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domingo, outubro 09, 2022

Uma caixinha sem surpresas




Afastado o risco de derrubada do alambrado, invasão de campo e sumiço da bola, especula-se que o placar deva ser apertado

Por Eduardo Affonso (foto)

Os dois finalistas já estão prontos para entrar em campo, com reforços de peso e dispostos a brigar pelo título de 2023/2026. A janela de transferências ainda não fechou, mas ambas as equipes se movimentaram, com uma série impressionante de contratações.

Luiz Inácio, do Nunca Antes na História Deste País Futebol Clube, conseguiu trazer para o seu elenco as craques Marina Silva e Simone Tebet — esta, grande promessa para a temporada 2027/2030. Outra transação de vulto envolveu o veterano Ciro Gomes — ele já adiantou que ficará no banco de reservas, onde pretende passar o tempo regulamentar de costas para o gramado.

O Deus Acima de Todos de Futebol e Regatas, do técnico Jair Messias, renovou com o artilheiro Romeu Zema — que joga tanto na lateral-esquerda quanto na direita, mas atua melhor no meio de campo. E aproveitou as crias da casa, Cláudio Castro e Ratinho Jr., que vêm de vitórias expressivas nas últimas partidas que disputaram. Também ficou acertada a vinda do meia de armação Deltan Dallagnol e do meia de contenção Sergio Moro, que faziam uma boa tabelinha quando defendiam as cores do extinto Clube Desportivo Lava-Jato.

Em contrapartida, os rubro-estrelados foram para o mercado em busca de peças para elevar o nível técnico, conseguindo o passe de André Lara Resende, Arminio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan e Persio Arida. Com essa zaga, será difícil estourar o teto de gastos. Não se sabe como ficará o entrosamento em campo se o treinador continuar escondendo o jogo, fazendo mistério com o esquema tático e falando em herança maldita.

O time que tem mando de campo — e tenta o bicampeonato atacando pela extrema direita sem nenhum líbero — conta agora com o empréstimo (a contragosto) de Rodrigo Garcia, que desfalca o outrora glorioso Tucano Football Club. Dois dos maiores ídolos do moribundo TFC, José Serra e Fernando Henrique, acabaram reforçando o escrete adversário, que luta para se sagrar tricampeão.

O auriesmeraldino sai com alguma vantagem, graças à atuação de Marcia Tiburi e André Janones — formalmente escalados no time oponente, mas fazendo tanto gol contra que a torcida crócea vibra a cada bola fora da dupla. O rival também conta com os passes errados do candidato padre e do confrade bispo. O mau comportamento das torcidas organizadas ainda preocupa: a Mitomilícia ataca nordestinos, a Militância Encarnada insulta maçons. E não adianta reclamar com o STF, quer dizer, com a CBF.

A bola rola domingo, 30 de outubro, com o trio de arbitragem comandado por Alexandre de Moraes — que não economiza cartão — e sem a participação do VAR das Forças Armadas.

Afastado o risco de derrubada do alambrado, invasão de campo e sumiço da bola — hipóteses aventadas durante as eliminatórias —, especula-se que o placar deva ser apertado. Mas a regra é clara: bola na trave não altera o placar, gol de mão não vale, não haverá prorrogação nem decisão por pênaltis.

Espera-se um belo espetáculo, sem catimba nem firula, tudo dentro das quatro linhas. E que vença o menos pior (isso é um Fla x Flu, e eu sou botafoguense).

O Globo

Riscos e oportunidades do Supremo - Editorial




Senado bolsonarista traz riscos para a separação dos Poderes. É hora de o Supremo renovar, livre e corajosamente, sua compreensão sobre seus limites e seus deveres constitucionais

As eleições geraram uma nova camada de pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Jair Bolsonaro, o político que, desde a redemocratização do País, mais enfrentou e atacou o Supremo, elegeu 20 aliados para o Senado, entre as 27 cadeiras disputadas neste ano. Na composição da próxima legislatura, o PL, partido de Jair Bolsonaro, terá a maior bancada da Casa, com 13 senadores, seguido por União Brasil (12), PSD (10), MDB (10), PT (9), PP (7) e Podemos (6). As outras legendas somam 14 cadeiras.

O novo cenário traz riscos para o funcionamento do Estado Democrático de Direito. Não custa lembrar que, no ano passado, Jair Bolsonaro apresentou ao Senado uma denúncia de crime de responsabilidade contra o ministro Alexandre de Moraes. O pedido de impeachment não tinha nenhum fundamento. Foi uma tentativa nada sutil de constranger o magistrado responsável por inquéritos envolvendo bolsonaristas e o próprio Bolsonaro. Felizmente, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, rejeitou prontamente a denúncia, por absoluta inépcia. No entanto, a depender de quem venha a ocupar a chefia da Casa no próximo biênio, esse tipo de denúncia pode ter outros encaminhamentos, interferindo na separação dos Poderes. Com a turma bolsonarista, todo cuidado é pouco.

