Publicado em 1 de junho de 2024 por Tribuna da Internet
Hélio Schwartsman
Folha
Como a condenação criminal de Donald Trump afeta a eleição presidencial? A resposta tem algo de paradoxal. Não se esperam grandes movimentações nas pesquisas de intenção de voto. Com a polarização afetiva, eleitores fiéis ao ex-presidente devem tornar-se ainda mais trumpistas. Verão na decisão do júri nova-iorquino um ato de perseguição política, uma nova tentativa de “roubar” a Presidência ao magnata laranja.
Já os democratas tenderão a ler o episódio como uma confirmação do que sempre souberam: Trump não passa de um bandido, indigno de ocupar o cargo mais alto do país.
INDEPENDENTES – Só que nem todo mundo reage de forma tão emocionalmente intensa a eventos do mundo da política. Há um grupo, o dos chamados independentes, que não tem um envolvimento tão passional nem com os candidatos nem com seus partidos, podendo ir tanto para um lado como para o outro, dependendo de fatores tão diversos quanto o estado da economia, preferências em questões concretas, como o aborto, e eventualmente também a ficha criminal dos postulantes.
De um modo geral, sempre foram os independentes que decidiram eleições. Até pouco tempo atrás, candidatos competitivos moldavam seus posicionamentos justamente para conquistar esse grupo.
O resultado era uma certa moderação. Para não desagradar a ninguém, os postulantes fugiam de radicalismos e questões polêmicas. A polarização mudou um pouco essa dinâmica.
FOGO NO CIRCO – Um candidato como Trump prefere tocar fogo no circo, radicalizando os eleitores que já tem e os motivando a sair para votar no dia da eleição ou para invadir o Capitólio, dependendo do caso.
Nos EUA, dadas as particularidades do colégio eleitoral, que tem algo de lotérico, o pleito acabará sendo decidido por um grupo muito restrito de eleitores:
os independentes dos seis estados em que a disputa está indefinida. Aí, mesmo que a condenação mude muito poucos votos, eles poderão fazer toda a diferença.