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sábado, julho 09, 2022

Secretário especial de desestatização da Economia, Diogo Mac Cord, é exonerado




São Paulo, 08 - O secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, foi exonerado. A exoneração, que foi antecipada pelo Broadcast, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira, 08.

Em meados de junho, o Broadcast publicou que Mac Cord já havia alinhado com o ministro Paulo Guedes que deixaria o comando da secretaria. O aviso foi dado à sua equipe após a cerimônia de privatização da Eletrobras na B3. De acordo com fontes presentes, Mac Cord afirmou que seu ciclo no governo federal estaria concluído com o desfecho da desestatização da estatal de energia.

Egresso da iniciativa privada - para onde deve voltar com a saída do governo - Mac Cord assumiu a secretária em agosto de 2020, cadeira deixada pelo empresário Salim Mattar, que deixou o governo insatisfeito com o ritmo da agenda de privatizações.

Antes, foi secretário de Desenvolvimento de Infraestrutura, cargo que assumiu logo no início da gestão Bolsonaro. Portanto, era um dos últimos titulares da equipe original de Guedes que ainda estava na pasta.

Estadão / Dinheiro Rural

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Bolsonaro indica Hélio Ramos Filho para embaixador na Argentina

O presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Senado a indicação de Hélio Vitor Ramos Filho para o cargo de embaixador do Brasil na Argentina. Ramos Filho é hoje embaixador brasileiro na Itália.

A indicação foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 8. Ele foi também primeiro-secretário e conselheiro na embaixada brasileira em Washington (EUA), ministro-conselheiro na embaixada em Lisboa (Portugal) e representante junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cônsul-geral em Miami (EUA), e assessor especial do presidente da Câmara dos Deputados.

Estadão / Dinheiro Rural

O novo olhar do mercado para Lula




Lula indicou que pretende, caso seja eleito, pisar no acelerador fiscal e no freio monetário

Por Claudia Safatle 

A mensagem básica que o mercado financeiro está passando para Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto favorito nas pesquisas eleitorais, é diferente da que foi em 2002. “Trata-se de uma mensagem de expectativas, e não de pânico, como foi em 2002, quando se temia que o governo do PT fosse fazer uma auditoria da dívida externa, com a consequente suspensão dos pagamentos”, ressaltou Mário Toros, sócio-fundador da Ibiúna Investimentos e diretor do Banco Central durante o governo Lula.

Ao longo da campanha, Lula indicou que pretende, caso seja eleito, pisar no acelerador fiscal e no freio monetário. Ou seja, sua politica será de ampliar o gasto público e, para conter as pressões inflacionárias, usará da taxa de juros (Selic). Essa foi a combinação que predominou por praticamente todo o seu mandato, a exceção de 2003, quando fez um ajuste fiscal pra ninguém botar defeito.

Nessa linha, o mercado aponta uma taxa de juros real de 6% para os próximos anos. Isso para um país que carrega um endividamento interno de cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) é um caminho perigoso. Significa que apenas para manter a dívida estável como proporção do produto seria necessário um ajuste de quase 5% do PIB todos os anos. A combinação de um superávit primário nas contas do setor público com um crescimento econômico é que daria conta desse ajuste.

Para ter noção do tamanho da dificuldade que se coloca para o governo, um superávit primário de 2,5% do PIB exigiria crescimento de igual proporção para manter a dívida estável.

A conta não fecha e o desfecho de um processo desse nível é o de insolvência do setor público.

Lula perdeu a oportunidade de resolver a questão fiscal de uma vez, quando torpedeou a proposta de déficit nominal zero. O nominal é o conceito mais amplo das contas públicas e, ao contrário do primário, ele leva em conta a despesa com juros. Em 2005, quando o então presidente Lula estimulou os ministros Antonio Palloci e Paulo Bernardo a, juntos com Delfim Netto, criar um novo regime fiscal para o país, o déficit nominal era de 2,96% do PIB e a ideia era de leva-lo a zero em um prazo de até dez anos.

Foi em uma entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, em novembro, que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, considerou aquela uma ideia “rudimentar”, certamente com o apoio do presidente. É claro que havia risco de, em uma proposta ousada de zerar o déficit público, estabelecer-se restrições ao manejo da taxa de juros. Mas isso não inviabilizava a ideia. Logo veio a denúncia do mensalão e abriu-se uma crise de grandes proporções no governo.

A história teria sido outra caso se tivesse levado adiante uma política de ajuste de longo prazo destinada equilibrar as contas consolidadas do setor público.

A economia brasileira patina há décadas sobre um déficit pesado que demanda altas taxas de juros para carregá-lo. A experiência de juros reais de 2% foi um ponto totalmente fora da curva, que revelou-se passageira, porque estava sem sustentação fiscal.

É curioso ver como os governantes fogem de compromissos com a austeridade fiscal. Na melhor das hipóteses e com raras exceções, eles dedicam um ano para fazer ajustes nas contas do Estado e, depois, começam a gastança. Seja por ideologia, seja por mero populismo.