Ao mesmo tempo, a composição do Senado após as eleições pode ser uma excelente oportunidade para que o STF renove, sem medo e sem acanhamento, sua compreensão sobre suas próprias competências. Mais do que nunca, é necessário que a Corte esteja consciente de seus limites e seus deveres constitucionais.

Não é fácil a posição do Supremo. A Constituição de 1988 é abrangente e, ao longo do tempo, o Congresso ampliou ainda mais seu alcance. Ou seja, o STF tem, por força do próprio texto constitucional, uma amplíssima competência sobre o Estado e a sociedade. Não há como escapar disso, seja qual for a composição política do Senado. Afinal, a missão do Supremo é defender a Constituição.

Para piorar, o próprio Executivo e membros das Casas Legislativas recorrem muitas vezes ao Supremo para tentar reverter derrotas políticas sofridas no Congresso. Há uma frequente judicialização da política, com a tentativa de que o STF seja instância revisora da política. Trata-se de manobra que viola a independência dos Poderes. Cabe ao Supremo sumariamente rejeitá-la.

No Estado Democrático de Direito, questões políticas são decididas por quem recebeu voto – e os ministros do Supremo não receberam nenhum voto. A função dos magistrados é aplicar o Direito, e não arbitrar disputas políticas. Infelizmente, como este jornal alertou diversas vezes, o Supremo não tem sido, ao longo deste século, muito rigoroso em seus limites, usando interpretações expansivas para dar a algumas matérias o encaminhamento político da preferência dos magistrados – ou de parte da população que os pressiona.

A renovada compreensão por parte do STF de suas competências constitucionais não significa, no entanto, apenas reduzir sua atuação. É também uma maior consciência de seus deveres. Seja qual for a composição do Congresso, o Supremo tem a tarefa de defender a Constituição. Não foi por acaso que Jair Bolsonaro transformou o STF em seu adversário político. Toda a trajetória política do presidente está centrada na rejeição da Constituição de 1988 e de suas garantias fundamentais. Alguém que louva a ditadura e homenageia torturadores certamente atritará com o Supremo. Assim, um Senado mais bolsonarista é alerta para os ministros do STF.

A maior consciência de seus deveres – a percepção da relevância de seu trabalho para o País – deve levar o Supremo a ter uma nova velocidade. Os processos precisam ter duração de tempo razoável. Liminares não podem durar anos. A Justiça que tarda não é justiça. Em concreto, o STF deve enfrentar, de forma técnica e articulada, sem deixar brechas para novas manobras, a inconstitucionalidade gritante do orçamento secreto. Que a nova legislatura possa estrear num outro ambiente de moralidade e transparência, plenamente constitucional.

O Estado de São Paulo

Rússia nomeia general da força aérea para liderar guerra na Ucrânia




MOSCOU - O Ministério da Defesa da Rússia nomeou neste sábado o general da Força Aérea Sergei Surovikin (foto) como comandante geral das forças russas que lutam na Ucrânia, a terceira nomeação militar de alto escalão promovia por Moscou no espaço de uma semana.

A mudança segue a demissão relatada no início desta semana dos comandantes de duas das cinco regiões militares da Rússia, já que suas forças sofreram uma série de derrotas no nordeste e sul da Ucrânia nas últimas semanas.

O ministério não disse quem Surovikin vai substituir, se é que havia alguém.

A inteligência militar britânica disse em abril que o general Alexander Dvornikov havia sido nomeado para assumir o comando das forças russas na Ucrânia, quase dois meses depois de Moscou iniciar o que chama de "operação militar especial", em uma tentativa de "centralizar comando e controle".

No entanto, Moscou não especificou quem estava no comando militar geral da guerra.

Surovikin, 55, lidera as Forças Aéreas e Espaciais da Rússia desde 2017. De acordo com o site do ministério, ele comandou uma divisão de guardas estacionada na Chechênia em 2004, durante a guerra de Moscou contra os rebeldes islâmicos, e recebeu uma medalha por seu serviço na Síria em 2017.

Reuters / SWI

Proposta para o campo




Por Lana Pinheiro

Ano de eleição e o agronegócio, com uma participação de 27,4% do PIB brasileiro (dado do CEPEA referente ao ano de 2021), está na pauta prioritária dos candidatos à função de presidente da República. A RURAL destaca aqui quatro propostas apresentadas pelo dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais em seus planos de governo.

Economia

VBP é ajustado para R$ 1,22 trilhão

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), atualmente sob o comando de Marcos Montes, ajustou a expectativa do Valor Bruto da Produção (VBP) para R$ 1,220 trilhão. Se confirmado, representará singelo acréscimo de 0,3% sobre os R$ 1,217 trilhão do ano passado. De acordo com análise da Secretaria de Política Agrícola, o fraco desempenho se deve à queda do faturamento da soja por conta da quebra de produção e da retração das principais atividades da pecuária. Pelos números do órgão, as lavouras tiveram elevação de valor de 3%, e a pecuária, uma contração de 5,5%

US$ 500 MILHÕES

é o volume de recursos que o Departamento de Agricultura aplicará em financiamento de projetos que permitam que produtores carentes acessem terras, capital e mercados e treinem a próxima geração de profissionais agrícolas. Pena que é nos Estados Unidos.

