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domingo, março 06, 2022

Putin, o “farol” da extrema direita

 




Atualmente, o principal assessor de Valdimir Putin é o intelectual da extrema-direita Alexandre Dugin, considerado a bússola da política externa russa.

Por Ney Lopes* 

Esse ideólogo tradicionalista de direita, já veio ao Brasil várias vezes e segundo texto do jornalista Lucas Neiva fala português e desempenha papel semelhante ao de Olavo de Carvalho, como ideólogo do governo Bolsonaro.

Os dois chegaram a se conhecer, e escreveram juntos o livro Os Estados Unidos e A Nova Ordem Mundial.

Ambos lançam as mesmas acusações contra os mesmos inimigos internos: Olavo de Carvalho criou teorias de conspiração baseadas em um suposto conchavo pós-soviético, a qual atribui o nome de “globalistas”.

Dugin já afirma que o mundo é dominado por atlantistas, que seriam os líderes mundiais aliados dos Estados Unidos.

Olavo de Carvalho dizia que, com o fim do regime militar de 1964, as universidades brasileiras teriam sido infiltradas por agentes comunistas, tentando impor sua visão aos alunos.

Já Dugin acusa agentes capitalistas de se infiltrarem nas universidades russas, tentando impor o liberalismo americano no ambiente acadêmico russo.

Embora possam haver semelhanças em posições conservadoras e de extrema direita, Dugin e Carvalho discordaram.

O primeiro defende a China e o brasileiro era radicalmente pró-ocidental, ante comunista e ante-China.

O russo é criador da Quarta Teoria Política, em que defende alternativa às três ideologias que dominaram o século 20: liberalismo, comunismo e fascismo.

Nos anos 1990, Dugin era saudosista da URSS, tendo sido um dos fundadores do Partido Nacional Bolchevique.

Olavo de Carvalho recorria à doutrina católica para justificar suas posições, enquanto Dugin segue o mesmo caminho, buscando no cristianismo ortodoxo as explicações teológicas de sua doutrina.

Ao contrário de Olavo de Carvalho que influía à distância de Bolsonaro, Dugin está sempre no Kremlin e atua na política desde a década de 90.

Analistas comparam que a sua relação com Putin se assemelha com a relação entre o tzar Nicolau II e o monge Rasputin”.

Dugin afirmou à BBC ter sido um dos ideólogos por trás da anexação russa da Crimeia, até então pertencente à Ucrânia.

Não há dúvidas de que ele incentivou Putin invadir a Ucrânia.

O curioso é ser Putin considerado hoje o “farol” da extrema direita, financiando, ajudando e aproximando-se de líderes como Salvini (Itália) Marine Le Pen (França) e Viktor Orbán (Hungria).

Cabe lembrar a conhecida cordialidade do líder soviético com o ex-presidente Trump.

A afinidade do “tzar” soviético com esses líderes direitistas extremos é a defesa intransigente do uso da força militar, como único meio de governar com estabilidade.

A ofensiva de Putin desafia as democracias, diante de regime autoritário, que pretende levar às últimas consequências sua demonstração de poderio através das armas.

Os dirigentes russos dão o “recado” de que não pretendem dar ouvidos a apelos democráticos, como a soberania dos países e a valorização do diálogo diplomático.

Putin segue o roteiro das ditaduras: reprime à mão de ferro protestos contra a operação militar na Ucrânia, além de controlar as informações publicadas na imprensa.

Pelo visto, a “neutralidade” do Brasil no conflito da Ucrânia não é por acaso.

Tem origem e razão de ser.

*Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal 

Diário do Poder

As sanções contra a Rússia podem derrubar o sistema monetário internacional?

 





Efeito imediato das sanções à Rússia foi destacar o contínuo domínio dos EUA no sistema financeiro internacional

Por Jim O'Neill* (foto)

A selvagem batalha na Ucrânia levou muitos a se perguntarem se o suposto brilhantismo estratégico do presidente russo, Vladimir Putin, é tudo o que foi alardeado. Embora Putin tenha antecipado que a Otan não responderia militarmente à sua guerra, ele parece ter subestimado a capacidade de solidariedade do Ocidente.

Os Estados Unidos e seus aliados e parceiros já implementaram sanções econômicas e financeiras sem precedentes contra o regime de Putin, e a decisão de bloquear o banco central da Rússia aos mercados financeiros internacionais (congelando efetivamente as reservas cambiais do país) é sem dúvida um golpe de mestre.

