Pedro do Coutto
Esse é o ponto nevrálgico do período que estamos vivendo no Brasil. Reportagem de Thais Arbex, edição de domingo da Folha de São Paulo, focaliza o tema acentuando que existe um clima voltado para o autoritarismo do Palácio do Planalto. Sem dúvida percebe-se na atmosfera de Brasília uma compressão com a qual o governo Jair Bolsonaro volta-se mais para a centralização do que pela divisão dos poderes. Os exemplos são dois bastante significativos.
O posicionamento restritivo do Planalto para as empresas que publicam anúncios publicitários na FSP e as manifestações seguidas do presidente da República solidarizando-se com vitórias eleitorais obtidas pelo conservadorismo como foi o caso do Uruguai e da Espanha.
DIFERENÇA – Cotejando-se essa conduta com a que marcou a vitória do peronismo nas urnas argentinas verifica-se bem a diferença entre um posicionamento e outro.
Há um temor, acentua Thais Arbex, de uma recriação parcial do autoritarismo, peça fundamental de projeto político no qual a democracia não se mostra firmemente presente. Os projetos de reforma do ministro Paulo Guedes enquadram-se nesse movimento político quando se abrem as cortinas das votações.
Ontem mesmo, em uma entrevista de duas páginas em O Globo, o ministro Paulo Guedes disse estar obtendo apoio do presidente Bolsonaro para tocar projetos que estão por vir como é o caso das reformas administrativa e tributária.
RAZÃO SIMPLES – Ora, é claro que o presidente da República só pode apoiar esses projetos por uma questão bastante simples: cabe a ele encaminhá-los através de mensagens ao Congresso Nacional. E pela apresentação do tema, tem-se a impressão que os projetos do governo são mais do ministro da economia do que do próprio presidente da República. Mas esta é outra questão.
O ponto essencial se projeta quando a classe política sente na atmosfera uma densidade maior do que o normal no que tange aos temas ideológicos. O governo não está sabendo situar-se no universo político, uma vez que, ao concentrar em si próprio posições sectárias e conservadoras, está isolando o poder central de todas as forças não partidárias do país. Caso da opinião pública.
SEM PARTIDO – No que se refere as questões partidárias Jair Bolsonaro rompeu com as que já existem, dispondo-se a criar um novo partido em cuja legenda pretende se aliar.
Liderar e centralizar, uma vez que, ao criar uma nova legenda, ele anuncia paralelamente não identificar qualidades em nenhum dos atuais partidos políticos. Esse fato é importante, porém mais importante ainda é seu alinhamento numa faixa centro-direita, que a meu ver pode terminar mais à direita do que ao centro.
Por isso mesmo, daí a preocupação, o presidente da República precisa exaltar mais a democracia e menos o autoritarismo. Esta é a questão essencial.