Ranking

Duas mulheres Maggi entre as mais ricas

A Forbes divulgou no início de setembro a sua tão esperada lista dos maiores bilionários do Brasil. No recorte que traz somente mulheres, duas representantes do agronegócio. As duas da família Maggi. 
Projeção

Nova safra recorde

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) atualizou seus números e aumentou a expectativa de produção de grãos do Brasil para 308 milhões de toneladas em 2022/23. “Apesar do aumento nos custos de produção, as culturas ainda apresentam boa liquidez e rentabilidade para o produtor brasileiro”, afirmou o presidente da entidade, Guilherme Ribeiro. O resultado é impulsionado, principalmente, pelo bom desempenho dos mercados de milho, soja, arroz, feijão e algodão.

Máquinas

AGCO em alta potência

Até 2024, a dona das marcas Massey Ferguson, Valtra e Fendt vai investir R$ 340 milhões para modernizar duas unidades brasileiras. A AGCO tem boas razões para aumentar a tração por aqui: o Brasil representa 11% de seu faturamento total, que deve chegar a US$ 12,5 bilhões em 2022. O grupo pretende oferecer mais do que tecnologia em maquinário aos produtores. “Estamos entrando no mercado de crédito de carbono, em parceria com o Rabobank”, disse o CEO global, Eric Hansotia.

Legislação

Renagro começa a valer

Não é mais opcional. Todo produtor rural brasileiro precisa estar em dia com o Registro Nacional de Tratores e Máquinas Agrícolas (Renagro). Isso significa que tratores e máquinas agrícolas que transitarem sem registro eletrônico em vias públicas poderão ser multados. O objetivo, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é trazer mais segurança nas transações de maquinários e inibir roubos e furtos. O registro é gratuito e pode ser efetuado pelo ID Agro, plataforma digital desenvolvida pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pelo Mapa.

Alimentos

Camil compra a Mabel

Como parte de sua estratégia de expandir portfólio e ampliar presença geográfica, a Camil Alimentos anunciou acordo com a Pepsico Brasil para a aquisição da Mabel. Com a operação, a compradora marca sua entrada no mercado de biscoito considerado de alto valor agregado. “A diversidade de negócios aumenta a sinergia de operação do nosso modelo de negócios, permitindo ganho de escala e maior expertise em diferentes modelos de distribuição, suprimentos e trade marketing”, disse Luciano Quartiero, diretor presidente da Camil. O valor da operação, que ainda depende de aprovação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), não foi divulgado.

Exportação

Da Mata Atlântica para a China

O potencial da biodiversidade brasileira para geração de novos negócios é vasto e pouco explorado. Mas algumas iniciativas querem mudar este caminho. Caso a se notar é a primeira exportação brasileira de jerivá, o coquinho da Mata Atlântica. O destino é a China. O embarque foi de tímidos 650 quilos, mas com a promessa de chegar a 300 toneladas do produto que pode servir para a produção de sucos, alimentos e óleo. A operação foi realizada pelo Instituto Auá de Empreendedorismo Socioambiental com apoio do programa ExportaSP, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e da Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade (InvestSP).

Desenvolvimento

Avança política de apoio à pecuária leiteira

Acabou de ser aprovada na Câmara dos Deputados a tramitação em urgência do Projeto de Lei 207/22 que determina a criação de uma inédita Política Nacional de Apoio e Incentivo à Pecuária Leiteira Brasileira. O objetivo é aumentar a qualidade e a produtividade do setor que amarga queda de eficiência e se ressente das baixas margens. Pelo texto, a indústria fica proibida de pagar ao produtor menos do que o preço médio praticado pela Conab e o prazo máximo para pagamento não pode exceder 15 dias após o fechamento do mês. A proposta também prevê a oferta de linhas de crédito, ações de proteção fitossanitária, fomento à pesquisa, entre outras iniciativas.

Sustentabilidade

Quatorze dicas para políticas de não desmatamento na soja

Com o objetivo de contribuir para a eliminação do desmatamento na sojicultura, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) acaba de divulgar um estudo com práticas de sete grandes traders em operação no Brasil. O resultado publicado no documento Políticas Corporativas de Não Desmatamento das Principais Empresas Comercializadoras de Soja no Brasil atesta que temas como monitoramento, escopo para a aplicação da política e gestão da cadeia de fornecimento estão no radar da indústria. Mas o alerta do coordenador do Imaflora, Lisandro Inakake de Souza, é que o tom condicional das mensagens e a falta de objetividade das políticas jogam contra o setor. “Essa imprecisão confere um grau de insegurança quanto à implementação das políticas corporativas”, disse. No fim do documento, a entidade faz 14 recomendações bastante práticas de como as empresas podem melhorar a efetividade dos seus compromissos ambientais e a comunicação dos mesmos.

