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domingo, junho 05, 2022

China impõe silêncio no aniversário do massacre de 1989




Massacre da Praça da Paz Celestial completa 33 anos. Para evitar comemorações, segurança é reforçada nas ruas de Pequim e Hong Kong. Medidas na capital chinesa incluem dispositivos de reconhecimento facial.

O massacre da Praça da Paz Celestial completa 33 anos neste sábado (04/06), entre o silêncio habitual em Pequim e a proibição em Hong Kong da tradicional vigília comemorativa.

A China impediu qualquer tipo de celebração, impondo um reforço nas medidas de segurança em Pequim e advertências policiais contra reuniões em Hong Kong.

As autoridades comunistas fazem há mais de três décadas o possível para suprimir todas as memórias do ocorrido. Os livros de história não o mencionam e os comentários nas redes sociais sobre o assunto são censurados sistematicamente.

Na capital chinesa, a Praça da Paz Celestial amanheceu neste sábado sob um forte esquema de segurança, com dispositivos de reconhecimento facial nas ruas próximas e controles aleatórios dos passantes.

Hong Kong

Pelo terceiro ano consecutivo, os habitantes de Hong Kong não puderam se reunir no Victoria Park – que amanheceu completamente isolado – onde costumava ser realizada a maior comemoração do mundo deste evento histórico.

A presença policial ao redor do lugar já era visível desde a noite de sexta-feira, quando suas principais áreas foram interditadas até domingo, para impedir reuniões não autorizadas.

A forte presença da polícia incluiu saídas de metrô, ruas ao redor e o entorno de um conhecido shopping center próximo ao parque.

Os agentes de segurança checavam na manhã deste sábado a identificação de transeuntes e pediram às pessoas que tiravam fotos do lado de fora para deixarem o local.

Naquele 1989, muitas pessoas na então colônia britânica de Hong Kong apoiaram o movimento de protesto desencadeado em Pequim e, por 30 anos ininterruptos, realizaram uma vigília à luz de velas no parque, para homenagear as vítimas da sangrenta repressão e pedir mecanismos democráticos na China.

Mesmo após a entrega da soberania ao país asiático em 1997, Hong Kong ainda conseguiu sediar o evento histórico em virtude de seu status semiautônomo que o distingue do resto da China continental.

Todos os anos, milhares de pessoas participavam da vigília, até que em 2020 e 2021 a polícia de Hong Kong a proibiu, citando a pandemia como pretexto, algo que não impediu que alguns ativistas desafiassem o veto e aparecessem no parque, sendo posteriormente presos.

"Preocupações sanitárias"

Este ano, a polícia de Hong Kong invocou mais uma vez "preocupações sanitárias" em relação à covid-19 para cancelar o evento, mas também enfatizou que "algumas pessoas têm usado as redes sociais para espalhar discurso de ódio contra o governo" e "incitar as pessoas a virem o parque para participar de reuniões não autorizadas.

Desde quinta-feira, o órgão vem alertando a população para não ultrapassar "limites” sob o risco de infringir a lei.

Além disso, pela primeira vez desde 1990, nenhuma organização de Hong Kong pediu às autoridades que autorizassem o evento comemorativo: o grupo civil que o convocava todos os anos foi dissolvido por pressão das autoridades, e muitos de seus membros estão presos por diferentes motivos.

E as igrejas católicas da cidade também tomaram a decisão sem precedentes de não celebrar sua missa anual pelas vítimas do massacre.

Deutsche Welle

O projeto liberal na encruzilhada




O novo livro de Fukuyama é uma bem articulada defesa do projeto liberal. E deixa um aviso realista: o liberalismo é necessário porque as nossas democracias liberais nunca foram tão culturalmente diversas. 

Por Francisco Carmo Garcia (foto)

Livro: Recensão do Liberalism and Its Discontents, de Francis Fukuyama (Londres: ProfileBooks, 2022); edição portuguesa da Dom Quixote

O debate sobre a «crise das democracias liberais» tem ecoado no espaço público ao longo dos últimos anos, alimentado pelos acontecimentos que não teimam em parar e que parecem colocar em causa os princípios das sociedades ocidentais que damos por garantidos – desde os ataques mais variados à ordem liberal internacional, a polarização política testemunhada nos maiores países ocidentais, o crescimento do «momento populista», ao aparente «retrocesso» das democracias perante o crescimento autocrático e, enfim, à invasão russa a Ucrânia. Foi principalmente o crescimento exponencial do desafio populista ao demo-liberalismo que colocou em sentinela praticamente todo o complexo institucional do Ocidente: de centros de investigação e observatórios, a órgãos de comunicação social, aos intelectuais da praça pública, etc, todos estes estão permanentemente em estado de alerta após as inesperadas vitórias de Donald Trump nos EUA e do Leave no referendo britânico em 2016, de tal forma que se tornou um lugar-comum dos nossos tempos considerar-se o populismo – esse significante vazio do século XXI, como pertinentemente refere Alexandre Franco de Sá no seu oportuno livro sobre o tema – como uma causa, senão a principal causa, da actual crise das democracias liberais. Ao mesmo tempo em que o discurso mediático tomou esta forma, a sociedade liberal que saiu vitoriosa do seu embate contra o comunismo soviético tem sido alvo de uma crítica intelectual mais profunda. Basta recordar a última exortação de Chantal Mouffe por um populismo de esquerda ou a crítica conservadora desenvolvida no Why Liberalism Failed de Patrick Deneen.

Foi perante este pano de fundo, para revisitar a génese, os objectivos e o alcance do projecto liberal perante os desafios colocados tanto à esquerda como à direita, que Francis Fukuyama lançou o seu novo Liberalim and Its Discontents, também já traduzido em português pela editora D. Quixote. O leitor é logo avisado no primeiro parágrafo do prefácio sobre o que deve esperar: diz Fukuyama que acredita «que o liberalismo está hoje sob uma severa ameaça em todo o mundo; enquanto foi outrora dado como garantido, as suas virtudes precisam de ser claramente articuladas e celebradas uma vez mais». O leitor deve esperar, portanto, uma revisitação e articulação dos principais traços do projecto liberal. Um projecto porque encontramos no liberalismo muito mais do que uma simples ideologia monopolizada por uma facção que toma parte no debate político num determinado momento histórico: o projecto liberal é o próprio movimento moderno, o advento do mundo moderno, e partiu de um gigantesco trabalho teórico que se debruçou ao longo dos últimos séculos. Podemos descrevê-lo tal como o fez Pierre Manent, como a «revolução dos direitos do homem».

Esta descrição não é desleal à exposição de Fukuyama. Diz Fukuyama no primeiro capítulo que por liberalismo não se refere à forma como o termo é hoje utilizado na política norte-americana (centro-esquerda), nem como é usado no continente europeu, ligado a «partidos cépticos face ao socialismo», nem como «libertarismo», «uma peculiar doutrina baseada na hostilidade ao governo», mas sim como a «doutrina que emergiu primeiro no século XVII que argumentou a favor da limitação dos poderes do governo através da lei». O liberalismo é assim uma doutrina «big tent» que abrange várias posições políticas que concordam na relevância estrutural dos «direitos individuais, da lei, e da liberdade». Muito certeiramente o autor identifica como os primeiros teóricos liberais os ingleses Thomas Hobbes e John Locke, duas figuras cimeiras no desenvolvimento do concepção moderna dos direitos naturais estritamente individuais e subjectivos. Foi assim, nos principais debates intelectuais do fervoroso século XVII, que surgiram os fundamentos teóricos da doutrina liberal.

