Publicado em 11 de abril de 2022 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Faltando seis meses para as urnas presidenciais deste ano, terão início nesta semana as articulações em torno dos governos estaduais a partir de alinhamentos com as candidaturas de Lula da Silva e de Jair Bolsonaro. Na realidade, as únicas que sobreviveram à etapa atual e sobre as quais serão firmadas alianças regionais que possuem grande importância no desfecho do pleito sucessório.
Por esse motivo, o presidente Jair Bolsonaro iniciou uma ofensiva através da liberação de verbas de interesses de deputados e senadores, como revelam Marlen Couto e Eliane Oliveira, O Globo de domingo, visando atrair bases eleitorais que votaram no atual presidente há quatro anos, mas que no momento não parecem dispostas a respeitar integralmente os seus votos.
EMENDAS – Tanto assim, que o Planalto vai liberar R$ 160 bilhões para emendas ao Orçamento capazes, segundo projeta, a buscar de volta votos que se perderam e que estão assinalados nas taxas de rejeição. A ofensiva econômica, aliás mais financeira do que econômica, está também focalizada pelos repórteres Flávio Ferreira e Matheus Vargas, na Folha de S. Paulo.
O movimento visa liberar recursos para emendas dos parlamentares que hoje integram as fileiras do bolsonarismo. Mas a questão não é tão simples. O montante previsto para a ofensiva é algo que vai ser somado a outros investimentos já previstos na campanha.
As campanhas de Bolsonaro e de Lula da Silva, como se encontram polarizadas, são aquelas que naturalmente recebem mais irrigação de recursos. As candidaturas que não têm conseguido decolar, evidentemente, não podem esperar a mesma compensação ou o mesmo combustível para avançar.
CANETA NA MÃO – A questão dos recursos financeiros favorece muito mais o governo, já que ele tem a caneta na mão e pode com esta produzir efeitos imediatos na economia geral e também na particular daqueles que apoiam o Executivo.
Como se observa, a flexibilidade encontra eco. O ministro Ciro Nogueira, por exemplo, afirma que a corrupção no governo é virtual e que Bolsonaro só perde a eleição para ele mesmo. Está na reportagem, aliás muito boa, de Julia Chaib, Marianna Holanda e Matheus Vargas, também na Folha de S. Paulo.
A corrupção, que nunca deixou de fazer parte das campanhas eleitorais no Brasil, foi caracterizada recentemente pelo próprio depoimento do presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, à Comissão de Educação do Senado Federal.
JUSTIFICATIVA – Ele disse, por exemplo, que a presença de pastores evangélicos em reuniões na área do MEC tinha como motivo a apresentação de orações pelo êxito do governo. A afirmação me fez lembrar um belo samba de Noel Rosa, cujo título era “Em feitio de oração”.
Entretanto, quando recursos são liberados em alto volume é porque o candidato, no caso Bolsonaro, revela tacitamente que não se encontra com forte apoio popular ao seu lado, pois caso contrário não usaria da manobra que é negativa, não pela injeção de recursos que vai proporcionar, mas pelas insatisfações que em consequência vai causar junto aos setores não atendidos.
Em matéria de questão econômica e financeira não é possível agradar a todos. A cada passo, a fonte dos recursos depara-se com uma nova reivindicação. Mas não é só esse o problema do quadro eleitoral. Encontra-se também nos índices de rejeição que no caso de Bolsonaro, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, é muito mais alta do que a taxa daqueles frontalmente contrários ao ex-presidente Lula da Silva.
ALTA ESCALA – A esse respeito, Felipe Bächtold, em reportagem publicada ontem na Folha de S. Paulo, revela, com base nos dados do Datafolha, que a grande maioria dos eleitores e eleitoras paulistas consideram o governo Bolsonaro muito ruim numa escala de 49%. No Rio de Janeiro, a rejeição é também muito alta, na escala de 48 pontos.
Essa rejeição bloqueia de forma expressiva alianças regionais, uma vez que os candidatos ao governos dos estados temem se aliar a candidaturas que estejam mais expostas à rejeição do que à aprovação. Mas esse é um problema para as campanhas eleitorais.