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domingo, março 06, 2022

Ao aprovar o Fundão Eleitoral, o Supremo se distanciou ainda mais da realidade brasileira

Publicado em 6 de março de 2022 por Tribuna da Internet

Imagem analisada visualmente

Charge do Jindelt (Arquivo Google)

José Renato Nalini
Estadão

Iniciei em 1966 o meu estudo em Direito. Nunca parei de estudar, pois a profissão jurídica é daquelas que não tolera inércia. A intimidade com esse universo me levou a tentar ser simples, à medida em que verifiquei, pesaroso, que a sofisticação é uma das formas de se perpetuar injustiças.

Quando se perde de vista que o Direito deve ser uma ferramenta para solucionar problemas e que precisa ser compreendido pela cidadania, reforça-se a falta de confiança no sistema Justiça.

DECISÃO LAMENTÁVEL – É por isso que lamento a decisão majoritária do STF, ao abrigar, como compatível com a ordem fundante, portanto legal e legítimo, o Fundo Eleitoral absurdo, que chega a quase cinco bilhões de reais, numa fase em que mais de vinte milhões de irmãos passam fome e outros tantos milhões estão desempregados, sem teto, sofrendo insegurança alimentar e sem perspectiva.

Somente os ministros André Mendonça e Ricardo Lewandowski foram sensíveis e entenderam a condição surreal de um país de miseráveis, gastar cinco bilhões para propaganda eleitoral.

Conforme assinalaram Adriana Ferraz e Wesley Galzo em reportagem no “Estadão”, essa importância supera o orçamento de 99,8% dos municípios brasileiros. Quando se sabe que a propaganda já deflagrada se faz pelas redes sociais, praticamente a custo zero, incompreensível legitimar uma destinação dessa ordem. Exatamente na contramão do que deveria servir para dar seriedade à política, tão necessitada de mais ética e compostura.

QUASE 6 BILHÕES – O desvario é ainda mais surpreendente, quando se sabe que ao Fundo Eleitoral se adicionará o Fundo Partidário de 1,06 bilhão. Um festival de gastança inútil, além de nutrir o controle dos partidos por parte dos mesmos detentores que usufruem de um sistema arcaico, muito distante do que a Democracia Participativa exigiria.

Pois é nítida a falência da Democracia Representativa. Indague-se à população brasileira: quem se sente bem representado neste 2022?

As filigranas jurídicas servem, neste caso – como têm servido a tantos outros – para afastar do Judiciário o beneplácito da cidadania que o remunera. Não que as decisões devam sempre satisfazer ao clamor popular. Mas há limites para um divórcio tão flagrante, que só faz reforçar o repúdio do povo por uma Justiça que prefere o servilismo à forma, para macular o conteúdo da resposta.

Rússia fecha a cortina de ferro contra a imprensa e as liberdades individuais


Putin ameaça com prisão os que violarem a antiga regra stalinista

Pedro do Coutto

O presidente Vladimir Putin, sentindo o peso da realidade e o fato da humanidade repudiar a invasão da Ucrânia, fechou a cortina de ferro contra a imprensa e as liberdades individuais, ameaçando com prisão os que violarem a antiga regra stalinista e também os que se manifestarem publicamente no país, como vem acontecendo em grande número de cidades, contra o conflito em que Moscou incendeia a Ucrânia.

O episódio marca a volta da antiga cortina de ferro do pós-guerra a partir de maio de 1945, quando o poder absoluto estava nas mãos de Stalin. Foi Winston Churchill que classificou como cortina de ferro o sufocamento da liberdade dos países então transformados em satélites de Moscou, do Leste europeu.

CENSURA – Além disso, revela a reportagem de O Globo, procedente de Moscou, Putin transformou praticamente num crime quem chamar de guerra o que está acontecendo no teatro das operações  onde a Ucrânia é sufocada, mas o presidente Zelenski resiste heroicamente. Não sei porque, inclusive, poucos comentaristas internacionais ironizam a posição heróica do presidente ucraniano e tentam, absurdamente, minimizar o ataque russo à usina nuclear de Zaporizhzhia.

