terça-feira, abril 22, 2025

Brasil: Herdeiros do Colonialismo e Inimigos da Verdade

 


Por José Montalvão

22 de abril de 2025 – 525 anos do “Descobrimento” do Brasil

Neste 22 de abril, data simbólica em que se comemora o chamado Descobrimento do Brasil, é impossível não refletir sobre o verdadeiro legado deixado por esse marco. Há 525 anos, teve início uma história que, ao invés de caminhar rumo à justiça e à igualdade, consolidou um modelo perverso de exploração, concentração de poder e silenciamento — que perdura até hoje.

A historiadora Adriana Romeiro, professora da UFMG e doutora pela Unicamp, resume com precisão esse ciclo histórico: “A elite colonial é a mesma que está hoje no poder, com a mesma mentalidade, de estar numa terra em que pode enriquecer sem qualquer escrúpulo.” Segundo ela, dizia-se que era preferível ser roubado por um pirata em alto-mar do que aportar no Brasil. E, olhando ao redor, quem pode dizer que essa percepção mudou?

A elite brasileira jamais se desligou do espírito colonial. Trocaram-se os personagens, os sobrenomes e os métodos — mas os objetivos seguem intactos: poder, lucro, impunidade. E quando a imprensa ousa tocar nessas feridas, é tratada como inimiga pública. Jornalistas que denunciam corrupção, abusos e desmandos viram alvos de processos, ameaças, censura velada ou declarada. No Brasil, dizer a verdade incomoda mais do que cometer o crime.

A corrupção, portanto, não é um acidente — é o projeto. É o modelo herdado de séculos de dominação, escravidão e desigualdade. É o reflexo de um país fundado na exclusão, que normalizou a injustiça como se fosse parte do seu DNA. E hoje, em pleno 2025, ainda assistimos à mesma lógica: concentração de renda, violência estatal, perseguição a vozes dissonantes.

E o que muda? Pouco, quando os que ousam denunciar são silenciados. Especialmente nas pequenas cidades, onde o poder político se entrelaça com os interesses econômicos e controla tudo — da saúde à merenda, do asfalto ao boletim escolar. Quem levanta a voz é chamado de “desordeiro”, “mentiroso” ou “inimigo do progresso”. Mas a verdade é que o verdadeiro inimigo do Brasil é o pacto silencioso entre poder e impunidade.

Neste 22 de abril, não há muito o que comemorar. O “descobrimento” segue sendo, para muitos, o início de um pesadelo de cinco séculos. Mas há também resistência. Há quem escreva, denuncie, investigue, provoque. Há quem não aceite calar.

A imprensa livre é um dos últimos bastiões da democracia. Defender o jornalismo é defender o direito de saber. É romper com esse ciclo secular de injustiças. É, talvez, o primeiro passo para redescobrir um Brasil que ainda está por nascer — mais justo, mais verdadeiro, mais humano.

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