Marco GrilloO Globo
As investigações da Operação Spoofing , que apura a invasão dos celulares de diversas autoridades, revelaram que os suspeitos já foram presos em pelo menos outras três ocasiões, incluindo uma viagem ao Beto Carrero World, parque localizado em Penha (SC). Os motivos incluem falsidade ideológica, tráfico e porte ilegal de arma de fogo.
A atuação que desencadeou o acesso remoto às contas do Telegram começou, inclusive, como uma retaliação a uma das prisões de Walter Delgatti Neto, que confessou ter copiado as mensagens do procurador Deltan Dallagnol e as repassado ao site “The Intercept”. Usuário de medicamentos controlados, Delgatti foi alvo de uma ação do Ministério Público de São Paulo por tráfico de drogas. Ele nega e diz que os remédios eram prescritos e para uso próprio.
PRIMEIRA PRISÃO – Com essa investigação em curso, ele chegou a ser preso em frente a faculdade onde estudava à época. Ele se sentiu injustiçado, descobriu uma técnica para acessar remotamente outras contas do aplicativo de mensagens e copiou conversas do promotor Marcel Zanin, autor da denúncia contra ele. A partir daí, percorreu o caminho que o levou a descobrir o número de uma série de autoridades.
Em outra ocasião, foi detido ao lado do DJ Gustavo Henrique Elias Santos, também preso na operação. O episódio foi narrado pela mulher do DJ, Suelen Priscila de Oliveira, em depoimento à Polícia Federal. O teor das oitivas dos suspeitos foi revelado pela GloboNews .
“QUE conheceu WALTER DELGATTI NETO quando, juntamente com GUSTAVO HENRIQUE, realizaram uma viagem para o parque do Beto Carrero em Santa Catarina; QUE esta viagem resultou nas prisões de WALTER DELGATTI NETO, pelo crime de falsidade, e de GUSTAVO HENRIQUE, pelo porte ilegal de arma de fogo”, disse Suelen aos investigadores.
DOCUMENTOS FALSOS – Delgatti e Santos também estavam juntos quando o hacker foi preso, em São Paulo, pelo uso de documentos falsos. A falsificação foi feita para que Delgatti pudesse se passar por estudante de medicina da USP. No mesmo momento, o hacker estava com um extrato bancário fictício, com um saldo de R$ 1,8 milhão.
“QUE WALTER NETO fraudou este referido extrato bancário com o objetivo de se vangloriar; QUE na verdade, WALTER NETO foi preso naquele momento por portar uma carteira de estudante falsa de medicina da USP, que estava em seu próprio nome”, contou Santos à PF.
Outro preso na operação, Danilo Cristiano Marques, que conhece Delgatti desde 2002, afirmou aos investigadores que o fato de o hacker “ostentar patrimônio” chamava a atenção de policiais. Suelen também chamou a atenção para o fato de Delgatti frequentar “bons restaurantes e hotéis de qualidade”. Segundo Marques, além das prisões, o hacker também se envolvia em “confusões” com a polícia e sofria extorsões.
EXTORSÕES –Danilo Marques não detalhou os exemplos e tampouco disse como o amigo conseguia dinheiro para pagar os agentes que supostamente faziam as extorsões.
“QUE WALTER DELGATTI NETO fez várias acusações contra policiais civis de Araraquara/SP, tendo relatado ser vítima constante de extorsões; QUE presenciou certa vez quando WALTER DELGATTI NETO sofreu uma extorsão de um advogado, que dizia existir um BO contra WALTER para resolver na delegacia; QUE esta abordagem realizada pelo advogado a WALTER ocorreu em uma rua no centro da cidade de Araraquara/SP, cujo nome não se recorda; QUE não sabe dizer como WALTER DELGATTI NETO conseguia dinheiro para pagar as extorsões que sofria”, disse Marques.