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sexta-feira, maio 06, 2022

Bagunça - Editorial




Com seu voluntarismo, Bolsonaro é o único responsável pelo retorno das greves do funcionalismo público federal

A retomada da greve do funcionalismo público tem tudo para causar confusão no País nas próximas semanas. A sociedade já teve uma amostra da força dos servidores no início do ano, quando a mobilização de auditores fiscais causou filas e transtorno na liberação de cargas em portos e fronteiras. No Banco Central (BC), o movimento vai afetar a publicação de praticamente todos os indicadores do órgão. Com exceção da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado que define a taxa básica de juros da economia e que divulga os termos de sua decisão uma semana depois, o governo ficará no escuro a respeito de dados essenciais para nortear políticas públicas, como o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), prévia do Produto Interno Bruto (PIB); a pesquisa Focus, termômetro das expectativas do mercado sobre indicadores macroeconômicos; e o fluxo cambial, que pode até afetar as cotações da moeda.

Agora, é a vez da Polícia Federal (PF), cuja insatisfação se tornou ameaça para a adoção de paralisações e a entrega dos cargos de chefia. A origem dessa bagunça generalizada tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. É imprescindível lembrar como e quando começou o movimento grevista do funcionalismo. Foi no fim do ano passado, ainda na tramitação do Orçamento no Congresso, quando o governo pediu formalmente a reserva de recursos para a reestruturação das carreiras das forças de segurança federais, um eufemismo para um reajuste salarial para uma parte relevante da base de apoio do presidente.

O voluntarismo de Bolsonaro foi como pólvora para que o funcionalismo público cobrasse sua parte no quinhão de R$ 1,7 bilhão reservado na peça orçamentária. Para alguém que foi eleito pela maioria dos brasileiros após quase 30 anos de mandato como deputado federal, a inconsequência de Bolsonaro chega a ser surpreendente. Propostas para botar panos quentes no ânimo dos servidores passaram por um aumento no vale-alimentação a um reajuste linear de 5% para todos, ínfimo diante da inflação, mas quatro vezes maior que a verba aprovada.

A persistência no erro, porém, parece ser um traço intrínseco de Bolsonaro. Ele manteve a malfadada aposta ao prometer, no cercadinho do Palácio da Alvorada, simulacro do Brasil real no imaginário bolsonarista, dobrar o número de convocados nos concursos realizados pela Polícia Federal e pela Polícia Rodoviária Federal. O teatro, com direito a ordens por telefone para que subordinados cumprissem o determinado, não durou nem um dia, uma vez que o Orçamento não comporta mais estripulias de sua caneta destrambelhada. Serviu, porém, para dar ânimo extra aos grevistas, já que a retomada dos concursos é demanda generalizada entre as carreiras típicas de Estado. Ao menos até o início de julho, limite a partir do qual a concessão de benesses fica proibida por lei em razão do período eleitoral, o País tem tudo para viver dias de desordem e de escuridão estatística. A depender do resultado do pleito de outubro, a baderna pode se prolongar por mais quatro anos.

O Estado de São Paulo

O que, afinal, está acontecendo com Lula?




Por Malu Gaspar (foto)

Provocaram frisson as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à revista Time, na entrevista em que ele disse que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é tão responsável pela guerra quanto o russo Vladimir Putin.

Referências para se posicionar de forma diferente, ele tinha.

No início de março, seu ex-chanceler Celso Amorim rechaçou a invasão da Ucrânia sem mas nem porém: “Eu não posso condenar a invasão dos Estados Unidos ao Iraque e depois aceitar outra invasão”.

O que interessa, nesse caso, não é nem a Ucrânia e nem o Iraque. Feliz ou infelizmente, a influência das palavras de Lula sobre os rumos da guerra é zero.

Seu principal efeito, no momento, é atordoar os estrategistas de campanha, que passam boa parte do tempo tentando convencer interlocutores políticos e jornalistas de que os “erros” não mais se repetirão, porque a comunicação mudará.

Eles sabem que, assim, Lula ajuda o bolsonarismo a reforçar o antipetismo, quando é vital reduzir índices de rejeição.

