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segunda-feira, março 07, 2022

3 fatores por trás da desaceleração da China, que deve registrar menor crescimento em 30 anos




Depois de dois anos atípicos, o mundo olha atento para a economia chinesa em 2022

Por Camilla Veras Mota

A expressão "ritmo chinês de crescimento", bastante usada até meados dos anos 2010 para adjetivar as economias que se expandiam de forma acelerada, não surgiu à toa.

O Produto Interno Bruto (PIB) da China vem aumentando de forma ininterrupta há mais de 40 anos. Nas duas décadas entre 1991 e 2010, o país conseguiu manter um crescimento médio de 10% ao ano, maior do que qualquer outro país no mesmo período.

Desde então, em parte devido a mudanças estruturais, a economia chinesa perdia fôlego. Veio o coronavírus e, depois dos anos atípicos de 2020 e 2021, quando a pandemia primeiro puxou o PIB para baixo (2,2%) e a retomada lhe deu fôlego extra (8,1%), o mundo olha atento para a economia chinesa em 2022.

Isso porque as projeções indicam uma desaceleração com um crescimento em torno de 5% - menor número desde 1990, se descontado 2020.

O desempenho é resultado de uma combinação de fatores de curto e longo prazo, conforme os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil. Uma mistura que inclui desde mudanças profundas no modelo de crescimento chinês, que dá sinais de que está entrando em um novo ciclo, até episódios recentes e mais pontuais, como a política de covid zero.

Sintetizamos esses elementos em três pontos, listados a seguir.

1. A crise na construção: imóveis caros, cidades fantasmas e empresas endividadas

O setor imobiliário e de construção vem sendo o principal motor do crescimento espetacular da economia chinesa há décadas. Responde por cerca de 15% do PIB e por quase o dobro disso se contabilizada toda a cadeia, que inclui segmentos como o de aço, cimento e de mobiliário.

Há alguns anos, contudo, o setor vem dando sinais de esgotamento. Alguns deles bastante claros, como as "cidades-fantasma" que se espalharam pelo país nos últimos anos: grandes empreendimentos que, devido à baixa demanda, permanecem vazios ou inacabados.

'Setor de construção que foi motor do crescimento nos últimos 25 anos pode perder protagonismo no médio prazo'

Além disso, mesmo com a ampla oferta, os preços têm se curvado à especulação imobiliária e seguem em uma crescente, deixando os imóveis cada vez menos acessíveis para alguns chineses - ainda que o país tenha um nível elevado da população com casa própria.

Entre as 10 cidades com os maiores preços médios no mundo, 3 estão na China, conforme a pesquisa anual feita pela consultoria americana CBRE, especializada no setor imobiliário. São elas Xangai, Pequim e Shenzhen, hoje um grande hub de tecnologia.

"O processo de urbanização, que foi um dos grandes motores desse boom na construção que se estendeu pelos últimos 25 anos, desacelerou consideravelmente", pontua Mark Williams, economista-chefe para a Ásia da consultoria britânica Capital Economics.

"As taxas de natalidade vêm despencando, reduzindo a expectativa de demanda no mercado imobiliário no futuro. E essa não é uma história só para 2022, é uma história para os anos 2020 e além", completa.

Outro sinal de alerta vem das próprias empresas de construção.

Após anos crescendo de forma agressiva com um modelo baseado no endividamento, algumas companhias começaram a enfrentar dificuldade para pagar os credores e chegaram a ameaçar dar calote - incluindo a gigante Evergrande, que no ano passado levantou temores de que uma crise maior pudesse estar se desenhando.

Um relatório divulgado em outubro pela agência de rating S&P apontou que, no cenário mais pessimista, até 37% das companhias do setor poderiam enfrentar problemas de liquidez (ou seja, dificuldade para pagar dívidas) em 2022.

'Ocean Flower: construtora recebeu em janeiro ordem para demolir os 39 edifícios, sob alegação de que foram construídos com licença obtida de forma ilegal'

"A probabilidade é que a necessidade de imóveis novos caia consideravelmente na China até o fim da década, o que coloca em questão todo o modelo de negócio dessas empreiteiras, que ficam pegando dinheiro emprestado para construir mais e mais a cada ano que passa", ressalta Williams.

O governo, que há anos reconhece que há profundos desequilíbrios do setor, vem tentando consertá-los de forma mais ativa só recentemente. Desde 2020, por exemplo, tem implementado uma série de controles regulatórios, batizados de "três linhas vermelhas", para tentar conter o endividamento desordenado.

Essas medidas são apontadas como uma das razões por trás das dificuldades que algumas empresas têm atravessado.

Nesse sentido, diz Williams, parte da crise atual é "contratada", ou seja, o próprio governo sabia que as medidas levariam a uma desaceleração do principal dínamo da economia - mas não teve muita alternativa diante da realidade, que, na avaliação do economista, acabou se impondo.

"Parte das chamadas crises ou de alguma instabilidade que se criou na economia chinesa ano passado foram na verdade induzidas por políticas", concorda em parte a diplomata Tatiana Rosito, que vive em Xangai e é senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).

