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segunda-feira, abril 11, 2022

Na era dos cafajestes, não há mais respeito à liturgia dos cargos, a baixeza já é automática


DESCONTROLE DE BOLSONARO - "Esse dinheiro usava para comer gente" - DIÁRIO  DO RODRIGO LIMA - YouTubeMuniz Sodré
Folha

Não é preciso sequer observação minuciosa de notícias, artigos e blogs da mídia nacional para se dar conta de que juízos de natureza moral suplantam em muito as classificações políticas tradicionais, do tipo esquerda ou direita. O foco maior está na conduta de figuras públicas: machismos, grosserias, agressões, preconceitos etc.

Em casos extremos, oscila-se entre canalhice e cafajestice, o que demanda algum esclarecimento sobre a distinção etimológica. Sobre o canalha, há um razoável consenso filológico em torno do significado de vilania, registrado em dicionários. Já cafajeste é um exemplo enigmático, senão questionável, porque parece ter origem em “cafas” no português de séculos atrás, com sentido sempre duvidoso, entre o indesejável e o vulgar.

No Brasil de hoje, pode ser resumido como a referência popular a um adulto de classe média para cima com conduta publicamente reprovável.

UM TIPO DEFINIDO – Não se conhece cafajeste do sexo feminino, nem cafajeste pobre. Tanto que existiu, anos atrás, um Clube dos Cafajestes, composto por playboys ricos e notórios. Gastavam dinheiro a rodo em façanhas grosseiramente pueris e irresponsavelmente reproduzidas na imprensa.

Mas em “Os Cafajestes” (1962), o cineasta Ruy Guerra optou por uma etnografia de picaretas ou pilantras, que se comprazem na humilhação de mulheres. A crítica do filme converge hoje para a identificação dos personagens com o arbítrio perverso de turistas brasileiros em seu relacionamento com mulheres no exterior.

Foi o que aconteceu durante a Copa do Mundo quando alguns deles divertiam-se nas ruas de Moscou com expressões obscenas para jovens russas que, sem entender português, sorriam para fotos, acreditando estar em contato com a mitológica alegria brasileira.

NO PODER PÚBLICO – O que parecia restrito à perversão privada dissemina-se agora na esfera pública com personagens oficiais. Busca-se mandato para conseguir audiência. Mas fica patente o quanto podem ser abjetos os modos reais de pensar e agir das figuras que reverberam nas redes sociais.

Até mesmo onde se poderia esperar algum respeito à liturgia dos cargos, a baixeza faz-se automática. Eis a fórmula paradigmática: “Uso o bem público para comer gente”. O cafajeste é sem noção.

O inquietante é a aparente normalização desses fatos pelo espírito do tempo cultural e moralmente rebaixado que se atravessa: uma insólita era da cafajestice com holofotes digitais. Pode-se condenar ou cassar um exagero por demais visível, mas agora o rastro algorítmico dessa modalidade de fama, melhor, de infâmia, persiste como rastilho da incivilidade paralela nas redes. E com horripilantes consequências políticas: cada like divertido será, na urna, um voto cafajeste.


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