Mas, a cada vez que os aliados garantem que “agora Lula será diferente”, surge uma nova declaração que embaralha tudo. No final da semana passada, o ex-presidente afirmou que Bolsonaro “não gosta de gente, só gosta de policial”. Depois teve de pedir desculpas aos policiais. 

Há um mês, ele também teve de se explicar depois de conclamar os seguidores a bater na porta dos deputados e a abordar suas famílias para cobrar apoio a projetos.

Tal comportamento espanta quem já viu Lula ganhar uma eleição com a Carta aos Brasileiros e se reeleger com folga depois do mensalão, executando guinadas de discurso milimetricamente pensadas para atrair os não petistas.

Até os inimigos reconhecem nele um político afiado em se adaptar às mudanças de humor do eleitorado. Ele mesmo já se definiu, certa vez, como uma “metamorfose ambulante”.

Agora, no entanto, seus discursos parecem ter saído dos anos 1990. Por isso, a pergunta que mais se faz nos bastidores é: o que está acontecendo com Lula? Até agora não ouvi nenhuma explicação peremptória, mas algumas hipóteses valem a reflexão.

Uma delas é que ele ainda completará a migração para o centro, iniciada com a escolha de Geraldo Alckmin para vice. Por essa tese, ainda não é hora de um discurso mais moderado, porque tem muita campanha pela frente. 

Se isso é verdade, não dá para entender por que Lula disse à Time que “a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições” e que “primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer”. O que isso quer dizer? Que Lula espera um cheque em branco do eleitorado?

Ele gosta de responder que não há por que se preocupar, pois todos vimos o que ele fez em seus governos. Só que isso não faz nenhum sentido. O Brasil mudou muito desde que ele deixou a Presidência, em 2011. 

No primeiro mandato, Lula fez um pesado ajuste fiscal e usufruiu um ciclo de grande valorização das commodities. Depois abriu as torneiras do gasto público e ampliou a intervenção do Estado na economia. Agora temos recessão, desemprego e inflação alta. O Estado brasileiro nem de longe tem mais a mesma capacidade de investimentos.

O próprio Lula também não é o mesmo. Não é razoável esperar que, depois de 580 dias preso, longe do dia a dia da política, ele não tenha mudado em nada sua forma de ver as coisas.

Daí decorre outra hipótese petista: que o entorno de Lula, hoje, seria bem menos hábil na análise de cenários e articulações que o de 2002. 

Quem defende esse ponto de vista pondera que ele costuma ouvir muitas opiniões antes de decidir o que fazer. Mas diz que o grupo que o cerca agora, formado pelos deputados Gleisi Hoffmann e José Guimarães e, até outro dia, pelo jornalista Franklin Martins, não se compara em perspicácia a Antonio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken.

Por essa hipótese, todos têm culpa nos erros de Lula, menos ele. Como o ex-presidente não é nenhum novato e nunca foi conhecido pela ingenuidade, fica difícil comprá-la pelo valor de face.

Resta uma possibilidade: e se Lula tiver simplesmente se cansado de obedecer aos ditames do marketing político e decidido ganhar a eleição com o petismo raiz? E se ele estiver convencido de que, por ser hoje a única opção viável para derrotar Bolsonaro, pode impor ao eleitorado tudo o que outrora deixou de lado em nome da vitória? 

É cedo para cravar um veredito. Mas, se a última alternativa se provar verdadeira, só restará ao indeciso aceitar que, desta vez, não haverá metamorfose ambulante. E que, se quiser se livrar de Bolsonaro, o que tem para hoje é este Lula mesmo que está aí.

O Globo

Língua portuguesa é a quarta mais falada no mundo




Idioma é usado por 260 milhões de pessoas

Lisboa - O Instituto Camões informou hoje (5), Dia Mundial da Língua Portuguesa, que 260 milhões de pessoas (3,7% da população mundial) falam o idioma, o quarto mais usado, depois do mandarim, inlês e espanhol.

O português é a língua oficial de nove países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e de Macau.