Em sua visão, as razões que levaram o presidente Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês ao aperto regulatório justamente neste momento, quando há muito tempo o governo admite a necessidade de reformar a economia, é um campo aberto a especulações.

A movimentação, contudo, sinaliza uma mudança importante: uma disposição mais clara da liderança chinesa de persistir no combate aos desequilíbrios, tendo como efeito colateral a produção de taxas de crescimento menores.

"Há uma passagem de um foco em quantidade para um foco em qualidade, para uma economia baseada em inovação. E, nesse sentido, eles estão em busca dos novos drivers [impulsionadores] de desenvolvimento", acrescenta a economista, que já foi representante-chefe da Petrobras na China.

'Após a morte de Mao Tsé-Tung, a China passou por um processo de abertura que permitiu o surgimento de empresas privadas - algumas se tornariam gigantes anos depois'

2. A 'repressão' à indústria de tecnologia

Um desses motores é o setor de tecnologia, que, ironicamente, também está na mira do cerco regulatório empreendido pelo governo.

Os novos controles, que se manifestam em áreas desde a cibersegurança até a legislação anti-monopólios, têm feito o setor perder o fôlego que transformou algumas empresas em impérios nos últimos anos.

Alvo das medidas, grandes multinacionais como Tencent, DiDi (dona da 99 no Brasil) e Alibaba têm registrado crescimento menor e até queda nas receitas nos trimestres mais recentes.

Apesar de se identificar como um país comunista desde 1949, quando uma revolução alçou Mao Tsé-Tung ao poder, a China passou a abrir espaço para empresas privadas, ainda que sob restrições, com a política de "reforma e reabertura" inaugurada por Deng Xiaoping no fim dos anos 1970.

Por que então impor restrições mais rigorosas neste momento?

'Sob presidência Xi Jinping, China promoveu maior aperto regulatório desde a reabertura'

Na avaliação de Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, a explicação combina objetivos políticos e econômicos.

"O 'combate' às grandes fortunas ou às grandes empresas seria uma forma de o partido transmitir à população que está comprometido com a promessa de combate à desigualdade, dentro do discurso de 'prosperidade comum'", diz ele, referindo-se ao slogan que tem aparecido com frequência nos últimos discursos do presidente Xi Jinping.

Também seria uma forma de evitar que as grandes fortunas "corrompam" o próprio sistema e coloquem sob ameaça o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. E, por fim, uma maneira de reorientar o foco dessa indústria para as áreas que o governo considera estratégicas e importantes. Menos redes sociais e joguinhos e mais chips e semicondutores, por exemplo.

Rosito acrescenta outros três pontos à lista, entre eles o próprio esforço do governo para combater o que enxerga como desequilíbrios da economia. No caso específico do setor de tecnologia, muitas das empresas vinham entrando maciçamente no ramo financeiro e aumentando de forma expressiva o nível de endividamento, por exemplo.

Em paralelo, ela cita a visão por parte das lideranças chinesas da necessidade de se regulamentar uma área considerada sensível e estratégica: "A China hoje vê claramente a questão dos dados como uma questão de segurança nacional".

E, finalmente, as transformações no cenário de segurança internacional, decorrentes de embates como a guerra comercial entre China e Estados Unidos.

"Quando eles criaram esse slogan da 'circulação dual' [mencionado desde 2020 como uma nova estratégia, que incorpora cada vez mais o consumo doméstico], é pra dizer também: 'Olha, a gente precisa pensar nas cadeias domésticas, na circulação, até para fazer face a restrições", diz a diplomata.

Entre essas "restrições" estariam, por exemplo, as investidas americanas para limitar o acesso chinês a algumas tecnologias fundamentais, como semicondutores.

Williams, da Capital Economics, também chama atenção para o peso do cenário internacional menos favorável, que teria despertado no partido uma espécie de senso de urgência para que o país se prepare para tempos mais difíceis.

"E isso significa que a China precisaria focar mais seus esforços econômicos em áreas como a indústria, na produção de chips de alta tecnologia, e não tanto em algoritmos para compartilhar vídeos engraçados", avalia.

"Acho que existe um certo grau de desconfiança em relação a esse tipo de tecnologia, [uma visão de que seria] algo que não necessariamente fortaleceria a China no longo prazo", completa o economista.

'Estratégia de 'tolerância zero' à pandemia também tem custo econômico'

3. Política de covid zero

Em meio a todas essas mudanças estruturais e de longo prazo, um outro fator, este aparentemente mais circunstancial, também tem contribuído para desacelerar o crescimento chinês: a política de covid zero em vigor.

Enquanto alguns países têm sinalizado que, quando for possível, devem mudar suas estratégias de saúde pública para que possam passar a conviver com o vírus, na China a orientação ainda é tentar mantê-lo fora do território a todo custo.

Isso se traduz, por exemplo, na implementação de rigorosos e amplos lockdowns para tentar conter novos surtos, controle de fronteiras e políticas minuciosas de testagem - medidas que têm impacto tanto na demanda de consumidores quanto na produção das empresas.