No entanto, como Fukuyama deixa implícito, pela forma como elenca enquanto primeira «justificação essencial» para a sociedade liberal a proeza prática do liberalismo em garantir a regulação da violência e a coexistência pacífica em grandes sociedades, política, religiosa e culturalmente diversas, o liberalismo é antes de mais uma solução para o problema político da ordem; esse foi o problema cimeiro no período turbulento da vida europeia que antecedeu a emergência da doutrina liberal, alimentado pela violência despoletada pela reforma protestante e pela consequente divisão religiosa que dela surgiu. Foi na Inglaterra que este problema teológico-político atingiu um nível excessivo de violência – com o deflagrar de uma sangrenta guerra civil que culminou na decapitação do monarca Carlos I. Hobbes viveu esta época no exílio e procurou a sua solução política, encontrada na edificação do moderníssimo Estado soberano. Estado e soberania surgem como os conceitos fundamentais através dos quais foi encontrada a solução para o problema da ordem. No seu recente livro sobre a soberania, ao abordar o desenvolvimento deste conceito moderno, Miguel Morgado afirmou que a soberania teve como tarefa a «federação da diversidade»: a soberania surgia como o mecanismo que imprimiu ordem em sociedades caracterizadas pela diversidade de concepções de bens humanos. No mesmo sentido, Fukuyama diz que o «liberalismo clássico pode portanto ser entendido como uma solução institucional para o problema de governar sobre a diversidade, ou, colocando em diferentes termos, de gerir a diversidade em sociedades pluralistas». Ora, tendo sido o Estado soberano a primeira solução para este problema do controlo da diversidade, os conceitos de Estado e de soberania são indissociáveis do desenvolvimento liberal da concepção moderna dos direitos naturais, e é por isso estranho o silêncio de Fukuyama sobre um conceito tão relevante como a soberania.

Foi através da soberania que o projecto liberal conseguiu tirar de cena o grande factor de desordem: a questão das finalidades da acção humana, do melhor regime político e, em suma, da melhor vida para o homem. Fukuyama está perfeitamente ciente disto e há décadas que escreve sobre esta primeira tarefa do liberalismo – o projecto liberal «baixa a temperatura da política tirando as questões sobre os fins últimos de cima da mesa»; elas são privatizadas, canalizadas para a esfera estritamente privada e individual da existência humana. É neste momento que nos deparamos com outro silêncio ensurdecedor desta pequena obra, em torno de outro conceito inseparável da soberania e do Estado, e que seria indispensável para compreender as nossas sociedades liberais: o conceito de representação política. Aquela privatização das finalidades da vida humana – diríamos, hoje, dos «valores» – só pode ser compreendida perante o pano de fundo da emergência de uma dimensão privada da existência humana, contraposta directamente a uma dimensão pública delimitada o mais minuciosamente possível. A representação política surge como o mecanismo que permitiu a ligação entre estas duas dimensões: entre os domínios privado e público, divisão essencial para a filosofia política liberal e para as sociedades liberais.

Não obstante a omissão de conceitos tão relevantes quanto estes para a história intelectual do liberalismo, com certeza justificados pelo tamanho e objectivos da obra, guiados por uma escrita que deixa de lado pesados hermetismos, a génese do projecto é apropriadamente exposta para o leitor atento. O desenvolvimento do liberalismo está assim intimamente ligado à edificação do Estado soberano, e posteriormente a doutrina liberal seria a principal responsável pela domesticação e pelo controlo desse mesmo Estado soberano. Neste processo surgem os outros dois fundamentos da sociedade liberal: a protecção da «dignidade humana» através da garantia da autonomia individual, e a sua ligação ao crescimento económico e à «modernização». O primeiro destes dois fundamentos ulteriores iria fazer com que a filosofia política liberal, após concluída a sua primeira tarefa de solucionar o problema da ordem, transformasse o principal problema político na relação entre o indivíduo e o Estado; e o segundo procuraria encontrar no mercado a principal arena da existência humana, especialmente capaz de canalizar para ela os impulsos agressivos e competitivos do género humano. Ambos estes fundamentos e os seus corolários seriam o princípio das críticas iliberais às quais Fukuyama tenta responder.

Segundo o autor norte-americano, os problemas que assolaram o projecto liberal nas últimas décadas e que conduziram ao advento posterior do momento populista derivam da forma como aqueles princípios foram levados ao extremo: o liberalismo «tem visto os seus princípios fundamentais levados ao extremo» tanto à direita como à esquerda, até ao ponto em que «esses mesmos princípios ficaram fragilizados». Entre os capítulos dois e seis, a revisitação do projecto liberal passa então para uma crítica aos seus excessos que marcaram as últimas décadas do século XX. De um lado, a crítica direcciona-se para o «neoliberalismo» – que Fukuyama descreve «propriamente» como a «escola de pensamento económico frequentemente associada com a Universidade de Chicago ou o Escola Austríaca» -, e do outro para a expansão aparentemente indefinida e ilimitada da esfera de autonomia individual. O primeiro teria transformado as sociedades liberais em «sociedades de mercado», nas quais todas as dimensões da existência humana foram tomadas pela lógica contratual do mercado; o segundo teria levado a autonomia individual a atingir um grau de extensão tão insustentável que colocaria em causa a coesão social.

O leitor fica a pensar que estas duas manifestações extremas dos fundamentos do liberalismo são uma imprudente adulteração do projecto liberal. No entanto, a questão é mais complexa: não poderão ser eles próprios uma consequência necessária dos pressupostos intelectuais do liberalismo? Os críticos do projecto liberal, principalmente os mais conservadores, têm sublinhado esta possibilidade. Mas não se fica por aqui. Tal como Fukuyama explica, as sociedades liberais, para justificarem os seus fundamentos, não conseguem deixar de se explicar sem fazer uma alusão ao contratualismo que permitiu que elas nascessem: as sociedades liberais, que são associações de indivíduos, têm por base a antropologia individualista que transformou o homem histórica e culturalmente situado, leal a uma religião, a uma cidade, ou a um clã, no indivíduo abstracto, despido da sua condição histórica, apenas constituído como um sujeito que carrega direitos individuais; e, porque fundamentado nesta antropologia individualista, o liberalismo não consegue escapar à necessária artificialidade de todo o arranjo político, não consegue deixar de fazer da cidade uma construção da vontade desses mesmos indivíduos portadores de direitos. E não é assim na nossa experiência democrática? A separação entre sociedade civil e Estado mostra-nos isso mesmo – a sociedade civil surge como uma perpetuação do estado de natureza imaginado nos primeiros momentos da filosofia política liberal, como condição natural do homem regulada pelo poder público voluntariamente constituído pelos indivíduos que interagem pacificamente nesse espaço.

