Deu em O Globo
Destaque na capa do jornal ressalta número de óbitos entre os mais altos do mundo, investidores em fuga e família do presidente sob investigação
A edição desta quarta-feira do jornal “The New York Times” traz matéria de capa sobre o clima tenso vivido no Brasil em meio ao aumento de mortes pela disseminação do novo coronavírus. Com o título “Ameaça de golpe abala Brasil em meio a aumento de mortes por Covid-19”, o texto afirma que as ameaças de golpe giram em torno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), detalhando o momento delicado que ele e aliados enfrentam: as mortes mais altas do mundo, investidores fugindo do país, ele, seus filhos e apoiadores estarem sob investigação, além de sua eleição correr o risco de ser anulada, diz o jornal.
A publicação citou frases do filho do presidente, o deputado estadual Eduardo Bolsonaro, com elogios ao antigo regime militar do Brasil, e replicou sua afirmaçao a um blogueiro de que uma ruptura institucional semelhante era inevitável (“Não é mais uma opinião sobre ‘se’ mas ‘quando’ isso acontecerá”).
GOLPE IMPROVÁVEL – O texto diz que líderes políticos e analistas comentam que uma intervenção militar permanece improvável. Mesmo assim, a possibilidade paira sobre as instituições democráticas do país, que estão investigando Bolsonaro e sua família em várias frentes. O jornal lembra que quase metade de gabinete do presidente é composta por figuras militares, e diz que ele usa a ameaça de uma intervenção militar para afastar os desafios a sua Presidência.
O NYT lembra também episódios em que alguns dos militares mais poderosos do país ameaçaram a democracia, como o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que afirmou em nota que a eventual apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro seria “inconcebível” e teria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
O comentário se referia ao fato de o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) três notícias-crime apresentadas por partidos políticos e parlamentares à Corte, pedindo, entre outras providências, a apreensão do celular do presidente.
DESCASO COM A COVID-19 – A maneira como conduz a crise sanitária no país, escondendo os dados de mortos pela Covid-19 (mais de mil por dia), também pode levar o presidente a enfrentar problemas na Suprema Corte, diz o NYT, que destaca a decisão do STF para que o governo Bolsonaro volte a divulgar as informações sobre as vítimas do coronavírus. Faz ainda menção às trocas de ministros da Saúde e da frustrada campanha pela expansão do uso da hidroxicloroquina.
O artigo contextualiza o momento atual do Brasil, com fuga de capital atingindo níveis nunca vistos desde os anos 1990 e com previsão de encolhimento da economia em cerca de 8% este ano. Afirma que Bolsonaro vem perdendo apoio da população à medida que o coronavírus avança e mata mais cidadãos e que ele tem sido criticado por, além de subestimar o vírus, sabotar medidas de isolamento e comandar o país com um dos mais altos números de mortes no mundo com frases como: “Sentimos muito por todos os mortos, mas esse é o destino de todos”.
OUTRAS ACUSAÇÕES – De acordo com o NYT, Bolsonaro, sua família e seus apoiadores também estão sendo perseguidos por acusações como abuso de poder, corrupção e disseminação ilegal de fake news. E que o STF recentemente autorizou um inquérito sobre alegações de que Bolsonaro tentou substituir o chefe da Polícia Federal para proteger sua família e amigos.
A reportagem conta que dois dos filhos do presidente estão sob investigação pelo tipo de campanha de desinformação e difamação que ajudou a eleger o pai em 2018, lembrando que no final do mês passado a Polícia Federal invadiu várias propriedades ligadas a influentes aliados de Bolsonaro. E explica ainda que o Tribunal Superior Eleitoral tem autoridade para usar evidências do inquérito para anular a eleição e remover Bolsonaro do cargo.
SEM IMPEACHMENT – A pretensão de dar um golpe, explica o NYT, segundo os aliados de Bolsonaro, seria uma maneira de “impedir qualquer tentativa das instituições legislativas e judiciais do Brasil de expulsar o presidente” e cita o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Lima Malafaia: “Não é um golpe. É incutir ordem onde há desordem.”
Pela análise do jornal americano, as autoridades pró-Bolsonaro não se referem à maneira como os golpes são realizados na América Latina, com as Forças Armadas derrubando um líder civil para dar posse a um deles. E que pedem por algo que ocorreu no Peru em 1992, quando Alberto Fujimori, o líder de direita, usou os militares para dissolver o Congresso, reorganizar o Judiciário e caçar oponentes políticos.
O jornal lembra que Bolsonaro ainda conta com o apoio de cerca de 30% dos brasileiros e que o país tem mais de 700 mil casos confirmados de Covid-19, atrás dos EUA, e pelo menos 37 mil mortes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se o grande chargista Henfil ainda estivesse entre nós, estaria apavorado. Para ele e muitos outros destacados brasileiros, quando o New York Times publica uma matéria desse tipo sobre o Brasil, é tudo verdade, porque a espionagem dos States conhece nosso país melhor do que os próprios brasileiros. Henfil dirigiu até um filme, sob o título “Deu no New York Times”. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se o grande chargista Henfil ainda estivesse entre nós, estaria apavorado. Para ele e muitos outros destacados brasileiros, quando o New York Times publica uma matéria desse tipo sobre o Brasil, é tudo verdade, porque a espionagem dos States conhece nosso país melhor do que os próprios brasileiros. Henfil dirigiu até um filme, sob o título “Deu no New York Times”. (C.N.)