Em janeiro, por exemplo, a montadora japonesa Toyota informou ter precisado suspender a produção em sua joint-venture em Tianjin por conta das novas rodadas de testagem que estavam sendo realizadas nos 14 milhões de habitantes da cidade para tentar conter a disseminação da variante ômicron.

Alguns se questionam até que ponto a estratégia chinesa é sustentável, diante da alta transmissibilidade da ômicron. Até o momento, contudo, o governo não sinalizou uma mudança significativa no combate à pandemia.

O custo econômico da política de tolerância zero à covid levou instituições como o banco Goldman Sachs a reduzir sua projeção para o crescimento da economia chinesa em 2022 de 4,8% para 4,3% recentemente.

Evandro Menezes de Carvalho, da FGV Direito Rio, chama atenção para o fato de que a abordagem chinesa, que de certa forma deixa o país mais fechado para o mundo, converge com alguns dos interesses das lideranças. Entre eles, a própria estratégia de "circulação dual", que passa a olhar cada vez mais para o mercado doméstico, e a visão de que o país precisa se preparar para cenários mais críticos com relação aos Estados Unidos, por exemplo.

"Talvez haja uma política de conveniência", ele avalia.

Na visão do especialista, contudo, "não há interesse em um fechamento total". "Existe uma preocupação de continuar atraindo investimento estrangeiro e manter as portas abertas para o mercado internacional."

'Classe média deve dobrar de tamanho até 2035, chegando a 800 milhões de pessoas'

Como tudo isso pode impactar o Brasil?

O diplomata Marcos Caramuru, embaixador do Brasil na China entre 2016 e 2018, lembra que 2022 é um ano sensível para o país asiático também no campo político.

No segundo semestre ocorre o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, o evento político mais importante do calendário. Realizado a cada 5 anos, é geralmente o momento em que se formalizam as trocas de lideranças. Neste ano especificamente, Xi Jinping também deve buscar um inédito terceiro mandato como presidente.

'Xangai, a capital econômica da China: país passa por transformações estruturais importantes'

"A questão que todo mundo se pergunta é qual vai ser o equilíbrio entre reformas e crescimento", ele acrescenta.

A depender da calibragem, a economia brasileira pode sentir mais ou menos os efeitos, avalia Caramuru. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, destino de 31,3% de todas as exportações do país. A pauta é bastante concentrada em commodities, especialmente soja, petróleo e minério de ferro - um item que seria diretamente impactado pela crise na construção e no mercado imobiliário, por exemplo.

"Se houver uma desaceleração forte na China, nós vamos sofrer - alguns produtos mais que outros. Mas tudo leva a crer que o governo vai tentar encontrar um equilíbrio. Não vejo um cenário que, para nós, possa subitamente criar uma situação de constrangimento pesado", pontua.

Tatiana Rosito também não enxerga um choque negativo de grandes proporções no curto prazo. Ela aponta, contudo, que há riscos relevantes para o médio e longo prazo, parte deles decorrente da própria concentração da pauta de exportações brasileira.

Se o perfil da economia da China de fato mudar e ela deixar de ser um grande centro manufatureiro (a "fábrica do mundo") para se tornar uma economia baseada em inovação, o que isso significa para os países que abasteceram os chineses de commodities nas últimas duas décadas?

"A China de alguma forma moldou o mundo dos últimos 20 anos, através da sua enorme demanda por commodities, que beneficiou muitos países, através da sua produção de bens, que permitiu que o mundo crescesse sem inflação, através do seu papel importante como hub de cadeias produtivas, sobretudo no setor eletroeletrônico… Da mesma forma que ela, em conjunto com os Estados Unidos, moldou bastante o mundo nos últimos 20 anos, isso pode continuar e até se intensificar - agora sob novas bases", avalia a economista.

"A China está olhando cada vez mais para fontes renováveis - e menos para petróleo e gás -, mais para veículos elétricos, para hidrogênio…", completa.

Nesse sentido, ela acredita que o Brasil precise de uma estratégia, construída "a várias mãos" pelo governo com a sociedade civil, para fazer frente a essas transformações e conseguir extrair os benefícios possíveis para a economia brasileira.

Uma possibilidade seria procurar exportar produtos de maior valor agregado dentro do próprio segmento alimentício - em vez de embarcar apenas a soja e o milho que vão virar carne na China, vender produtos que possam ir direto para as gôndolas dos supermercados.

"Os consumidores chineses não se lembram do Brasil como um grande fornecedor agrícola. Como nós vendemos commodities, a média das pessoas não reconhece marcas brasileiras, né? Então eu acho que a gente precisa olhar para esse potencial da China, um país em que a classe média deve dobrar de tamanho até 2035, de 400 milhões para 800 milhões de pessoas."

No próximo dia 15 de fevereiro, a especialista apresenta algumas de suas ideias em um evento da universidade britânica King's College intitulado Brazil-China trade: In search of a strategy ("Comércio Brasil-China: Em busca de uma estratégia", em tradução literal).