Este ano, as comemorações oficiais da data ocorrem no Brasil, onde está o presidente da Assembleia da República de Portugal, Augusto Santos Silva.

Para ele, o futuro da língua portuguesa depende de cada cidadão que fala e escreve o idioma.

Antes de viajar para o Brasil, Silva gravou vídeo em que homenageia a data e fala dos seus significados.

Comemorações

A terceira edição do Dia Internacional da Língua Portuguesa será marcada por 139 ações em 52 países, com Angola e o Brasil a assumirem os principais destaques.

Boa parte das iniciativas é organizada em cooperação com os países da CPLP.

A data, instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em novembro de 2019, é comemorada este ano de forma mais organizada, já que as edições anteriores foram limitadas pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19.

Além de Angola, que assume a presidência rotativa da CPLP e organiza, entre outros eventos, um festival em Luanda com o nome da comunidade lusófona, Moçambique e Cabo Verde destacam-se na África como países com maior número de atividades programadas.

RTP - Rádio e Televisão de Portugal

Agência Brasil

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Museu da Língua Portuguesa celebra o idioma com atrações especiais

Programação envolve apresentações, debates, livros e poesias

Por Camila Maciel 

São Paulo - Começou hoje (5), em São Paulo, a programação especial do Museu da Língua Portuguesa para celebrar o dia internacional em homenagem ao idioma. Com atividades presenciais e gratuitas, shows, performances, mesas de debate, lançamentos de livros e leituras de obras literárias ocuparam vários espaços da instituição, que fica na Estação da Luz. O evento terá apresentações também no saguão central da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), interagindo com o público circulante. A programação vai até sábado (7).

“Foi composta uma programação que reflete vários assuntos que envolvem a língua portuguesa brasileira. Tanto no aspecto de formação, quanto em questões de filologia, de antropologia, mas também políticas. Os encontros da língua portuguesa e o seu exército colonizador em relação às línguas africanas, as línguas nativas, tudo que nós temos que compreender melhor até para similar o que é esse país”, conta Felipe Hirsch, convidado para criar uma programação inspirada na peça teatral “Língua Brasileira”.

Lia de Itamaracá, Ailton Krenak, Pilar del Río, Juçara Marçal, Milton Hatoum e Kiko Dinucci são alguns dos convidados do evento.

“Essa programação faz isso: a gente vai falar sobre lideranças indígenas femininas, a gente vai falar sobre falares africanos dentro da nossa cultura, enfim, todos esses encontros que fazem do Brasil um lugar esplendoroso, mas também um lugar que é acometido de várias tragédias humanitárias”, acrescenta o curador. Ele destaca que, além da dimensão política, a programação contempla a “ordem criativa desses pensadores, artistas, que passarão por lá”.

No segundo dia de evento, a programação começa, às 12h, no saguão central da CPTM, com a performance “Zion Gate Sound System e Batalha do Santa Cruz – Ritmo e Poesia na Gare da Luz”. Às 14h, a mesa “Experimentos com Linguagem” reúne a escritora Veronica Stigger e o filósofo Juliano Pessanha. Às 17h30, o ativista de defesa dos direitos indígenas Ailton Krenak apresenta seus pensamentos sobre a vida das comunidades ribeirinhas e indígenas no Brasil contemporâneo na mesa “A ideia de nação”. 

Para encerrar o evento na sexta-feira, tem apresentação de Lia de Itamaracá com o show “Ciranda Sem Fim”. A apresentação contará com a participação de DJ Dolores, na Praça da Língua.

No sábado (7), as atividades começam às 11h com a abertura da instalação “O Conto da Ilha Desconhecida”. Às 12h, tem show da Orquestra Mundana Refugi no saguão da CPTM. Às 13h, a performance “Ciranda do Gatilho: Caixa Preta” será apresentada no mini auditório. Ao longo da tarde, debates vão discutir as diversas línguas portuguesas e o glotocídio, que é a difusão de uma nova língua em um espaço, enfraquecendo a natural da área. A noite termina com um show das cenas e músicas da peça “Língua Brasileira”, de Felipe Hirsch em colaboração com o coletivo Ultralíricos.

