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sexta-feira, julho 01, 2022

Simone Tebet apoia a PEC Eleitoral, mas critica por ser trabalho feito “nas coxas”


Tebet vota a favor de PEC Eleitoral, mas critica trabalho feito 'na coxa'; Ciro e Lula se calam

Simone Tebet demonstrou que vota de forma imparcial

Camila Zarur
O Globo

Pré-candidata à Presidência, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) criticou nesta quinta-feira a forma com a PEC Eleitoral foi aprovada no Senado, mas votou a favor do texto com a justificativa de que é preciso combater a crise econômica e o aumento da fome no país. A proposta viola restrições da lei eleitoral para criar e ampliar uma série de benefícios sociais, ao custo de R$ 41,2 bilhões, a apenas três meses do primeiro turno.

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) vê na medida uma forma de conquistar votos no momento em que aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas eleitorais.

REPERCUSSÃO – Além de Tebet, entre os pré-candidatos ao Planalto, Bolsonaro e Luiz Felipe D’Avila (Novo) também reagiram à aprovação da PEC no Senado. Enquanto o atual titular do Palácio do Planalto comemorou o projeto, D’Avila criticou o caráter eleitoreiro da proposta. Lula e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), por sua vez, não comentaram o assunto.

— O Auxílio Brasil vai de R$ 400 para R$ 600. O auxílio para o caminhoneiro é de R$ 1.000. Sei que é pouco, que os caminhoneiros gastam bastante combustível, mas é uma ajuda. Também vamos dobrar o valor do vale gás e vem mais coisa — disse Bolsonaro em sua live semanal.

A PEC viabiliza “bondades” do governo com o objetivo liberar a ampliação de gastos e viabilizar a criação e a ampliação de uma série de benefícios sociais em período eleitoral.

DISSE TEBET – A candidata SimoneTebet votou a favor da proposta, alegando que a crise econômica e o aumento da fome no país tornavam necessária a ampliação dos auxílios sociais.

“Este é o caminho certo no que se refere a esta questão dramática em que o Brasil está vivendo. A fome tem pressa, nós sabemos disso. Nós não estamos diante de uma escolha de Sofia. Não quando tantas Sofias e Marias estão sofrendo a dor da fome. Então não é uma escolha de Sofia, nós temos que efetivamente avançar e avançar rapidamente em uma solução para quem hoje não tem o que dar de comer a seus filhos”, destacou.

No entanto, a senadora criticou que a PEC não respeitou os ritos habituais de projetos do tipo, que costumam passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A matéria foi analisada direto no plenário.

NAS COXAS — “Esse projeto começou errado e termina errado. O meu voto é favorável, mas eu quero fazer um apelo à vossa excelência” — disse Tebet, se dirigindo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG): “Que nenhuma PEC, nenhuma emenda constitucional deixe de passar pela Comissão de Constituição e Justiça, nem que façamos isso em 48 horas”.

A declaração da senadora foi feita durante a sessão que aprovou a PEC Eleitoral. Em um comentário duro, Tebet classificou a tramitação da proposta como algo feito “nas coxas”:

“Não é possível nós entrarmos para os anais da história do Brasil, de votarmos uma PEC tão relevante, que fura teto, que viola lei de responsabilidade fiscal, que atinge a regra de ouro, fazendo alterações de vírgula ou de parágrafo nas coxaa. Porque é isso que estamos fazendo”, criticou.

CHEQUE EM BRANCO – O candidato do partido Novo, Luiz Felipe D’Avila, por sua vez, criticou o caráter eleitoreiro da proposta e disse que o projeto serve como um “cheque em branco” ao governo Boslonaro.

“Com caráter eleitoreiro, a PEC/16 é mais uma ameaça ao Brasil, disfarçada de bondade. São quase R$ 39 bi destinados para criar gastos em pleno ano de eleição. Reitero que não sou contrário ao subsídio às famílias, contudo, é inegável que tal projeto está sendo usado para contemplar objetivos eleitorais”, escreveu D’Avila, que também completou:

“Estamos diante de um ‘cheque em branco’, que não respeitará o teto de gastos, nas mãos de um governo que falhou na política econômica, e agora faz o diabo pensando apenas na eleição”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Posição corretíssima de Simone Tebet. Não se pode ficar contra um pacote de medidas que beneficiam o povo, embora esteja mais do que óbvio tratar-se de uma iniciativa eleitoreira. Simone Tebet ganhou ponto ao mostrar sua imparcialidade. Sem dúvida, é uma bela candidata.    Ciro Gomes e Lula da Silva erraram ao não se pronunciar(C.N.)