No caso brasileiro, o assunto está na pauta da economia desde os anos 1980, quando o país quebrou, com o endividamento externo a taxa de juros flutuantes no momento em que o governo americano teve multiplicar os juros para conter a inflação.

O país recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), como emprestador de última instância e não escapou de ter que apresentar os dados sobre as receitas e despesas públicas. A metodologia de medição do déficit foi discutida com o Fundo e todos tivemos que aprender a lidar com a contabilidade do setor público tal como lidamos com as contas de casa. Não há folga no controle das despesas.

Valor Econômico

Brasil, ressaca depois do estelionato

 




Sem os anabolizantes eleitorais de Bolsonaro, tombo da economia na real vai ser maior

Por Vinicius Torres Freire

O consumo e o emprego no segundo trimestre andaram quase no mesmo ritmo do início do ano, segundo indicadores e medidas de grandes bancos que tentam antecipar as medidas bem mais amplas e "oficiais", as do IBGE. Não dá para dizer grande coisa do PIB, que depende muito de números de investimento e comércio exterior. Mas, em termos de temperatura econômica "nas ruas", a situação não mudou grande coisa.

Na economia do dia a dia e de percepções de curto prazo, que interessam mais à política, esses indicadores de instituições financeiras sugerem que não teria havido impacto negativo na situação eleitoral de Jair Bolsonaro _ao contrário.

Por ora, as previsões de PIB no vermelho (tamanho da economia encolhendo) no terceiro trimestre também ainda não parecem à vista. Podem ser ainda mais adiadas, graças às reduções de impostos e aos aumentos de gastos, como o aumento do Auxílio Brasil e outros previstos na PEC "dos Bilhões", "Kamikaze" ou o nome que se dê.

Essa proposta de emenda à Constituição deve ser aprovada e sancionada na semana que vem. O governismo decidiu adiar a votação por precaução (nesta quinta-feira, não havia folga suficiente de votos, deputados presentes o bastante).

Os indicadores de condições financeiras da economia, porém, continuam a azedar. Isto é, o óleo que faz o motor da economia girar mais suave ou rapidamente está acabando ou queimando. Juros no Brasil, juros no mundo, risco Brasil, preço do dólar, preço de commodities, preço das ações nas Bolsas, tudo tem piorado.

O real voltou a se desvalorizar rapidamente, as taxas de juros no atacadão de mercado de dinheiro subiram (a "curva a termo"), preços de commodities relevantes para o Brasil começaram a andar de lado ou a cair, as taxas de juros das economias ricas ainda vão aumentar (na eurozona, o show nem começou ainda).

Afora milagres ou reversões abruptas, não há como evitar uma desaceleração econômica aqui no Brasil também, em algum momento entre este segundo semestre e o primeiro do ano que vem, com algum risco de pequena recessão em 2023.

Além de todo entulho, da crise crônica, há outros problemas encomendados recentemente para 2023, como receitas menores e gastos maiores, estados e municípios tendo de apertar os cintos, graças às baixas do ICMS (e o primeiro corte virá, claro, nos investimentos em obras e equipamentos).

A incerteza a respeito de como vão ser consertados ou remendados estragos novos e velhos deve colocar mais areia no motor, assim como a desmoralização extra da política econômica por causa dos estelionatos do bolsonarismo.

Em resumo, isso quer dizer que a ressaca pós-eleitoral vai ser maior. O problema vai ser parecido tanto no caso de reeleição de Bolsonaro como em caso de vitória da oposição, de Lula da Silva (PT), mais provavelmente. Bolsonaro terá apenas o problema adicional de confirmar inteiramente o estelionato, cortando o Auxílio Brasil, elevando impostos e fazendo o arrocho adicional necessário, ou de dobrar a aposta, adubando a ruína.

Recorde-se que ainda estão no programa de promessas o reajuste dos salários dos servidores e pressão maior de gastos (ou de gastos ineficientes) com o aumento do valor do pacote de emendas parlamentares, para ficar no básico.

Além do mais, a conta de juros da dívida pública vai aumentar para valer a partir do trimestre final deste ano, com o que o déficit do governo será maior. Caso o IPCA passe a aumentar menos mesmo, o aumento de receitas e a engorda artificial do PIB devidos à inflação vão ter fim. A dívida pública vai voltar a crescer de modo preocupante. Isso não vai prestar.

Folha de São Paulo

O que ainda nos falta




Por Luiz Werneck Vianna* (foto)

Sem maiores incidentes, contrariando as previsões, aliás bem fundamentadas, a sucessão presidencial no dia 2 de julho, data mais celebrada no calendário cívico da Bahia recebeu seu batismo de fogo diante da presença dos principais candidatos. As candidaturas Lula-Alkmin, Ciro Gomes e Tereza Tebet participaram do cortejo multidinário com que os baianos festejam esse dia, a de Bolsonaro, num trajeto particular feito numa motociata, sua forma favorita de comunicação com o grande público. Mais uma vez, como há pouco na Avenida Paulista, a manifestação se revestiu de uma forma plebiscitária em favor da candidatura Lula-Alkmin em que o primeiro proferiu um discurso.