Pesquisa

Mais produtividade para o milho

O uso do inoculante a base da bactéria Azospirillum brasilense consorciado com capim brachiaria em milharais contribui para garantir a produtividade da lavoura mesmo diante da competição do grão com a forrageira pelo nitrogênio. A conclusão do estudo realizado pela Embrapa Agricultura Ocidental foi publicada na revista Pesquisa Agropecuária Brasileira. A engenheira agrônoma Gessí Ceccon explicou que essa nova descoberta pode ajudar a reduzir a quantidade de nitrogênio usada pelo produtor. “O uso do incumbente é uma alternativa sustentável e viável em tempos em que os fertilizantes químicos são limitados e caros.”

Nutrição animal

ICC investe R$ 15 milhões

Uma das maiores empresas em soluções nutricionais à base de levedura para saúde e nutrição animal, a ICC anunciou a inauguração de sua segunda planta de produção, em Jundiaí (SP). Fruto de investimento de R$ 15 milhões, “a unidade foi construída para suportar o crescimento da ICC para os próximos anos”, afirmou o fundador e CEO da companhia, Glycon Santos. Como retorno sobre o investimento, o executivo espera elevar os R$ 500 milhões de faturamento registrados em 2021 a R$ 1 bilhão até 2026.

Avicultura

Exportações de material genético em alta

Exportações de material genético em alta comunica que as exportações de materiais genéticos avícolas cresceram 14,4% nos primeiros sete meses deste ano para US$ 94,6 milhões. A comparação é com o mesmo período de 2021. Em volume, as vendas tiveram alta de 0,4% em 2022, com 8,398 mil toneladas contra 8,365 mil toneladas. Ricardo Santin, presidente da entidade, atribui o desempenho à segurança sanitária do País. “O Brasil é um dos únicos países que nunca registrou influenza aviária na sua produção.”

Estadão / Dinheiro Rural

O toque de Neymar




O debate público migra em larga escala para o terreno da rigidez moral. 

Por Fernando Schüler* (foto)

A eleição corre dentro da mais perfeita previsibilidade. De um lado, a conversa do “genocida”, do “risco democrático”; de outro, a “roubalheira da era petista”. Nem mesmo “ofensas novas”, me comentou um conhecido, conseguimos escutar. Não sei se concordo. Nos dias seguintes à eleição, já ouvíamos falar de um “pacto diabólico com a maçonaria”, e coisas do tipo. No meio do imenso besteirol, chamou atenção um fato prosaico: a suspensão do programa de governo, por parte de Lula. “Pra não dar polêmica”, explicou alguém da campanha. Achei curioso. Em algum lugar dos velhos manuais sobre a democracia estava escrito que as eleições eram exatamente sobre isso: a “polêmica” em torno de programas. No mundo das fadas, claro.

Bolsonaro não anda longe disso. De um lado, seu padrão de incerteza é menor. Ele tem um programa devidamente publicado, e todos sabem quem conduzirá a economia e como Paulo Guedes pensa. A incerteza está em outro terreno: a insistência inconveniente no tema das urnas eletrônicas. Ainda durante as eleições, Bolsonaro tergiversou sobre aceitar ou não os resultados das urnas, sugerindo que vai verificar se as eleições foram “limpas”. Acontece que não cabe a ele, e sim à Justiça Eleitoral, decidir sobre isso. São as regras do jogo. O que ele faz, no fundo, é bater com a cabeça em uma parede. Algo na linha que ele fez em relação à vacinação, naqueles meses duros da pandemia.

Os políticos agem assim porque os eleitores topam. Jason Brennan dividiu os eleitores em três tipos: hobbits, hooligans e vulcanos. Os primeiros seriam os alienados. Alguns chamam de “maioria silenciosa”, talvez uns dois terços do eleitorado. Os segundos, a minoria barulhenta. A turma que fica batendo boca na internet, e dá o tom do debate público. Nenhum desses dois grupos dá muita bola para as ideias em disputa numa eleição. O primeiro, porque não presta atenção; o segundo, porque desde sempre já sabe de tudo. Sobrariam os vulcanos, eleitores do tipo racional. Espécies de nerds da democracia, donos de muita informação e baixa passionalidade. Seriam os eleitores ideais, mas são uma minoria irrelevante.

Dominado pela minoria barulhenta, o debate público migra em larga escala para o terreno da rigidez moral. Do mundo pragmático da política, em que buscamos consensos e ajustamos posições, escorregamos para um terreno hostil, avesso ao diálogo e à empatia, pautado pelo que Jonathan Haidt chamou de voluntarismo “moralista” (righteousness). Haidt é autor da conhecida metáfora do elefante e o condutor. O primeiro representa nossas intuições e emoções; o segundo, a razão e o bom senso. O problema é que “99% de nossos processos mentais ocorrem no lado do elefante, e apenas 1% do lado do condutor”. O condutor se converte em um retórico, em regra “racionalizando” nossos impulsos, em vez de efetivamente comandar nossas escolhas. E isso é particularmente ativado em contextos de incerteza e hostilidade, na era digital e das guerras culturais.