Os ataques causaram um incêndio em um prédio bastante próximo da usina. Se um incêndio já é uma calamidade em qualquer prédio do mundo, mais ainda ele se torna na proximidade de uma usina atômica. Putin fecha o cerco contra a imprensa e as liberdades públicas exatamente porque são manifestações de liberdade e que, portanto, não aceitam a ditadura do Kremlin. Ao mesmo tempo, o episódio funciona para mostrar ao mundo o desastre russo na Europa, colocando em risco a população mundial.

Putin está causando um pesadelo universal e sua sede de poder, agora ficou mais que claro, não tem limites. Os armamentos enviados pela Alemanha para Zelenski estão já na fronteira entre a Polônia e a Ucrânia. O desfecho militar, a meu ver, está cada vez mais próximo.

ISOLAMENTO – Diante dos acontecimentos da censura total da imprensa e do retorno frio e violento da cortina de ferro, a opinião pública mundial espera poder influir com as armas da liberdade contra a opressão, contra a tirania, contra o assassinato e contra a destruição. São fatores do comportamento alucinado de Vladimir Putin que isola a Rússia no mundo, e que tenta explodir também a consciência humana.

Nesta altura dos acontecimentos, nem a China mantém o amplo apoio manifestado na véspera aos ataques a Kiev. Espanta, portanto, que no Brasil tenha alguém capaz de escolher a neutralidade diante de acontecimentos inspirados no nazismo de Hitler. Basta comparar as imagens de hoje com os filmes da Segunda Guerra de ontem que se encontram à disposição de todos na Netflix.

PORTO SEGURO  – O Ministério da Economia – reportagem de Manuel Ventura, O Globo de ontem – divulgou matéria na noite de sexta-feira, contando declarações do ministro Paulo Guedes nas quais sustenta que apesar da invasão da Ucrânia pela Rússia e seus reflexos, o Brasil “é um porto seguro para os investidores”.

Para mim, a declaração causou surpresa, não apenas por se tratar de Paulo Guedes, mas sobretudo porque ele próprio preferiu aplicar seus recursos financeiros no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Paulo Guedes, assim, escapa da incidência de impostos brasileiros e encontrou o mesmo porto seguro no exterior.

PIB –  Na edição deste sábado, Carolina Nalin e João Sorima Neto, O Globo, numa excelente matéria de página inteira, analisam o resultado do Produto Interno Bruto brasileiro que, segundo o Ministério da Economia, cresceu 4,6% em 2021, compensando a queda de 3,9% registrada em 2020. A economia assim ficou 0,6% acima, assinala a matéria, do último trimestre de 2019.

Esta informação, sob o meu ângulo de análise, dá margem à uma controvérsia; se o crescimento de 4,6%, como diz a matéria, está sobre a comparação com o último trimestre de 2020, ou se a comparação como está no título da reportagem abrange os quatro trimestres de 2020.

Uma coisa é o percentual comparado entre o último trimestre de 2021 com o período outubro, novembro e dezembro de 2020. Outra coisa, é claro, é o confronto entre os resultados globais de 2021 e de 2020.

Lira suspende retorno presencial na Câmara por tempo indeterminado

 




O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), suspendeu por tempo indeterminado o retorno das sessões presenciais na Casa. O ato mantendo a deliberação remota foi publicado em edição extraordinária do Diário da Câmara dos Deputados neste sábado, 5.

Inicialmente, o retorno das votações presenciais estava previsto para ocorrer após o feriado de carnaval. Agora, as votações remotas continuam. Nesse modelo, os parlamentares podem participar das sessões de forma presencial ou remota, inclusive quando votam em projetos.

Com o funcionamento remoto, deputados indicam uma possibilidade menor de avanço de projetos polêmicos. Além disso, a decisão libera os parlamentares para continuar em seus redutos políticos em ano eleitoral. Lira justificou o ato em função pandemia de covid-19.

"Essa medida visa a diminuir a circulação de pessoas nas dependências desta Casa Legislativa, preservando a saúde não só dos parlamentares, mas também dos servidores e dos colaboradores, considerando os efeitos da pandemia", diz a decisão.

