por Folhapress
Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad | Foto: Ricardo Stuckert
As novas mensagens envolvendo Sergio Moro, ministro da Justiça, e procuradores da Lava Jato em Curitiba provocaram reações de políticos e nomes ligados à força-tarefa.
Os diálogos foram divulgados neste domingo (23) pela Folha de S.Paulo, em reportagem com o site The Intercept Brasil. Mostram como os procuradores se articularam para proteger o então juiz e evitar que tensões entre ele e o Supremo Tribunal Federal (STF) paralisassem as investigações em março de 2016.
Ex-juiz responsável pela operação e hoje membro do governo Jair Bolsonaro (PSL), Moro não falou sobre o assunto. No Twitter, publicou, em latim, citação do filósofo romano Horácio: "Parturiunt montes, nascetur ridiculus mus [As montanhas partejam, nascerá um ridículo rato]".
Em resposta à declaração, o ex-presidenciável do PT Fernando Haddad publicou em rede social: "Moro pariu um golpe".
"Folha não detectou nenhum indício de que material da #VazaJato possa ter sido adulterado. O jornal buscou nomes de jornalistas e encontrou mensagens reais trocadas com integrantes da força-tarefa, obtendo assim um forte indício da integridade do material", escreveu Haddad.
Também por rede social, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), chamou Moro de mentiroso e disse que ele foi desmascarado em uma intenção de evitar que o STF (Supremo Tribunal Federal) soubesse de apurações relacionadas a autoridades com foro especial, conduzidas por Curitiba.
"Não podia esconder do STF que investigaria políticos com foro nas cortes superiores. Fez isso para não perder o processo e continuar sua saga contra Lula", escreveu.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse que os diálogos mostram que o ex-juiz tinha ascendência sobre os integrantes da Lava Jato.
"A submissão dos procuradores a Moro é escandalosa. Não restam dúvidas de que agiram ilegalmente", comentou.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-membro da força-tarefa em Curitiba citado nas conversas, afirmou no Facebook que a Folha errou ao publicar "material apócrifo e de origem criminosa".
"O primeiro de seu erro foi dizer que 'A Interceptadora' recebeu de fonte anônima, enquanto está claro que este site conhece e protege a fonte", criticou.
Além disso, segundo ele, " 'atestar' a integridade do material com o argumento de que as mensagens de seus jornalistas ali estavam é no mínimo ingênua, pois não há dúvida da existência de um crime de hackeamento e que potencialmente parte do material tenha essa origem".
O procurador disse ainda que "para libertar Lula e destruir a Lava Jato vale até ser conivente com o crime".
Procurado, o Ministério Público Federal em Curitiba afirmou em nota que a força-tarefa "não teve acesso aos materiais citados pelo jornal e, por isso, tem prejudicada sua possibilidade de avaliar a veracidade e o contexto dos supostos diálogos". Disse ainda que os procuradores "pautam suas ações pessoais e profissionais pela ética e pela legalidade".
O presidente Bolsonaro não se manifestou sobre o caso.
MBL
O MBL (Movimento Brasil Livre) -- cujos integrantes foram chamados por Moro de "tontos" por protestarem em frente ao apartamento do ex-ministro do Supremo Teori Zavascki (morto em 2017) -- minimizou a crítica do ex-juiz e elogiou a Lava Jato.
"O trecho divulgado hoje quebra mais uma narrativa mentirosa dos aliados dos criminosos condenados na operação, demonstrando que o MBL sempre atuou de forma independente do Judiciário e dos procuradores, determinando seu próprio rumo e suas próprias ações, através de atos e manifestações sempre pacíficos".
O movimento alegou que o ex-juiz "respeita e reconhece" a importância de suas manifestações para desmantelar "a quadrilha que estava no poder há 16 anos". Ressaltou que a Lava Jato segue sendo uma "importante operação contra a corrupção no país" (veja aqui).
A reportagem publicada pela reportagem foi produzida a partir de mensagens privadas enviadas por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisadas em conjunto pelo jornal e pelo site.
Os diálogos indicam que os procuradores e o então juiz temiam que o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, desmembrasse inquéritos que estavam sob controle de Moro em Curitiba após a divulgação de uma lista de políticos associados à Odebrecht, que tinham direito a foro especial -- e que só podiam ser investigados com autorização da corte.
Moro escreveu ao procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, para reclamar da Polícia Federal (PF), que havia tornado pública a lista de políticos ao anexar aos autos de um inquérito papéis encontrados na casa de um executivo da Odebrecht, e discutiu com ele a melhor forma de encaminhar os processos ao STF.
Ao examinar o material, a reportagem da Folha não detectou nenhum indício de que ele possa ter sido adulterado.
Os repórteres, por exemplo, buscaram nomes de jornalistas da Folha e encontraram diversas mensagens que de fato esses profissionais trocaram com integrantes da força-tarefa nos últimos anos, obtendo assim um forte indício da integridade do material.
Nas demais conversas publicadas pelo site Intercept desde o último dia 9, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas e antecipa ao menos uma decisão judicial.
O então juiz, segundo os diálogos, também propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula, sugere à força-tarefa melhorar o desempenho de uma procuradora durante interrogatórios e se posiciona contra investigações sobre o ex-presidente FHC na Lava Jato por temer que elas afetassem "alguém cujo apoio é importante".
Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.
As conversas entre então juiz e a Lava Jato também provocaram reação no Supremo Tribunal Federal, que agendou para esta terça-feira (25) a análise de um pedido dos advogados do ex-presidente Lula pela anulação do processo do tríplex em Guarujá (SP), encabeçado por Moro e que levou o petista à prisão em abril do ano passado.
Até aqui, Moro tem minimizado a crise e refutado a possibilidade de ter feito conluio com o Ministério Público. Assim como os procuradores, diz não ter como garantir a veracidade das mensagens (mas também não as negou) e chama a divulgação dos diálogos de sensacionalista.
Bahia Notícias