Ora, se a própria lógica contratualista é inescapável ao desenvolvimento do liberalismo, não nos deve surpreender que ela se dissemine para todas as dimensões da existência humana. Foi neste sentido que Marx, descrevendo os efeitos do capitalismo, afirmou peremptoriamente que a sociedade burguesa transformava o sacerdote e o cavaleiro medieval – dois símbolos de uma sociedade pré-contratual – em meros assalariados.

Ao mesmo tempo que a lógica contratual, fundadora das sociedades liberais, se dissemina, dá-se também a progressiva expansão da esfera da autonomia individual. Os membros daquele contrato originário não são necessariamente crentes de uma religião particular, nem cidadãos de uma determinada comunidade política – são apenas indivíduos, tão soberanos na sua condição pré-estatal quanto o Estado depois é soberano na sua condição civil. Estes próprios indivíduos são a razão por que o Estado é edificado: é a sua vontade que o constrói. Com efeito, é também neste momento do século XVII em que começa a germinar a doutrina liberal que se dá uma brutal transformação no entendimento da liberdade. Enquanto até então esta era associada a uma manifestação do livre-arbítrio – ou seja, a uma capacidade intrinsecamente humana de escolher o bem em detrimento do mal, em procurar os ditames da justiça, e por isso sempre dependente de uma natureza que determinaria os critérios do uso desta qualidade humana –, as teorias modernas da liberdade reduziram esta a um exercício não obstaculizado da vontade – ou seja, à concretização não obstruída da vontade humana, dissociada das considerações anteriores sobre a justiça e o bem, e por isso desligadas de quaisquer critérios que pudessem guiar a acção humana. O século XVII cria a liberdade negativa propriamente dita – uma liberdade sem critérios. Um salto histórico levaria a liberdade moderna à expansão indefinida da autonomia individual sempre transformadora.

É perante este pano de fundo que devemos compreender a crítica de Fukuyama aos excessos do liberalismo, porque ela deve ser naturalmente colocada diante dos fundamentos do projecto liberal. Foi neste sentido que Deneen apontou que as políticas implementadas com maior sucesso nas últimas décadas compreenderam as duas dimensões da liberalização económica e da libertação sexual. E é também desta forma que Jean-Claude Michea controversamente explica que uma «cultura de esquerda» está em casa numa «economia de direita». Aqueles dois excessos do projecto liberal parecem assim associar-se umbilicalmente: são ambos manifestações do mundo «fluido» ou «líquido», onde esta liquidez pode ser encontrada em praticamente todas as dimensões da existência humana, hoje vivida por intermédio de apps – que abrangem uma variedade inimaginável de actividades, desde compras e transportes a dates e redes sociais – que levam ao extremo a lógica contratual das sociedades liberais, libertando o indivíduo atomizado dos vínculos interpessoais que ainda o poderiam constranger no seu dia-a-dia. Cada vez estamos mais parecidos com o indivíduo abstracto e atomizado do estado de natureza seiscentista – ou com as personagens das obras de Michel Houellebecq.

Fukuyama está certo quando atribui a estes excessos liberais a culpa da ascensão das várias críticas que têm surgido aos próprios princípios do projecto liberal. É a estas críticas que o autor tenta responder (cap. 8), atirando-lhes o ónus da prova quando lhes pergunta directamente por uma alternativa realista ao projecto liberal. Duas críticas do liberalismo são de importância, e ambas feitas à direita: a de Deneen, que já mencionámos, e a de Adrian Vermeule, um professor de direito de Harvard que lançou este ano um polémico livro chamado Common Good Constitutionalism, onde procura recuperar a «tradição clássica do ius commune» e substituir as leituras liberais e originalistas da constituição americana. Em ambas estas críticas do projecto liberal há uma inquietação subjacente que as une e que dá forma ao seu argumento: a erosão do sentido de comunidade, ameaçado precisamente por aqueles dois princípios liberais que foram levados ao extremo. Fukuyama chega a dizer que esta crítica conservadora, de que «as sociedades liberais não fornecem nenhum horizonte moral comum forte o suficiente em torno do qual possa ser construída a comunidade», é verdadeira; no entanto, não apresentam para o autor uma alternativa realista que possa substituir o projecto liberal. Isto é certamente verdade, mas não podemos deixar de levar a sério aquela inquietação que move as críticas «iliberais».

O autor tenta recuperar a discussão sobre o sentido de comunidade no capítulo seguinte (cap. 9), onde aborda a identidade nacional. Esta constitui sempre um tópico difícil para o liberalismo, que tem «grandes dificuldades em desenhar limites claros em torno da sua comunidade». O universalismo liberal contribui para essa condição, e o típico liberal facilmente se vê como um «cidadão do mundo» em detrimento da sua cidadania nacional. Fukuyama recupera a necessidade do Estado-Nação contra essa concepção abstracta e materialmente fraca de uma cidadania global. Mas, apesar desta defesa do Estado-Nação como principal unidade política, é precisamente neste momento que nos deparamos com a crónica incapacidade do autor em ultrapassar o horizonte liberal – incapacidade que acaba por enfraquecer a própria defesa do projecto liberal, que deve, como observadores como Tocqueville observaram, procurar fundamentos pré-liberais que possam contrabalançar os seus excessos.

A defesa do Estado-Nação é feita em dois sentidos. Em primeiro, porque é no Estado-Nação onde ainda encontramos a capacidade de exercício do poder político – ou seja, a nação é ainda a unidade soberana capaz de decidir a excepção, como diria Carl Schmitt. O Estado-Nação é assim o elemento mais capaz de solucionar o problema primeiro da política moderna, o problema da ordem. Em segundo, porque a nação é uma «fonte singular de comunidade». É uma fonte de lealdade, essencial para garantir a legitimidade governativa do Estado – e, portanto, apenas instrumental para garantir o funcionamento do Estado liberal. Neste caso, percebemos que Fukuyama defende a identidade nacional quando esta não entra em conflito com o projecto liberal. O sentido de comunidade é relevante para fundamentar a construção de um Estado liberal, e para garantir, por consequência, o funcionamento das instituições liberais; o sentimento nacional é, pois, um instrumento que pode ser usado pelo político liberal – e quando este não é necessário, ou principalmente quando é problemático, pode ser ignorado. Ora, é neste momento que compreendemos que Fukuyama não consegue ultrapassar o horizonte liberal – e portanto o horizonte do pensamento político moderno – quando se propõe pensar o actual momento do projecto liberal. A nação não é apenas uma construção, sendo certo que o foi em vários casos, e em especial nas últimas vagas nacionalistas terceiro-mundistas; a nação pode corresponder, antes de mais, a uma sociabilidade pré-política que ultrapassa a construção e o funcionamento do Estado. A esta sociabilidade pré-política, que demonstra a realidade da vida de um determinado povo, corresponderia uma independência historicamente situada, cuja sobrevivência no decurso da História torna-se o primeiro imperativo político. Da sociabilidade pré-política de um «povo nacional» emana um direito de continuidade histórica que deve ser incorporado pelos governantes – e certamente pode ser também incorporado pelo governante liberal.

