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Republicano cobrou ‘gratidão’ do ucraniano
Pedro do Coutto
Na última sexta-feira, no Salão Oval da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, iniciaram uma conversa aos gritos, uma demonstração que apenas ressaltou o futuro incerto da assistência americana a Kiev em meio a invasão russa iniciada em 2022. Afrontando Zelensky por não demonstrar gratidão suficiente pelo apoio americano, Trump e seu vice-presidente, J.D. Vance, levantaram a voz, acusando o líder de impedir um acordo de paz com a Rússia, já que a invasão em larga escala ultrapassou seu terceiro ano.
“Neste momento, o senhor não está em uma posição muito boa. O senhor se permitiu ficar em uma posição muito ruim”, disse Trump. “O senhor não tem as cartas agora. Conosco, o senhor começa a ter as cartas”, acrescentou. “Não estou jogando cartas”, disse Zelensky.
DISCUSSÃO – Aumentando o tom de voz depois de mais algumas trocas de palavras, Trump disse: “O senhor está apostando com a vida de milhões de pessoas. Está apostando com a Terceira Guerra Mundial”. Em um determinado momento, Vance acusou Zelensky de ser “desrespeitoso” com os anfitriões norte-americanos. Após a conversa, os dois líderes foram para salas separadas e Trump ordenou que os ucranianos fossem embora, disse uma autoridade da Casa Branca.
Os ucranianos protestaram e quiseram continuar as conversas, mas foi-lhes dito que não. Uma coletiva de imprensa conjunta programada foi cancelada, e Zelensky partiu sem assinar um acordo planejado para fornecer acesso dos EUA aos minerais de terras raras da Ucrânia.
ARMADILHA – O presidente Donald Trump, no fundo da questão, havia preparado um cenário para condenar o comportamento do presidente ucraniano. Enganou-se totalmente e ficou numa situação muito ruim. Ele tentou humilhar e sufocar Zelensky para tirar o efeito intencional do episódio. Trump não conseguiu. Zelensky acabou tendo o apoio de vários países europeus, inclusive, obtendo um argumento definitivo a seu favor, pois o seu país foi invadido e o agressor é na realidade a Rússia.
Todas as pesquisas apontarão esse resultado e assim Trump tornou-se alvo de sua própria armadilha. A repercussão foi enorme em vários países, com veículos de comunicação dando razão a Zelenski que saiu da Casa Branca com uma imagem de independência política em relação à Rússia e à guerra que se trava há muito tempo, e que não apresenta uma saída lógica.