Tudo contado, a festa terminou em paz, não se ouviu a explosão de uma única bomba que empanasse seu brilho, marca registrada que os inimigos da democratização do país, como nos idos da década de 1980, deixam em seus rastros. Resultado surpreendente diante das manifestações quase diárias com que Bolsonaro alardeia suas pretensões de tumultuar o processo eleitoral e que exige interpretação. Ao longo da sua experiência, no curso do seu mandato presidencial, os estrategistas que o orientam compreenderam que seu estilo importado do fascismo italiano afetava apenas uma minoria de adeptos, vendo crescer contra ele um forte movimento de rejeição.

Com essa nova percepção, operaram um audacioso movimento do tipo cavalo de pau, movendo-se em direção às forças do Centrão que sempre avaliou de modo negativo, pretendendo até a sua extinção da cena política. Como logo se verificou, as sondagens da opinião pública seguiam indicando preferência dos eleitores pela candidatura Lula-Alkmin, frustrando as melhores expectativas dessa manobra. Em modo de desespero, cogitou-se então, mesmo face a disposições contrárias do texto constitucional, implementar uma operação de larga envergadura em matéria social – apelidada jocosamente pela mídia de PEC Kamikaze – franqueando-se recursos como auxílios às populações de baixa renda, calcanhar de Aquiles da campanha pela reeleição de Bolsonaro.

A medida legislativa que facultará essa indecente iniciativa está, como se sabe, ainda em fase de tramitação no Congresso, e, caso aprovada, como tudo indica, significará o empoderamento do Centrão na coalizão política que detém o governo do país, com óbvias repercussões futuras na disposição das forças em presença. Uma delas estaria na valorização da política na forma arcaica que conhecemos na 1ª República, dominada por setores retardatários de práticas patrimoniais, e, de outro lado, na desvalorização da ideologia fascista e de suas técnicas apropriação do poder. Tamanho regresso ao mundo do coronelismo, enxada e voto, tão bem analisadas por Vitor Nunes Leal, avesso às correntes modernas que amadurecem, apesar de tudo, em nossa sociedade, não contará mais com as extintas rebeliões tenentistas mas deverá servir de caldo de cultura para a emergência de novos venturosos personagens.

Outro cenário, mais plausível, é o do eleitor, como sarcasticamente comentou o candidato Lula, pegar o dinheiro com que lhe querem comprar a consciência, e votar no da sua preferência. De antemão essa distribuição a rodo de recursos públicos escapa a previsão dos seus efeitos, embora não se deva afastar a hipótese de que, ao menos, garanta a Bolsonaro o acesso ao segundo turno eleitoral, facultando a ele a mobilização de todo o arsenal golpista que meticulosamente vem amealhando. Na eventualidade, nessa disputa, segundo as pesquisas, em que seria francamente derrotado pelo candidato que demoniza, essa seria a sua hora, ao brandir com a ameaça da iminência do perigo comunista a fim de investir contra as instituições e desferir o golpe tão anelado.

A rigor, o esforço dispendido na campanha eleitoral pelas forças bolsonaristas mal disfarça que elas cultivam em surdina uma alternativa golpista se ela não se mostrar favorável aos seus desígnios. Nesse quadro, o fetichismo institucional panglossiano que orienta uma parte da oposição democrática deve ser severamente combatido na medida em que o campo reacionário está disposto a não ceder terreno a qualquer custo. A mobilização massiva da população em manifestações públicas, a exemplo das ocorridas na Avenida Paulista e nas ruas do centro de Salvador, consiste na mais eficaz forma de dissuadir as pretensões golpistas. É preciso lembrar dos efeitos benfazejos das gigantescas manifestações de massa dos anos 1980 para a derrota do regime militar da época.

De nada serve ficar mirando as nuvens e esperar pelas chuvas, como dizia Vianinha em peça famosa, pois há o que fazer para devolvermos vida plena à Carta constitucional que fizemos juntos, pois está em nossas mãos ganhar nas ruas e nas urnas em primeiro turno e com isso levantarmos barreiras de difícil transposição para os aventureiros do golpe.

*Luiz Werneck Vianna, Sociólogo, PUC-Rio     

UNISINOs

Ex-premiê japonês Shinzo Abe morre após ser baleado em comício




Ataque ocorreu na cidade de Nara, perto de Quioto

Tóquio - O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe morreu hoje (8), após ser baleado durante comício na cidade de Nara, perto de Quioto. A notícia foi dada pela NHK, a televisão estatal do Japão, e confirmada pelo hospital.

A polícia japonesa deteve um suspeito do ataque, Tetsuya Yamagami, com cerca de 40 anos. Ele é acusado de homicídio e usou equipamento semelhante a uma arma de fabricação caseira.

Shinzo Abe, de 67 anos, foi primeiro-ministro do Japão entre 2006 e 2007 e, mais tarde, entre 2012 e 2020. Foi o líder japonês com maior longevidade no cargo.