No Senado, as sessões continuam funcionando em um formato parecido, semipresencial. A diferença é que algumas decisões só podem ser deliberadas na Casa de forma presencial, como a indicação de autoridades para o Banco Central e agências reguladoras.

Estadão / Dinheiro Rural

Rússia, Ucrânia, e Bolsonaro no Guarujá




O processo de globalização unificou o mundo de tal forma que a aplicação de sanções terá impacto negativo em todas as principais economias

Por Marco Antonio Villa (foto)

A invasão da Ucrânia por parte da Rússia abre um novo momento na história. Tivemos a Guerra Fria entre 1945 até a queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. O fim do socialismo real na Europa Oriental, a desagregação da União Soviética em mais de uma dúzia de países e as transformações capitalistas na Rússia – e seu consequente enfraquecimento no jogo geopolítico-militar mundial – deram aos Estados Unidos o protagonismo único na nova ordem. A China, neste período, passava por radicais transformações econômicas e teve papel pouco significativo em questões militares, priorizando as relações econômicas com a África negra, a América Latina e algumas regiões da Ásia.

Os últimos acontecimentos redesenham a geopolítica mundial. A Rússia voltou ao primeiro plano com um potencial militar de respeito – em alguns pontos semelhantes à época da União Soviética. A China já é uma potência também militar. E mais, a aproximação Rússia-China – a “amizade sem limites” – torna ainda mais complexo o novo quadro de forças. Sem esquecer o rearmamento alemão com a triplicação do orçamento militar, o que não traz boas lembranças.

Esta crise não tem paralelo na história recente. O processo de globalização unificou o mundo de tal forma que a aplicação de sanções terá impacto negativo em diversas economias.

E nós, como vamos nos posicionar? Na crise mundial mais grave deste século, ao invés de instalar um gabinete de crise, Bolsonaro está em férias no Guarujá. Disse que prefere manter a neutralidade. Neutralidade? Houve uma invasão militar, sem, inclusive declaração formal de guerra. Mas no Conselho de Segurança, o nosso embaixador na ONU apoiou – corretamente – a resolução patrocinada pelos Estados Unidos. Afinal, qual é a posição do governo brasileiro: a do Guarujá ou a exposta em Nova York?

O Brasil vai ser atingido pela guerra. É inadmissível supor que seja possível mercadejar os princípios do artigo 4º da Constituição – que trata das relações exteriores – com o fornecimento de fertilizantes da Rússia. Isto só pode passar pela mente doentia de Bolsonaro. Ja fomos atingidos pela pandemia, agora pela guerra Rússia-Ucrânia. Na pandemia o governo cometeu crimes de lesa humanidade. E agora, o que fará? É importantíssimo que os setores democráticos não percam tempo e desenhem estratégias econômicas e diplomáticas para o nosso País. Deixar esta tarefa com Bolsonaro e sua caterva vai ser um desastre para o Brasil.

Revista IstoÉ

Sem retomada - Editorial

 




PIB recupera patamar pré-Covid, mas deve voltar ao padrão de quase estagnação

Com o avanço de 0,5% no quarto trimestre, a economia brasileira terminou o ano passado com crescimento de 4,6%, o suficiente para superar o nível de atividade de antes da pandemia. O resultado não altera a perspectiva pouco animadora para este 2022, que se tornou mais nebulosa com a eclosão da guerra na Ucrânia.

O desempenho melhor do final de 2021 se deveu à agropecuária e aos serviços, que já respondem à menor preocupação com a crise sanitária. Atividades mais dependentes do contato pessoal têm espaço para expansão nos próximos meses, mas há novos obstáculos.

O principal deles é o novo choque de inflação, concentrada em itens essenciais como alimentos e combustíveis, que retirará poder de compra da população. A retomada até aqui, ademais, se deu num contexto de piora de salários.

O rendimento médio do trabalho medido pelo IBGE permanece 9,4% abaixo do patamar de antes da Covid-19, em valores corrigidos.