BBC Brasil

O gigantesco equívoco de Putin




Putin errou ao invadir a Ucrânia, que vem sendo cada vez mais empurrada para a Europa. 

Por Mario Vargas Llosa (foto)

Ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, as coisas não estão saindo como se acreditava. De imediato, a invasão à Ucrânia provocou uma reação negativa em todo o mundo que excedeu grandemente o que o Kremlin esperava. Nem sequer a China, que a Rússia acreditava ter colocado ao seu lado, a apoiou abertamente: mantém uma atitude prudente, que, sem dúvida, tem a ver com as manifestações hostis que são ouvidas em todo o mundo civilizado.

Por outro lado, os tanques russos ainda não conseguem controlar Kiev, onde um povo valente e unificado resiste à invasão, ainda que a superioridade militar russa cedo ou tarde conseguirá sem dúvida seu objetivo.

Já começaram a bombardear bairros residenciais e estações de televisão, o que revela descontrole. Mas seria necessário um assassinato coletivo para controlar uma população indômita e hostil. É óbvio que no futuro imediato os soldados russos passarão tempos difíceis. Já vimos na TV alguns cadáveres de tripulantes de tanques russos aos pedaços, sem que ninguém os recolhesse.

Mas as medidas de castigo econômico que o Ocidente impôs à Rússia surtiram efeito imediato e todos vimos grandíssimas filas (não fosse esse o caso, inúteis) que o povo russo formou, tratando de sacar seu dinheiro para fazer frente aos gastos correntes, em momentos em que o rublo, depois de ter seu valor de troca arrasado, desaparecia dos bancos.

Ao mesmo tempo, os bancos ocidentais castigaram apartando os bancos russos do sistema Swift, ou seja, da possibilidade de transacionar e efetuar pagamentos fora do sistema bancário russo. Isso criou uma situação difícil para a população russa, que enfrenta uma escassez corrente de itens de consumo e uma situação de carência em lojas e supermercados.

De outra parte, a reação do povo russo à invasão não está sendo tão passiva e entusiasta como Putin esperava. Vimos nas principais cidades russas as fornidas manifestações contra a guerra que, até este momento, deixaram mais de seis mil detidos. Isso quer dizer que a abusiva invasão à Ucrânia, favorável à bastante diminuta minoria russa neste país que gostaria de se reintegrar à Rússia, como nos velhos tempos de Stalin, está longe de representar a unidade de uma população dividida e que, apesar das ameaças do poder, ainda se atreve a protestar contra a guerra.

Ajuda militar

De outra parte, a quantidade de projéteis, balas e forças defensivas que o Ocidente, em geral, e a Europa, em particular, mandam à Ucrânia para apoiar sua defesa ultrapassa grandemente o esperado. Os países da Otan, que tinham garantido sua neutralidade neste caso, foram os primeiros, violando a própria neutralidade, a apoiar a Ucrânia abertamente.

E é natural que ocorra desta forma: o que acontece na Ucrânia faz os demais países europeus temerem que a invasão seja apenas o início de algo que parece muito claro, a obsessão de Putin por reconstruir o velho sistema soviético de países e cidades-satélite que assegurariam a proteção da Rússia de um suposto ataque ocidental.

De modo que a invasão da Ucrânia tem todas as características de uma operação fracassada do governo russo, de que a Rússia sairá desprestigiada e, provavelmente, arrependida. Além disso, seus industriais e patronos de grandes empresas começam a deixar de ouvir sua voz. Isto é insólito, porque a maioria deles fez suas grandes fortunas graças à amizade de Putin. Por exemplo, Alexei Mordashov, considerado o homem mais rico da Rússia, acaba de se pronunciar de maneira crítica contra a invasão.

Isto certamente não estava entre as expectativas do governo russo. Putin acreditava que a invasão à Ucrânia seria um passeio para suas tropas e as coisas não foram assim sob nenhum ponto de vista, apesar da linha de 60 quilômetros de tanques que invadiram o país.

As autoridades ucranianas, de pronto, resistiram firmes de pé, e ainda que centenas de milhares de pessoas tenham fugido para países vizinhos, sobretudo para a Polônia, muitos ucranianos que viviam no exterior regressaram para integrar os grupos clandestinos que resistem ou se preparam para resistir.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, de sua parte, acaba de pedir, em termos dramáticos, que a União Europeia aceite seu país como membro pleno, para o que existe um ambiente muito positivo: os votos a favor no Parlamento Europeu foram 637, houve 13 contra e 36 abstenções; ainda que as dificuldades de aplicar essa opção de maneira imediata sejam muito grandes e, quiçá, insuperáveis.

Erros

Mas é seguro que, cedo ou tarde, este será o destino da Ucrânia. De modo que os cálculos de Putin, de assegurar a lealdade da Ucrânia após a abusiva invasão, foram totalmente equivocados. Dela resultará, no médio ou longo prazos, uma incorporação da Ucrânia, sem lugar para dúvidas, à Europa Ocidental e, quiçá, para ser membro da Otan, ou seja, do sistema democrático de defesa do Ocidente com base na liberdade e nos direitos humanos.