Uma defesa da nação que ultrapasse o horizonte liberal recuperaria o postulado aristotélico do homem como animal político e por isso a sua sociabilidade natural, e a imagem da nação como principal unidade desta sua sociabilidade natural – como unidade que garante a existência de uma cidadania que tem forçosamente de ter sempre um sentido particular e situado, e que concretiza, num mundo globalizado, a ligação entre o particular e o universal. Assim, a nação constituiria a fonte do sentido de comunidade imperioso para evitar os excessos do liberalismo, e o fundamento de uma cidadania que sempre foi deliberadamente evitada desde o século originário da doutrina liberal. Fukuyama não tenta este caminho.

Ainda assim, este pequeno livro de Fukuyama é uma justa e bem articulada defesa do projecto liberal, que recapitula os principais objectivos da visão liberal, não deixando de reconhecer os seus erros e excessos, e reconhecendo nos seus críticos e descontentes várias razões plausíveis para criticar as sociedades liberais. E deixa um aviso realista, até inescapável para as sociedades ocidentais dos nossos tempos: o liberalismo é preciso porque as nossas democracias liberais nunca foram tão culturalmente diversas. Mas não é certamente suficiente. Pensar o futuro deste liberalismo exige ultrapassar o seu próprio horizonte histórico e intelectual. Sem fazê-lo, sem compreender a tradição que o liberalismo recusou e deixou para trás, nunca poderemos evitar os excessos que conduziram aos descontentamentos presentes. Precisamos, por isso, mais de Aristóteles do que precisamos de Locke e dos seus sucessores. Neste aspecto, apesar de elucidativo enquanto revisitação da tradição liberal, o livro de Fukuyama deixa o projecto liberal na mesma encruzilhada onde se encontra desde a ilusão do «fim da História».

Observador (PT)

Promotores europeus unem forças para levar justiça à Ucrânia




De Kiev a Haia, passando por jurisdições nacionais: cooperação jurídica entre diferentes tribunais visa colocar líderes russos no banco dos réus por crimes de guerra e outras agressões cometidas na Ucrânia.

Por Teri Schultz

Mais de 100 dias de conflito. Mais de 15 mil supostos crimes de guerra, com centenas de outros possivelmente sendo cometidos todos os dias. E para Iryna Venediktova, "todos sabem quem é o responsável por essa guerra, por essas mortes, por tudo que está acontecendo na Ucrânia".

"Foi o presidente da Federação Russa e seu gabinete quem de fato começou essa guerra, para matar civis, estuprar civis, torturar civis", disse a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral da Ucrânia, em entrevista à DW.

Dia após dia, Venediktova acumula mais recursos para levar à Justiça esses oficiais que ela acusa, em nome de toda a humanidade, segundo ela própria diz.

"É o principal objetivo de todo o mundo civilizado, de todas as pessoas que falam sobre Estado de direito, sobre justiça, sobre direito internacional, que as pessoas responsáveis pela morte de outras pessoas, pelo crime de agressão, por invadir um país vizinho e tomar a terra e matar seu povo, sejam punidas de verdade", afirmou a procuradora-geral.

Esse é também o objetivo de uma nova Equipe de Investigação Conjunta (JIT, na sigla em inglês), sediada em Haia, na Holanda, com a coordenação e o financiamento da Eurojust, agência de cooperação judiciária da União Europeia (UE), bem como a participação do Tribunal Penal Internacional (TPI) e um número crescente de governos individuais, que planejam perseguir casos sob o princípio legal conhecido como "jurisdição universal".

O presidente da Eurojust, Ladislav Hamran, afirmou que essa se tornará a maior operação desse tipo já criada. "Nunca na história dos conflitos armados a comunidade jurídica respondeu com tanta determinação", disse ele a repórteres nesta semana.

Cooperação jurídica internacional

O procurador-chefe do TPI, Karim Khan, afirmou que o esforço conjunto pode se tornar um modelo para outras investigações internacionais.

"Acho que é isso que é necessário para crimes da magnitude que vemos com frequência no TPI. Precisamos construir parcerias", disse Khan a repórteres. "Não há dicotomia entre cooperação e independência. Cooperação não significa competição. Colaboração não significa disputar a independência. Temos que dar as mãos pelo interesse comum da humanidade, como autoridades da corte."

Uma das formas significativas de a Equipe de Investigação Conjunta tentar agilizar e auxiliar os processos judiciais é por meio da centralização do armazenamento de provas na Eurojust, sejam provas colhidas por especialistas na Ucrânia ou em qualquer outra jurisdição.

A Eurojust fornecerá assistência tecnológica à equipe para a recolha de dados sobre crimes de guerra, bem como oferecerá intérpretes e tradutores para os grupos de investigação.

"Vamos garantir que tudo o que for coletado no âmbito dessa Equipe de Investigação Conjunta seja realmente compartilhável com todas as partes envolvidas", disse Hamran, da Eurojust, acrescentando que isso ocorrerá rapidamente e sem a necessidade de solicitações formais e demoradas.

Agir contra a agressão

Mas mesmo com uma cooperação aprimorada, os casos envolvendo crimes de guerra, como os de homicídio ou especialmente de genocídio, geralmente levam anos para serem julgados devido ao ônus da prova extremamente alto.

A advogada de direitos humanos Lotte Leicht sugere haver um caminho mais rápido para a justiça: apostar no crime de "agressão", que processa aqueles que estão no poder por tomarem a decisão de atacar, em vez de aqueles que cumpriram a ordem.

"[Agressão] não é um crime em que você precisa provar que crimes de guerra estão realmente sendo cometidos", explica Leicht. "O próprio fato de você ter lançado a guerra ilegalmente contra outro país já é suficiente. É um crime muito mais fácil de provar e é muito mais direto em termos de quem é o responsável, porque foi anunciado publicamente na televisão [pelo presidente russo, Vladimir Putin]. Não é segredo quem carimbou [a decisão], não é segredo quem são os principais generais que agora a executam."

Segundo a advogada, "cada bomba, cada bombardeio, cada tanque russo" na Ucrânia se qualifica como crime de agressão.

A Ucrânia também poderia julgar esses casos, afirma Leicht, mas a lei proíbe abrir processos contra autoridades atualmente no cargo. Isso significa que outro tribunal internacional deve ser criado para lidar com esses casos, semelhante aos Tribunais de Nurembergue após a Segunda Guerra Mundial, que julgaram os líderes nazistas.

Leicht diz acreditar que isso provavelmente acontecerá sob os auspícios do principal órgão de direitos humanos da Europa, o Conselho da Europa. A Irlanda, atual presidente do conselho, expressou a intenção de criar tal tribunal antes de seu mandato terminar em novembro.

"Queremos responsabilização"

Toda essa cooperação deve fazer com que os membros do Kremlin comecem a ficar um pouco preocupados, afirma a advogada de direitos humanos.

"Quem sempre contou com a impunidade, por crimes muito graves, incluindo o crime de agressão, deveria olhar para a história", diz. "Aqueles que fizeram exatamente os mesmos cálculos na Europa – Milosevic, Karadzic, Mladic – estavam errados. Eles acabaram no tribunal." Leicht se referia a Slobodan Milosevic, Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que enfrentaram acusações relativas a crimes perpetrados pelas forças sérvias durante a guerra na Bósnia.

Na última terça-feira em Haia, ao lado dos principais promotores da Lituânia e do TPI, Iryna Venediktova expressou esperança de que também assim terminarão suas batalhas legais.

