Liberdade de expressão dá Nobel da Paz a Maria Ressa e Dmitry Muratov
Pedro do Coutto
A Academia da Noruega concedeu este ano, na decisão de quinta-feira, o Prêmio Nobel da Paz para os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov, perseguidos pelo governo Rodrigo Duterte, nas Filipinas, e Vladimir Putin, na Rússia. Ressa e Muratov se rebelaram contra o poder discricionário dos dois países e deram ao mundo mais um exemplo da eterna luta pela liberdade.
A liberdade, a democracia e os direitos humanos, princípios consagrados universalmente, são essenciais para a paz entre os países e entre o poder e os cidadãos. Portanto, todos os jornalistas e todos aqueles que consideram a democracia um direito humano devem se emocionar com o Nobel da Paz exatamente com esses dois vencedores que colocaram bem alto o valor da liberdade e respeito aos direitos humanos. A imprensa livre e o jornalismo independente serão para sempre os adversários imbatíveis do confronto entre o poder ditatorial e a tirania que se propõe a ocultar a sua verdadeira face na tentativa vã de fazer com que a violência e o terror substituam os direitos sociais.
LUTA CONTRA O HORROR – Entre exemplos da tirania estão o nazismo de Hitler e o comunismo sovietico de Stalin, dois ditadores que terminaram se enfrentando na Segunda Guerra Mundial fazendo com que as nações democráticas e o Brasil formassem na luta contra o horror nazista.O sangue derramado de 50 milhões de pessoas mortas não foi, entretanto, suficiente para impedir tanto a Guerra da Coreia, quanto a Guerra do Vietnã.
Não foi suficiente para impedir a invasão da Hungria e a derrubada da Primavera de Praga que culminou com a invasão da União Soviética na Tchecoslováquia. Mas a imprensa livre tornou-se a barreira intransponível que separa a consciência humana da alucinação do poder. Falar em paz não se restringe à convivência entre os países. Refere-se também às tragédias que ocorrem no dia a dia, tanto nas grandes, quanto nas pequenas cidades, começando pelo direito de enfrentar a fome que causa a morte de milhões de seres humanos.
A paz implica também no direito à existir com dignidade, direito à vida, à saúde, ao emprego. Os três maiores jornais do país, O Globo, a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo, como era esperado, nas edições de ontem deram grande destaque à concessão do prêmio. O jornalismo, com ele, foi reconhecido como um meio mais eficaz de enfrentar a opressão, seja cometida da parte de quem for, contra a nossa espécie. Somos, todos nós, seres humanos, e o princípio que rege a nossa existência começa na liberdade, passa pela democracia e culmina nos direitos humanos.
RESISTÊNCIA – Através da história, um longo percurso vem sendo percorrido. Mas a luta por esses três exemplos continua e resta a esperança de que enquanto existir a imprensa livre e o jornalismo independente, o poder opressivo, com a sua tirania e malignidade, enfrentará uma força eterna de resistência. Foi a imprensa americana que derrubou a Guerra da Coreia de 1953. Foi a mesma imprensa que encerrou a Guerra do Vietnã, que começou em 1962 e foi até 1975. Foi a liberdade de imprensa que denunciou o Watergate. Foi a imprensa internacional que revelou ao mundo a invasão da Hungria em 1956. A mesma imprensa denunciou e exibiu ao mundo a invasão da Tchecoslováquia.
Foi a imprensa também que denunciou e expôs ao mundo os crimes do regime de Fidel Castro em Cuba. A imprensa que esteve e estará presente na luta pela vida humana e, portanto, a favor da paz, cujo prêmio na figura de Maria Ressa e Dmitry Muratov recebe o seu reconhecimento. A luta contra a opressão tem na imprensa a sua grande aliada porque se os fatos não forem expostos, eles continuam roubando e matando sob a nuvem negra do desconhecimento.