O comício desta sexta-feira ocorria antes das eleições para o Senado japonês, marcadas para domingo (10). Abe discursava em apoio a Kei Sato, um membro da câmara alta do Parlamento que concorre à reeleição como representante da cidade de Nara.

Hospital

Em entrevista, o Hospital Universitário de Nara informou que a morte foi declarada às 17h03 locais, cinco horas depois de ter chegado ao hospital.

De acordo com o médico presente na entrevista, Shinzo Abe "já não tinha sinais vitais" quando chegou ao hospital. Os dois disparos que atingiram o ex-chefe de governo feriram o pescoço, do lado direito, e o peito, do lado esquerdo, chegando ao coração.

O ex-primeiro-ministro sangrou de forma "abundante" e recebeu várias transfusões de sangue para tentar salvar a sua vida, disse o médico.

Manifestações

Emocionado, o atual primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse que "não encontra palavras" para reagir após a morte de Shinzo Abe. Kishida foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Abe antes de chegar à liderança do governo japonês.

O atentado contra Shinzo Abe é condenado por vários dirigentes mundiais e organizações internacionais. Em Portugal, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que está "chocado" com o assassinato.

O governo português condenou o ataque e destacou que "não há lugar para a violência na política".

No Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou a morte do ex-chefe de governo. "Morreu uma pessoa maravilhosa, um grande democrata e um defensor da ordem mundial multilateral. Choro com a sua família, amigos e todo o povo japonês", afirmou.

Violência política

No Japão, a violência política é rara e as armas de fogo estão fortemente reguladas. Os assassinatos eram uma característica comum na política interna nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, mas tornaram-se quase inexistentes ao longo das últimas sete décadas.

O último assassinato de uma figura política importante ocorreu em 1960, quando um nacionalista extremista esfaqueou e matou o então líder do Partido Socialista do Japão, Inejiro Asanuma. Em nível local, o prefeito de Nagasaki, Kazunaga Ito, foi morto a tiro em 2007 por um integrante de uma gangue.

O país tem as regras mais rigorosas do mundo sobre a compra e o porte de armas de fogo. Em princípio, essas armas não são sequer permitidas no país, mas existem algumas exceções, como as armas usadas na caça.

São várias as etapas até que se consiga comprar e ter porte de arma, desde aulas de segurança, exames escritos, exames médicos, comprovação da saúde física e mental ou verificação de antecedentes.

De acordo com o jornal The New York Times, havia cerca de 192 mil armas de fogo registradas no país em 2020, o mesmo número registrado no estado norte-americano do Alabama, por exemplo.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

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Em um país livre de armas, japoneses se chocam com assassinato de Abe

Posse de armas é rigorosamente regulamentada no Japão

Por Elaine Lies 

Tóquio - O Japão está em hoje em choque e tristeza, tentando entender o assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe em um país onde as armas de fogo são estritamente regulamentadas e a violência política extremamente rara.

Abe foi baleado enquanto fazia um discurso de campanha e levado ao hospital de helicóptero. Sua morte foi anunciada no fim desta sexta-feira (horário do Japão).

Houve uma onda de tristeza em uma nação onde a violência política é rara, em manifestações que vão do primeiro-ministro protegido de Abe, Fumio Kishida, às pessoas comuns nas mídias sociais. A última vez que um ex-primeiro-ministro foi morto foi há quase 90 anos.

"Estou incrivelmente chocada", disse a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, em entrevista antes do anúncio da morte de Abe. "Não importa o motivo, um ato tão hediondo é absolutamente imperdoável. É uma afronta à democracia."

Koki Tanaka, um trabalhador de TI de 26 anos no centro de Tóquio, expressou uma opinião semelhante: "Fiquei simplesmente espantado que isso possa ter acontecido no Japão".

As restrições de posse de armas no Japão não permitem que cidadãos particulares tenham revólveres, e caçadores licenciados podem ter apenas rifles. Os proprietários de armas precisam assistir aulas, passar por um teste escrito e se submeter a uma avaliação de saúde mental e verificação de antecedentes.

Tiroteios, quando ocorrem, geralmente envolvem criminosos da "yakuza", a máfia local, usando armas ilegais. Em 2021, houve dez incidentes com tiros, oito envolvendo criminosos, segundo dados da polícia. Uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas.

O homem preso, suspeito de atirar em Abe, é um ex-membro das Forças Armadas japonesas que disparou uma arma de fogo artesanal, segundo relatos da mídia. O ministro da Defesa, Nobuo Kishi, irmão de Abe, recusou-se a comentar.

Reuters / Agência Brasil

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Ex-premiê japonês Shinzo Abe é assassinado

Mais longevo primeiro-ministro da história do Japão, Abe foi alvo de tiros enquanto discursava num comício. Um suspeito foi detido. Segundo imprensa, homem usou arma caseira.