Para participar das atividades, que são gratuitas, é necessário retirar ingresso antecipadamente na bilheteria do Saguão B a partir de 12h de cada dia. É obrigatória a apresentação do passaporte da vacina contra a covid-19 antes de entrar no museu para todas as pessoas com cinco anos ou mais.

As mesas terão transmissão ao vivo pelo Youtube e Facebook do Museu da Língua Portuguesa, com interpretação em Libras.  

Agência Brasil

O golpe pode dar errado

 




Estratégia de Bolsonaro não vingará se a sociedade defender as instituições democráticas

Por Maria Hermínia Tavares* (foto)

Ele não disse nada, nem precisava. Ao participar, no Primeiro de Maio, de dois atos promovidos para atacar a Suprema Corte e ameaçar as instituições democráticas, Bolsonaro disparou um aviso pontiagudo do que intenta neste ano eleitoral. Que seu discurso vazio tenha sido recebido com certo alívio é um indício desalentador do quanto a política nacional foi sequestrada pelas provocações do ex-capitão.

Isso porque ele se prepara para tumultuar o processo de sua sucessão e contestá-lo pela violência se o resultado lhe for desfavorável. Abdicando de governar, dia sim, o outro também, a pé ou de moto, ele se dedica a açular a militância raivosa. Quando necessário, mostra que defende a sua turma —como fez com o Daniel Silveira— e vai dosando o xingatório contra ministros do STF, a Justiça Eleitoral e a urna eletrônica.

Nos porões dessa radicalização, ataques mais virulentos circulam nas redes bolsonaristas. Segundo o professor Marcelo Alves, do Departamento de Comunicação da PUC do Rio de Janeiro, de setembro do ano passado a março último, pipocaram no YouTube 1.701 vídeos contra o sistema eleitoral, vistos 69 milhões de vezes. Por fim, é explícita a corte do presidente às Forças Armadas, bem como o uso que delas faz para desfilar autoridade. Que outro sentido teria sua participação, fora da agenda, na reunião do Alto Comando do Exército, na terça-feira passada (3/5)?

São mínimas as chances de serem pacíficas as eleições para o Planalto. Mesmo assim, o desfecho dessa anunciada tragédia política ainda não está dado. Para o pensador americano Robert Dahl, no seu clássico "Poliarquia", editado no Brasil (Edusp), a democracia se estabelece quando as elites políticas consideram que os custos da repressão superam os de aceitar os resultados de eleições livres e limpas.

Uma solução violenta, que abra caminho para o autoritarismo sem disfarces, teria custos elevados não só para os brasileiros comuns, mas também para uma parcela importante das referidas elites. Como observou o historiador Luiz Felipe Alencastro, não basta dar o golpe em Brasília. Numa federação como a nossa, se as eleições forem contestadas, serão numerosos os interesses golpeados: dos candidatos a governos e câmaras legislativas, todos com campanhas nas ruas e vultosos recursos empenhados.

A estratégia de Bolsonaro está traçada, com objetivo e métodos definidos. Mas pode acabar dando errado se o grande arco de forças presentes no sistema político e na sociedade colocar a defesa das instituições democráticas à frente de disputas que, aliás, só podem ser travadas em regime de liberdade.

*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Folha de São Paulo

Querelas inúteis - Editorial





Reação de Bolsonaro e Congresso não parece capaz de evitar alta de combustíveis

O expressivo reajuste de preços da Petrobras revoltou consumidores e agitou o mundo político em março. Da direita à esquerda, candidatos, detentores de mandatos e o governo federal em particular atacaram os aumentos, de modo quase sempre demagógico e oportunista.

O Congresso modificou o ICMS sobre combustíveis, que deverá ser cobrado por meio de um valor nacional fixo por litro. A União abriu mão de receita, zerando parte das alíquotas. Jair Bolsonaro (PL) demitiu o presidente da Petrobras de modo tão conturbado quanto inócuo —preços continuaram a subir.

O diesel encareceu ainda mais do que a gasolina. Teria quando muito havido estabilidade, em relação ao início de março, caso os estados renunciassem ao valor total de sua arrecadação sobre o óleo. Não se trata de um caminho viável.