Presidente adota nova estratégia para desacreditar Lula como líder das pesquisas eleitorais

Publicado em 1 de julho de 2022 por Tribuna da Internet

bolsonaro lula

Ilustração reproduzida do Metrópoles

Paulo Cappelli
Metrópoles

O Planalto já colocou em prática mais uma frente para tentar desacreditar as pesquisas de intenção de voto que apontam liderança de Lula na corrida presidencial.

O plano consiste em usar redes sociais para comparar agendas públicas de Jair Bolsonaro como motociatas, com as aparições do petista. E sublinhar uma suposta diferença de tamanho de público presente.

LULA FORA DAS RUAS – Ex-presidente, Lula tem liderado as intenções de voto nos principais institutos de pesquisas, com Bolsonaro em segundo e Ciro Gomes, do PDT, na terceira colocação.

Aliados de Bolsonaro no Planalto, tanto civis quanto militares, trabalham para que Lula pegue a pecha de que não pode aparecer na rua para não ser hostilizado.

A justificativa é que o ex-presidente Lula tem evitado ao máximo sair às ruas e somente faz aparições em ambientes fechados e com forte segurança.

O candidato petista, porém, planeja intensificar suas aparições públicas, como deverá ocorrer, por exemplo, em uma praça no Centro do Rio nos próximos dias.

DIZ BOLSONARO – Em conversas com jornalistas, o presidente Bolsonaro põe em dúvida o desempenho do petista  nas pesquisas eleitorais para o Palácio do Planalto. “Não tem como esse cara ter 45% de intenção de votos”, diz o chefe do Executivo federal.

Bolsonaro ironiza, dizendo que o ex-presidente “não consegue tomar uma tubaína na esquina sem ser hostilizado” e que em Orlando ele consegue reunir mais pessoas do que Lula no Brasil.

O presidente também afirma que o petista desagrada públicos como evangélicos, ruralistas, policiais e empresários. “Poxa, quem ele agrada? Ele agrada os sindicalistas, o que sobrou do MST, ele agrada o pessoal que rouba celular por aí para tomar uma cerveja, que mata gente para tomar cerveja”, conclui Bolsonaro.

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Queda do PG2




Guimarães, que ‘sonhou’ com o lugar de Guedes (o PG1), acumulou polêmicas na gestão da Caixa

Por Adriana Fernandes (foto)

Pedro Guimarães, o presidente demitido da Caixa por assédio sexual, era chamado em Brasília de PG2. Foi nomeado pelo PG1, o ministro da Economia, Paulo Guedes, com a chancela do “porteira fechada”. Na época, isso significava “sem interferência política”. Era o começo do governo do presidente que proclamava ter sido eleito para enterrar a velha política.

O PG2 não fugia desse receituário inicial bolsonarista. Vindo do mercado financeiro, Guimarães se portava com prepotência e ar de superioridade em relação aos agentes públicos.

Na grande sala onde se instalou no QG da transição, no CCBB, ele se dizia perseguido pelos políticos, integrantes do mercado e pela mídia por ser genro de Léo Pinheiro, ex-executivo da empreiteira OAS, condenado por pagar propinas na Lava Jato. Era comum nas conversas cair em prantos, situação que deixava desconfortáveis os seus interlocutores.

Sem provas, prometeu “devassa” nas contas da Caixa, justamente após uma gestão do conselho de administração que empreendeu esforços para recuperar as finanças do banco e construir regras sólidas de governança.

Chegou a falar de forma preconceituosa como se todos os políticos, especialmente os prefeitos, fossem corruptos. No início, recusou-se a receber os parlamentares, o que gerou embaraços nas discussões da reforma da Previdência.

Na primeira grande polêmica no cargo, reduziu a concessão de novos empréstimos para o Nordeste, reduto tradicional da oposição. Depois de o Estadão mostrar com números do próprio banco o que estava acontecendo, acabou recuando.

Após esse episódio, a chave virou. Ficou cada vez mais próximo da velha política. Passou a fazer viagens, lives ao lado do presidente e apoiar políticas públicas para o banco na contramão do receituário liberal do PG1, seu chefe imediato.

No início da pandemia da covid-19, aliou-se de vez ao núcleo palaciano e às lideranças do Centrão que fritavam Guedes. Frequentava todas as listas dos prováveis substitutos do ministro. Em certo momento, chegou a espalhar dentro da

Caixa que ficaria com o cargo.

Não conseguiu. Mas à frente do banco com o maior número de clientes e com imensa capilaridade depois do auxílio emergencial, era um grande sócio do presidente na corrida pela reeleição.