O que motivou o gigantesco equívoco de Putin e seus companheiros de governo a essa invasão abusiva, de inspiração imperialista, que coloca a Rússia em paridade de condições com a invasão de Hitler à Checoslováquia, sob o pretexto de “proteger a população russa” das humilhações que vinha sofrendo?

A passividade do povo russo, seduzido pela presença à frente de seu governo de um líder relativamente jovem e audaz, que concentrava todos os poderes e pareceu pôr em ordem um país ameaçado pelo caos e pela desunião. Mas a ameaça de uma guerra, com a poeira atômica que cobre a Rússia, despertou o mundo inteiro, que se colocou em marcha para impedir a invasão abusiva e prepotente com que a Rússia, excedendo-se, pretendeu assolar um país pacífico, sobre o qual já exerceu sua prepotência, apoderando-se da Crimeia de uma maneira que o Ocidente não aceitou.

Ameaças

Este precedente, sem dúvida, motivou a mobilização do mundo inteiro a favor da Ucrânia, que surpreende os próprios governos e impulsionou alguns deles, como Suécia, por exemplo, a adotar iniciativas que rompem radicalmente com a independência com que o país atuou durante a 2.ª Guerra.

A razão é muito simples: desta vez, a Suécia também se sente ameaçada por uma invasão russa que sabe Deus onde acabará. O mundo inteiro se apressou para impedir que, a estas alturas da história, o poderio e a prepotência de um país sejam justificativa suficiente para invadir outro e impor sua política.

É evidente, pelo ocorrido até agora, que Putin se equivocou e tramou uma invasão da Ucrânia que abriu os olhos do mundo inteiro para as intenções do líder russo. As coisas se complicam, desde já, sabendo que a Rússia é o país que tem o maior número de bombas atômicas, que, esperemos, nos cálculos do chefe do Kremlin, não lhe ocorra usar, pondo em perigo a paz do mundo.

Era esse o perigo caso alguma das superpotências do nosso tempo iniciasse qualquer ação militar: que as ações pudessem chegar ao extremo de usar aqueles pozinhos capazes de acabar com toda a forma de vida civilizada nesta Terra. Tomara que o povo russo, finalmente mobilizado e a favor da paz, seja capaz de pôr fim a esta ameaça.

O Estado de São Paulo

Recessão democrática, a Nova Ordem Internacional

 




Apesar desta concórdia tardia em que Europa, Estados Unidos, mundo ocidental, nos unimos para sancionar a Rússia a posteriori por não termos tido coragem de a sancionar a priori, a democracia regride. 

Por Eugénia de Vasconcellos 

Depois de vermos consolidadas as nossas piores expectativas com a invasão da Ucrânia e a ameaça de Putin aos estados democráticos do bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos, verificámos o que, de facto, é apropriação, palavra tão cara às esquerdas politicamente corretas e ao seu manipulável braço pseudo-cultural transpartidário e volúvel: o movimento woke. Não nos iludamos. Não são meia dúzia de millennials, ou de miúdos das novelas, ativistas de instagram, leitores do Segredo com o cliché da gratidão na ponta da língua, e para quem é mais fácil tomar partido do que pensar. Nem são apenas influencers preocupados com os patrocínios e o número de seguidores. São membros da academia, diretores de informação, jornalistas, cronistas, escritores, comentadores a soldo direto ou indireto dos governos que patrocinam a aniquilação do pensamento útil via destruição cultural – cultura e entretenimento não são uma e a mesma coisa; reformas estruturais não são agendas de causas progressistas: a visão em túnel destrói o necessário pluralismo.

Apropriação é o que está a acontecer em mais de metade do mundo: a apropriação da democracia. Apropriação não é ter a obra de uma poeta negra traduzida por uma poeta branca, como a falsa questão levantada a propósito da tradução do livro de Amanda Gorman. Nem uma estudante caucasiana vestir uma cabaia no baile de finalistas. Apropriação é um regime autocrático travestido de democracia. Apropriação é usar as regras e instituições democráticas contra a democracia.

A democracia é um estado de direito, com respeito pela carta dos direitos humanos; eleições livres com representatividade do eleitorado; instituições transparentes, independentes, responsáveis e responsabilizáveis, ao serviço do povo que somos todos nós, os governantes e os governados. Todos nós. Não os eleitores do partido do governo. Não os familiares e amigos do governo. Todos nós. Num regime democrático as instituições de poder e decisão devem auto-fiscalizar-se, e fiscalizar-se entre si, para garantir a manutenção da liberdade e independência, e a alternidade. A democracia exige a intervenção da sociedade civil e uma imprensa livre. O ideal democrático norteia a construção da democracia, uma construção aberta aos mecanismos correctivos das suas próprias falhas e limitações. Esses mesmos mecanismos são os que nos permitem identificar a desconstrução democrática, a queda das democracias liberais, e dos ideais de liberdade, justiça, igualdade, paz e prosperidade.