Ademais, a Petrobras está à beira de anunciar nova rodada de reajustes, caso prossiga a sua política —correta— de adequar seus preços aos do mercado internacional. E não há nenhum sinal de mudança, o que, aliás, é impedido pelo regulamento da gigante estatal.

O governo federal acusa os estados de terem fixado um valor excessivo para o novo ICMS dos combustíveis. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acusa União e estados de minarem o esforço parlamentar de tentar baixar o preço por lei. São desculpas rotas.

Os governos estaduais alegam que fixaram o valor do imposto de modo a manter a receita em nível equivalente ao de novembro de 2021. Já estariam, por esse raciocínio, perdendo arrecadação.

O governo federal não se importa com os cofres. Abre mão de recursos em variadas frentes, com objetivos eleitoreiros, concedendo subsídios socialmente iníquos.

Apenas com o diesel, deixará de receber cerca de R$ 20 bilhões em um ano. Dito de outro modo, a dívida pública aumentará nesse montante, mais a taxa de juros que incidirá sobre o passivo. Além de não resolver um problema, o combustível caro terá piorado outro, o endividamento excessivo.

A demagogia e a incompetência técnica têm agravado os problemas nacionais, em particular desde o início da década de 2010. Voluntarismo e populismo impõe soluções simplistas e enganosas para máquinas complexas como o governo e a economia do país.

A maior inflação em quase 20 anos é sem dúvida um flagelo terrível, mas a intervenção espalhafatosa de Bolsonaro na Petrobras só serviu para corroer a imagem da maior empresa brasileira.

Devem-se buscar paliativos que favoreçam a população mais pobre, mas também essa discussão segue a reboque da política rasteira.

Folha de São Paulo

Por que Bolsonaro ainda pode crescer




Por Eugênio Bucci* (foto)

Estamos aprendendo, tarde demais, que não é por desinformação que muita gente o idolatra, mas por ódio a tudo o que seja informação. O desastre quica na área.

Até pouco tempo atrás, as passeatas de esquerda encenavam uma predisposição para o embate físico. A característica se fazia presente na coreografia de todos os comícios anticapitalistas, e não apenas no Brasil. Punhos erguidos socando o espaço sinalizavam a vontade de esmurrar o oponente. As palavras de ordem jorravam carregadas de agressividade quase bélica. Com frequência, lá vinham os black blocs atirando pedras nas vitrines e coquetéis molotov nos policiais. Naqueles tempos idos, embora tão recentes, a voz e o corpo da esquerda se opunham à ordem estabelecida, e sua linguagem eram as jornadas teatrais contra o establishment, a autoridade, as regras de trânsito e as boas maneiras.

Agora é o oposto. A velha gramática dos protestos virou de ponta-cabeça. Ano passado, nos Estados Unidos, quem promoveu arruaças foi a extrema-direita trumpista, que chegou ao cúmulo de promover a invasão do Capitólio. O símbolo mais icônico do atentado foi aquele sujeito enrolado num cobertor que parecia pele de urso e coroado, usando um capacete com dois chifres hediondos. O tipo ganhou o apelido midiático de “viking” e ficou famoso (no Brasil, um imitador do tal “viking” tem animado os convescotes golpistas do bolsonarismo).

A esquerda seguiu por outra via. Nos Estados Unidos, por exemplo, andou mais preocupada em filiar eleitores na Georgia para garantir a vitória do Partido Democrata. Enquanto a extrema-direita tomou para si o gestual, a coreografia e a torpeza dos vândalos, a esquerda se reagrupou na defesa da legalidade e do Estado de Direito. Em Paris, foi a mesma coisa. Agora mesmo, tão logo foi anunciada a derrota de Le Pen no segundo turno, seus cabos eleitorais (neonazistas e congêneres) saíram pelos logradouros públicos chutando portas e latas de lixo; os personagens da esquerda, de sua parte, preferiram ritualizar o congraçamento entre as classes. Num mundo em que ninguém tem mais endereço certo e sabido, a pancadaria mudou de lado, espetacularmente.

