Carlos Chagas
Nem justifica nem explica por que os principais candidatos à presidência da República evoluem com excessiva cautela a respeito da esfrangalhada segurança pública verificada no país. Dilma fala que a educação diminuirá o número de crimes. Serra promete criar um ministério específico para enfrentar a questão mas não diz o que fazer a curto prazo para tirar os criminosos da rua. Marina dá a impressão de que, defendendo o meio ambiente, defenderá o cidadão contra a violência e a insegurança.
Falta coragem não apenas para eles, mas para os candidatos a governador, deputado e senador em todo o país. Poderia surpreender-se o primeiro a aproveitar esse mês e dias que nos separam das eleições para bater firme na questão. Nada de dizer que bandido bom é bandido morto. A pena capital parece fora de questão. Mas bandido bom tem que ser bandido preso. No caso de crimes hediondos, preso pelo resto da vida. Sem regalias nem benefícios de espécie alguma. De preferência enjaulado como animal que é. Importa reparar o passado e preservar o futuro, não dele, mas de quantos vivem do lado de fora.
Ainda no fim de semana assistiu-se a outro espetáculo de animalidade explícita num dos bairros nobres do Rio. As imagens mostram montes de bandidos atirando a esmo e invadindo um hotel com sofisticado armamento, fazendo reféns e no fim entregando-se à polícia, por falta de condições para resistir. Basta assistir os telejornais e ler o noticiário policial dos diários para se ter a noção da gravidade da questão. Mais do que saúde, educação, transportes e habitação, a segurança pública constitui o maior problema nacional.
Crescerá o candidato a deputado ou senador que defender prisão perpétua, isolamento permanente, trabalhos forçados, presídios no meio da mata ou em ilhas isoladas para quantos assassinos, estupradores, seqüestradores, contrabandistas, narcotraficantes e sucedâneos tiverem sido capturados. Assim como se torna imprescindível o combate implacável aos que ainda se encontram soltos. “Nenhuma tolerância” - poderia significar um bom slogan de campanha.
O verdadeiro perfil
Só por milagre, e dos grandes, Dilma Rousseff deixará de ser eleita. A pergunta que se faz é se na presidência da República manterá o perfil de mãezona sorridente e bem produzida, revelado nos palanques, ou retomará as características de áspera e intransigente administradora, mantidas há anos?
Em termos políticos, como se comportará? Abrindo espaços para os partidos que a apóiam, do PT ao PMDB, ou fechando as portas às reivindicações, tanto as justas e necessárias quanto as malandras e pouco éticas? Na maioria dos casos torna-se difícil separá-las.
Seu relacionamento com a oposição configura outra incógnita: irá tratá-la a pão e água, quem sabe nem isso, ou tentará cooptar seus contingentes dispostos a colaborar para objetivos comuns?
Enquadrará o ministério, exigindo subserviência de cada ministro, ou terá neles uma instância de consulta permanente, em vez de obediência irrestrita?
E sobre a equipe a compor, passará o apagador no quadro-negro (ou branco?) do atual governo ou conservará peças que o presidente Lula poliu ao longo de oito anos?
Manterá a postura complacente do antecessor frente às elites empresariais e especulativas ou tentará corrigir excessos por elas praticados? Com relação às massas, preservará o assistencialismo ou admitirá reformas sociais como direito legítimo delas, não como dádivas do trono?
Muitas e maiores são as dúvidas a respeito do futuro governo, abrindo-se apenas uma certeza: para melhor ou para pior, engana-se quem supuser um videotape do governo atual.
Fonte: Tribuna da Imprensa