A Rússia de Putin não é uma democracia. É uma autocracia cleptocrática posta em causa na sua linha de fronteira pelos esforços ucranianos para transitarem para um regime plenamente democrático e com integração na União Europeia. Isto é um desafio à autoridade e deixa no ar que os russos respiram a questão que realmente ameaça Putin: e nós, povo russo, podemos ser uma democracia? A Ucrânia não é apenas um país, Navalny não é apenas um homem, são um movimento pró-democrático e por isso têm de ser esmagados.

Os regimes autocráticos, como o russo, não visam o bem-estar da sua população, visam a expansão do seu modelo de governança através da disseminação de governos fantoches, extensões protésicas, patrocinados com a economia negra da corrupção lavada em investimentos legais. Visam a criação de subsidiárias. E visam o enriquecimento do núcleo de governação, familiares, amigos, representantes. As autocracias, tal como as democracias iliberais, fortalecem-se através da desinformação veiculada pelas redes sociais e imprensa, criando a cizânia civil. Esta forma de governança infiltra-se nas instituições públicas, como nas privadas ao seu serviço, ao ponto da inviabilidade de resolução através de eleições livres – vimo-lo num regime democrático com Trump e a recusa de concessão de vitória a Biden. Em simultâneo, com pressões económicas e comerciais sobre governos e instituições estrangeiras anula-se a visão crítica – em Portugal aconteceu durante anos com os rapapés da imprensa à princesa Isabel dos Santos. Isto que é válido para a Rússia de Putin, é válido para a China de Xi Jinping, ou para a América iliberal de Trump que levou a cabo a mais vergonhosa transição de poder numa democracia dita consolidada. Isto é a apropriação das democracias. Externa e internamente. Uma a uma. E acontece debaixo dos nossos olhos enquanto a nossa atenção é desviada para a mobilização de inutilidades divisoras e enfraquecedoras, sejam as traduções ou as cabaias.

Esta é a situação que temos: a Europa não tem capacidade para se defender a si mesma, para assegurar a integridade das suas fronteiras, nem para travar a invasão de um estado soberano. Precisa dos Estados Unidos. A Rússia quer estender a sua esfera de influência. E quer a manutenção e expansão das autocracias. A China anti-democrática observa. Fará com Taiwan o que a Rússia fez com a Ucrânia enquanto se enraíza no continente africano. E será o novo parceiro comercial da Rússia suprindo aquilo que as empresas ocidentais retiraram. A China comercial e tecnológica não deixará cair a Rússia de Putin, a Russia S. A..

Mas não será, no entanto, a situação que teremos. Zelensky deu substância à ideia de herói. O herói que a Ucrânia merece, que inspirou a mudança de comportamento da UE e dos EUA, aquele que diz, não a César, mas às democracias ocidentais: os que vão morrer saúdam-te. Sabe que será executado. Como sabem muitos que estão nas linhas da frente – as infames listas de abate. Sabem tal como nós sabemos que a Ucrânia conforme a conhecemos não voltará a existir, na melhor das hipóteses haverá uma resistência ucraniana.

Apesar desta concórdia tardia em que Europa, Estados Unidos, mundo ocidental, nos unimos para sancionar a Rússia a posteriori por não termos tido a coragem de a sancionar a priori, antes desta invasão que nos envergonha a todos, exceto ao PCP, a democracia regride. Apesar deste grande fôlego oferecido por Zelensky e pelo povo ucraniano, regride mesmo nos países com democracias consolidadas ou com falhas, que são a maioria. E está a ser atacada a partir de dentro – não há melhor exemplo das forças iliberais em ação do que o da divisão da sociedade norte-americana.

Num futuro próximo, à recessão democrática teremos de somar o mundo político conforme o desconhecemos, com novas, extraordinárias tecnologias que nos fazem transparentes, previsíveis, monitorizáveis, desde o pensamento que temos à saturação de oxigénio no sangue. Entre nós e o totalitarismo tecnológico só está a democracia.

Tudo indica que a Ucrânia será, primeiro tomada por Putin, e depois, já decapitada, entregue negocialmente a Putin. Apropriação. Há muitos anos, era estudante do secundário, e num manual, não me recordo do contexto, estava este terceto: a mulher, essa puta besta,/ se lhe damos o braço,/ logo quer a testa. Crimeia. Donbass. Onde se lê mulher, leia-se Putin. Leia-se autocrata. Leia-se tirano. A evidência de que será entregue é só mais uma razão para não entregar a Ucrânia numa nova conferência de Yalta.

Hoje à noite, na Gulbenkian, vi os holofotes sobre o palco em azul e amarelo. Hoje, a orquestra, antes do concerto, tocou o hino da Ucrânia que uma sala cheia e comovida ouviu de pé e aplaudiu. Mas aplaudir não chega.

Este é um momento charneira. É agora que se decide a direção do nosso futuro. Na tecnologia, no clima, na política.

Os países democráticos, nós, os democratas, temos de nos unir e agir em bloco. E em força.