"Sinto, confio e espero que, com meus colegas internacionais, com a comunidade internacional de advogados, nós possamos falar sobre justiça", disse a procuradora-geral ucraniana. "Precisamos de justiça. Queremos responsabilização."

Deutsche Welle

O projeto de Nação e o labirinto visto de cima




Por José Eduardo Faria* (foto)

Deixada de lado desde o advento da globalização dos mercados entre o final do século 20 e o início do século 21, período em que a ideia de governo inerente ao Estado keynesiano foi substituída pela ideia de governança subjacente ao Estado liberal, a expressão “projeto de nação” foi recolocada novamente na agenda por duas iniciativas colidentes entre si.

A primeira iniciativa tem origem nos meios militares — mais precisamente, do grupo que apoia o governo Jair Bolsonaro e acredita, de alguma forma, se manterá no poder até 2035. Ela foi tomada pelo Instituto General Villas Bôas, criado pelo grupo do general Eduardo Villas Bôas, que foi o comandante do Exército entre 2015 e 2019, em parceria com o Instituto Federalista e o Instituto Sagres — Políticas e Gestão Estratégica Aplicadas. Com o título Projeto de Nação, coordenado por um general e revisado por três militares, dois embaixadores e dois professores, ele apresenta um cenário prospectivo do país até 2035, a partir de seis perspectivas: “temas estratégicos e incertezas críticas, consultas áugures (especialistas e outros públicos), cenários prospectivos, “cenário foco”, objetivos nacionais (políticos), diretrizes político-estratégicas e óbices”.

A segunda iniciativa foi tomada por dois economistas, Fabio Giambiagi e Ricardo de Menezes Barboza, que aproveitaram a comemoração dos 70 anos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para lançar um livro no qual técnicos de carreira de diferentes áreas decidiram apresentar uma agenda econômica e socioambiental. Com o título Labirinto visto de cima — saídas para o desenvolvimento do Brasil e publicado pela Editora Lux, a obra foi redigida por especialistas que analisaram a transição de uma economia fechada rumo a uma economia mais integrada ao mundo, porém com baixo crescimento ao longo das últimas décadas e incapaz de aproveitar todo seu potencial de desenvolvimento.

O lançamento desses dois trabalhos às vésperas do início da campanha presidencial certamente balizará as discussões e as propostas de alguns candidatos ao Palácio do Planalto. Seu denominador comum é a identificação e análise dos gargalos estruturais que têm impedido o Brasil de sair do labirinto em que se encontra e a apresentação de propostas para removê-los. Evidentemente, as duas iniciativas refletem o ethos das corporações a que seus autores pertencem. Enquanto a primeira expressa o viés estamental dos militares, especialmente do Exército, a segunda apresenta o pensamento das novas gerações de profissionais do desenvolvimento lotados num órgão de excelência da administração pública, como é o caso o BNDES.

Se o ponto comum dos dois trabalhos é a ideia de um “projeto de Nação”, mencionada expressamente no primeiro e subentendida no segundo, no restante só há divergências. A começar pelo fato de que, enquanto um trabalho prima por seu rigor técnico e sólida fundamentação, o outro é inteiramente comprometido por uma visão de mundo ideologizada e limitada — uma visão nacionalista e fortemente autoritária, que condiciona a transformação do país à “revitalização dos valores morais, éticos e do civismo”, ao fortalecimento do “sentimento de Pátria”, ao “combate à revolução cultural”, à “promoção do sentimento coletivo de Nação” e à “valorização dos vultos históricos do Brasil, sem viés ideológico, a fim de resgatar a identidade nacional”. Por isso, a distância entre as duas iniciativas é abissal.

Embora toque em pontos importantes para o desenvolvimento socioeconômico, o primeiro trabalho não só carece de objetividade, precisão técnica e propostas sofisticadas, como também não consegue deixar de lado o mantra da denúncia da “ideologização nociva”, ao mesmo tempo em que propõe como alternativa visões ingênuas, simplórias e distorcidas da realidade atual. Por exemplo, enquanto o livro dos técnicos do BNDES chama atenção para a necessidade de iniciativas voltadas à ampliação da exposição da economia brasileira à abertura do comércio internacional, o documento dos militares, explicitando o nacionalismo de cartilha de seus autores, opõe-se a um fato concreto — a globalização dos mercados de bens, serviços e finanças, acelerada após a crise do petróleo na década de 1970.

“O globalismo é um movimento internacionalista cujo objetivo é massificar a humanidade, progressivamente, para dominá-la; [para] determinar, dirigir e controlar tanto as relações internacionais quanto as dos cidadãos entre si”. “No centro do movimento está a Elite Financeira Mundial, ator não estatal constituído por megainvestidores, bancos transnacionais e outros entes megacapitalistas […]. O argumento central do globalismo é de que lidar com problemas cada vez mais complexos, como crises econômicas, proteção do meio ambiente, direitos humanos e outros, requer um processo centralizado de tomada de decisões em nível mundial. É comum a Elite cooptar, aliar-se ou se alinhar com potências mundiais, organismos internacionais e ONGs […]”. No Brasil, “é visível a união de esforços entre determinadas entidades nacionais e o movimento globalista, inclusive com o apoio de relevantes atores internacionais, visando a interferir nas decisões de governantes e legisladores, especialmente em pautas destinadas a conceder benesses a determinadas minorias, em detrimento da maioria da população, a exercer ingerência em nosso desenvolvimento econômico,  usando pautas ambientalistas a reboque de seus interesses e não pela necessária preservação da natureza, e a provocar crises que enfraquecem a Nação em    sua busca pelo desenvolvimento”.

Entre outras afirmações inverossímeis, o documento afirma que, em sua “face mais sofisticada”, o globalismo deflagrou o “ativismo judicial político-partidário”, levando parte do Judiciário, do Ministério Público e das Defensorias Públicas a atuarem “sob um prisma exclusivamente ideológico, reinterpretando e agredindo o arcabouço legal vigente, a começar pela Constituição brasileira”. Essa é uma posição de quem desconhece o funcionamento do Judiciário, não acompanhou as mudanças do direito contemporâneo, não sabe que a interpretação de uma lei não é uma atividade mecânica e ignora as técnicas mais elementares de hermenêutica jurídica[1].

Problema semelhante também pode ser visto no capítulo do documento relativo à educação. Os técnicos do BNDES apontam a importância de investimento em capital humano, por meio de uma reforma educacional capaz de melhorar as condições de chegada das novas gerações ao mercado de trabalho formal. Ao beneficiar jovens dos setores mais desfavorecidos da sociedade, um ensino público de qualidade reduziria desigualdades sociais gritantes, classificadas pelos autores como “uma chaga moral da sociedade” brasileira. Já o documento dos militares, entre outras platitudes, como a proposta de melhorar “as técnicas pedagógicas de emprego de recursos tecnológicos”, fala em “aperfeiçoar a formação profissional, ética e cívica dos docentes”, em “coibir a ideologização nociva do ensino” e desprezar “propósitos de ideologias de qualquer natureza”. Em que medida essa linha programática não é, ela própria, uma ideologia autoritária, avessa à pluralidade valorativa que deve nortear o sistema de ensino? No caso do ensino superior, além disso, esse pessoal se esquece de que, por princípio, a universidade não deve ser voltada apenas para a tarefa de produzir profissionais destinados a exercer tarefas específicas, limitadas pela própria especialização, nem converter a ciência em força produtiva. Pelo contrário, por ser um centro de formação, de produção do conhecimento, de geração de cultura e de liberdade de criação, com capacidade de colocara e equacionar problemas, ela deve ser livre, laica e independente. Seu papel é articular saberes, desenvolver pensamento crítico, forjar lideranças intelectuais e, acima de tudo, descortinar horizontes — em vez de encurtá-los ou até de fechá-los.

