Ricardo Corrêa
Estadão
A eventual escolha do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF), se vier de fato a ser concretizada, se dará muito mais por conta de seus erros no governo do que por suas inequívocas qualidades como ex-magistrado, inclusive como juiz auxiliar da Corte no gabinete de Nelson Jobim.
Embora não se tenha como questionar que Dino tem de fato o notório saber jurídico para ocupar a função e não se deva subestimar a capacidade de um governador eleito e depois reeleito com votação esmagadora, chama atenção que os argumentos de aliados nos bastidores para convencer Lula a escolhê-lo mergulham em caminhos bem menos meritórios.
UMA PRESSÃO MENOR – O primeiro ponto colocado por quem torce pela escolha é a diminuição da pressão sobre o governo Lula em uma área em que a gestão tem apanhado muito. Enquanto Dino preocupa-se em comentar uma miríade de assuntos do noticiário brasileiro, incluindo investigações contra adversários políticos de decisões judiciais da mais diversas, há uma sensação de que o trabalho de coordenação de ações na Pasta não é realizado a contento.
Além disso, Dino está na mira de parcela do Parlamento e da opinião pública em razão das dificuldades de explicar o sumiço de imagens do 8 de janeiro, embora seja descabido imaginar que seja ele o culpado por atos que inegavelmente foram praticados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Também enfrenta resistências pela incapacidade de dialogar com opositores, a quem tratou com boa dose de ironia e deboche sempre que chamado a falar no Congresso.
Outras variáveis – Há também dois cálculos políticos empurrando Dino para a Corte. Um deles dá conta do interesse do PT e de outras siglas no comando do Ministério da Justiça ou mesmo a área de Segurança Pública, que poderia ser desmembrada com uma troca de comando.
Se o predileto do partido para o STF é Jorge Messias, a escolha de Dino traria à legenda ao menos esse prêmio de consolação. Outro, interpreta que a ida do atual ocupante da Pasta para o STF poderia tirá-lo de uma eventual sucessão a Lula, seja em 2026 ou 2030, abrindo espaço para outros nomes, como o do ministro Fernando Haddad, por exemplo.
É claro que nada impede que, uma vez ministro do STF, Dino ganhe evidência e, mais adiante, deixe novamente a magistratura para retomar a vida política, como já fez uma vez. Mas o resultado obtido por dois ex-magistrados que cogitaram a Presidência em tempos recentes mostra que isso não é tão simples: Joaquim Barbosa nem sequer colocou sua candidatura de pé, enquanto Sérgio Moro precisou se contentar com um voo menor ao Senado.