É fato que a Rússia diversificou suas reservas em relação ao dólar nos últimos anos. Mas a julgar pela escala da resposta internacional e seu imediato impacto na economia russa, essa estratégia parece ter sido insuficiente para manter o acesso ao financiamento de que o país necessita.

Até a Suíça anunciou que participará do novo regime de sanções congelando ativos russos. A menos que a Rússia tenha consideráveis reservas em renminbi chinês ou moedas emitidas por outros países que ainda a apoiam, o aperto em sua economia será inevitável.

Qualquer que seja a resposta da Rússia, a questão agora é o que esses movimentos do Ocidente – e de quase todos os centros financeiros do mundo – significarão para os futuros assuntos monetários e o sistema monetário internacional.

Estamos testemunhando uma consolidação maior do poder dos Estados Unidos por meio do sistema dominado pelo dólar, ou este episódio preparará o cenário para o tipo de fragmentação monetária e financeira que alguns analistas há muito antecipam?

Não consigo me lembrar de um anúncio de política anterior que tenha aumentado as apostas monetárias globais tanto quanto este. O efeito imediato das sanções à Rússia foi destacar o contínuo domínio dos EUA.

Mas também pode forçar muitas economias emergentes a reconsiderarem a abordagem dos livros didáticos para construir reservas em moeda estrangeira para se proteger contra crises econômicas.

A necessidade de tal autosseguro foi a grande lição da crise financeira asiática de 1997-98. Mas agora que o banco central da Rússia perdeu a capacidade de converter suas moedas estrangeiras em rublos, a estratégia parece trazer alguns novos riscos.

Isso é particularmente verdadeiro para países cujas aspirações podem entrar em conflito com as normas predominantes no mundo democrático ocidental – como o fato de ameaçar e depois invadir um vizinho menor obviamente faz.

Não é preciso ser um pensador profundo para perceber que a China deve estar alarmada e descontente com a audácia da guerra da Rússia e da reação ocidental a ela. Se a China buscasse uma ação militar contra Taiwan, também poderia esperar perder muito de seu acesso ao sistema financeiro global.

Pode-se ver por que escapar dessa profunda dependência do sistema monetário controlado pelo Ocidente pode agora se tornar uma prioridade para alguns países.

Se renminbi, rublos, rúpias indianas e outras moedas fossem mais conversíveis para outros países, um sistema monetário internacional fundamentalmente diferente poderia emergir – um no qual os tipos de sanções impostas à Rússia não seriam tão eficazes.

Mas esse cenário permanece improvável, por duas razões interrelacionadas.

Primeiro, há uma razão pela qual a China não fez mais para promover o renminbi como moeda internacional. Nas muitas conferências sobre a ordem monetária global que participei, a mensagem dos estudiosos chineses tem sido clara: seu método preferido para melhorar o sistema atual é expandir o papel dos direitos especiais de saque, o ativo de reserva do Fundo Monetário Internacional.

Isso faz sentido quando se considera o que a internacionalização do renminbi implicaria. Como a China precisaria permitir muito mais liberdade no uso offshore de sua moeda, teria que abrir mão de sua capacidade de manter controles de capital.

Até agora, ela não estava disposta a fazer isso. No entanto, sem a liberalização da conta de capital, nenhum outro país – nem mesmo um tão financeiramente desesperado quanto a Rússia – gostaria de manter suas reservas em renminbi.

Em segundo lugar, mesmo que uma grande potência como a China respondesse às circunstâncias das mudanças de hoje por meio de grandes reformas financeiras, ainda teria que oferecer críveis garantias sobre a segurança e a liquidez das reservas mantidas fora das moedas ocidentais. Caso contrário, por que alguém correria o risco?

Mais uma vez, parece improvável que a China busque quaisquer reformas que exijam mudanças radicais em seu próprio modelo econômico e regulatório.

Se a China conseguisse aceitar esses desaforos e abrisse seu sistema financeiro, mudanças estruturais na ordem monetária global quase certamente se seguiriam.

Mas, mesmo nesse caso, as mudanças não aconteceriam a tempo de poupar a Rússia das consequências do comportamento pavoroso de seu presidente.

Tradução de Anna Maria Dalle Luche, Brazil

*Ex-presidente da Goldman Sachs Asset Management e ex-ministro do Tesouro do Reino Unido, é membro da Comissão Pan-Europeia de Saúde e Desenvolvimento Sustentável

InfoMoney

As consequências da posição dúbia do Brasil sobre a guerra

 




Diplomacia brasileira vota na ONU contra a invasão russa na Ucrânia, mas Bolsonaro declara postura de neutralidade frente ao conflito. Ficar em cima do muro pode cobrar um preço, avaliam especialistas.