A eleição é um retrato disso. Por estes dias, li de uma colunista enfurecida dizendo não entender como esses “igno­rantes e negacionistas” puderam se eleger. Para ela, os “outros” eram essencialmente produto de um tipo misterioso de malignidade (que não entendi direito). No mesmo dia, também li que a culpa pela “tragédia iminente” era da ignorância. Apenas invertida: do “povo analfabeto” que não sabia votar. De um conhecido doutor, em um infalível grupo de Whats­App, li que “quem vota em fascista não é cidadão”. Como sempre faço, nessas situações, guardo o silêncio. Quando dá uma brecha, tento explicar que talvez esse tipo de visão hiperbólica da política seja fruto do contexto tribal em que habitamos, e expressa exatamente aquele moralismo boboca de que falava Haidt. Mas não adianta. Talvez seja mesmo mais excitante imaginar que o que está em jogo, nas eleições, é o “fechamento das igrejas”; ou o “fim da democracia. Ou a aposta no dualismo banal do “bem contra o mal”, supondo que exista algum acordo sobre o que essas palavrinhas significam. E por fim a ideia surrealista de uma guerra entre o “fascismo” e o “comunismo”. Se alguém disser isso a vocês, aconselhem a pessoa a sair um pouco da internet. E, no limite, procurar ajuda.

Se os vulcanos comandassem o jogo político, a conversa seria outra. Toda vez que alguém falasse na “tragédia que irá se abater sobre nós” nestas eleições, seu “detector hiperbólico” imediatamente começaria a apitar. Ele tentaria algum critério mais objetivo para formar sua opinião. Tempos atrás sugeri que algo minimamente objetivo seriam as votações no Congresso, em temas chatíssimos como o teto de gastos, as reformas trabalhista e da Previdência, o marco do saneamento e afins. Os elefantes chiaram, o que não deixa de ser um bom sinal.

Nosso nerd democrático também entenderia como normal e legítimo, em uma sociedade diversa, que as pessoas façam escolhas diferentes. E que nem por isso elas são melhores ou piores. Ele entenderia o paradoxo contemporâneo: a terrível dificuldade de viver, no mundo real, segundo um valor que reconhecemos como crucial para a democracia: o valor do pluralismo. Um valor fundador da modernidade, que os iluministas nos pediram que aceitássemos, depois de dois ou três séculos de carnificina, na Europa das guerras de religião. E que não por acaso nasce no exílio. O exílio de Locke, o filósofo tranquilo, na Holanda, observando aquela onda de fugitivos do fanatismo católico de Luís XIV, na França, e percebendo que a Europa só teria paz se aceitasse a ideia da tolerância. Se o condutor, na metáfora de Haidt, voltasse de algum modo a comandar o elefante.

O problema com o pluralismo poderia ser assim resumido: a tese é sedutora, mas sua efetividade é particularmente dolorosa. Sara e Jack Gorman falam (em seu ótimo Denying to the Grave) do “efeito dopamina”, isto é, o “prazer genuíno que as pessoas experimentam quando escutam ideias que combinam com as suas crenças”. Isso explica muito da whatsappização do nosso mundo social. O pensamento tribal é autodestrutivo nas democracias, mas nos oferece doses diárias de um pequeno prazer. Sua origem é ancestral. Pertencer a uma tribo foi questão de vida ou morte, no ambiente hostil de nossa evolução. Nossa razão foi formatada para combater, em não nos aproximar da verdade. E possivelmente por isso a promessa iluminista seja tão complicada.

Em um plano bem mais singelo, quem definiu bem essas coisas foi o Neymar. Espancado pelos elefantes digitais por expressar sua opinião política, deu um toque exemplar: “Falam em democracia e um montão de coisa”, escreveu ele, “mas quando alguém tem uma opinião diferente é atacado pelas próprias pessoas que falam em democracia”. Achei engraçado. Talvez tenhamos um problema quando a melhor lição sobre a democracia vem do Neymar. Dos males, o menor. Oxalá aprendamos alguma coisa.

*Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

Revista Veja

Tanto pró e tanto contra




Movimento da direita é muito maior que o presidente extremista. E ex-presidente é maior que o petismo

Por Carlos Alberto Sardenberg (foto)

Em termos técnicos, pode-se dizer que todos os institutos de pesquisa estão certos, cada um a sua maneira. Quer dizer, conforme os métodos e critérios que utilizam. Mas, se todos estão corretos ao mesmo tempo e mostram resultados diferentes, pode-se dizer também que todos estão errados.

Não é por aí que se vai entender o que se passa no país. E o que se passa? Há um momento ou, se quiserem, uma onda de direita, conservadora, pró-capitalista, muito maior que o bolsonarismo raiz, este sendo a extrema direita.

No caso da eleição presidencial, os maiores institutos e a maior parte dos analistas enxergaram uma onda de voto útil pró-Lula, um forte sentimento para acabar com a coisa no primeiro turno.

Houve esse voto útil, mas não na escala antecipada. O movimento não saiu das elites partidárias e intelectuais.

E houve uma espécie de contravoto útil, em Bolsonaro. Isso não foi captado. O presidente teve um resultado melhor que o indicado nas pesquisas.

Pode-se resumir assim: o voto à esquerda foi superestimado. Inversamente, o voto à direita foi subestimado.

Não foi a primeira vez. Há um padrão aí. Nas duas eleições que venceu, Lula teve no primeiro turno menos votos do que indicavam as pesquisas. Idem para Dilma e para Haddad, este em 2018.