O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe morreu aos 67 anos após ter sido baleado nesta sexta-feira (08/07) durante um evento de campanha para eleições parlamentares, confirmou o hospital onde ele foi admitido.

"Shinzo Abe foi transportado para o hospital às 12h20 [horário do Japão]. Ele estava num estado de parada cardíaca ao chegar. Foi feita reanimação, mas, infelizmente, ele morreu às 17h03", disse a repórteres Hidetada Fukushima, professor de medicina emergencial no Hospital Universitário de Nara.

Abe, que foi o mais longevo primeiro-ministro da história do Japão, estava fazendo um discurso em prol do atual premiê japonês, Fumio Kishida, favorito nas pesquisas para as eleições deste ano, diante de uma estação de trem em Nara, na região central do país, quando dois tiros foram disparados contra ele, por volta das 11h30 (hora local).

"É realmente lamentável. Estou sem palavras. Eu ofereço minhas sinceras condolências e orações para que sua alma descanse em paz", disse Kishida a repórteres.

Kishida condenou o ataque, e líderes internacionais expressaram choque diante do atentado em um país no qual a violência política é rara e armas de fogo são rigidamente controladas.

"Este ataque é um ato de brutalidade que aconteceu no âmbito das eleições – o fundamento da nossa democracia – e é absolutamente imperdoável", disse Kishida.

Segundo a imprensa do país, um homem que estava atrás de Abe abriu fogo com uma arma aparentemente caseira. Ele foi detido por forças de segurança em seguida.

Os serviços de emergência de Nara afirmaram que Abe foi ferido no lado direito do pescoço e na clavícula esquerda. Abe foi transportado para o hospital de helicóptero e, segundo Fukushima, morreu em decorrência da perda de sangue, apesar de ter recebido transfusões.

Suspeito teria confessado o crime

Um homem desempregado de 41 anos, identificado como Tetsuya Yamagami, foi preso suspeito de ter cometido o crime. Segundo um oficial da polícia da região de Nara, ele teria confessoado o assassinato. O homem serviu ao Exército japonês por três anos, até 2005.

"O suspeito disse guardar rancor contra uma certa organização e confessou ter cometido o crime porque acreditava que o antigo primeiro-ministro Abe estava relacionado com ela", declarou o oficial a jornalistas, sem entrar em detalhes. 

De acordo com a polícia, ele teria usado uma arma artesanal. 

"É o que o suspeito afirma e determinamos que [a arma utilizada] aparenta claramente ser artesanal, mas a nossa análise ainda está em curso", afirmou um agente. 

Segundo a imprensa japonesa, o atentado não estaria relacionado à política do ex-premiê.

A agência de notícia Kyodo publicou uma foto de Abe deitado de barriga para cima na rua, com sangue em sua camisa branca. Uma multidão o rodeava, e uma pessoa realizava massagem cardíaca.

"Houve um barulho alto e depois fumaça", disse o empresário Makoto Ichikawa, que estava no local do ataque, à agência de notícias Reuters, apontando que a arma tinha o tamanho de uma câmera de televisão.

Após dois mandatos como premiê, a partir de 2012, Abe renunciou em 2020, citando motivos de saúde. Mas ele se manteve uma figura influente no Partido Liberal Democrata. Kishida, apadrinhado político de Abe, suspendeu sua campanha eleitoral após o atentado contra o ex-premiê. Todos os principais partidos do país condenaram o ataque.

Leis rígidas sobre armas

O ataque chocou muitos japoneses. Airo Hino, professor de Ciências Políticas na Universidade Waseda, afirmou que um ataque a tiros desse tipo é algo sem precedentes no Japão. "Nunca ocorreu algo assim", disse.

Políticos japoneses de alto escalão são acompanhados por agentes de segurança armados, mas frequentemente chegam perto do público, especialmente durante campanhas políticas, quando fazem discursos e dão a mão para cidadãos.

A legislação japonesa não permite que cidadãos comuns tenham armas, e caçadores licenciados só podem ter um fuzil. Proprietários de armas precisam frequentar aulas, passar em uma prova escrita e ser submetidos a uma avaliação de saúde mental e checagem de antecedentes criminais.

Ataques a tiros geralmente envolvem gângsteres "yakuza" usando armas ilegais. Massacres, como o que matou 19 pessoas numa instituição para pessoas com problemas mentais em 2016, costumam ser perpetrados com facas.

Ataques contra políticos também são incomuns. Houve poucos incidentes do tipo nos últimos 50 anos, o mais notável deles em 2007, quando o prefeito de Nagasaki foi morto a tiros por um gângster. O atentado levou a um endurecimento ainda maior das leis de armas.

A última vez que um primeiro-ministro foi morto no Japão foi em 1936, durante o radical militarismo japonês pré-guerra.

Brasil decreta luto oficial de três dias

O presidente Jair Bolsonaro decretou luto de três dias pela morte de Abe e disse que recebeu "com extrema indignação e pesar a notícia", classificando o ex-premiê como um "líder brilhante" e "grande amigo do Brasil".