Com maiores pressões nos preços, já se cogita que o aperto monetário do Banco Central vá mais longe. O mercado futuro sugere que as expectativas para a taxa Selic podem subir a até 13,5% anuais, um ponto percentual acima do que se antevia há algumas semanas.

O encarecimento do dinheiro terá impacto negativo na demanda por crédito, que dá sinais de enfraquecimento nos segmentos ligados a bens duráveis. A inadimplência é outra preocupação, dado o endividamento recorde das famílias.

A guerra na Europa adiciona mais complexidade ao cenário. Já está claro que o novo repique nos preços das matérias-primas aumentou o risco de uma recessão global. Com a inflação já elevada nos Estados Unidos e na Europa, os bancos centrais estão em processo de aperto da política monetária, o que se reforça agora.

As consequências para o Brasil podem conter ambiguidades. Tipicamente, a economia do país responde negativamente a uma retração da atividade mundial, mas é impulsionada pela alta das cotações de artigos de exportação, principalmente produtos agrícolas, petróleo e minério de ferro.

Há outros fatores favoráveis, como o esperado aumento dos investimentos dos governos estaduais e em infraestrutura. Tudo somado, a expectativa para o ano permanece de modesto crescimento, de 0,5%, o que dá continuidade ao quadro de quase estagnação que vigora após a recessão de 2014-16.

Qualquer prognóstico mais positivo a médio e longo prazos depende da restauração de condições que permitam maior expansão da produtividade —e nessa seara será também preciso consertar os estragos institucionais patrocinados pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Folha de São Paulo

O drama de Obélix




Por Carlos Brickmann (foto)

Gérard Depardieu nasceu na França há 73 anos e se naturalizou russo em 2013. Mora em Novosibirski, na Sibéria, por dois motivos: para pagar menos impostos que os cobrados na França e por ser amigo de Putin. “Eu amo muito o presidente Vladimir Putin, e é mútuo”. Mas é contra a invasão da Ucrânia: “Rússia e Ucrânia sempre foram países irmãos. Eu digo: parem com as armas e negociem. Sou contra essa guerra fratricida”.

Na ânsia de responder à repugnante guerra movida por Putin, o Ocidente tem exagerado nas retaliações. Bloquear os fundos russos, perfeito: são eles que financiam a guerra. Bloquear o comércio com os russos, OK: é criando dificuldades para que os agressores tenham problemas internos que surgem oportunidades de colocar um fim na guerra. Confiscar iates, mansões e jatos dos bilionários russos pode colocá-los contra Putin – além disso, sabe-se que petrolão e rachadinhas, na Rússia, só servem para troco. Dinheiro de pinga.

Mas proibir gatos russos nas mostras da Federação Felina Internacional já chega à fronteira da galhofa. Proibir que um maestro russo participe de um concerto para o qual foi convidado, pense o que pensar da guerra, é absurdo.

Mas voltemos a Depardieu, que representa Obélix em filmes baseados nas histórias em quadrinhos. Será impedido de representar um dos irredutíveis gauleses que, com Astérix, Panoramix, Abraracurcix e o cãozinho Ideiafix, impedem o Império Romano de proclamar que conquistou toda a Gália?

Guerra é guerra

Certas loucuras ideológicas fazem com que as represálias adequadas para tempos de guerra se apequenem. Isso ocorreu no Brasil pós-1964, quando um grupo de chineses foi preso sob a suspeita de ser formado por chineses (e, não faz muito tempo, os governantes brasileiros ávidos por investimentos da China descobriram que alguns dos presos eram agora gente poderosa, com amplo poder de negociação); e o Ballet Bolshoi, de reputação internacional, foi proibido de se apresentar no Brasil, para não difundir o comunismo por meio dos pas-des-deux de O Lago dos Cisnes.

Nesse instante, apreender os iates, as mansões, as contas bancárias dos bilionários russos faz parte dos incômodos que lhes são causados pela proximidade com Vladimir Putin. Mas que não se alegue que isso ocorre por lavagem de dinheiro, ladroeira ou rapinagem de dinheiro público. Tudo isso já existia antes da invasão e era bem aceito pelo mundo. Nenhum ladrão ficou bilionário em poucos meses.

