Pedro do Coutto
Com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, as correntes de direita passam desde já a procurar um possível nome de candidato para disputar as o voto nas urnas em 2026, sucessão do presidente Lula da Silva. O próprio Bolsonaro – reportagem de Gabriel Sabóia, Luisa Marzullo e Bernardo Mello, O Globo deste sábado – falando a jornalistas em Belo Horizonte, logo após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou que a posição ideológica da direita não desaparece.
Certamente, digo, não será o fim da direita no país, até porque ela continua existindo no mundo apesar da derrota do nazismo em 1945. Lembro bem de uma entrevista de Santiago Dantas, então do ministro de Relações Exteriores do governo João Goulart, rebatendo as posições golpistas de Carlos Lacerda, e dizendo que “nenhuma posição é legítima quando aquele que a ocupa não pode dizer o seu verdadeiro nome”.
RESISTÊNCIA – A frase é muito inteligente, qualidade brilhante que existia em Santiago Dantas. Mas os fatos mostram através do tempo, nos últimos 70 anos, que a direita resiste aos embates na política. Na minha opinião é porque no fundo ela representa o conservadorismo e, portanto, as correntes que sintetizam interesses particulares tornam-se defensoras das políticas de concentração de renda e não de sua redistribuição. Esse é o ponto principal do problema.
Nessa batalha que no Brasil encontra síntese nas relações entre o capital e o trabalho, situam-se as perdas salariais consecutivas, com os salários perdendo para a inflação como é facilmente comprovado.
A direita representa a visão, e mais do que isso, a aspiração concentradora da renda nacional. A sua força cristaliza-se no instituto legítimo da propriedade. Mas o sentimento de propriedade no conservadorismo vai além de seus limites naturais. Transforma-se num instrumento de opressão.
PERDAS SOCIAIS – Veja-se, por exemplo, o que aconteceu nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro: os preços dispararam e os salários foram congelados. Em consequência, as perdas sociais tornaram-se irrecuperáveis. Este é o processo que pune a população brasileira, trabalhadores e trabalhadoras, e cujas consequências são extremamente negativas para o país.
A direita encontrará o seu candidato, inclusive porque talentos e culturas econômicas não faltam à linha ideológica. É verdade, entretanto, a existência de uma diferença fundamental: existe a direita e a extrema-direita, esta traduzida na violência, no projeto de golpe, nas bombas, depredações na Praça dos Três Poderes e na falta de lógica dos que acham ser a política uma competição esportiva.
EMPREGO E DESEMPREGO – Ana Flávia Pilar em matéria publicada no O Globo deste sábado, comenta a recente pesquisa do IBGE apontando uma queda do desemprego no país para 8,3%. Um recuo de 0,3% no trimestre abril, maio e junho.
Como a mão-de-obra ativa no país oscila em cerca de 100 milhões de homens e mulheres, 8,9 milhões de brasileiros e brasileiras permanecem desempregados. Neste trimestre houve mais de 100 mil admissões. E quantas foram as demissões? É preciso considerar esse aspecto fundamental, pois é evidente que as demissões não foram iguais a zero.
VENEZUELA – Passados apenas três dias, a realidade política da Venezuela rebateu diretamente o pronunciamento de Lula que tentou justificar mais uma vez a posição política ditatorial do presidente Nicolás Maduro. Marina Gonçalves, em reportagem no O Globo de ontem, revela que a principal candidata às eleições de outubro, María Corina Machado, por ato do governo de Caracas, foi proibida de se candidatar.
Ela se encontra amplamente à frente nas pesquisas, inclusive superando o oposicionista Henrique Capriles. A Venezuela de Maduro, mais uma vez, revelou a sua face. Também por uma coincidência do destino, a ministra Simone Tebet assumiu posição contrária a Lula, afirmando que o governo da Venezuela nada tem de democrático. Como se vê, a reação às palavras de Lula está se ampliando no Brasil.