Por Thomas Milz

Enquanto o Ocidente se mostra unido contra a invasão russa na Ucrânia, o posicionamento brasileiro oscila de forma surpreendente. "Existe uma postura bem ambígua, para não dizer esquizofrenia, por parte do governo brasileiro", afirma David Magalhães, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), à DW.

"No Conselho de Segurança, o governo já se juntou a outros países, num voto que foi bastante duro contra a Rússia." Por outro lado, o governo brasileiro não apoiou a declaração da Organização dos Estados Americanos que criticava a invasão russa.

Quando se olha para as manifestações pessoais de Bolsonaro, o panorama fica ainda mais confuso. "Na própria manifestação pessoal do presidente da República, ele tem se declarado neutro. Mas uma neutralidade que interpreto como sendo sensivelmente inclinada à Russia", diz Magalhães. 

Mas de onde vem essa esquizofrenia? Para o professor da FAAP, existe uma divisão dentro dos grupos bolsonaristas, e ela revela diferentes visões sobre o conflito. "Tem um núcleo que tem se inspirado na extrema direita ucraniana, que ascendeu com as manifestações do Euromaidan. Por outro lado, há grupos que se inspiram no regime do Putin, por se tratar de um regime autocrático, conservador, muito fortemente vinculado à igreja ortodoxa russa e contra direitos de minorias, como a comunidade LGBTQI+ e movimentos feministas."

"É uma base que chamo de um nacionalismo religioso cristão", resume Magalhães. Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pela figura de liderança autoritária de Putin, caraterizando o presidente russo como um líder conservador.

Sinuca de bico

Num panorama mais amplo, posicionar-se neste conflito coloca Bolsonaro em uma grande sinuca de bico. Se ele apoiar a Ucrânia, entra na foto com líderes que os bolsonaristas chamam de "globalistas", como Justin Trudeau, Joe Biden, Olaf Scholz ou Emmanuel Macron.

"Por outro lado, há uma certa desconfiança de assumir uma postura abertamente pró-Rússia, pois isso coloca Bolsonaro junto com a esquerda bolivariana, Cuba, Nicarágua e Venezuela, que representa de longe o inimigo número um do bolsonarismo. Isso gera um impasse, ou até uma paralisia em relação a como se posicionar nessa guerra."

Portanto, a neutralidade "esquizofrênica" de Bolsonaro, em certa medida e em partes, é produzido por esse constrangimento que vem de ambos os lados.

Como saída, o Brasil tenta assumir uma postura parecida com a da Índia. O voto do Brasil e o voto da Índia no Conselho de Segurança são muito parecidos, na forma e no conteúdo.

Para os russos, a neutralidade brasileira não traz problemas. "Poderia gerar um problema diplomático e nas relações econômicas com a Rússia se o Brasil se posicionar ou solidarizar com a Ucrânia ou veementemente contra a invasão russa. Aí poderia ter alguma retaliação no campo econômico", disse Magalhães. "Mas essa posição que o Brasil toma não traz prejuízo às relações bilaterais." 

Por outro lado, a inclinação pessoal de Bolsonaro para o lado russo gerará uma reação no Ocidente. "A imagem brasileira, que já não era boa na comunidade internacional, piora. Boa parte das democracias liberais no mundo rejeitam a agressão russa. E o Brasil se isola ainda mais com esse posicionamento bastante ambíguo."

Consequências econômicas

Para o economista João Ricardo Costa Filho, pesquisador na Universidade Nova de Lisboa, a posição de neutralidade não tem um efeito imediato sobre a economia brasileira.

"No curto prazo, o Brasil não tem nenhum tipo de risco, pois ninguém está muito preocupado com a posição do Brasil em relação a este conflito. Mas, dependendo de que lado vai vencer a guerra, a conta pode vir depois. E ela pode vir de diversas formas", avalia.

Para Costa Filho, poderá haver consequências para futuros acordos comerciais ou de investimentos estrangeiros. Isso seria o caso do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que está num limbo já há dois anos. Assim, a posição de neutralidade pode servir de argumento por aqueles agentes que já não estavam muito confortáveis com o acordo.