O poderoso chefão

Vladimir Putin era agente dos serviços secretos soviéticos quando caiu o regime comunista. Foi trabalhar com um político que se elegeu prefeito de São Petersburgo. Ganhava tão pouco que trabalhava também como motorista de táxi. Quando entrou na política para valer, seus problemas desapareceram. E uma das mais bem recheadas contas bancárias agora bloqueadas é a dele.

Adubo do mesmo saco

Bolsonaro tinha assuntos importantes a tratar com Putin: fertilizantes, tecnologia para a miniaturização do reator que deverá mover o submarino nuclear brasileiro e para resolver da melhor maneira a sua parte elétrica, mais as Pequenas Centrais Nucleares, que geram energia limpa e, dizem, segura. O problema foi a época: os dias que antecederam a agressão à Ucrânia.

Como de hábito, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para fazer o que não devia: comprometer-se com um lado da guerra que se aproximava. Bolsonaro gosta de Putin: o russo é o que ele gostaria de ser, alguém cujas ordens ninguém discute e que manda no noticiário da imprensa. Tudo o leva, portanto, a ser o mais suave possível na condenação aos invasores – mesmo que isso o leve a ficar ao lado da Venezuela, Coreia do Norte, Argentina, Cuba, cujos governos detesta.

Já Lula adora ficar perto desses governos, ainda encara os dirigentes russos como se fossem soviéticos e comunistas, seu sonho é o tal “controle social da imprensa”, nome bonito que dá à Censura, e é suavíssimo na condenação à guerra: em seus discursos, pede que todos se levantem para mostrar que são contra a guerra, e encerram-se aí seus esforços. Lula liberou parte de sua imprensa para defender a tese de que Estados Unidos e OTAN são os responsáveis pela guerra – embora a guerra seja Ucrânia x Rússia.

Em poucas palavras

No Brasil, extrema direita e extrema esquerda se unem para condenar os regimes democráticos. E tanto Lula quanto Bolsonaro se sentem tão íntimos dos russos que até chamam seu presidente pelo diminutivo.

Imprensa como eles gostam

A Duma, o Parlamento russo, aprovou em alta velocidade uma lei que pune com prisão de três a 15 anos para quem produzir ou espalhar notícias falsas. O presidente Vladimir Putin sancionou imediatamente o projeto, que já está em vigor. Que são “notícias falsas” (ou “fake news”?) Por exemplo, falar em guerra entre Rússia e Ucrânia, ou em invasão da Ucrânia.

O nome mais bem aceito pelo presidente Putin é “missão de paz”.

Brickmann.com.br

Chanceler da Ucrânia pede mais sanções contra a Rússia




Dmytro Kuleba também agradeceu a ajuda humanitária ao seu país

Por Marcelo Brandão 

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu aos países da comunidade internacional que continuem aplicando sanções contra a Rússia, sobretudo econômicas. Diante do não envio de tropas estrangeiras para ajudar os soldados ucranianos contra a invasão russa, tem restado à Ucrânia contar com as sanções para enfraquecer o presidente da Rússia, Vladmir Putin.

“Pedimos uma nova rodada de sanções contra Rússia. Queremos todos os bancos os excluídos [do sistema internacional], é preciso interromper a compra de petróleo russo. O petróleo russo tem cheiro de sangue: o ucraniano. Vemos que muitas multinacionais saíram da Rússia, eu elogio essas decisões. Peço para que todas as empresas parem de investir na Rússia”, disse Kuleba, em entrevista concedida hoje (5). Segundo ele, 113 multinacionais já deixaram a Rússia.

No último sábado (26), países ocidentais já haviam anunciado o congelamento de reservas internacionais da Rússia. Além disso, bancos russos estão sendo desligados da plataforma Swift, um sistema de pagamentos entre instituições financeiras de mais de 200 países, coordenados pelos bancos centrais das dez maiores economias do mundo. Essa medida complica ainda mais o funcionamento do sistema financeiro russo, ao atrasar o pagamento de transações comerciais e financeiras.