Essa inversão dá ao presidente da República, Jair Bolsonaro, uma oportunidade eleitoral explosiva. Não obstante seja o incumbente da vez, encarregado de cuidar da máquina pública, ele bombardeia a máquina pública todos os dias, sem tréguas. Seu lema é destruir a institucionalidade. Seu método é empregar o aparelho de Estado para demolir o aparelho de Estado. Com a aproximação das eleições, não rivaliza com os adversários ou com a oposição: sua guerra preferencial é contra as urnas eletrônicas e contra a Justiça Eleitoral. Ele não quer derrotar seus rivais, ele quer derrotar todo o sistema eleitoral.

Bolsonaro está em cruzada permanente. Na falta de um inimigo externo, elegeu o Supremo, a imprensa e os ecologistas, além de artistas, cientistas e intelectuais, como alvos prioritários. Ele não tem apenas uma “narrativa”, palavra mágica que seus apoiadores se comprazem em repetir: sua estratégia de comunicação consiste em convocar seus fanáticos para assumir o papel de protagonistas anônimos nas batalhas campais contra a lei e a ordem. Bolsonaro entrega às suas falanges, além das certezas feitas exclusivamente de mentiras (certezas que lhes acalentam a alma ressentida), a emoção de agir diretamente no combate discursivo, corporal e armado contra os inimigos da Pátria e de Deus. Esse combate não passa de um delírio, mas isso também não importa a mínima.

O que está vindo aí é uma onda, e essa onda pode crescer. Com sua lógica colada na dinâmica das redes sociais, o presidente aposta suas fichas na conflagração e no convulsionamento. O resultado não importa; o que lhe rende pontos é o movimento. Ele não tem nem precisa ter compromisso com a coerência ou com os fatos, pois sua fonte de energia política é a barulheira incendiária. Quanto ao mais, seus seguidores também não ligam para os fatos.

Estamos aprendendo, tarde demais, que não é por desinformação que muita gente o idolatra, mas por ódio a tudo o que seja informação. As multidões obcecadas pelo presidente abominam a verdade factual e, mais ainda, repudiam os que falam em nome da verdade factual. Para as massas ensandecidas e sedentas de tirania, a onda bolsonarista oferece uma paixão violenta e irresistível, que combina paixão e certezas irracionais, mais ou menos como se deu com o fascismo no século 20. O desastre quica na área.

“O trabalhador se sentirá autorizado a descontar no corpo de sua esposa toda a opressão vivida na cidade”, antecipa o cientista político Miguel Lago, um dos pouquíssimos que enxergam, ouvem e sentem o que está para desabar sobre a Nação. O alerta está no ensaio Como explicar a resiliência de Bolsonaro?, que faz parte do livro Linguagem da destruição (Companhia das Letras, 2022), que tem Heloisa Starling e Newton Bignotto como coautores. “O homofóbico se sentirá autorizado a espancar uma pessoa por sua orientação sexual”, prossegue Miguel Lago, desfiando a longa lista de “guardas da esquina”. Com a nossa pasmaceira hesitante e paralisante, nós estamos pagando para ver o pior acontecer.

*Jornalista, é professor da ECA-USP

O Estado de São Paulo

Coronel e sargento do Palácio dos Bandeirantes são detidos com 78 kg de ouro




Um dos chefes da Casa Militar do Palácio do Bandeirantes, o tenente-coronel da PM Marcelo Tasso, e outros três policiais militares estão sendo investigados sob a suspeita de escolta de 78 quilos de ouro extraídos ilegalmente. O carregamento foi aprendido. Os policiais alegam que a operação era legal.

A Casa Militar é órgão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. Seu comandante é responsável ainda pela Defesa Civil do Estado e pela segurança do governador, Rodrigo Garcia (PSDB). A detenção dos policiais aconteceu - segundo documento sigiloso da Polícia Militar - às 15h desta quarta-feira, 4, no quilômetro 74 da Rodovia Castello Branco, na cidade de Sorocaba, na pista no sentido São Paulo.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que foi registrado um boletim de ocorrência de averiguação de extração irregular de minério. Segundo a pasta, o tenente-coronel Marcelo Tasso está afastado do trabalho desde dezembro. A Corregedoria da Polícia Militar acompanha a investigação.