Em seu livro, os técnicos dessa ilha de racionalidade, que é o BNDES, apontam medidas para melhorar a qualidade dos gastos públicos. Entre os problemas relativos à má qualidade dos gastos públicos está a corrupção. Sobre este tema, o trabalho dos militares afirma, mais uma vez, que a maneira de combatê-la é… “coibir a pregação ideológica radical nos três níveis da educação”, reduzindo a corrupção e a improbidade na administração pública a uma simples questão ideológica. Para assegurar a retomada do crescimento, os técnicos do BNDES também propõem “uma nova construção política” com base em quatro itens: alterar a regra do teto de gastos; promover um aumento “modesto” da carga tributária; formular “uma política social inteligente e adequadamente dosada”, por meio de programas para beneficiar trabalhadores informais; e medidas de ajuste para reforçar a austeridade fiscal. Um pacto com esses objetivos só pode ser obtido por meio de amplo diálogo com todos os setores sociais, baseado nas regras democráticas e no respeito às prerrogativas do Legislativo.

Neste ponto, o documento dos militares parece avesso a esse diálogo amplo. O texto parte da premissa de que é preciso “fortalecer a democracia por meio de reformas institucionais que saneiem as disfuncionalidades do Estado, neutralizem a corrupção, o poder de ideologias radicais de qualquer natureza e valorizem o civismo”. Propõe o aperfeiçoamento dos sistemas político e jurídico, a fim de que a “a liberdade” possa ser “exercida com responsabilidade”, sem, contudo, explicitar quem é que define o que é responsabilidade. Defende a neutralização do “poder político e social das correntes de pensamento radical, sectárias, não democráticas, que dividem a Nação”. Afirma que a percepção de liberdade no país está sendo “confundida com liberalidade e sem cidadania e espírito cívico”. Diz que o “sistema jurídico” está submisso a lideranças corrompidas, motivo pelo “não garante leis iguais para todos e permite que elas sejam manipuladas por grupos poderosos”. Aponta como óbice para a democracia a “falta de lideranças atuantes e de movimentos sociais organizados que contribuam […] para que a grande maioria da população adepta da liberdade econômica com responsabilidade social e conservadora evolucionista, faça valer sua vontade e seu pensamento político”, desqualificando assim os demais movimentos sociais como interlocutores. E, de modo obsessivo, volta a tratar como problemas a “revolução cultural que vem comprometendo a coesão nacional” e o “enfraquecimento do sentimento de Pátria e de Nação, com tendência à divisão da sociedade, pela crescente submissão dos interesses da coletividade nacional aos que atendem aos anseios de grupos minoritários”.

São afirmações perigosas. De um lado, porque são retrógradas, desprezando o pluralismo do mundo contemporâneo. Se ficasse fora dessa revolução cultural, o Brasil seria um país isolado, como uma Coreia do Norte. De outro lado, porque essas afirmações justificam a tutela da sociedade por um estamento que se arvora, sem legitimidade, em uma autoridade moderadora acima das instituições democráticas. Esse pessoal se esquece de que a República brasileira é fruto de um golpe militar, origem que viciou o regime político-democrático desde seu início. Como lembra José Murilo de Carvalho, aquela “intervenção militar tornou-se um modelo, quase uma norma recorrente ao longo da República. Esta origem criou entre os militares a ideia de que eles são os pais da República. Que eles são os responsáveis pela República e herdaram o direito, como corporação, de intervir na política quando assim o desejarem”[2].

Além de uma visão de mundo da altura de um rodapé, esse é o maior problema do documento dos oriundos de uma corporação que, desde 1889, têm dificuldades para conter ao desejo de ir muito além de sua missão constitucional específica. Ele cheira a naftalina, dada sua associação ao preâmbulo dos Atos Institucionais 1, 2 e 5 da ditadura de 64, nos quais os militares se diziam autorizados a legislar em nome de uma “autêntica ordem democrática”, porém assumindo-se como instrumento de neutralização de quem fizesse oposição à “ordem revolucionária”. O problema é que, quando esse tipo de Estado define o inimigo, ele se converte em Estado totalitário. Quando um regime político quer que todos cantem pelo mesmo missal, não há democracia. Quem mudar de hino terá de sair da igreja, espontaneamente ou pela força. Nesse sentido, falta aos autores do projeto de Nação dos militares o que os técnicos do BNDES, ao entreabrirem o encontro entre o pensamento econômico e a realidade do mundo atual, têm de sobra — capacidade de compreender a história como processo, levando em conta a tensão entre continuidades e rupturas. Em seu livro, eles defendem ideias e instituições para melhorar a realidade, o que traz novos problemas — e estes, para serem enfrentados, exigem pesquisas, estudos e embates acadêmicos com atores que são expressamente desqualificados pelos autores do documento dos militares.

Essa é a distância abissal entre as duas iniciativas que recolocam na agenda a ideia de definição de um projeto de país. No limite, o documento dos militares — o estamento que almeja estar por trás do Estado e que, apesar de ser uma instituição permanente, deixa-se confundir com o atual governo, que é transitório — caminha na linha do pereat mundi, fiat ordo, sob comando deles, é claro. Já para os técnicos do BNDES está claro que economia e democracia são coisas sérias; suas propostas manifestam a consciência de que a responsabilidade política é uma via de mão dupla, tendo como marco fundamental um Estado que ouve e responde ante os poderes constituídos e os setores articulados da sociedade e que se prepara para atender às demandas e pressões da sociedade.

*José Eduardo Faria é Professor Titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Notas:

[1] Ver, nesse sentido, meu artigo Judicialização da política, ativismo judicial e tensões institucionais, in Journal of Democracy, edição de novembro de 2021.

[2] Entrevista concedida ao Jornal do Brasil, publicada em 5 de novembro de 1989, p. 13.

O Estado de São Paulo

A Quarta Revolução Industrial, de Klaus Schwab, prevê o fim da soberania e da classe média

 




De um modo geral, o cenário que se desenha é o do fim da classe média, do fim dos pobres, do fim da propriedade privada para a esmagadora maioria da população. Esta ficará na mão de uma elite tecnocrática cheia de robôs. 

Por Bruna Frascolla

O nome da vila suíça de Davos é conhecido há anos do espectador por causa do fórum econômico que acontece lá anualmente. Com a pandemia, esse Fórum vem sendo mais conhecido pela sua sigla em inglês, WEF, do que pelo nome da cidade. E seu fundador, Klaus Schwab, veio para o centro das atenções desde quando lançara o livro Covid-19: The Great Reset, sobre o mundo pós-Covid. Klaus Schwab fundou o Fórum Econômico Mundial em 1971 e preside-o desde então.