Observador (PT)

Guerra na Ucrânia motiva novos embates ideológicos de direita e esquerda no Brasil

Publicado em 7 de março de 2022 por Tribuna da Internet

Imagem analisada visualmente

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Joelmir Tavares
Folha

A guerra na Ucrânia e suas complexidades embaralharam direita e esquerda no Brasil e evidenciaram diferentes visões dentro dos grupos mais amplos que se organizam em torno dos dois principais pré-candidatos à Presidência, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Como a invasão da Rússia ao país vizinho no leste europeu é um conflito que combina em alta voltagem elementos ideológicos, geopolíticos e econômicos, as expectativas de alinhamento imediato ou repúdio claro a um ou outro lado do embate acabaram sendo turvadas por questões locais.

TUDO DE VOLTA – No pano de fundo está, genericamente, o embate entre o líder russo Vladimir Putin e o governo dos Estados Unidos, via Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Com isso, vieram à tona discussões sobre assuntos como União Soviética, Guerra Fria, imperialismo e globalismo.

Os próprios Bolsonaro e Lula receberam pressões em diferentes sentidos, já que interesses variados estão em jogo. Na cacofonia das redes sociais, rótulos usados para carimbar instantaneamente um “bolsonarista” ou “comunista” não resistiram às primeiras horas do confronto, iniciado no dia 24.

O atual presidente, tratado inicialmente como favorável à Rússia por causa de sua controversa visita a Putin uma semana antes da eclosão do confronto, sofreu críticas pela suposta aliança com um mandatário que teria perfil esquerdista, algo de que vozes inclusive na esquerda discordam. E o ex-presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o pleito de outubro, viu setores aliados estimularem uma legitimação da ação de Putin e tomarem partido contra os Estados Unidos, pelo histórico de busca de hegemonia global do país governado pelo democrata Joe Biden.

JANDIRA CRITICA – “É um conflito geopolítico e territorial, e não ideológico”, sintetiza a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ). “Putin não é um homem de esquerda. Não está em jogo uma disputa entre capitalismo e comunismo”, segue a correligionária de Lula.

Para a parlamentar, que considera a atuação do governo Bolsonaro no caso desastrosa (“sem autoridade para dar uma contribuição”), não cabe debate sobre um princípio que ela julga elementar: o respeito à soberania nacional e à autodeterminação dos povos.

“A nossa posição [dos comunistas] é a de lutar pela paz e buscar uma solução diplomática. O que entendo como mais urgente é o cessar-fogo e a redução das hostilidades. Sanções [contra a Rússia] não funcionam nem militarmente nem economicamente”, segue.

GUERRA SEM DONO – Jandira afirma, no entanto, que “essa guerra não tem um dono só” e que “a responsabilidade da Otan tem que ser considerada”. “A Otan não deveria nem existir mais, deveria ter acabado quando acabou a Guerra Fria. O único ponto de consenso é que, se há um país imperialista hoje, são os Estados Unidos.”

O tom da deputada lembra o de uma nota da bancada do PT no Senado que antecedeu a posição oficial do partido, de teor mais brando, e acabou excluída e desautorizada. O comunicado, cuja divulgação foi atribuída a erro, criticava a “política de longo prazo dos EUA de agressão à Rússia”.

A postura está longe, porém, de ser unanimidade na esquerda, que ao longo dos últimos dias também divergiu sobre uma condenação explícita à ofensiva russa. Líderes do PSB destoaram de nomes do PT, PSOL e PC do B ao repudiarem a invasão sem meias palavras, como mostrou o Painel.

ENTULHO DA GUERRA FRIA – “Não tenho simpatia pela Otan, é um entulho da Guerra Fria, mas é um assunto dos ucranianos”, disse o governador Flávio Dino (PSB-MA).

“De um modo geral, a esquerda fica em muita dúvida [sobre condenar a Rússia e ficar indiretamente do lado dos EUA], por causa da nossa formação anti-imperialista, mas é em razão dessa formação que devemos sustentar a autodeterminação dos povos”, completou.

O dilema sobre o posicionamento também foi visível na base de Bolsonaro, normalmente ágil na disseminação de “narrativas” (versões dos fatos) uníssonas em defesa do presidente.

CARLUXO E MORO – O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho e estrategista digital do mandatário, contestou no Twitter o ex-ministro do governo de seu pai e presidenciável do Podemos, Sergio Moro, por comparar a retórica de Bolsonaro no caso com o discurso do polo oposto.

O ex-juiz escreveu que “a posição do presidente no conflito converge com a da oposição na extrema esquerda, que age como se não houvesse um agressor e uma vítima”. Perfis bolsonaristas rebateram, lembrando que o Brasil votou na ONU a favor da resolução contra a Rússia pela invasão.

Além de Moro, outros pré-candidatos ao Planalto que compõem a chamada terceira via enxergaram em atitudes dúbias um flanco para atacar ao mesmo tempo os dois favoritos da corrida eleitoral. Sobre Lula pesam acusações dos presidenciáveis a respeito de afinidade com países favoráveis à Rússia, como Venezuela, Nicarágua e Cuba.