Um cabo e dois soldados da 1.ª Companhia do 5.º Batalhão de Polícia Rodoviária da PM pararam dois carros. O primeiro era um Toyota Corolla dirigido pelo motorista Wilson Roberto de Lucca. Nele estavam ainda o tenente-coronel e o terceiro-sargento da reserva da PM Marcelo Dantas, que trabalhou no 9.º Batalhão da PM. No segundo carro - também um Corolla - estavam o motorista Marcos Pereira dos Santos, o primeiro-sargento Gildsmar Canuto (da Casa Militar) e o soldado da PM Douglas Cristiano Burin, do 33.º Batalhão da PM.

Os PMs revistaram os dois veículos e encontraram 78 quilos de ouro. O metal estava em duas malas encontradas no Toyota dirigido por Santos e em uma mala no porta-malas do carro dirigido por Lucca, onde estava o tenente-coronel. Os policiais rodoviários levaram todos os detidos e o metal para a delegacia da PF de Sorocaba, que está tratando do caso.

Os policiais abordados disseram que tinham documentos que constatavam a legalidade do ouro, mas a Polícia Federal decidiu apreender todo o material para verificar a origem. O material foi encaminhado para realização de perícia em laboratório específico da corporação. A PF estima o valor da apreensão em R$ 23 milhões.

Além das três malas em que as barras de ouro estavam acondicionadas, os agentes da PF encontraram em um dos carros uma mochila com documentos diversos. Os papéis, que serão posteriormente analisados, indicam que o ouro seria oriundo de Mato Grosso e do Pará.

Os federais apreenderam ainda um avião - King Air - que teria feito o transporte do metal até Sorocaba antes de ele ser colocado nos dois carros interceptados na estrada. A corporação diz que a aeronave é objeto de sequestro criminal em outro inquérito. Assim, os investigadores também vão apurar as "circunstâncias da utilização proibida" do avião. Foram também apreendidos os celulares dos policiais e dos motoristas.

Até a noite desta quarta-feira, os federais estavam ouvindo os detidos, seis pessoas ao todo. Segundo a PF, o inquérito apura possível prática dos crimes de usurpação de bens da União e receptação dolosa. O Estadão não conseguiu localizar a defesa dos policiais. O espaço está aberto para manifestações.

Estadão / Dinheiro Rural

Imprensa internacional destaca fala de Lula na ‘Time’ sobre guerra na Ucrânia




As declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra na Ucrânia publicadas pela revista americana Time ganharam destaque em veículos estrangeiros nesta quarta-feira, 4. Periódicos da Inglaterra, Estados Unidos, Portugal e França citaram as críticas do petista ao presidente ucraniano Volodmir Zelensky, que acusou o líder de ser "tão responsável quanto (Vladimir) Putin" pelo conflito. Na entrevista à Time, concedida no final de março e publicada nesta quarta, o petista responsabilizou também a União Europeia e os Estados Unidos pela guerra em curso.

O jornal britânico The Guardian afirmou que a declaração colocou Lula "em desacordo com as potências ocidentais" e ressaltou trecho da entrevista em que o petista critica as vezes em que Zelensky foi aplaudido de pé em parlamentos europeus.

O site de notícias Bloomberg citou a opinião do petista sobre o presidente americano Joe Biden. Lula disse que o democrata deveria ter ido à Rússia negociar antes da eclosão da guerra.

A posição antagônica aos Estados Unidos também foi salientada pelo jornal francês Le Monde. "Desde o início da guerra na Ucrânia, a esquerda brasileira assumiu uma posição ambígua, condenando a invasão russa e responsabilizando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)", escreveu o veículo, alegando que tais posições de políticos que lutam contra a extrema direita "podem ser uma surpresa". A publicação também argumentou que uma das pedras angulares da esquerda brasileira é o anti-imperialismo: "Uma mistura de antiamericanismo radical e suposto terceiro-mundismo", escreveu.