Na época, o acordo sofreu críticas vindas da União Europeia pela falta de proteção ambiental, principalmente da Amazônia, do lado do governo brasileiro. "Lá na frente, quando a gente precisar fazer andar estas agendas, pode tornar um pouco mais difícil."

Na falta de um acordo com os europeus, o Brasil poderia aumentar seu comércio com os países dos Brics, para contra-balancear? Para Costa Filho, não há muito potencial de crescimento por esse lado. "A China ja é um grande parceiro nosso, e a Rússia vai demorar para se recuperar. Seria difícil o Brasil se apoiar nestas trocas financeiras ou comerciais para sustentar um crescimento de longo prazo." Assim, o conflito trará menos crescimento e mais inflação para o Brasil, avalia Costa Filho.

Para o economista Joelson Sampaio, especialista em Finanças Corporativas e Mercados Financeiros pela Fundação Getúlio Vargas, a neutralidade não impacta no cenário econômico brasileiro a curto prazo. "Mas ficar em cima do muro pode ter impactos não tão imediatos. Seriam impactos diplomáticos-políticos, que depois chegam na economia", disse. O mais concreto seria uma deteriorização das relações comerciais com os Estados Unidos.

Por outro lado, os efeitos econômicos da guerra em si aconteceriam de qualquer forma, tais como aumento dos preços dos commodities e aumento da inflação no Brasil, avalia o especialista. Ao mesmo tempo, o aumento desses preços ajudaria as exportações brasileiras.

"Muitos economistas veem este efeito como um contra-balanceador para reduzir os impactos da guerra no Brasil. Por um lado, temos os desafios via preços, mas por outro lado podemos ter um favorecimento de exportação de commodities importantes para o Brasil, um aumento de volume com preços. E isso trazer resultados positivos para o Brasil."

Deutsche Welle

A guerra que o Ocidente poderia ter evitado




Cerca de 40% do gás natural europeu vem dos gasodutos controlados por oligarcas russos que respondem diretamente a Putin. 

Por Flavio Morgenstern (foto)

Havia uma grande preocupação entre os líderes da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, em julho de 2018. Os presidentes dos países da organização, criada em 1949 para deter o avanço soviético, estavam empenhados em evitar uma grande ameaça, que poderia paralisar o mundo: o aquecimento global.

O encontro na Otan parecia assumir que a instituição vivia uma crise de identidade: qual era, afinal, o objetivo de uma aliança militar criada contra os russos se nenhum líder ocidental parecia ver mais os russos como inimigos? Sem discutir sequer estratégias, era mais um dos vários encontros de líderes para discursar para a mídia, falando de problemas que só interessam à elite.

Naqueles tempos que parecem antigos, Donald Trump quebrou mais uma vez o protocolo. Ao encontrar-se com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, o então presidente norte-americano criticou o fato de a Alemanha pagar apenas 1% do seu PIB para a Otan, enquanto os EUA pagavam 4,2% de um PIB bem maior. O encontro inteiro, ao contrário do esperado, foi filmado para o público.

Mas havia uma crítica mais pesada: a Alemanha trocava o carvão e a base nuclear de sua indústria por modelos verdes — mais de um quarto da sua geração de energia é eólica. Mas mesmo Angela Merkel, uma engenheira nuclear convertida ao ambientalismo radical, não deixou de importar gás da Rússia pelo gasoduto russo-alemão Nord Stream desde 2011. Em uma aliança militar, Trump falou de impostos norte-americanos — mas também de uma crise séria, já que a Alemanha e a França estavam de mãos atadas graças ao gás do Gigante Branco.

Segundo Trump, a Otan deveria proteger os países europeus de sua dependência da Rússia, pois enriquecer e dar poder ao seu “algoz” era inaceitável. Gerhard Schröder, ex-chanceler alemão, depois de passar pelo banco de investimentos Rothschild & Co, havia se tornado presidente do conselho da Nord Stream AG, o que Trump considerava um conflito de interesses. Stoltenberg apenas afirmou que a Otan negociar com a Rússia tornava-a mais forte.

Histórico de trapalhadas

Naquele ano, a guerra russo-georgiana completava uma década, sem muita clareza para a Otan de quais conclusões deveria tomar sobre o conflito. Em 2009, no ano seguinte da guerra, o então presidente norte-americano, Barack Obama, iniciava sua política de reaproximação com a Rússia, chamada de “Reset”, com um tratado prometendo “Um Novo Começo” a partir do ano seguinte. Hillary Clinton, a secretária de Estado, ficou encarregada de entregar, em Genebra, um simbólico botão vermelho ao decano da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que ambos apertaram conjuntamente. Em uma gafe diplomática com caráter premonitório, além da palavra reset, estava escrito no botão também a transliteração para o russo — mas a palavra “peregruzka” inscrita, na verdade, significa “sobrecarregado”. Tal como a paciência russa com a fraqueza ocidental.