"Estendo à família de Abe, bem como aos nossos irmãos japoneses, a minha solidariedade e o desejo de que Deus cuide de suas almas neste momento de dor", escreveu Bolsonaro no Twitter.

"Como sinal de nosso respeito ao povo japonês, de reconhecimento pela amizade de Shinzo Abe com Brasil e de solidariedade diante de uma crueldade injustificável, decretei luto oficial em todo o país durante três dias. Que seu assassinato seja punido com rigor. Estamos com o Japão", acrescentou.

Condenação internacional

Líderes internacionais manifestaram choque e solidariedade ao povo japonês após o ataque a Shinzo Abe.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse tratar-se de uma "tragédia para o Japão e para todos os que o conheceram". 

Biden afirmou estar "atordoado, chocado e profundamente entristecido" com a notícia, prestando homenagem a Abe, ex-primeiro-ministro que "dedicou a sua vida" a servir o povo japonês. 

"A violência armada marca sempre profundamente as populações que são suas vítimas", disse Biden. "Os Estados Unidos estão ao lado do Japão neste momento de luto", acrescentou. 

Os ex-presidentes americanos Barack Obama e Donald Trump também prestaram condolências.

Obama se disse "chocado e triste" com o assassinato do seu "amigo e parceiro de longa data". Para ele, Shinzo Abe "dedicou-se tanto ao país que serviu, quanto à extraordinária aliança entre os Estados Unidos e o Japão". 

Trump afirmou que Abe era "um unificador como nenhum outro, mas, acima de tudo, era um homem que amava e valorizava o seu belo país, o Japão". "Nunca vai existir outro como ele", acrescentou Trump. 

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou Abe de "líder de grande visão", classificando seu assassinato de um evento "chocante" e "profundamente perturbador".

Após a confirmação da morte de Abe, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, disse estar "perplexo e profundamente triste". "Estamos ao lado do Japão também neste momento difícil", tuitou.

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou estar "chocada com a notícia de que Shinzo Abe foi baleado", antes de saber da morte do político. "Meus pensamentos estão com ele e sua família", escreveu ela no Twitter. Baerbock está atualmente em Bali, na Indonésia, para a cúpula do G20.

O presidente francês, Emmanuel Macron, se disse "profundamente chocado com o hediondo ataque a Shinzo Abe". "Nossos pensamentos estão com a família e os amigos de um grande primeiro-ministro. A França está ao lado do povo japonês", escreveu no Twitter.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o "assassinato brutal e covarde" de Abe choca o mundo.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lamentou o "assassinato brutal de um grande homem". "Japão, a Europa está de luto com vocês", afirmou.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, se disse "profundamente triste com o odioso assassinato" de Abe. Stoltenberg afirmou que o ex-premiê foi um "defensor da democracia" e expressou condolências à família de Abe, ao premiê Fumio Kishida e "ao povo do Japão, parceiro da Otan, nesse momento difícil".

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar "chocado e entristecido" com o que chamou de "ataque deplorável". Mais tarde, ao saber que Abe não sobreviveu ao ataque, ele disse que a morte do ex-premiê japonês é uma "notícia incrivelmente triste".

Deutsche Welle

Bolsonaro cita assassinato de Abe para reiterar temor com ‘inimigos internos’




Ao comentar o assassinato a tiros do ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe em um ato eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro reiterou seu temor com "inimigos internos" de uma nação. O discurso é uma constante em pronunciamentos de Bolsonaro desde a facada que sofreu em 2018, quando ainda era candidato ao Palácio do Planalto.

"É um risco dos bons, é o preço por lutar pelo seu país. Muitas vezes, na maioria das vezes, o inimigo não está lá fora, está dentro da nossa própria pátria", afirmou o presidente nesta sexta-feira em solenidade militar em Pirassununga (SP).

Mais longevo premiê do Japão, Shinzo Abe foi morto nesta madrugada (pelo horário de Brasília) durante um comício em Nara. Ao ser preso, o atirador confessou o crime e o atribuiu a diferenças políticas.

Mais cedo, Bolsonaro decretou luto oficial de três dias pela morte de Abe. "Homem afável, inteligente, patriota", afirmou o chefe do Executivo na cerimônia, sobre o ex-primeiro-ministro. O presidente pediu aos militares toques de sentido e de silêncio e foi às lágrimas.

No mesmo discurso, Bolsonaro defendeu a preparação de militares para a "possibilidade de agressões" e voltou a falar em interesse internacional pelas riquezas brasileiras. "O que nós não podemos não podemos admitir é que traição venha de gente dentro do país para comungar com essas teses, buscando, ao tirar a nossa liberdade, entregar as nossas riquezas e a nossa gente à outra ideologia", declarou.

"Até o último dia da minha vida ou do meu mandato, farei com que a nossa Constituição seja de fato cumprida", garantiu ainda Bolsonaro.

Estadão / Dinheiro Rural

Aderência do brasileiro à educação sexual nas escolas não é passe livre para doutrinação ideológica




As diretrizes mais recentes indicam infiltração ideológica nos currículos. 

