Custo inferior ao de outras armas e perda de tropas têm feito exércitos investirem nos equipamentos
Por Mathias Brotero e Américo Martins
A Rússia viu um dos maiores ataques de drones em seu território nesta quarta-feira (30), desde o início da guerra. Aviões de transporte que estavam parados em um aeroporto na cidade de Pskov, próximo da fronteira entre Rússia e Estônia, ficaram danificados.
Autoridades russas não relataram mortes ou feridos e alegaram ter frustrado quase todos os ataques. Enquanto isso, representantes do governo ucraniano relataram que diversos grupos de drones voaram em direção à capital Kiev, no que está sendo descrito como um dos ataques mais fortes desde a primavera no país.
Avanços solitários em zonas de combate cada vez mais ocupadas por máquinas tem sido uma realidade cada vez mais comum na guerra – seja pelo ar, ou pela água.
Ataques navais
Na região da península da Crimeia, por exemplo, o uso de drones navais tem sido frequente.
“Se ao passo que a Rússia controla parte do Mar Negro, a Ucrânia se utiliza de drones navais com o objeto de destruir ou minar a capacidade e presença russa. Não apenas de meios navais naquela região do conflito, mas também na tentativa de destruição de importantes instalações da Rússia”, explica Augusto Teixeira, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, lançou um site, chamado “United24”, que recebe todos os tipos de doações. Uma das iniciativas está focada na arrecadação de fundos para formar o que a plataforma chama de “primeira frota mundial de drones navais”.
A ideia é comprar 100 embarcações. Cada drone custa em torno de US$ 250 mil.
Ataques aéreos
Pelos ares, os ataques a Rússia usando veículos não tripulados também tem sido frequentes. Em maio, por exemplo, o Kremlin, complexo onde trabalha o presidente russo Vladmir Putin, sofreu com uma ofensiva. Já no início de agosto, um arranha-céu em Moscou viu ao menos dois ataques de drones.
Apesar da Ucrânia não reivindicar ataques específicos, o presidente ucraniano disse que ofensivas ao território russo são inevitáveis.
Um levantamento feito pela rede britânica BBC aponta que, só neste ano, já foram lançados mais de 160 ataques aéreos e mais de uma dúzia de ataques pelo mar, com dispositivos não tripulados, na Rússia ou em regiões ucranianas controladas pela Rússia.
O investimento em drones está diretamente ligado ao custo destes equipamentos, que são mais baratos do que outras armas, como mísseis. Além do dano físico, os drones também tem um impacto psicológico, conforme detalha o coronel da reserva e mestre em ciências militares, Paulo Roberto da Silva Gomes Filho.
“São armas que – como são adaptadas – têm uma capacidade de transporte, uma capacidade de carga muito pequena. Então leva uma quantidade de explosivos muito baixa, que não causa grandes impactos no alvo. Mas tem a finalidade de mostrar para os russos, para o cidadão comum russo, que o país tá em guerra”, diz Filho.
Nas linhas de contato, o uso de drones também tem sido frequente. Em entrevista à CNN Brasil, militares ucranianos relataram que a falta de armas os motiva a buscar outras maneiras de atacar.
De acordo com eles, a maioria dos drones usados são caseiros. Dependendo da munição carregada, o equipamento pode ser utilizado contra tropas da infantaria e até tanques.
O especialista Gilberto Buffara, CEO da Stella Tecnologias, que produz drones no Brasil, explica como os equipamentos encontrados pela reportagem no front de batalha funcionam.
“Ele voa com a granada em cima e ele solta. A granada cai na vertical, em cima do tanque de guerra”, diz. De acordo com Buffara, existem diferentes maneiras de controlar drones. Uma delas é utilizando óculos, como se o piloto estivesse dentro do drone.
“Esse está virando um profissional importante nas forças terrestres ucranianas”, explica. Em busca de modernização, empresas querem dar cada vez mais autonomia aos equipamentos.
Drones de ataque, como o “kamikaze”
A lista dos drones usados na guerra da ucrânia é extensa e os equipamentos podem ter mais de uma função. No caso dos drones kamikaze, também chamado de munição vagante, existem diferentes modelos, além dos caseiros.
O drone americano Switchblade 300, por exemplo, usado pelo exército ucraniano, tem asas menores e retráteis e é conhecido por ser prático de carregar. O equipamento é catapultado do chão como um canivete com mola, com as asas abrindo logo após a saída. Ele tem autonomia de cerca de 15 minutos e alcance de até 10 quilômetros.
Mas também há modelos kamikaze maiores, como é o caso do iraniano Shahed 136, que vem sendo usado pela Rússia. O alcance do drone é motivo de debate, mas estima-se que a aeronave possa chegar entre 1.000 e 2.500 quilômetros de distância do ponto de partida. A aeronave foi usada em missões como ataques a infraestrutura de energia.
Drones de reconhecimento
Existem drones usados para outros tipos de missão, como o drone turco Bayraktar TB2, um dos mais usados pelas forças ucranianas. Ele possui mísseis e pode servir para atacar.
Mas o equipamento também pode ser usado para observação e reconhecimento, principalmente pelos 12 metros de asa, que dão a ele mais sustentação e contribuem para uma autonomia de até 27 horas, além de um alcance de até 300 quilômetros.
Enquanto fatores como distância e tamanho do alvo determinam o drone que será usado, a capacidade de improvisação contribui para uma presença cada vez maior de diferentes drones na guerra.
“Há uma proliferação absurda de diversos tipos de drones, desde aqueles empregados pela infantaria em pequenas frações de tropa, até aqueles que vão ser empregados pela artilharia para contribuir com ataques em profundidade ou até drones sendo utilizados como mísseis, para focos em profundidade, como vimos recentemente no ataque contra Moscou”, explica o professor Augusto Teixeira (UFPB).
Desde o dia 24 de fevereiro de 2022, ao menos 22 mil drones de ataque já foram contratados e cerca de 15 mil equipamentos entregues às forças armadas da ucrânia, segundo o governo ucraniano.
Com tropas cada vez mais escassas, os drones têm sido uma saída para seguir com uma guerra que parece não ter prazo para acabar. Para o coronel Paulo Roberto, durante guerras, as armas estão em constante evolução.
“Toda guerra é um laboratório dessa eterna disputa entre a espada e o escudo.”
“Então alguém inventa a espada, o sujeito inventa um escudo. Aí o cara inventa uma espada maior, aí o escudo, a flecha, daqui a pouco inventa a metralhadora, o escudo não adianta mais…É uma eterna disputa”.
CNN