Naira Trindade
O Globo
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Irritado e abatido após a prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, o presidente Jair Bolsonaro buscou ao longo desta quinta-feira, dia 18, uma estratégia para afastar do Palácio do Planalto o desgaste com o ocorrido. Em reunião pela manhã com o ministro da Justiça, André Mendonça; da Secretaria Geral, Jorge Oliveira, e da Advocacia Geral da União, José Levi, Bolsonaro considerou haver uma perseguição do Judiciário.
Na avaliação do presidente, há uma tentativa de criar um clima de instabilidade no governo. No Palácio do Planalto, o clima é de apreensão com o depoimento que Queiroz deve prestar nos próximos dias. Aos aliados, Bolsonaro reclamou ser a terceira ação da semana contra seus apoiadores. Na segunda-feira, a Polícia Federal prendeu a extremista Sara Giromini, que adotou o pseudônimo Sara Winter. A prisão temporária foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
QUEBRA DE SIGILOS – Na terça-feira, Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilos bancários de 11 parlamentares bolsonaristas no inquérito que investiga financiamento de manifestações antidemocráticas no país. Nesta quinta, Queiroz é preso após pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro. Ministros próximos ao presidente admitem a dificuldade do governo em se desvincular da prisão de Queiroz, detido em uma das casas do advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef.
Fred, como é conhecido, participou da posse do ministro Fabio Faria no Palácio no Planalto na quarta-feira. Ele aparece ao menos 13 vezes em agendas do presidente e sempre alegou ter acesso fácil a Bolsonaro. Integrantes do governo já aconselharam o presidente a substituí-lo. Na busca por advogados com perfil mais discreto, Bolsonaro recebeu o criminalista Eduardo Carnelós no gabinete do Palácio do Planalto em 22 de janeiro.
PÁ DE CAL – Avesso a entrevistas, Carnelós foi advogado de Michel Temer na segunda denúncia que recebe da Procuradoria Geral da República quando era presidente, em 2017. O encontro constou da agenda oficial do presidente. Como mostrou a colunista Bela Megale, a prisão de Queiroz joga mais uma pá de cal na tentativa de pacificar a relação entre o governo e o Judiciário.
Segundo auxiliares do presidente, Bolsonaro já fez as sinalizações necessárias de paz ao Judiciário, como a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, “mas o Supremo não cessou fogo”. Os filhos do presidente relataram a pessoas próximas que enxergam uma conspiração. Eles avaliam que integrantes do Judiciário trabalham para criar um clima para tirar o presidente do cargo.
Reservadamente, interlocutores do presidente criticaram o uso da Lei de Segurança Nacional para justificar a abertura de inquérito policial que apura os ataques de fogos de artifício contra a sede do Supremo. Um aliado do governo argumenta não ter havido a mesma preocupação quando o Movimento de Libertação dos Sem Terras (MLTS) invadiu e depredou o Congresso ou quando manifestantes quebram vidraças e atearam fogo no Ministério da Educação.