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segunda-feira, janeiro 27, 2020

Antes mesmo de sair do papel, Aliança pelo Brasil já enfrenta acirradas disputas por poder


Novo partido de Bolsonaro tem muito cacique para pouco índio
Naira Trindade
Natália Portinari
O Globo
Antes mesmo de ser criado, o Aliança pelo Brasil, partido que vai abrigar o presidente Jair Bolsonaro, já vive uma situação de brigas internas entre os interessados em comandar seus diretórios nos estados. Esse foi um dos motivos que afastaram Bolsonaro do PSL, no ano passado, e o motivou a criar a própria sigla.
Para conseguir fundar o partido a tempo das eleições municipais, o grupo precisa conseguir 492 mil assinaturas certificadas em cartório, de pessoas que não sejam filiadas a outra legenda, e vencer a tramitação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o início de abril.
“DIRIGENTES” – Deputados e lideranças regionais que têm atuado na coleta dessas assinaturas se antecipam à cúpula e se autointitulam dirigentes nas suas bases eleitorais. As brigas já chegaram ao conhecimento do presidente, que fez recomendações expressas para que o comando da legenda intervenha e impeça qualquer tipo de competição interna.
“O presidente tem deixado muito claro que agora só há uma coisa a fazer: é buscar apoio. Tem gente que foi para o evento de fundação do partido, tirou foto com Bolsonaro ao fundo e chegou no estado dizendo que ia ser o presidente do diretório sem nem ter falado com o presidente”, contou o vice-presidente do Aliança, Luís Felipe Belmonte.
A deputada Bia Kicis (PSL-DF) diz que os parlamentares dissidentes do PSL acertaram entre si que são “coordenadores” em seus respectivos estados — caso dela no Distrito Federal. O deputado Bibo Nunes (RS), por exemplo, se diz coordenador gaúcho do Aliança e postulante natural à prefeitura de Porto Alegre: “Eu sou o deputado mais votado do Rio Grande do Sul, sou coordenador do Aliança, acho que sou um dos mais cotados. Eu não vejo um outro nome.”
CANDIDATOS DEFINIDOS – Embora o presidente ainda não tenha referendado nenhuma candidatura, Bibo Nunes diz já ter candidatos definidos do Aliança para as prefeituras de Nova Hamburgo, Caxias do Sul e Livramento, caso o partido consiga o registro a tempo das eleições municipais.
Já candidatos a prefeito e a vereador pelo Aliança no Nordeste, onde Bolsonaro tem sua pior avaliação, de acordo com as pesquisas, têm visitado a sede da Embratur, em Brasília, segundo o colunista Lauro Jardim. O orçamento anual da Embratur saltou de R$ 35 milhões para R$ 480 milhões desde que Bolsonaro a transformou em agência, em novembro passado.
Ainda de acordo com o colunista, os candidatos são recebidos pelo presidente da Embratur, Gilson Machado, e pelo diretor de marketing, Osvaldo Melo Junior. Machado trabalha para ser o presidente do novo partido.
SUDESTE – Em São Paulo, a articulação de dissidentes do PSL de assumir o comando do Aliança nos estados não deve prevalecer. Lá, a tendência é que o partido não fique com nenhum dos quatro deputados: Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Guiga Peixoto.
Segundo aliados, o comando do partido em São Paulo deve ser entregue ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que atualmente está filiado ao MDB. Já em Minas Gerais, o deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), que organiza a coleta de assinaturas, espera ficar à frente do diretório:
“Entre nós federais já há uma compreensão de que eu fique à frente (do diretório), entre os que estão à disposição para migrar (do PSL para o Aliança). Não vamos ter problema em relação a isso não. De qualquer forma, a palavra final será do presidente”.
CRISES INTERNAS – As crises internas não estão limitadas às capitais. Em Juiz de Fora (MG), há 13 lideranças apoiando Bolsonaro. Porém, doze delas não aceitam ser subordinadas à atual coordenadora para coleta de assinaturas, Roberta Lopes Alves. Ela minimiza e diz que, apesar de estar à frente do Aliança na cidade, qualquer pessoa pode contribuir com a formação da legenda por meio do site.
Em estados onde não há deputados federais do PSL entre os criadores do Aliança, o cenário é ainda mais nebuloso. No Ceará, se alçou ao posto de “futuro dirigente” e já é cotado como candidato à prefeitura de Fortaleza o deputado estadual André Fernandes (PSL), ex-youtuber bolsonarista.
Em Sergipe, o ex-secretário do PSL Peter Costa afirmou à mídia local que é coordenador regional do partido, gerando uma disputa por ter passado por cima de uma voluntária, Lícia Mello. Ela está credenciada no site do Aliança para levar assinaturas à Justiça Eleitoral, enquanto Peter não está. “Essa confusão toda eu nem me meto, eu só estou fazendo meu trabalho de voluntária. Existe uma lista de pessoas que podem pegar nos cartórios e enviar, e estou nela”, diz Lícia.
TRANSPARÊNCIA – A advogada Karina Kufa, futura tesoureira do Aliança, interveio em sua conta do Twitter, na última sexta-feira. “Não temos representantes estaduais e municipais, sempre fomos transparentes (…). As fichas com nomes que estão circulando são de voluntários que não têm autonomia para falar em nome da @somosalianca, apenas para ajudar no cadastramento das fichas no TSE”, escreveu ela.
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NOTA DE REDAÇÃO DO BLOG
 – Todo partido, do menor ao maior, é sempre alvo de disputas internas. No caso do Aliança, porém, por ter Bolsonaro no “comando”, os rachas podem ser ainda mais frequentes, dada a sua importância estratégica. Mas se o presidente deixar correr solto, sem rédeas, vai sobrar cacique e faltar índio na tribo. Depois do carretel enrolado, fica mais difícil desatar os nós e colocar a pipa para subir. Política não é para amador e, nessa praia, todos querem um lugar ao sol. Todos querem “é poder”. (Marcelo Copelli)

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