Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados/Arquivo
Nome da presidente do PT era cotado para assumir posto deixado por Alexandre Padilha, este agora no comando da Saúde28 de fevereiro de 2025 | 14:20Lula decide nomear Gleisi ministra da articulação política do governo
Em um momento de baixa do presidente Lula (PT) nas pesquisas tanto de avaliação do governo como de cenários para a eleição de 2026, o governo federal anunciou nesta sexta-feira (28) a deputada federal Gleisi Hoffmann como a nova ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais).
A pasta é responsável pela articulação política do governo. Gleisi, atual presidente nacional do PT, assume o cargo no lugar de Alexandre Padilha, que foi remanejado para o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade. A posse da nova ministra está marcada para o dia 10 de março, uma segunda-feira.
Agora com Gleisi, o governo conta com 10 mulheres, em meio às 38 pastas existentes.
Segundo interlocutores, o presidente tem se queixado de falta de disputa política na relação com o Congresso Nacional. Nas conversas sobre a sucessão na pasta, Lula disse que deve a Gleisi a oportunidade para mostrar sua capacidade de articulação.
Lula afirmou ainda que a opção por ela no ministério seria um reconhecimento ao seu trabalho no comando do PT, onde está desde 2017. A SRI é responsável pela relação do Executivo com o Legislativo.
Após o comunicado oficial desta sexta, Lula publicou em sua conta do X (antigo Twitter) uma foto ao lado de Gleisi, afirmando que ela “vem pra somar” no ministério.
A aliados Lula lembrou que a deputada trabalhou para construção de palanques nas eleições presidenciais de 2018 e 2022, tendo conversado com todos os partidos que compuseram a aliança em torno de sua candidatura.
Ele também ressaltou o bom relacionamento de Gleisi com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Ainda segundo aliados do presidente, Lula já vinha apontando o nome dela para a função. Mas deu sinais mais enfáticos ao convidá-la para a viagem desta sexta-feira (28) ao Uruguai e ao afirmar que precisa de mais agressividade na política.
Ao discursar na festa de aniversário do PT, no final de semana passado, Lula defendeu a habilidade de negociação de Gleisi como uma prova de que ela não é estreita politicamente.
Em 2022, após ser eleito presidente, o petista fez o mesmo discurso durante jantar na residência oficial do presidente do Senado.
Ele perguntou qual dos senadores presentes nunca tinha conversado com ela, em uma tentativa de mostrar a amplitude de Gleisi. Naquele ano, ela assumiu a coordenação da campanha de Lula e da transição do governo.
Em 2018, Gleisi atuou pela neutralidade do PSB na corrida presidencial, o que impediu que o partido se aliasse a Ciro Gomes (PDT). Após eleição de Jair Bolsonaro (PL), articulou a recomposição do campo de esquerda para formação da frente de oposição.
Além de atuar na articulação da aliança em 2022, defensores do nome de Gleisi lembram que, sob sua condução, o PT aprovou com 84% de votos o nome de Geraldo Alckmin (PSB) para a vice de Lula.
A expectativa é que, no comando da articulação política do governo, ela trabalhe para compor uma aliança em torno de Lula com vistas a 2026.
Aliados interpretaram esses elogios de Lula como um sinal de que não tinha desistido de nomeá-la para a pasta, apesar de ter sido aconselhado a optar por um nome com maior capacidade de articulação no Congresso Nacional.
Antes mesmo de ser anunciada por Lula, a nomeação de Gleisi já tinha causado incômodo entre ministros do PT e de partidos da base aliada. A cúpula da Câmara trabalhava para colocar no posto o líder do MDB, Isnaldo Bulhões Jr. (AL).
O ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), deputado licenciado pelo Republicanos, e Motta fizeram chegar ao presidente a preferência dos dirigentes partidários por Isnaldo.
Silvio Costa Filho chegou a ser lembrado para a função. Ele tem a confiança de Lula. Mas aliados do petista afirmam ser difícil deslocá-lo da pasta que ocupa hoje por resistências do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (SP).
Essa resistência de partidos aliados a se comprometerem com o governo, a ponto de entrarem no Palácio do Planalto, é apontada como um dos motivos pelos quais Lula buscaria uma alternativa caseira.
Na quinta-feira (27), dias após a demissão de Nísia, Lula afirmou ter demitido a socióloga da Saúde por querer “mais agressividade”.
“Nísia era uma companheira da mais alta qualidade, minha amiga pessoal, mas eu estou precisando de um pouco mais de agressividade, mais agilidade, mais rapidez, por isso estou fazendo algumas trocas”, disse em entrevista ao programa Balanço Geral Litoral (SP), da Record.
Catia Seabra, Raphael Di Cunto e Mariana Brasil, Folhapress