tanques de fabricação alemã Leopard 2 operados por Kiev, que ficará localizada em solo polonês, próximo à fronteira ucraniana.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, afirmou a jornalistas que essa base de manutenção custará de 150 e 200 milhões de euros por ano, quantia "que iremos dividir de forma justa, como tudo". Ele disse esperar que a base entre em funcionamento no final de maio.

A Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) iniciou em fevereiro o treinamento de soldados ucranianos para operar os tanques Leopard 2, em uma base militar na cidade de Münster, no noroeste da Alemanha.

No final de março, Berlim enviou 18 tanques Leopard 2 do tipo A6, com munição e peças de reposição, à Ucrânia – quatro tanques a mais do que o inicialmente previsto. Outros países, como Portugal e Polônia, também já enviaram tanques Leopard 2 a Ucrânia.

O Reino Unido também já enviou tanques britânicos Challenger 2 à Ucrânia.

Dinamarca e Holanda enviarão mais tanques

Na quinta-feira, a Dinamarca e a Holanda anunciaram que farão uma doação conjunta de 14 tanques Leopard 2 à Ucrânia, do modelo A4.

Em um comunicado conjunto, os dois países disseram que irão comprar os tanques e reformá-los, com previsão de entrega no primeiro trimestre de 2024. O custo previsto é de 165 milhões de euros, que será "dividido igualmente" entre ambos.

Além dos tanques Leopard 2, Alemanha, Dinamarca e Holanda anunciaram em fevereiro que enviarão pelo menos cem tanques Leopard 1 à Ucrânia, ao longo deste ano e do próximo.

Fabricado a partir de meados dos anos 1960, os Leopard 1 foram aposentados pela Bundeswehr há 20 anos. Eles fazem parte de estoques da indústria armamentista e serão reformados antes do envio para a frente de batalha. A formação de 600 militares ucranianos para conduzir os veículos blindados também já começou.

Deutsche Welle

Cidades do Norte e Sudoeste baiano registraram tremores de terra de baixa intensidade

 

mapa de tremor de baixa intensidade em juazeiro
Foto: Divulgação / LabSis

Os municípios de Boa Nova, no Médio Rio de Contas, Sudoeste baiano; e Juazeiro, no Sertão do São Francisco, registraram tremores de terra nesta quinta-feira (20). Em ambos locais, os abalos foram de baixa intensidade. No município de Boa Nova, o tremor foi sentido perto das 13h e teve magnitude de 2.2 mR.

 

Segundo o Rede GN, parceiro do Bahia Notícias, em Juazeiro, o abalo registrou 1.6 mR. de intensidade e ocorreu logo após a zero hora desta quinta. Os dados são do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que monitora os fenômenos na Região Nordeste.

 

Não houve registro de morador afetado nem de dano causado em imóveis nas duas cidades.

Desembargador do RS que é pai de sócio de Moro deixa processos da Lava Jato

 

Desembargador do RS que é pai de sócio de Moro deixa processos da Lava Jato

Por Caíque Alencar | Folhapress

desembargador Marcelo Malucelli
Foto: Reprodução

O desembargador Marcelo Malucelli pediu para se afastar dos casos da Lava Jato no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).
 

Malucelli deixou os processos alegando que é suspeito para continuar nos casos. O pedido foi enviado nesta quinta-feira (20) ao TRF-4. O magistrado é pai de um sócio do senador Sergio Moro (União Brasil). O ex-juiz é dono de um escritório de advocacia junto à mulher, a deputada Rosângela Moro (União Brasil), e o advogado João Eduardo Barreto Malucelli, filho do desembargador.
 

Esse foi o motivo do desembargador querer se afastar por "prevenção". "Por possuir natureza de cunho estritamente pessoal, constitui prerrogativa do magistrado que, por razões particulares, julga-se suspeito para o livre exercício de sua atividade jurisdicional", afirmou.
 

No TRF-4, Malucelli era relator dos casos da Lava Jato. Isso quer dizer que qualquer recurso que fosse protocolado ficaria sob avaliação dele.
 