Por André Luzardo e Eli Vieira 

Uma pesquisa nova do Datafolha encomendada por duas organizações não-governamentais da educação afirma que 91% dos brasileiros concordam que o abuso sexual de crianças e adolescentes pode ser prevenido pela educação sexual. Uma maioria de 73% pensa que essa disciplina deve estar presente nas escolas.

A amostra foi de 2090 pessoas que foram entrevistadas em março deste ano. O título da pesquisa é “Ultraconservadorismo na educação”. Respondendo se a escola está mais preparada que os pais para explicar puberdade e sexualidade, 47% expressaram concordância completa, 24% concordaram em parte. Uma quase unanimidade de 96% concorda que a escola deve oferecer informação sobre doenças venéreas e formas de preveni-las. Quanto aos alunos aprenderem na escola a respeito de como evitar gravidez indesejada, 93% dos respondentes concordaram.

Esses números são consistentes com pesquisas de opinião pública entre americanos. Em uma pesquisa de 2005 da Pew Research, 78% dos respondentes foram favoráveis ao ensino escolar sobre métodos anticoncepcionais. Em outra mais recente e abrangente pesquisa, 64,1% consideraram como “muito importante” a educação sexual na middle school (11 a 13 anos de idade) e 82,7% na high school (14 a 18 anos). Em relação aos tópicos, a grande maioria (entre 81,6-97,8%) concorda que já na middle school sejam abordados a puberdade, relacionamentos saudáveis, abstinência, contraceptivos, doenças venéreas e consentimento. Divisões partidárias não se mostraram muito grandes, exceto quanto ao tópico “orientação sexual” na middle school, onde a grande maioria dos democratas (83,8%) são a favor enquanto pouco menos da metade dos republicanos (48,1%) têm a mesma opinião.

No Brasil, a educação sexual focada em planejamento familiar e evitar doenças sexualmente transmissíveis acontece há décadas nas escolas públicas. A geração que hoje chega aos 40 anos costumava aprender na escola a respeito da “puericultura”, disciplina subordinada à pediatria que chegou ao Brasil no final do século XIX. Os pais mais jovens, portanto, defendem que suas crianças obtenham os mesmos conhecimentos que eles adquiriram na escola.

Essa postura não se confunde com uma concordância com pautas progressistas como a introdução de conceitos da diversidade sexual e a pauta LGBT. Uma pesquisa de janeiro do PoderData, por exemplo, apontou que o apoio ao casamento gay caiu de 51% para 45% no Brasil. Quando mal introduzidas, essas questões podem contribuir para confusões de identidade e más recomendações, como a de tratar toda criança que diz que quer pertencer ao sexo oposto como “trans”, quando a maioria delas se resolve sem necessidade de transição.

Educação sexual é eficaz? O que diz a literatura acadêmica

Uma revisão de 2020 de Eva Goldfarb e Lisa Lieberman, ambas do Departamento de Saúde Pública da Universidade Estadual de Monclair, na Nova Jérsei, filtrou 80 estudos entre dezenas de milhares a respeito do estado da arte da educação sexual nos últimos 30 anos. As autoras sugerem que a educação sexual tem sucesso em reduzir a homofobia, com recursos didáticos como convite a pessoas LGBT para que contem sua história de vida. Um dos estudos, envolvendo 227 estudantes do ensino médio canadenses, viu redução no uso de xingamentos homofóbicos entre eles.

Estudos na Califórnia e nos Países Baixos indicam que a presença da educação sexual reduz o bullying contra os alunos LGBT e que até melhora a saúde mental deles, baixando a incidência de ideações suicidas. Quanto à educação sexual mais clássica, são observadas melhorias quanto à percepção e atitude em relação à violência entre parceiros íntimos — alguns poucos estudos usaram o método mais rigoroso da distribuição aleatória dos estudantes entre quem teve aulas em educação sexual ou não. Além disso, “esta revisão encontrou evidências fortes para a eficácia dos esforços de prevenção do abuso sexual infantil”, dizem Eva e Lisa. As crianças aprenderam a respeito de qual toque de adulto é apropriado e a respeito do que é normal para cada etapa de seu desenvolvimento. Também foram orientadas a não reproduzir atitudes incorretas como culpar vítimas pelo estupro.

Em uma revisão de 2016 feita pelo Centro de Intervenções Baseadas em Evidências da Universidade de Oxford e encomendada pela UNESCO os autores não encontraram evidências de que a educação sexual aumenta a atividade sexual ou DSTs, uma preocupação bastante comum.

Se a educação sexual não aparenta ter efeitos negativos em desfechos biológicos, como gravidez e DSTs, será que ela teria efeitos positivos? Aqui a evidência não permite tirar uma conclusão clara. Há poucos estudos de alta qualidade sobre o assunto, como apontam Goldfarb e Lieberman, e a própria revisão da UNESCO. Um estudo de longo prazo americano constatou não haver efeito na taxa de natalidade adolescente quando outras variáveis eram controladas, como religiosidade, características demográficas e políticas locais sobre o aborto. De fato, estados americanos com maior religiosidade e conservadorismo estavam associados a maiores taxas de gravidez adolescente, embora não se saiba ao certo se há relação causal entre essas crenças e esse resultado.

