Bruno Boghossian
Folha
Depois de quase três semanas, Jair Bolsonaro voltou ao Palácio do Planalto para um dia de trabalho. O capitão retornou ao gabinete presidencial para apagar as luzes de um governo que se encerra com as mesmas marcas dos últimos quatro anos: paralisia administrativa, vazio de políticas públicas e turbulência golpista.
Bolsonaro havia se recolhido por quase 20 dias num misto de melancolia pela derrota eleitoral e a recuperação de um processo infeccioso em uma das pernas. Nesse tempo, o governo não sentiu a necessidade de apresentar nenhuma satisfação sobre o problema de saúde que mantinha afastada do trabalho a principal autoridade do país.
ÚLTIMA INVESTIDA – Durante a licença médica informal, o presidente dedicou algum tempo a uma de suas atividades favoritas, a conspiração golpista. No início da semana, ele recebeu o presidente do PL no Palácio da Alvorada para acertar os detalhes de sua última investida contra o processo eleitoral.
Apesar de ter quase 40 dias de mandato pela frente, Bolsonaro não demonstrou preocupação em entregar a gestão numa situação razoável. Depois da farra no Orçamento para turbinar a campanha fracassada à reeleição, o governo anunciou um corte de gastos que ameaça paralisar a máquina pública.
A Polícia Federal interrompeu a produção de passaportes, e a Polícia Rodoviária Federal ficou sem dinheiro para a manutenção de viaturas. “O governo nunca passou tão apertado assim. Haverá eventualmente falta de atendimento de serviços prestados pelo governo, mas chegaremos ao fim do ano”, avisou o secretário do Tesouro, Esteves Colnago.
DOSE DE REFORÇO – Na saúde, o ministro Marcelo Queiroga parece ter descoberto agora que 70 milhões de brasileiros não tomaram a primeira dose de reforço da vacina contra a Covid.
Na contramão do chefe, ele fez um apelo para que a população se imunize.
Políticos autoritários não costumam aceitar a derrota com elegância ou senso de dever cívico. Não se deve esperar de Bolsonaro nenhum passo em direção à normalidade.