Klaus Schwab tem alguns livros recentes com a temática globalista. O primeiro deles é A Quarta Revolução Industrial, que, segundo informa, foi escrito em apenas três meses em 2016, a tempo de ficar pronto para o encontro do WEF. Há uma edição brasileira da Edipro. Os outros livros com essa temática são os seguintes: Shaping the Future of the Fourth Industrial Revolution [Moldando o Futuro da Quarta Revolução Industrial] (2018), COVID-19: The Great Reset [COVID-19: O Grande Reinício] (2020), Stakeholder Capitalism: A Global Economy that Works for Progress, People and Planet [Capitalismo de stakeholder: Uma economia global que trabalha pelo progresso, pelas pessoas e pelo planeta] (2021) e The Great Narrative: For a Better Future [A Grande Narrativa: Por um futuro melhor] (2022).

Nesses títulos vemos ideias que se tornaram correntes nos últimos anos: a de que a Covid seria uma oportunidade para rearrumar a sociedade (“grande reinício”), a de que os acionistas (em inglês, shareholders) devem se tornar “stakeholders” (algo como “partes interessadas”) e cuidar do planeta em vez de se preocupar com lucro (ou seja, Klaus Schwab é o mentor do capitalismo lacrador), e a de que narrativas têm um papel político mais relevante que a mera verdade factual. A ideia de que lidamos com uma quarta revolução industrial, porém, não entrou tanto no temário das discussões. E é justo o primeiro assunto abordado por Klaus Schwab em sua série de livros globalistas.

O que é a quarta revolução industrial

Klaus Schwab lista as três revoluções industriais prévias assim: a primeira ocorreu entre 1760 e 1840, provocada pelas invenções da ferrovia e da máquina a vapor; a segunda, entre o fim do século XIX o século XX, provocada pela eletricidade e pelas linhas de montagem; a terceira começou na década de 1960, com a invenção do computador. Klaus Schwab defende que na virada do século XX para o XXI iniciou-se a quarta revolução industrial. “É caracterizada por uma internet ubíqua e móvel” (p. 16), diz ele.

As divisões das revoluções industriais variam conforme os especialistas. Creio que a expressão “revolução industrial” traga à mente da maioria das pessoas cultas os romances de Dickens ou os Tempos Modernos de Chaplin. Seja como for, a expressão evoca o grande caos social e a miséria que se abateram sobre a Europa, resolvido em parte com a exportação de pobres para o Novo Mundo. Para dimensionarmos isto do Brasil, talvez valha apontar que os italianos que formaram comunidades rurais no Sul vêm do Norte da Itália, isto é, justo a parte desenvolvida, rica e industrial do país. Os agricultores que sobravam aceitavam vir para as Américas às vezes em condição análoga à escravidão.

Não à toa, Klaus Schwab diz: “tenho duas grandes preocupações sobre fatores que podem limitar a realização efetiva e coesa da quarta revolução industrial. Primeiro, acredito que os níveis exigidos de liderança e compreensão sobre as mudanças em curso […] são baixos quando contrastados com a necessidade, em resposta à quarta revolução industrial, de repensar nossos sistemas econômicos, sociais e políticos. […] Em segundo lugar, o mundo carece de uma narrativa coerente, positiva e comum que descreva as oportunidades e os desafios da quarta revolução industrial, uma narrativa essencial caso queiramos empoderar um grupo diversificado de indivíduos e comunidades e evitar uma reação popular contra as mudanças fundamentais em curso” (p. 17, ênfase minha).

Estas duas preocupações dão a tônica geral do livro. Há um problema, que é a recusa da população em aceitar esse novo mundo, e há a crença inconteste de que uma elite tecnocrática deve dirigir a revolução para que o mundo não entre em colapso.

Por que o mundo entraria em colapso?

Imagine agora que não houvesse América, e os europeus tivessem que se confinar à Europa durante a Revolução Industrial. A Grã-Bretanha não teria os EUA para despejar seus famélicos irlandeses; a Itália não teria o que fazer com os pobres que vieram a povoar a América de Norte a Sul; a Prússia idem. Estaria armado um cenário para caos social. Se as previsões de Klaus Schwab se concretizarem, é mais ou menos nesse pé em que o mundo está; pois não há um novo mundo desta vez. Assim, por mais que, publicamente, o WEF fale em ambientalismo, a grande preocupação de Klaus Schwab é a instabilidade social que o desemprego em massa há de causar.

O mundo entraria em colapso por causa do desemprego em massa devido à automação. Hoje muitos desempregados viram motoristas de Uber – mas o Google já em 2016 investia em carros sem motoristas. E se as corridas do Uber se tornarem mais baratas com carros sem motoristas? Para piorar, as típicas profissões de classe média também são passíveis de substituição por máquinas, e até a medicina poderia ser exercida por “um médico-robô controlado por IA que poderia dar diagnósticos corretos, perfeitos ou quase perfeitos” (p. 102).

A duração das empresas vem caindo de 60 anos para menos de 20. Segundo Klaus Schwab, a economia atual é significativamente diferente por prescindir de um grande número de trabalhadores, de pouco trabalho, de pouco capital financeiro e de muito capital intelectual, isto é, a capacidade de ter novas ideias e impedir que as empresas pereçam em meio à mudança constante. O dono do negócio demite os trabalhadores – seja ele o do chão de fábrica substituído por robôs ou o advogado substituído por inteligência artificial –, mas mantém um geniozinho capaz de ter ideias importantes para salvar a empresa, isto é, mantê-la competitiva num mundo de eterna instabilidade.

O resultado disso seria uma massa de desempregados e uma meia dúzia de reis. O fim da classe média, na verdade. Mas mesmo antes dessa automação generalizada, “atualmente, um trabalho de classe média não garante mais um estilo de vida de classe média; e nos últimos 20 anos as quatro características tradicionais da classe média (educação, saúde, aposentadoria e casa própria) tiveram um desempenho pior que a inflação. […] Uma economia de mercado em que o vencedor leva tudo, à qual a classe média tem cada vez menos acesso, pode transformar-se lentamente em mal-estar e abandono democrático, agravando os desafios sociais” (p. 96).

Para dar uma dimensão da coisa, dou o número da pesquisa citada por ele, “The Future of Employment”, de Carl Benedict Frey e Michael Osborne: “A pesquisa concluiu que cerca de 47% do emprego total nos EUA está em risco; algo que poderá ocorrer em uma ou duas décadas, sendo caracterizado por um escopo muito mais amplo de destruição de empregos e por um ritmo de alterações muito mais veloz do que aquele ocorrido no mercado de trabalho pelas revoluções industriais anteriores. Além disso, há uma tendência de maior polarização do mercado de trabalho. O emprego crescerá em relação a ocupações e cargos criativos e cognitivos de altos salários e em relação às ocupações manuais de baixos salários; mas irá diminuir consideravelmente em relação aos trabalhos repetitivos e rotineiros” (p. 44).

Klaus Schwab reconhece o drama da situação prevista por ele: “É fundamental que as pessoas acreditem que seu trabalho é importante para oferecer apoio a si mesmas e às suas famílias, mas o que acontecerá se houver demanda insuficiente para o trabalho, ou se as competências disponíveis deixarem de coincidir com as demandas?” (p. 53).