Neste ano, esse padrão foi claramente registrado nos estados, nas eleições para governador e senador. Em quase todos os lugares, a direita foi subestimada.

Considerem São Paulo. Tarcísio de Freitas, a direita, parecia disputar a segunda vaga com Rodrigo Garcia, Haddad liderando fácil. Nas urnas: Tarcísio com folgada liderança, Haddad decepcionado. E ninguém acreditava que o astronauta se elegeria, muito menos com tanta facilidade. Considerem o Rio Grande do Sul. O bolsonarista Onyx parecia disputar a segunda vaga. Pois chegou bem na frente. Eduardo Leite, suposto favorito, passou raspando para o segundo turno e está bem atrás. No Rio, Castro estava na frente, mas chegou com muito mais folga. Idem para Romeu Zema em Minas. O que aconteceu?

Uma resposta: é o antipetismo. Outra, paralela: pesaram muito dois tipos de voto, o evangélico e o de costumes, de conservadores contra a agenda progressista. Não pode ser só isso. No interior de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, o voto evangélico não tem peso significativo. Podem ser conservadores, mas não radicais.

Em São Paulo, Tarcísio teve mais de 9 milhões de votos. Seria tudo antipetista? Tudo fascista? Tem de ser também a favor de alguma coisa. Basta olhar os temas fortes da campanha vencedora: obras, privatização, concessões, liberdade de empreender, garantias ao ambiente de negócios. Vale também, e muito especialmente, para Romeu Zema em Minas, desde já um importante quadro da direita. Ele teve mais votos que Bolsonaro no estado.

Bolsonaro teve 51 milhões de votos. De novo, não é possível que sejam todos extremistas reacionários. Bolsonaro ganhou no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões com uma característica em comum: são as mais desenvolvidas, pelo modelo capitalista. É o setor privado que comanda. Esse pessoal se incomoda com o intervencionismo estatal do PT.

Lula ganhou no Nordeste e no Norte, onde as populações e a economia são mais dependentes de ações dos governos.

Tudo considerado, esse movimento da direita é muito maior que o Bolsonaro extremista. Inversamente, como já se viu noutras eleições, Lula é maior que o petismo.

Não é por acaso que políticos em torno de Bolsonaro procuram “moderar” o presidente e afastar os bolsonaristas raiz, aquela turma de 2018.

Lula se move para o centro. Os votos dos pais do Real e de Simone Tebet vão nessa direção. Além disso, esses votos se baseiam na convicção de que Bolsonaro é ameaça à democracia — pelo que já fez e pelo que pode tentar, dado o peso conservador no novo Congresso.

Em resumo, a direita civilizada acha que Bolsonaro pode até tentar, mas não conseguirá dar o golpe. O centro e o centro-esquerda esperam a volta do Lula do primeiro mandato.

O Globo

Nem mensalão, nem orçamento secreto - Editoria




Para Lira, ‘o povo vai escolher’ se quer a manutenção do orçamento secreto ou ‘a volta do mensalão’; é uma falsa escolha: ambos violam princípios republicanos e democráticos

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem motivos de sobra para celebrar o protagonismo que conquistou nos últimos anos. Seu partido, o PP, se consolidou como dono da terceira maior bancada da Casa, e o deputado, o mais votado de Alagoas, não esconde a pretensão de manter-se no comando da Câmara. Esses feitos políticos parecem ter fortalecido sua confiança a tal ponto que ele se sentiu à vontade para enunciar declarações que soam como ameaça ao presidente que for eleito em outubro. Em entrevista à GloboNews, Lira defendeu a manutenção das emendas de relator, base do esquema por meio do qual o governo abriu mão do controle do Orçamento e garantiu o apoio do Legislativo. “O povo brasileiro vai escolher se quer orçamento feito pelo relator, distribuído pelos deputados e senadores, ou a volta do mensalão”, declarou. “São as duas maneiras de cooptar apoio no Congresso Nacional. Eu prefiro o orçamento municipalista.”

“Orçamento municipalista” é um eufemismo para o orçamento secreto, que “acalmou o Congresso”, nas palavras de Jair Bolsonaro, e proporcionou estabilidade política a um presidente acossado por mais de 140 pedidos de impeachment. Para Lira, a imprensa se recusa a compreender os méritos e benefícios de algo que ele considera ser o empoderamento do Congresso, já que as emendas seriam uma maneira de impedir a reedição do “toma lá dá cá” que marcava o mensalão – mecanismo por meio do qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva premiava parlamentares que integravam a base de seu governo.

Ao contrapor as duas práticas como se fossem muito diferentes, Lira destaca o quanto elas são essencialmente iguais – em um ato falho, o presidente da Câmara usou o termo “cooptar”, talvez o termo que melhor define o objetivo dessas práticas. Tanto o mensalão quanto o orçamento secreto, escândalo revelado pelo Estadão, não passam de mecanismos de corrupção por meio dos quais o Executivo literalmente compra o apoio do Congresso, com a diferença de que as bilionárias emendas de relator fazem os milionários desvios que financiaram mensaleiros no passado parecerem contravenções de menor potencial ofensivo.