Caiu porque funcionárias corajosas enfrentaram o medo e denunciaram o assédio. Alçada à presidência da Caixa, Daniella Marques não poderá fugir da missão de fazer uma limpa no banco daqueles que compactuaram e abafaram as denúncias por tanto tempo. 

O Estado de São Paulo

Os benefícios surpreendentes dos dedos enrugados na água




Depois de alguns minutos na água morna, pele da ponta dos dedos fica enrugada como ameixa seca

Por Richard Gray

A pele da ponta dos nossos dedos fica enrugada como uma ameixa seca quando os mergulhamos por alguns minutos na água. Seria uma adaptação evolutiva? E o que isso pode revelar sobre a nossa saúde hoje em dia?

Basta ficar mais que alguns minutos mergulhado em uma banheira ou nadando em uma piscina para que os nossos dedos passem por uma transformação dramática. Onde antes havia as delicadas espirais da epiderme levemente ondulada, agora temos dobras inchadas de pele feia e enrugada.

Essa impressionante mudança é familiar, mas também desconcertante. Afinal, apenas a pele dos dedos das mãos e dos pés fica enrugada quando imersa na água, enquanto outras partes do corpo, como os antebraços, o tórax, as pernas e o rosto, permanecem com a mesma aparência de antes de serem submersos.

Esse enrugamento da pele dos dedos causado pela água foi objeto de pesquisa dos cientistas por décadas. A maioria deles não entendia o que gerava esse fenômeno. Até agora.

Recentemente, pesquisadores encontraram novas respostas sobre a causa e o possível propósito desse processo.

Mas talvez o mais intrigante ainda seja o que os dedos enrugados podem revelar sobre a nossa saúde.

O mecanismo

Leva cerca de 3,5 minutos em água morna — a temperatura considerada ideal é 40 °C — para que as pontas dos nossos dedos comecem a se enrugar. Já em temperaturas mais baixas, de cerca de 20 °C, pode levar até 10 minutos. Mas a maioria dos estudos concluiu que são necessários cerca de 30 minutos na água para atingir o enrugamento máximo.

Costumava-se acreditar que o enrugamento da ponta dos dedos fosse uma reação passiva, na qual as camadas superiores da pele inchavam enquanto a água invadia as células em um processo conhecido como osmose. Nele, as moléculas de água movem-se através de uma membrana para equalizar a concentração das soluções de cada lado.

Mas, em 1935, cientistas suspeitaram que o processo deveria ser mais complexo. Foi quando médicos que estudavam pacientes lesionados que haviam rompido o nervo mediano — um dos principais nervos que correm pelo braço até a mão — descobriram que seus dedos não se enrugavam.

Entre outras funções, o nervo mediano ajuda a controlar as chamadas atividades simpáticas (do sistema nervoso simpático), como o suor e a constrição dos vasos sanguíneos. Essa descoberta sugeriu que o enrugamento das pontas dos dedos induzido pela água, na verdade, é controlado pelo sistema nervoso.

Estudos médicos posteriores nos anos 1970 forneceram mais evidências sobre esse processo e propuseram a imersão das mãos na água como um experimento para determinar lesões nervosas que possam afetar a regulagem de processos inconscientes, como o fluxo sanguíneo.

Até que, em 2003, os neurologistas Einar Wilder-Smith e Adeline Chow, que na época trabalhavam no Hospital da Universidade Nacional de Singapura, mediram a circulação sanguínea nas mãos de voluntários enquanto as mergulhavam na água. Eles concluíram que, à medida que a pele das pontas dos dedos dos voluntários começava a enrugar-se, havia uma queda significativa do fluxo sanguíneo nos dedos.

E, ao aplicar um creme anestésico local que causava a constrição temporária dos vasos sanguíneos dos dedos de voluntários saudáveis, os médicos concluíram que ele produzia níveis de enrugamento similares à imersão na água.

"Isso faz sentido quando você olha para os seus dedos enrugados", afirma Nick Davis, neurocientista e psicólogo da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido, que estudou o enrugamento da ponta dos dedos. "As almofadas dos dedos ficam pálidas porque o fluxo sanguíneo está sendo restringido na superfície."

Wilder-Smith e seus colegas imaginaram que, quando as mãos são imersas na água, os dutos de suor nos nossos dedos se abrem para permitir a entrada de água, o que gera desequilíbrio dos sais da pele. Essa alteração dos sais aciona as fibras nervosas dos dedos, causando a constrição dos vasos sanguíneos em volta dos dutos de suor. Isso, por sua vez, causa perda de volume na região carnosa da ponta do dedo, que puxa para baixo a pele da superfície que então se distorce, criando rugas.