Dias depois, os Estados Unidos anunciaram uma ampliação nas sanções. As medidas devem afetar empresas que atuam no setor de Defesa do país euroasiático. Além disso, serão impostas restrições às importações de bens tecnológicos do principal aliado russo, Belarus, cujo território tem sido usado pelas Forças Armadas da Rússia em ataques contra alvos ucranianos.

Na entrevista, Kuleba também pediu para que a China e Índia se juntem aos esforços para parar a guerra e convençam Putin a encerrar o conflito. Para o ministro, a guerra é contra os interesses da China, por afetar o comércio internacional. Já a Índia, segundo ele, é prejudicada porque é um dos principais compradores de produtos agrícolas da Ucrânia e a guerra compromete as próximas colheitas.

“A Índia tem que pedir ao Putin para parar essa guerra. Estamos lutando porque Putin não reconhece o nosso direito de existir”. Tanto Índia como China evitaram se colocar contra a Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas e se abstiveram de aprovar uma Resolução condenando o ataque.

Ele também afirmou que a invasão russa não afasta o desejo da Ucrânia de fazer parte da União Europeia. “Putin pode jogar bombas sobre nós, mas isso não vai mudar a posição do povo ucraniano de querer ser parte da União Europeia”. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já pediu uma adesão imediata ao bloco.

O chanceler ucraniano também agradeceu a ajuda humanitária que tem sido enviada ao país. Segundo ele, a comunidade ucraniana no exterior conseguiu arrecadar US$ 7,5 milhões. Além disso, ele registrou o recebimento de 183 toneladas de ajuda humanitária.

Kuleba negou impedir a saída de estudantes estrangeiros da Ucrânia. Afirmou que o país está prestando assistência a esses estudantes e criou uma linha de emergência para que eles peçam socorro às embaixadas de seus respectivos países. Por fim, o chanceler pediu que o mundo aprenda com os erros do passado e evite uma nova guerra no continente europeu.

“Os líderes do mundo precisam mostrar que isso não pode acontecer de novo. Provem que vocês querem que isso nunca mais aconteça, aprendam com as lições do passado. Isso [a invasão russa] pode levar o continente inteiro a uma devastação”.

Agência Brasil

***

Rússia diz que Ucrânia impede progresso ao tentar envolver Otan

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse neste sábado (5) que a tentativa do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy de buscar ajuda direta da Otan no conflito entre os dois países não está ajudando nas negociações.

“Declarações raivosas constantes do senhor Zelenskiy não aumentam o otimismo”, disse Lavrov a repórteres neste sábado.

Especificamente, ele mencionou a crítica de Zelenskiy à aliança militar ocidental nessa sexta-feira (4) por ter se recusado a intervir no conflito impedindo que mísseis e aviões de guerra da Rússia usassem o espaço aéreo da Ucrânia.

“Minha questão é: se ele está tão irritado que a Otan não interveio a seu favor, como ele esperava, então ele espera resolver o conflito envolvendo a Otan em tudo isto, e não por meio de negociações”, disse Lavrov.

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que esperava abrir conversas com Lavrov, mas apenas se elas fossem “significativas”.

Reuters / Agência Brasil

Moradores de Lviv se mobilizam para proteger a cidade




Relativamente poupada se comparada a Kiev ou Kharkiv, cidade vive temor de ataques enquanto prepara barricadas para se proteger de um avanço russo e acolhe refugiados em fuga para a Polônia.

Por Stephanie Burnett

Igor* é um especialista em TI, professor universitário, ex-paramédico e pastor. Mas, em meio à guerra na Ucrânia, ele foi confrontado com um novo papel, como tantos outros cidadãos em seu país: um civil se preparando para ataques da Rússia. 

Quando a DW falou pela primeira vez com Igor por telefone, três dias após o primeiro ataque à Ucrânia, ele disse que estava a 10 quilômetros da fronteira polonesa, deixando sua filha em um local seguro. Mas o homem de 52 anos logo retornou à cidade ucraniana de Lviv para ver como poderia contribuir com a resistência às tropas russas, alimentado tanto pela raiva quanto pela "determinação", apesar do poderio militar de Moscou.