Por sua simplicidade, o mensalão é facilmente compreendido e amplamente rejeitado, mas a relativa sofisticação das emendas de relator não esconde sua inspiração – o hoje esquecido escândalo dos Anões do Orçamento (1993). A distribuição das verbas não tem transparência, não segue critérios técnicos nem se submete a ferramentas de controle inerentes ao setor público; apenas deputados e senadores que votam com o governo são beneficiados; municípios governados pela oposição ou sem padrinho no Congresso são punidos; os recursos garantem a compra de bens e serviços muitas vezes controversos e quase sempre superfaturados; há suspeitas de que parte do dinheiro volte para o autor; e o fato de que 10 dos 13 deputados que mais receberam emendas foram reeleitos, como mostrou O Globo, reforça indícios de que o mecanismo tem funcionado como um fundo eleitoral paralelo – e três vezes maior.

A Câmara, como casa dos representantes do povo, tem entre suas tarefas mais nobres o dever de fiscalizar a aplicação dos recursos públicos. Isso em nada se confunde com avançar sobre atribuições que pertencem ao governo, tais como a elaboração e a execução do Orçamento. É, portanto, não apenas lamentável, mas rigorosamente equivocada a visão comercial que o atual presidente da Câmara tem sobre a natureza da relação entre os Poderes Executivo e Legislativo.

Esquemas como o mensalão e o orçamento secreto não são parte da lógica do presidencialismo de coalizão, mas atalhos que dispensam o presidente de articular uma maioria parlamentar disposta a apoiar um programa consistente e focado na solução dos reais problemas do País – a essência do ato de governar em um regime democrático. Quem não tem disposição para exercer um papel de liderança na construção dessa base e opta por comprá-la, assim como quem prefere vender seu apoio, revela não ter espírito republicano e nem aptidão para participar da vida pública.

O Estado de São Paulo

Para quem acredita em pesquisa, Quaest diz que apoiadores de Bolsonaro sobem para 50%




Por Carlos Newton

Quem nos acompanha sabe a péssima opinião que o editor do blog tem a respeito das pesquisas eleitorais. Mesmo assim, se vê obrigado a informar que nesta quinta-feira, dia 6, foi anunciado o mais recente resultado da Quaest, indicando que já subiu de 44% para 50% o índice de eleitores que pretendem dar uma segunda chance para Bolsonaro.

Em tradução simultânea, o instituto está dizendo que Bolsonaro pode ganhar esta eleição, porque entrou em viés de alta, já que nas quatro pesquisas anteriores o percentual encontrava-se estável em 44%.

EM ALTA? -No dia 28 de setembro, antes do primeiro turno, 54% dos eleitores confirmaram à Quaest os levantamentos anteriores e responderam que Bolsonaro não merecia ganhar um novo mandato. Mas o índice desabou para 48% na pesquisa publicada nesta quinta-feira, mostrando que teria crescido em 6% o número de eleitores que concordam com uma segunda chance para Bolsonaro.

Bem, antes que os bolsonaristas saiam em motociata, carriata e jeguiata, comemorando a possível vitória, a mesma pesquisa traz resultados altamente conflitantes.  

Embora diga que Lula da Silva tinha 51% das intenções de voto, teria caído apenas 3 pontos, descendo para 48%, enquanto Bolsonaro, que tinha 40% teria subido um solitário ponto, para 41%.

E AGORA? – Como explicar que 50% dos entrevistados defendam que seja dada uma segunda chance a Bolsonaro, porém apenas 41% queiram votar nele? Que maluquice é essa? Quer dizer que 9% dos entrevistados aceitam reeleger Bolsonaro, mas sem votar nele?

Outro instituto, o Ipec (ex-Ibope) tem outra versão, dando Lula com 51% e Bolsonaro com 43% das intenções de votos. Ou seja, em votos válidos, Lula estaria eleito com 55% contra 45% de Bolsonaro.

E nesta sexta-feira saiu a nova Datafolha, considerada uma espécie de Oráculo de Delfos para TV Globo,  anunciou que Lula já estaria vencedor, com 53% dos votos válidos, contra 47% de Bolsonaro. A pesquisa é contraditória, porque a aceitação do governo Bolsonaro subiu 6 pontos, mas suas expectativas de voto continuariam estacionárias… 

P.S. – Portanto, fica claro que os institutos de pesquisa querem mesmo enlouquecer os eleitores, os candidatos e os partidos políticos. É por essas e outras que não dou a menor importância a essa eleição entre um ex-presidiário e um político que tinha tudo para também ser ex-presidiário, mas continua impune.  Os tais institutos podem pesquisar à vontade e até cometer erros de digitação dos números, conforme alegam, porque estou pouco ligando. (C.N.)

Tribuna da Internet

As urnas fizeram sua parte, só precisamos agora de milagres




Infelizmente, o que ficou demonstrado recentemente foi só a resiliência de nossa democracia, não sua funcionalidade.