O padrão das rugas depende da forma em que a camada mais exterior da pele — a epiderme — é fixada às camadas abaixo dela.

Também surgiram indicações de que as camadas externas da pele podem inchar um pouco para aumentar a formação de rugas. Mas, somente por osmose, nossa pele precisaria inchar em cerca de 20% para atingir as rugas que vemos os nossos dedos, o que as aumentaria de forma descomunal.

O que ocorre é que, quando as camadas superiores da pele ficam levemente inchadas e os níveis inferiores se contraem ao mesmo tempo, as rugas ficam pronunciadas com muito mais rapidez, segundo Pablo Saez Viñas, engenheiro de biomecânica da Universidade Técnica da Catalunha, na Espanha, que usou modelos computadorizados para examinar o mecanismo.

"Você precisa dos dois fatores para ter níveis normais de enrugamento", segundo ele. "Se você não tiver essa reação neurológica, como acontece em alguns indivíduos, as rugas não aparecem."

Mas, se o enrugamento é controlado pelos nossos nervos, isso significa que o nosso corpo reage ativamente à imersão em água.

"O que quer dizer que isso acontece por alguma razão", segundo Davis. "E que pode estar nos dando alguma vantagem."

'Pele dos nossos pés e mãos enruga-se e murcha durante banho, enquanto outras partes do corpo não passam pela mesma transformação'

Vantagem

Uma pergunta de um dos seus filhos na hora do banho — por que os dedos ficam enrugados — levou Davis a pesquisar recentemente qual poderia ser essa vantagem.

Com a ajuda de 500 voluntários que visitaram o Museu de Ciências de Londres em 2020, Davis mediu quanta força era necessária para que eles segurassem um objeto de plástico.

Talvez conforme o esperado, aqueles que estavam com as mãos secas e sem rugas precisaram usar menos força que as pessoas com as mãos molhadas - logo, sua aderência sobre o objeto era melhor.

Mas, quando eles mergulharam suas mãos na água por alguns minutos para que suas mãos ficassem enrugadas, a força de preensão necessária caiu entre os dois grupos, mesmo se as suas mãos ainda estivessem molhadas.

"O resultado foi surpreendentemente claro", explica Davis. "As rugas aumentaram a fricção entre os dedos e o objeto. O que foi particularmente interessante é que os nossos dedos são sensíveis a essa mudança da fricção superficial e nós usamos essa informação para aplicar menos força para segurar um objeto com segurança."

O objeto que os voluntários de Davis estavam segurando pesava menos que um par de moedas, de forma que a aderência necessária era pequena. Mas, para realizar tarefas mais difíceis em ambientes úmidos, essa diferença de fricção pode ganhar importância.

"Se você não precisa pressionar um objeto com tanta força para segurá-lo, os músculos das suas mãos ficam menos cansados e você pode segurar por mais tempo", explica ele.

Suas descobertas coincidem com as de outros pesquisadores que descobriram que o enrugamento das pontas dos nossos dedos facilita o manuseio de objetos molhados.

Em 2013, uma equipe de neurocientistas da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, pediu aos voluntários que transferissem bolas de gude de diversos tamanhos e pesos de pesca de um recipiente para outro. Em um dos casos, os objetos estavam secos e, no outro, eles estavam no fundo de um recipiente cheio de água.

Os participantes levaram 17% mais tempo para transferir os objetos submersos com dedos sem rugas que os objetos secos. Mas, quando seus dedos ficaram enrugados, eles conseguiram transferir as bolinhas e os pesos submersos 12% mais rápido que com seus dedos molhados e não enrugados. Interessante notar que não houve diferença na transferência dos objetos secos com dedos enrugados ou sem rugas.

Alguns cientistas sugeriram que as rugas nas pontas dos nossos dedos podem funcionar como as bandas de chuva dos pneus ou como as solas dos sapatos. Os canais produzidos pelas rugas ajudam a retirar a água do ponto de contato entre os dedos e o objeto.

Isso indica que os seres humanos podem ter evoluído para enrugar os dedos das mãos e dos pés em algum momento da história para nos ajudar a segurar objetos e andar sobre superfícies úmidas.

"Como as rugas parecem fornecer melhor aderência debaixo d'água, eu consideraria alguma relação com a locomoção em condições muito úmidas ou possivelmente com o manuseio de objetos debaixo d'água", afirma Tom Smulders, neurocientista evolutivo da Universidade de Newcastle, que liderou o estudo de 2013.