"Vale a pena lutar? Absolutamente. E não estamos lutando apenas pela terra ou algo assim", disse ele. "Estamos lutando por coisas maiores, estamos lutando pela liberdade. Estamos lutando pela possibilidade de fazer o que achamos que deveríamos fazer com nossos aliados, com nosso país. É por isso que lutamos".

Lviv, a poucos quilômetros da fronteira com a Polônia, foi relativamente poupada dos ataques, se comparada a Kharkiv, Kiev e outras cidades. Muitos fugindo da ofensiva russa convergiram para o centro cultural em busca de segurança, enquanto outros descansam um pouco antes de seguir para o oeste, em direção à Polônia, em busca de refúgio.

Mas muitos dos moradores da cidade, como Igor, estão preocupados que a Rússia ainda possa atacar a cidade - e se recusam a ser complacentes.

'Moradores de Lviv protegem esculturas da catedral da cidade, temendo ataques'

Rússia "pensou que seria fácil"

A postura desafiadora do presidente ucraniano, VolodimirZelenski, e a resistência de outros ucranianos comuns revigoraram a população, inclusive em Lviv. Tantos fizeram fila para se voluntariar para as Forças de Defesa Territoriais, ou reserva militar, que a unidade teve que recusar várias pessoas.

A DW confirmou que o processo de recrutamento foi interrompido por vários dias, mas que uma nova unidade foi formada para continuar os esforços da reserva militar.

Igor, que serviu brevemente nas forças armadas antes da dissolução da União Soviética, disse que os soldados russos não estavam preparados para o tamanho da oposição ucraniana. 

"Eles pensaram que seria fácil - como tomar a Crimeia. Eles pensaram que iriam dar um passeio na Ucrânia e tomar um café no centro de Kiev", disse ele. "Eles foram espancados e acho que é um choque para eles", completou.

"Estamos gratos pela ajuda que recebemos porque, sério, sem as armas letais que recebemos do Ocidente, não sei se prevaleceríamos."

'Moradores da cidade fabricam coquetéis molotov em massa para se proteger'

Alojamento para refugiados e coquetéis molotov

Andrew*, um homem de 31 anos que também vive em Lviv, foi inicialmente recusado pelas Forças de Defesa Territoriais devido à alta lista de voluntários, disse ele à DW por telefone. O consultor de design digital havia acabado de reunir uma equipe para sua startup, mas seu projeto foi interrompido quando a Rússia atacou a Ucrânia em 24 de fevereiro.

Ele disse que, agora, se reúne com membros da comunidade para fazer em massa os chamados coquetéis molotov e construir barricadas que podem ser usadas ​​para ajudar a fortificar a cidade.

O morador de Lviv disse que também está hospedando entes queridos de estranhos e amigos que estão fugindo para a Polônia. Um amigo, Yaroslav, em meio ao avanço das tropas russas sobre a capital ucraniana, enviou sua namorada de Kiev para Lviv, uma escala antes que ela pudesse continuar sua jornada em direção à Polônia.

"Ele a tratou muito bem, deu comida e roupas, para que ela tenha tudo", disse Yaroslav em uma mensagem de voz. "Ela se sente mais segura, mas não o suficiente". A namorada de Yaroslav já chegou à Polônia. 

Andrew disse que ele e outros moradores continuam a encontrar maneiras de apoiar a defesa de Lviv e ajudar a levar refugiados em segurança a países vizinhos.

"Há guerra, mas não a sentimos aqui como todo mundo, porque aqui estamos seguros, por enquanto".

Apelos ao Ocidente

Seis dias após a primeira conversa com Igor, a incerteza e o medo aumentaram – mas a determinação da cidade, disse ele, não vacilou.

Ele insistiu novamente, como na semana anterior, que é fundamental que os países ocidentais tomem mais medidas em apoio à Ucrânia.

"Esta é uma grande tragédia para a humanidade, e o mundo não conseguiu impedi-la. Estamos determinados, mas precisamos desesperadamente fechar nossos céus sobre as grandes cidades", disse ele, ecoando o apelo de Zelesnki à Otan por uma zona de exclusão aérea. Alguns especialistas, no entanto, alertaram contra isso.