Planificar o mundo por cima dos governos

Até aí, poderíamos simpatizar com Klaus Schwab, já que ele aponta problemas plausíveis. Estamos acostumados no Brasil a reclamar de leis trabalhistas que impedem, por exemplo, de demitir cobrador ou frentista, a falar que falta trabalhador qualificado etc. Mas e quando o emprego qualificado também for automatizado? O mau médico vai alegar, erroneamente, que seu trabalho é essencial; o bom médico, idem, mas talvez não encontre ninguém disposto a pagar por ele. O cobrador, se tivesse um lobby, talvez conseguisse encomendar uma pesquisa capaz de apontar a redução de acidentes de trânsito. Mas ninguém liga; todos querem uma passagem mais barata, uma consulta mais barata, tudo mais barato. Talvez seja o caso de concluir que as democracias devam reavaliar suas prioridades, sob pena de acabar todo mundo desempregado, sendo servido por drones, vivendo como gado até talvez ganhar uma eutanásia pública, gratuita, de qualidade, após solicitar o serviço por meio de uma atendente robotizada de algum serviço social.

O grande problema do livro, ao meu ver, é tratar tudo como inexorável – e chamar para si a planificação do mundo. Como vimos, desde o começo ele se autoincumbe a tarefa de guiar a revolução. As lideranças dos governos não têm a competência necessária para tal. De fato, ele escreve qual será o papel dos governos nesse novo cenário: a mera prestação de serviços públicos. Acaba a soberania dos países.

“Os governos devem […] se adaptar ao fato de que o poder também está passando dos atores estatais para os não estatais e de instituições estabelecidas para redes mais abertas”, diz à página 72. Na seguinte, explica-se mais: “Estruturas paralelas [como o próprio WEF e as ONGs] serão capazes de transmitir ideologias, recrutar seguidores, coordenar ações a favor – e contra – os sistemas de governo oficiais. Os governos, em sua forma atual, serão forçados a mudar à medida que seu papel central de conduzir a política ficar cada vez menor devido aos crescentes níveis de concorrência e à redistribuição e descentralização do poder que as novas tecnologias tornaram possíveis. Cada vez mais, os governos serão vistos como centros de serviços públicos, avaliados por suas capacidades de entregar seus serviços expandidos de forma mais eficiente e individualizada”. Por uma questão meramente técnica, os governos estariam fadados a abrir mão dos cuidados com a soberania e a deixar os assuntos sérios com entidades transnacionais. Mas em hora nenhuma ele diz por que os cidadãos deveriam apartar a discussão ideológica da discussão do governo. Eu devo aderir à ideologia da Planned Parenthood só por ela ser “mais capaz” do que as organizações partidárias brasileiras?

Numa coisa ele tem razão: existem entidades transnacionais distintas do WEF e das ONGs que todos queremos combater. A Al-Qaeda inaugurou esse tipo de problema. Creio que John Gray tenha sido o autor mais sucinto e convincente a descrever os problemas de segurança internacional causados por essa nova realidade: em Missa Negra (2008), ele aponta o fato de que é perfeitamente possível um desses grupos terroristas praticar ataques nucleares, coisa que era monopólio estatal durante a Guerra Fria. Klaus Schwab tem isso em mente, cita o Isis como exemplo. E fala muito de segurança internacional. Ou seja, ele de fato se preocupa com o assunto; não é que ele tenha esquecido o assunto ao tratar do Estado. Essa importante atribuição saiu das mãos do governo.

Mas não temos nada a ver com a Al-Qaeda, nem com o Isis. A maior ameaça à nossa soberania é justamente a plêiade de ONGs que desempenha papel de Estado. É bom que se diga que ONG abrevia “organização não-estatal”, o que é o mesmo que organização privada. Privada e, naturalmente, não eleita. Klaus Schwab não está nem aí para a democracia.

O cenário que se desenha

Klaus Schwab fala de muitas coisas, algumas das quais de deixar os cabelos em pé (como comercialização de bebês geneticamente desenhados e impressão em 3D de seres vivos). Quem tiver interesse pelas inovações científicas planejadas precisa ler o livro, pois não posso resumir.

De um modo geral, o cenário que se desenha é o do fim da classe média, do fim dos pobres, do fim da propriedade privada para a esmagadora maioria da população. Esta ficará na mão de uma elite tecnocrática cheia de robôs. Naturalmente, ninguém tende a gostar muito desse cenário, então é preciso edulcorá-lo com narrativas. Estas devem tornar desejável ou aceitável essa nova realidade de imensa concentração de propriedade e espoliação generalizada. Somando-se este ideário a uma falta de noção, explica-se por que o WEF promoveu o slogan “you will own nothing and be happy”, você não será dono de nada e vai ser feliz. Resta saber por que essa elite, esses Übermenschen, manteriam tantos humanos inúteis a troco de nada. Assim, não é de admirar que sejam neomaltusianos e promovam o aborto e a castradora ideologia de gênero mundo afora. Tampouco é de admirar que já estejam expandindo a eutanásia para doentes mentais – e Klaus Schwab menciona algumas vezes que saúde mental é um problema desta nova revolução. O cidadão comum estará desamparado. O seu país, por razões tanto econômicas quanto ideológicas, não vai peitar essa elite de jeito nenhum. O governo foi diminuído e absorvido por ela.

No mais Klaus Schwab fala muitas vezes sobre o efeito da vigilância para deixar as pessoas mais obedientes. Assim, encerro este texto citando o quadro “Bem estar e as fronteiras da privacidade”, à página 106.

“Bem estar e as fronteiras da privacidade”

“O que está acontecendo atualmente com os dispositivos vestíveis nos dá uma noção da complexidade da questão da privacidade. Um número crescente de companhias de seguros tem pensado em fazer a seguinte oferta aos seus segurados: se você usar um dispositivo que monitora o seu bem-estar – quanto você dorme e faz exercícios, o número de passos que dá todos os dias, o valor e o tipo de calorias que consome etc. – e se concordar que essas informações possam ser enviadas para seu provedor de seguros de saúde, ofereceremos um desconto em seu prêmio. Será que devemos dar boas-vindas a esse avanço porque ele nos motiva a viver vidas mais saudáveis? Ou ele toma um rumo preocupante a um estilo de vida em que a vigilância – do governo e das empresas – irá tornar-se cada vez mais intrusiva? No momento, esse exemplo refere-se a uma escolha individual – a decisão de aceitar ou não usar um dispositivo de bem-estar. Mas insistindo nisso mais uma vez, suponhamos que agora o empregador peça que todos os seus funcionários usem um dispositivo que envia dados relativos à saúde para a seguradora, porque a empresa quer melhorar a produtividade e, possivelmente, diminuir seus custos com os seguros de saúde. E se a empresa exigir que seus funcionários mais relutantes aceitem o pedido ou paguem uma multa? Então, o que anteriormente parecia ser uma escolha consciente individual passa a ser uma questão de conformidade com as novas normas sociais, mesmo que alguém as considere inaceitáveis”.

Gazeta do Povo (PR)

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