DISSE LULA – O ex-presidente reforçou sua posição contrária à guerra e em defesa da soberania ucraniana, sem, no entanto, deixar de aludir indiretamente aos EUA.

“As grandes potências precisam entender que não queremos ser inimigos de ninguém. […] É inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outros países”, disse o petista na quinta-feira (3), durante viagem ao México.

“Trilhões de dólares foram gastos em guerras recentes, no Oriente Médio e na Europa, quantia suficiente para eliminar a fome no mundo, […] no entanto essa quantia foi usada para causar a morte de milhões de pessoas no Iraque, no Afeganistão, na Síria, no Iêmen, no Paquistão.”

Após abastecer jatinho, mãe de Ciro Nogueira aluga carro por R$ 15 mil na verba do Senado


Imagem analisada visualmente

Ciro Nogueira agradece à mãe por abastecer seu jatinho…

Tácio Lorran
Metrópoles

A senadora Eliane Nogueira (PP-PI), mãe do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), passou a usar sua cota parlamentar para alugar carro de luxo de empresa cujo dono é réu em ação de improbidade administrativa.  A parlamentar desembolsou, em dezembro de 2021 e janeiro de 2022, R$ 15 mil mensais para ter à sua disposição um Toyota SW4.

Eliane Nogueira chegou a ter, em um mesmo mês, quatro carros pagos com verba pública, incluindo um Nissan Sentra cedido pelo Senado Federal.

CONTAS DO JATINHO – Desde outubro, Eliane não gasta mais com combustível de aeronave, porque naquele mês o jornal Folha de S. Paulo revelou que o abastecimento do jatinho era feito em locais de agenda do filho.

Agora, o valor usado por Eliane Nogueira para alugar o Toyota é o mais caro entre todos os senadores que gastam com aluguel de automóvel, segundo dados de dezembro.

O dinheiro vai para a locadora de veículos Luauto Rent a Car LTDA, que tem como sócio-administrador o empresário Antônio Luis Ramos de Resende Júnior. Também conhecido como Júnior da Luauto, o empresário é réu em ação que tramita na Justiça do Piauí. Ele foi denunciado ao lado do ex-prefeito de Teresina (PI) Firmino Filho pelo Ministério Público do Piauí (MPPI), em 2016, devido a suposto superfaturamento de, no mínimo, R$ 1,4 milhão em um processo de desapropriação de terras em Teresina, capital do estado.

TUDO EM FAMÍLIA – Firmino morreu em abril do ano passado. Ele tinha o apoio de Ciro Nogueira para ser candidato a governador do Piauí, neste ano, pelo Partido Progressista (PP). A filha do ex-prefeito, a deputada estadual Lucy Soares (PP-PI), segue estritamente aliada à família Nogueira.

Os Nogueiras possuem ainda uma outra ligação com Júnior da Luauto. Ciro foi sócio de Humberto Costa e Castro, que administra a Parking Tower Estacionamentos ao lado de Resende Júnior. O quadro societário foi apurado por meio da Receita Federal e da Junta Comercial do Piauí.

Os pagamentos à Luauto podem ser comprovados nas notas apresentadas por Eliane Nogueira em sua prestação de contas. O Metrópoles fez um levantamento dos outros automóveis alugados no Senado e verificou se tratar do maior valor de cota parlamentar destinado para aluguel de carros. O senador Telmário Mota (Pros-RR) alugava uma caminhonete por R$ 18 mil ao mês, mas o desembolso foi cortado em julho, após reportagem do Metrópoles.

FROTA DA SENADORA – Já o Toyota SW4, que custa mais de R$ 300 mil no mercado, faz parte de uma lista de carros vinculados a Eliane Nogueira. Além dos R$ 15 mil, a senadora destina R$ 3,6 mil mensais para o aluguel de um Honda Civic. Em agosto, outubro e dezembro do ano passado, a congressista também chegou a alugar um Renegade Longitude por quase R$ 3 mil.

Ao Metrópoles o Senado confirmou ainda que a Eliane Nogueira usa também o carro oficial fornecido pela Casa, um luxuoso Sentra, no âmbito de um contrato de R$ 3,9 milhões.

 Dessa maneira, só em dezembro do ano passado, a mãe de Ciro Nogueira teve à sua disposição quatro carros pagos com dinheiro público – sem contar os dois veículos, um Toyota RAV4, no valor de R$ 101,9 mil, e um Jipe Pajero, de R$ 50,4 mil, que declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018, serem de sua propriedade.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– O fato é que a família Nogueira faz uso absolutamente abusivo do dinheiro público. Na vida privada, nem mãe nem filho desperdiçam com igual volúpia seus recursos pessoais. É claro que se trata de um meio de desviar e lavar dinheiro subtraído da verba a que todo senador tem dinheiro. Aliás, ninguém consegue explicar por que existem essas benesses e também por que até agora nenhum parlamentar foi preso por fazer mau uso desses recursos. (C.N.)


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