Desembargador é alvo de um processo no CNJ. O procedimento no conselho apura uma suposta ordem de prisão preventiva de Malucelli contra o advogado Rodrigo Tacla Duran.
 

O ato contrariaria uma decisão de março do ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski, que determinava a suspensão das ações penais envolvendo Tacla Duran.

Celso Amorim decide viajar à Ucrânia após críticas às falas de Lula sobre guerra

 

Celso Amorim decide viajar à Ucrânia após críticas às falas de Lula sobre guerra

Por Giuliana Miranda | Folhapress

Celso Amorim, assessor especial da presidência
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

Após a repercussão negativa das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra no Leste Europeu, Celso Amorim, assessor especial da Presidência para a política externa, visitará a Ucrânia.
 

O anúncio foi feito pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, após encontro com representantes da Associação de Ucranianos de Portugal, que realizaram um pequeno ato em frente à embaixada brasileira em Lisboa nesta sexta (21). A viagem ainda não tem data para ocorrer.
 

"O presidente Lula determinou e me orientou que dissesse que o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia."
 

Principal conselheiro de Lula para política internacional, Amorim se reuniu recentemente com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, um gesto que irritou aliados do Ocidente, contrários à Rússia, ainda que as declarações do presidente brasileiro tenham sido as responsáveis por provocar grande repercussão.
 

A fala de Lula que gerou mais reações ocorreu em Pequim, durante sua visita à China. Na ocasião, cobrou que os EUA "parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz" para encaminhar um acordo no Leste Europeu, uma referência ao envio de armas para que Kiev se defenda das ofensivas russas.
 

A queixa de representantes dos EUA e da Europa é a de que Lula teria enviado em poucos dias uma sequência de acenos à Rússia e à China, aliada de Putin, em meio à guerra. Eles citam, além da ida de Amorim a Moscou, da viagem à China e das declarações apontando o dedo para os EUA, a recente passagem do chanceler russo, Serguei Lavrov, por Brasília, fechando um pacote de provocações a importantes sócios do Brasil, que encaram a guerra como a principal crise de segurança em curso hoje.
 

Já Portugal abriga uma grande comunidade ucraniana, que, ao saber da passagem de Lula pelo país, logo se organizou para rechaçar as falas do presidente de que a Ucrânia também é responsável pela guerra.
 

As falas fizeram o governo em Kiev convidar Lula pela segunda vez para visitar o país. Em um post no Facebook, o porta-voz da chancelaria ucraniana, Oleg Nikolenko, afirmou desejar que o petista compreenda "as verdadeiras causas da agressão russa e suas consequências para a segurança global".
 

"A Ucrânia observa com interesse os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para a guerra. Ao mesmo tempo, a abordagem que põe vítima e agressor na mesma balança e acusa os países que ajudam a Ucrânia [...] de incentivarem a guerra não está de acordo com a realidade", disse Nikolenko.
 

Membro da comitiva do petista na viagem a Portugal, Macedo foi escalado para se reunir com representantes do grupo e expressar solidariedade por parte do governo brasileiro. "No diálogo não tinha animosidade. Pelo contrário, foi uma reunião muito boa", afirmou. O ministro disse ainda que Lula pediu que ele, em nome do presidente, se "solidarizasse com a dor das famílias vitimadas por essa guerra".
 

"Assim como ele tem uma obsessão de acabar novamente com a fome no Brasil —infelizmente o país voltou ao mapa da fome—, ele também tem essa determinação de ajudar esse conflito a acabar".
 

Embora sem avanços concretos até aqui, uma das propostas do governo Lula para a guerra é a criação de um "clube da paz", fórum de países que Brasília entende como não alinhados a nenhum dos lados do conflito para mediar as negociações entre Kiev e Moscou.
 

Após o encontro, os ucranianos afirmaram que não irão participar da manifestação contra Lula organizada pelo partido de ultradireita Chega, marcada para terça (25), quando o petista discursa no Parlamento luso.

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