Por Bolívar Lamounier* (foto)

É preciso ser muito obtuso para crer que o Brasil pode ser governado fora do regime democrático e que a economia pode crescer sem reformas enérgicas e grandes investimentos no setor privado.

A resiliência da democracia foi claramente demonstrada em dois episódios recentes: o manifesto lido no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e a própria eleição de domingo passado, disputada num clima de alegria e descontração. Aqueles que até 15 ou 20 dias atrás faziam ameaças não tão veladas de golpe podem, agora, meter a viola no saco.

Infelizmente, o que ficou demonstrado foi só a resiliência de nossa democracia, não sua funcionalidade. Ficou demonstrado que, entre nós, os postos eletivos hão de ser preenchidos mediante eleições limpas e livres, segundo uma periodicidade prefixada. E que o processo eleitoral é a única via legítima para o acesso a tais cargos: the only game in town, como dizia Juan Linz, um dos maiores estudiosos dos regimes democráticos.

A insuficiente funcionalidade de nosso sistema já se evidencia desde agora, antes mesmo do segundo turno. Evidencia-se no alto grau de fragmentação da estrutura de partidos na Câmara, nosso velho calcanhar de Aquiles. Só muito raramente um partido consegue eleger 20% dos deputados federais. Este ano, o PP bateu na trave: conquistou 99 deputados, mas para atingir a marca dos 20% precisaria chegar a 102. E nunca é demais frisar que não temos propriamente partidos, mas siglas. Com um arremedo de programa e coletando certo número de assinaturas, qualquer pequeno aglomerado de cidadãos pode ir ao Tribunal Superior Eleitoral e registrar uma sigla, mas daí a transformar tal aglomerado num partido sério vai uma grande distância.

Um bom exemplo, na eleição deste ano, foi a candidatura da senadora Simone Tebet, pelo MDB. Méritos Simone tem de sobra. Poderia ter angariado ao menos 10% ou 15% da votação nacional. Mas ficou bastante aquém disso, e a razão é simples. Não tinha um partido trabalhando a favor dela, mas um aglomerado trabalhando contra ela, ou, no mínimo, indiferente ao fato de ela ser na ocasião a portadora da bandeira chamada MDB.

A disfuncionalidade partidária pode, também, ser avaliada pelo ângulo de alguns destinos individuais. Num país onde existam partidos, os que se apresentam como candidatos o fazem dentro de certo balizamento, que não precisa ser rígido, mas que tenha força política e moral para conferir sentido ao movimento das diversas siglas. Nem metade dos eleitores precisaria levar no bolso a famosa “cola” ou consultar na última hora as listas colocadas a disposição pela Justiça Eleitoral. Onde não há partidos, o quadro que nos é dado presenciar lembra um processo de fissão nuclear, com prótons e elétrons correndo adoidados para todos os lados.

Os que mais perdem com essa reação em cadeia são bons candidatos que, em tese, poderiam se eleger, mas não alcançam tal objetivo, porque não têm o benefício da orientação coletiva que só partidos de verdade podem prover. Na eleição deste ano, vários foram vitimados pela solidão política, ou seja, por não terem correligionários relevantes a quem ouvir, ou por terem perdido o hábito de ouvir correligionários.

João Doria, por exemplo, poderia ter sido eleito e prestado um importante serviço ao PSDB caso tivesse optado pela reeleição ao governo de São Paulo, mas só ouviu a si mesmo, insistiu na candidatura à Presidência da República e foi alijado do pleito. Ainda mais claro foi o caso de Ciro Gomes. Dono de um admirável currículo como governador do Ceará, teria chegado ao Senado com um pé nas costas, mas acreditou, pela quarta vez, poder operar uma proeza que decididamente não estava a seu alcance. Derrotado vitorioso só houve um, o senador José Serra, que perdeu muito mais por seus méritos que por seus defeitos. Perdeu por ter-se mantido coerente com sua trajetória de bom uso dos recursos públicos, fincando o pé contra a maioria naquela famigerada noite em que todos os outros meteram a mão em R$ 41 bilhões com objetivo claramente eleitoreiro, cinicamente disfarçado como ajuda de emergência aos famintos.

Sobre programas econômicos e sociais, quase todos os candidatos passaram pela cena sem dizer palavra. Otimista incorrigível, espero ouvir algo nesta reta final para o segundo turno. Sabemos todos que, sem investimentos, a economia não cresce e o desemprego não diminui. Promover o crescimento só com recursos públicos é obviamente impossível, pela singela razão de que tais recursos não existem. Recursos privados nacionais também não existem. A indústria nacional, que já representou 27% do Produto Interno Bruto (PIB), agora representa 11%.

Para atrair investimentos estrangeiros, a polarização populista dos últimos anos tem de acabar. Há quem acredita nisso, e rezo para que tenham razão. Aí, resta-nos crer que Lula e Bolsonaro mudarão rápido de cabeça e que os capitalistas estrangeiros, de cujo dinheirinho dependemos, convertam-se da noite para o dia em devotos de Madre Teresa de Calcutá.

*Sócio-Diretor da Augurium Consultoria, é membro das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Ciências 

O Estado de São Paulo

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