Vale assinalar, sobretudo, que a informação e a opinião são as armas mais eficazes para assegurar os princípios da dignidade, incluindo o combate à corrupção que também leva à tragédia e à morte. Os recursos financeiros roubados são letais para impedir o combate à miséria que também é assassina na medida em que significa a derrubada dos direitos mais simples e essenciais dos povos para que possam existir. Não fosse a imprensa, quantos culpados por tragédias continuariam praticando suas ações assassinas ?
INFLAÇÃO DISPARA – Leonardo Viceli, na Folha de S. Paulo, Carolina Nalin, Manoel Ventura, Dimitrius Dantas e Gabriel Shionara, O Globo, edições de ontem, revelam o resultado da inflação de setembro que passou de 1,1 % em setembro, acrescentando um reflexo ainda maior no ciclo inflacionário que segundo o IBGE alcançou 10,2% ao longo de 12 meses. O resultado de setembro, diga-se de passagem, não inclui a consequência de mais um aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha que começaram a vigorar a partir de ontem.
Desde 1995, no Plano Real, o índice mensal inflacionário não passava de 1%. A alta continua e o governo Bolsonaro prossegue também perdendo apoio junto à opinião pública. A política econômica do ministro Paulo Guedes nunca teve sucesso, como os fatos comprovam. O próprio ministro e o presidente do Banco Central tentaram escapar do circuito inflacionário fazendo aplicações em dólar nas Ilhas Virges Britânicas e no Panamá, paraísos fiscais. É preciso acrescentar que a questão não é apenas ter uma offshore, mas saber em que setores financeiros a offshore opera.
MUDANÇAS NA GLOBO – A repórter Cristina Padiglione, Folha de S. Paulo deste sábado, anuncia em matéria de página inteira que o apresentador do Fantástico, Tadeu Schmidt, será substituído por Maria Júlia Coutinho e comandará o Big Brother Brasil no lugar de Tiago Leifert que deixa a emissora no final do ano. Alguns nomes foram estudados, mas a direção da TV Globo chegou à conclusão que para comandar o BBB é necessária uma capacidade de improviso e uma flexibilidade de opiniões e das palavras contidas nos diálogos, sobretudo porque a diversidade entre os personagens é múltipla e muito grande.
Maria Júlia Coutinho será a parceira de Poliana Abritta no Fantástico fazendo com que a apresentação do programa semanal seja feita por duas mulheres. Há tempos atrás aconteceu isso com a participação da jornalista Glória Maria. A qualidade de Tadeu Schmidt ajusta-se bem aos princípios do programa, principalmente porque, agora na minha opinião, ele possui a versatilidade exigida para ocupar o posto, da mesma forma que Maria Júlia no Fantástico.
A Globo está nitidamente realizando uma reprogramação com escalações que se ajustam aos projetos em foco. A cadeira ocupada por Maju no Jornal Hoje passará a ser ocupada por César Tralli que deixará o SP TV. Não se sabe, entretanto, se permanecerá no jornal das 18h da GloboNews. Essas mudanças devem ser anunciadas pelo próprio Fantástico no programa da noite de hoje, domingo.
MENDONÇA NO SENADO – Reportagem de Bernardo Mello e Thiago Prado, O Globo de ontem, correntes evangélicas passaram a temer a derrota da indicação de André Mendonça para o STF no Senado Federal. Silas Malafaia dirigiu ataques aos senadores Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Ciro Nogueira e Fernando Bezerra Coelho, respectivamente chefe da Casa Civil e líder do governo. Todos três apontados pelos evangélicos de obstruir a aprovação de Mendonça.
Com os ataques aos três senadores e também à deputada Flávia Arruda, ministra da Secretaria de Governo da Presidência da República, Malafaia, ao meu ver, contribuiu para tornar ainda mais difícil a aprovação de Mendonça porque criou-se uma atmosfera de hostilidade e, portanto, contrária à indicação na medida em que causará a impressão de que o Senado teria ficado vulnerável em seu poder de decidir, como lhe compete, se aprova ou não a indicação de ministros para o Supremo Tribunal Federal.