Egon Ramms, general alemão aposentado e ex-comandante da Otan, disse à DW que a implementação de uma zona de exclusão aérea pela aliança sobre o território ucraniano seria considerada "participação na guerra e isso levaria, possivelmente, a um confronto direto com a Rússia".

Na sexta-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que os membros da aliança concordaram que não deveria haver aviões da Otan no espaço aéreo ucraniano ou tropas da Otan em solo ucraniano, rejeitando assim o pedido de Kiev por uma zona de exclusão aérea.

Mas Igor está cansado de palavras e disse que a Ucrânia precisa de mais apoio militar.

"É muito triste, mas temos uma piada: que a Europa e a América em breve ficarão sem prédios para iluminar com luzes amarelas e azuis, as cores da nossa bandeira. É realmente só isso que você pode fazer? É tudo?", questiona.

"Ajude-nos. Não apenas com coisas simbólicas. Ajude-nos de verdade", apelou.

*Nota do editor: a DW não publicou os sobrenomes de Igor e Andrew devido a preocupações com sua segurança

Deutsche Welle

Putin, Bolsonaro e certa esquerda




Variedade de análises e de posturas perante os acontecimentos recentes no Leste Europeu é parte necessária da vida democrática. É de esperar que sejam bem fundamentadas e consequentes com os valores que defendem.

Por Bernardo Sorj* (foto)

Diversos artigos de jornais e blogs de autores de esquerda explicam a invasão da Ucrânia como produto das exigências de segurança russa e da política imperialista americana.

Se o que está acontecendo no mundo contemporâneo for criticado em nome do pacifismo ou porque todos os implicados têm interesses mesquinhos, porque “tudo é uma grande sujeira”, como aparece em certa sensibilidade do senso comum, estaríamos perante um argumento sólido e moralmente aceitável.

Acontece que não é essa a postura de certos analistas “engajados”. Para eles, trata-se de atacar os Estados Unidos, responsável por manter uma ordem mundial imperial.

Certamente, a política externa americana está crivada de episódios inaceitáveis, que devem ser criticados. Igualmente, pode-se argumentar que a expansão da Otan para a Europa do Leste não foi adequada, que se poderiam ter procurado caminhos alternativos de aproximação com a Rússia.

Mas o núcleo duro está noutro lugar. Os Estados Unidos, apesar das várias brutalidades cometidas, protegem a ordem mundial do capitalismo democrático. Em face deles, apresentam-se dois discursos alternativos para o sistema internacional: o da potência em ascensão, a China, e o de outra potência militar, mas sem contrapartida econômica, a Rússia, que propõe uma ideologia autoritária de direita reacionária, que se apresenta como último baluarte dos “valores cristãos” diante do materialismo do Ocidente. O governo russo legalizou que as mulheres possam ser maltratadas pelos maridos, persegue os homossexuais, assassina seus oponentes, fecha organizações da sociedade civil e aprisiona os manifestantes que o criticam.

Seria um problema interno se ele não apoiasse os partidos de extrema direita da Europa, se não interferisse nas eleições de outros países, nem sustentasse as mais variadas ditaduras, inclusive as latino-americanas: Venezuela, Cuba e Nicarágua. A justificativa de invasão à Ucrânia lembra uma ideologia que levou à Segunda Guerra Mundial: em nome do passado e de uma cultura única comum, nega-se o direito à existência de um país soberano, cujo povo hoje luta pela sobrevivência.

A questão de fundo que deve ser colocada para esses analistas “anti-imperialistas” é: em que mundo eles desejam viver? No mesmo mundo de Bolsonaro e Trump (outro admirador de Putin) e da extrema direita global, ou no mundo capitalista democrático? Porque essa é a realidade da geopolítica global. Se disserem que são contra o mundo existente, tudo bem, se dissociem dele e produzam teorias de um mundo alternativo. Mas, se forem fazer escolhas, que explicitem de que lado estão.

*Sociólogo

O Globo 

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