Carlos Chagas
O presidente Lula superou-se em sua mais recente entrevista, concedida à TV-Bandeirantes. Depois de afirmar que Dilma Rousseff não é sua candidata, mas do PT, explicou não ter candidato, no exercício da presidência da República, mas, depois do expediente, assim como aos sábados e domingos, vai para a rua fazer comício em favor de Dilma.
Alguém precisaria alertá-lo de que presidente é presidente em tempo integral, 24 horas por dia e nos fins de semana também. Além do que, Dilma só é candidata do PT porque foi imposta ao partido por ele. Em outro trecho da entrevista, desmentiu-se, ao afirmar que está indicando uma companheira.
São declarações como essas que expõem o primeiro-companheiro. Não haverá um só cidadão, mesmo entre os que recebem o bolsa-família, capaz de acreditar não ser Dilma a candidata do Lula, ou ser apenas meia-candidata, das seis da tarde à oito da manhã.
E quanto a dizer que uma vez concluído seu mandato vai descansar sem pensar na volta ao poder, até porque se Dilma for bem no governo, terá direito a um segundo mandato? No mínimo, precisará indicá-la outra vez, em 2014.
Por que não te calas?
Do outro lado é a mesma coisa, sejam as incontinências verbais ou escritas. Depois de indispor-se com José Serra, cobrando dele a precipitação de seu lançamento, o ex-presidente Fernando Henrique agora atropela Aécio Neves. Em artigo na imprensa, exigiu do ex-governador de Minas um engajamento explícito na campanha de Serra.
É mais ou menos como se um fiel pedisse a palavra, na igreja, para conclamar o padre a rezar melhor a missa. Intromissão indébita das grandes, porque Serra foi o senhor da oportunidade de colocar o seu nome, assim como Aécio será o árbitro do tom da campanha em seu estado. Atropelar os dois como se fosse um mestre-escola só pode despertar ironia e mal-estar no ninho dos tucanos. No fundo, o sociólogo quer dar-se ares do que não é, ou seja, mentor dos rumos do PSDB. Melhor faria se aparecesse na solenidade de sagração do candidato, sábado, com uma melancia pendurada no pescoço, já que não foi selecionado para discursar…
Embrulho fluminense
Dia 10, enquanto José Serra estiver sendo oficialmente lançado candidato, em convenção de seu partido, em Brasília, Dilma Rousseff deverá estar no Rio, prestigiando o lançamento de Anthony Garotinho para governador. O diabo será convencer Sérgio Cabral da oportunidade desse apoio explícito a um seu adversário. Porque o atual governador disputará o segundo mandato e tem sido dos mais leais aliados do presidente Lula.
A hipótese de dois palanques fluminenses para a candidata pode muito bem resultar em dúvida na cabeça do eleitor. Além do precedente capaz de desandar a campanha presidencial em outros estados. Se Dilma ter permissão para recomendar Sergio Cabral e Anthony Garotinho, a um só tempo, porque não poderá, em Minas, apoiar Helio Costa, num dia, e Patrus Ananias, no outro?
Investimentos
Desde abril de 2008 que China e Estados Unidos estão investindo 10 bilhões de dólares, cada país, na Petrobrás. Em parcelas anuais, é claro, que apenas se encerrarão em 2020. Esses recursos servem para a empresa investir na extração do petróleo no pré-sal, que por coincidência só naquele ano estará sendo explorado comercialmente. A contrapartida é o compromisso de o Brasil pagar a dívida em petróleo, na ordem de 200 mil barris-dia para chineses e outro tanto para americanos. Como os cálculos prevêem a produção de 1 milhão e 800 mil barris-dia, sobrarão 1 milhão e 400 mil barris-dia para o consumo interno e para negociações no restante do mundo. Hoje, consumimos 2 milhões de barris-dia, que produzimos, mas daqui a dez anos, muito mais.
Essas contas se fazem para termos a noção de que, junto com o petróleo, o etanol continua prioridade fundamental. Hoje, a produção é de 25 bilhões de litros por ano. Sendo assim, haverá também que buscar investidores para o etanol.
Fonte: Tribuna da Imprensa