É interessante levar em conta também o que têm a dizer os alunos. Em um estudo qualitativo envolvendo vários países, incluindo o Brasil, os alunos expressaram certa insatisfação com a maneira como a educação sexual era ensinada em suas escolas. Muitos relataram timidez, inclusive da parte dos professores, e insatisfação com a ênfase negativa, demasiado “científica” e sem muita relevância para a vida real dos alunos.

Uma das maiores dificuldades na avaliação científica dos efeitos da educação sexual é a tremenda variabilidade tanto nos tópicos curriculares quanto na maneira como esses são abordados. Além disso, e como esperado, esse tópico é particularmente sensível à influência de ideologias políticas conservadoras e progressistas, o que pode trazer efeitos indesejados. Do lado conservador há uma tendência em reduzir a educação sexual à abstinência apenas, algo que estudos já citados mostram não ter o efeito esperado. Do lado progressista vemos cada vez mais ganhar terreno a ideia do gênero como construção social, uma posição não científica e que remonta ao mito da tábula rasa, a ideia há tempos desacreditada de que a mente e o comportamento humano são influenciados somente pelo ambiente. Ainda não há estudos sobre os efeitos que essa ideia pode ter no contexto escolar, mas é plausível que ela possa confundir adolescentes cujo comportamento não se encaixe no padrão masculino/feminino e contribuir para o atual aumento dos casos de disforia de gênero provavelmente causados por contágio social.

Influências sobre a área

Nos Estados Unidos, três ONGs publicam desde 2012 as Diretrizes Nacionais de Educação em Sexualidade (NSES), amplamente adotadas em distritos escolares pelo país. A segunda edição das diretrizes foi publicada em 2020. Goldfarb e Lieberman comentam que essa edição teve como atualização notável “um foco proeminente em justiça social e equidade, além da interseccionalidade”. O que isso significa é que há uma influência ideológica da “teoria crítica da raça” — uma vertente acadêmica que busca explicar o racismo em termos de relação de poder entre grupos e afastar o entendimento da solução para o assunto no tratamento igual independente da raça — e outras vertentes do identitarismo acadêmico.

“Justiça social” é um termo bem conhecido utilizado por diversas escolas de pensamento de esquerda, incluindo o comunismo. “Equidade” é um termo cuja semântica foi modificada mais recentemente pela constelação de estudos em política identitária. Em vez de ser um sinônimo de igualdade ou o mesmo tratamento para indivíduos independente de sua identidade, “equidade” neste ambiente ideológico significa uma pressão pelos mesmos resultados, por exemplo pela representação proporcional de grupos em diferentes ambientes educacionais e profissionais. Essa meta pode levar a injustiças, como a dispensa de pessoas interessadas e talentosas por não serem parte de grupos “protegidos”.

Quanto à “interseccionalidade”, termo criado pela acadêmica Kimberlé Crenshaw para se referir à confluência de opressões em mulheres negras (sexismo e racismo), pertence à área conhecida como “teoria crítica da raça”. Kimberlé propõe em um artigo que a ideia de tratar as pessoas igualmente como se não tivessem cores diferentes, o que os americanos chamam de “cegueira à cor”, “não faria sentido numa sociedade em que grupos identificáveis haviam sido tratados de forma diferente”. Neil Gotanda, outro teórico crítico da raça, chama a integração dos negros à cultura americana na era pós-segregação de “genocídio cultural”. John Calmore, da mesma linha, afirma que a teoria crítica da raça “rejeita os ditames tradicionais que imploram que se escreva e estude como um observador desinteressado cujo trabalho supostamente é objetivo, neutro e equilibrado”. Os teóricos abraçam a subjetividade e rejeitam a imparcialidade que se busca na ciência.

Em um volume organizado por Kimberlé de título “Teoria Crítica da Raça: Os Principais Textos que Formaram o Movimento” (em tradução livre, 1996), aos autores atacam explicitamente a forma como foi feita a dessegregação racial da sociedade americana, optando por “recuperar e revitalizar a tradição radical da consciência racial entre os afro-americanos e outras pessoas de cor”. A ideia vai contra pesquisa replicada em psicologia que indica que a menor ênfase em identidade racial ajuda a combater o racismo, como discutindo antes aqui na Gazeta do Povo.

O fato de diretrizes recentes em educação sexual usarem o vocabulário e as ideias dos movimentos identitários e seus idealizadores evidencia que os pais, enquanto aprovam a presença da educação sexual nas escolas, devem estar atentos a qual base teórica é utilizada para tanto. A educação sexual que lembram com nostalgia em sua própria formação pode não ser tão baseada em conhecimentos quanto eles pensam, e pode ter elementos de radicalismo político.

Gazeta do Povo (PR)

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