'Rugas causadas pela água podem ter dado a nossos ancestrais maior aderência para andar sobre pedras úmidas ou para coletar mariscos'

As rugas podem ter dado aos nossos ancestrais uma vantagem fundamental para andar sobre pedras molhadas ou segurar-se em galhos, por exemplo. Ou pode ter nos ajudado a pegar ou coletar alimentos como mariscos.

"No segundo caso, isso indicaria que é algo exclusivo dos seres humanos, mas, no primeiro caso, esperaríamos que isso acontecesse também em outros primatas", afirma Smulders.

Ainda não foi observado enrugamento dos dedos nos nossos parentes primatas mais próximos, como os chimpanzés, mas já se verificou que os dedos dos macacos-japoneses — conhecidos por ficarem por longos períodos na água quente — também ficam enrugados depois de submersos na água.

Mas a falta de evidências em outros primatas não significa que o enrugamento não acontece. Pode ser simplesmente que ninguém ainda tenha observado o suficiente, segundo Smulders. Na verdade, "nós ainda não sabemos a resposta a essa pergunta."

Existem outras indicações interessantes sobre quando essa adaptação pode ter aparecido na nossa espécie. O enrugamento da ponta dos dedos é menos pronunciado na água salgada e leva mais tempo para aparecer que na água doce, por exemplo.

Isso provavelmente acontece porque a variação do nível de sal entre a pele e o ambiente ao seu redor é menor na água salgada, de forma que o desequilíbrio de sal que aciona as fibras nervosas é menos acentuado. Por isso, essa adaptação pode ter ajudado nossos ancestrais a viver em ambientes de água doce e não ao longo do litoral.

Mas não há respostas definitivas e algumas pessoas acreditam que essa reação fisiológica pode ser apenas uma coincidência, sem função adaptativa.

Incógnitas

É estranho observar que existem outros mistérios em torno do enrugamento dos dedos. As mulheres levam mais tempo para desenvolver rugas nos dedos que os homens, por exemplo.

'Até agora, foi encontrado apenas um outro primata com dedos que ficam enrugados quando mergulhados na água: o macaco-japonês'

E qual o motivo exato que leva nossa pele a voltar ao seu estado normal depois de 10-20 minutos, se ter pontas dos dedos enrugadas não traz nenhuma desvantagem clara para a aderência dos dedos sobre objetos secos?

Se ter dedos enrugados pode aumentar nossa aderência em ambientes molhados, mas não nos prejudicam em ambientes secos, por que as pontas dos nossos dedos não ficam permanentemente enrugadas?

Um motivo pode ser a mudança de sensação causada pelo enrugamento. As pontas dos nossos dedos possuem muitas terminações nervosas e o enrugamento da pele altera a forma como sentimos os objetos que tocamos (embora um estudo tenha demonstrado que isso não afeta nossa capacidade de diferenciar objetos pelo toque).

"Algumas pessoas têm real aversão às rugas porque pegar algo com os dedos enrugados parece estranho", afirma Davis. "Pode ser devido ao equilíbrio dos receptores da pele, que mudaram de posição, mas pode também haver uma questão psicológica. Seria divertido investigar os motivos. Pode haver outras coisas que podemos não fazer tão bem com os dedos enrugados."

Mas o mais surpreendente é que o enrugamento dos dedos das mãos e dos pés na água pode também revelar informações fundamentais sobre a nossa saúde.

As rugas levam mais tempo para formar-se em pessoas com condições da pele como psoríase e vitiligo, por exemplo. Já pacientes com fibrose cística sofrem enrugamento excessivo das palmas da mãos e dos dedos, o que já chegou a ser observado em portadores genéticos da doença.

Pacientes que sofrem de diabete tipo 2, às vezes, também demonstram níveis sensivelmente reduzidos de enrugamento da pele quando suas mãos são colocadas na água. Reduções similares do enrugamento foram observadas em pessoas que sofreram parada cardíaca, talvez devido a alguma interrupção no controle do seu sistema cardiovascular.

O enrugamento assimétrico dos dedos — uma das mãos enruga-se menos que a outra no mesmo tempo de imersão — já foi até indicado como sinal precoce do mal de Parkinson, por indicar que o sistema nervoso simpático não está funcionando corretamente em um dos lados do corpo.

Tudo isso mostra que a questão sobre o motivo do enrugamento dos dedos na água permanece sem resposta, mas nossos dedos enrugados estão sendo úteis para os médicos em outras formas igualmente inusitadas.

BBC Brasil

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