Em Portugal, o jornal Público acentuou o trecho em que Lula diz que Zelensky "quis a guerra" por não ter "negociado um pouco mais" antes do conflito.

Estadão / Dinheiro Rural

Coração do homem que recebeu transplante inédito estava com vírus suíno, diz médico




David Bennett posa com o cirurgião Bartley P. Griffith antes de sua cirurgia, no Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, em foto não datada 

David Bennett, de 57 anos, morreu no último mês de março.

O coração do homem que recebeu o órgão geneticamente modificado de um porco estava com um vírus suíno, o porcine cytomegalovirus, segundo o médico que realizou o transplante inédito no mundo.

David Bennett, de 57 anos, morreu no último mês de março e, segundo Bartley Griffith, cirurgião de transplantes da Universidade de Maryland, a presença do vírus pode ter contribuído para sua morte.

A informação foi divulgada inicialmente pela MIT Technology Review e apresentada à comunidade científica no último dia 20 de abril, durante um evento nos Estados Unidos.

    “Estamos começando a entender por que ele faleceu", disse o médico.

Segundo o médico, um teste indicou a presença do vírus suíno 20 dias após o transplante, mas em um nível tão baixo que foi descartado à época como um "erro de laboratório".

Foi somente depois de mais de um mês após a realização do procedimento inédito que os testes revelaram um aumento do vírus, ainda segundo Griffith.

A Revivicor, empresa de medicina regenerativa que realizou o procedimento, se recusou a comentar o caso.

"Era morrer ou fazer esse transplante. Eu quero viver. Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última opção", declarou Bennett um dia antes da operação. O paciente passou os meses anteriores ao procedimento na cama e ligado a uma máquina de suporte à vida.

Sobre o órgão

O porco doador pertencia a um rebanho que passou por uma técnica de modificação genética. O procedimento buscou remover um gene que poderia desencadear uma forte resposta imune de um ser humano e, assim, causar a rejeição do órgão.

A modificação foi realizada pela empresa de biotecnologia Revivicor, que também forneceu o porco usado em um transplante de rim inovador feito em um paciente com morte cerebral em Nova York, em outubro de 2021.

O órgão doado permaneceu em uma máquina de preservação antes da cirurgia, e a equipe também usou um novo medicamento, um composto experimental, junto com outras substâncias convencionais para suprimir o sistema imunológico e impedir a rejeição do coração.

Atualmente, as válvulas cardíacas de porco já são amplamente utilizadas em humanos, e a pele de porco é enxertada em pessoas que sofreram queimaduras. Eles são animais doadores ideais devido ao seu tamanho, crescimento rápido, ninhadas grandes e ao fato de estarem prontamente disponíveis, sendo criados para alimentação.

G1

STJ aceita denúncia contra desembargador do TJ do Rio por crimes de corrupção e lavagem




A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça recebeu denúncia contra o desembargador Mário Guimarães Neto, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, pelos crimes de corrupção passiva qualificada, evasão de divisas e lavagem e ocultação de bens.

A decisão unânime foi tomada na tarde dessa quarta-feira (4), conforme o voto da relatora da ação penal, ministra Isabel Gallotti. Ela atua na Corte Especial em substituição ao ministro Felix Fischer, relator original e que segue em licença para tratamento de saúde.

Ao transformar Mário Guimarães em réu, o STJ ainda renovou mais uma vez o afastamento do desembargador junto ao TJ-RJ. O novo período será de um ano, contado a partir da data de julgamento.

O magistrado foi implicado em investigações sobre o pagamento de propinas em contratos em áreas administrativas do estado do Rio. Ele teria recebido propina de dirigentes da Federação de Empresas de Transportes do Estado do Rio de Janeiro para dar decisões favoráveis às empresas de ônibus em mais de 40 ações civis públicas.

A ação contava com outros investigados, dentre eles a esposa do desembargador. Por questão de competência, o processo foi cindido, com envio dos autos referentes àqueles sem foro especial para a primeira instância da Justiça Federal. 

Consultor Jurídico / Jornal do Brasil

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