Líderes fracos facilitam ações de ditadores fortes

Este foi apenas mais um capítulo na longa série de erros do Ocidente — os países que podemos chamar de mais civilizados do mundo, hoje afogados em ideologia — ao lidar com o Grande Urso Branco que hoje ameaça a Ucrânia — e, por consequência, todo o mundo livre. Vladimir Putin havia aplicado seu conceito de “geografia sagrada”, uma interpretação do mundo a partir do poderio russo, que precisa ressurgir e “guiar” o planeta em um “novo começo” para o “século russo”. E viu na fraqueza de Obama, Hillary, Merkel e outros líderes ocidentais a prova suprema de que era hora de passar da economia para a ação militar.

O modelo de nacionalismo de Putin evoca um tribalismo primitivo não muito distante da mitologia reformada do nazismo, no qual os direitos individuais são sacrificados constantemente por uma mística “pátria mãe”. O apelo retórico a uma nova Rússia forte, anti-imperialista e antiliberal, encontra eco na esquerda radical que busca um controle da vida privada dos indivíduos como Lenin e Stalin o possuíam. Ao mesmo tempo, sua crítica à decadência ocidental e o retorno ao antigo Império Russo não raro granjeia apoio até mesmo na direita, totalmente desesperançosa de algum renascimento de valores espirituais no Ocidente.

Se Biden prometera, uma semana antes da invasão russa, que não envolveria tropas norte-americanas na Ucrânia (ao contrário de Síria, Líbia, Afeganistão, Iraque etc.), havia várias razões ocultas. Em primeiro lugar, o escândalo envolvendo o laptop de seu filho, Hunter Biden, entupido de segredos de Estado, que parecem incluir negociações das famílias Biden e Clinton com oligarcas ucranianos para lavagem de dinheiro do monopólio de gás na região. Mas também havia o fato de que a Europa está totalmente dependente da Rússia. Cerca de 40% do gás natural europeu vem dos gasodutos controlados por oligarcas russos que respondem diretamente a Putin.

Nas duas últimas décadas, a Europa diminuiu a produção e a importação de energias fósseis e de fonte nuclear para evitar o “aquecimento global”. Mesmo a energia eólica ou solar, que depende do clima (e cujos componentes são chineses), precisa de gás de reserva para não gerar apagões nos países mais ricos da Europa. E o veto ambientalista à compra de gás natural liquefeito (GNL) gera total dependência da Rússia — em vez de poder comprar gás da América. Qual desses países iria destruir sua economia e sua política para proteger a Ucrânia neste momento? Gerhard Schröder, na última semana, insistiu que a União Europeia não cortasse vínculos com a Rússia. Quem irá admitir agora que Trump estava certo na Otan há longevos quatro anos?

Uma medida que teria refreado os ímpetos de Vladimir Putin é um tabu entre norte-americanos — e misteriosamente não é comentada na mídia brasileira: as sanções que Donald Trump havia aprovado ao gasoduto Nord Stream 2, que poderiam ter feito Putin pensar duas vezes antes de se enfiar em uma guerra custosa agora. Biden revogou as sanções tão logo chegou ao poder, enquanto Trump afirmava que o gasoduto russo-alemão havia sido “o maior erro” de Angela Merkel.

Para compensar a falta de gás nos EUA e na Europa, bastaria ter continuado com o projeto do oleoduto Keystone, entre o Canadá e a América, mas grupos ambientalistas pressionaram Obama, em 2015, contra o uso de combustíveis fósseis que “aumentam o aquecimento global”, freando deliberadamente a sua construção. Apesar de Trump ter tentado retomar o projeto em 2017, Biden assinou uma ordem executiva no ano passado revogando a permissão. Hoje, Putin continua com praticamente um monopólio sobre a energia europeia. Os civis ucranianos que estão sendo mortos ao menos não sofrem com o aquecimento global.

Guerra agora, aquecimento global fica para depois

Vladimir significa “aquele que possui o mundo”. Há um dito usado como frase de autoajuda de banheiro, mas sem o qual é difícil sobreviver no complexo tabuleiro geopolítico: é preciso conhecer o inimigo. Os líderes ocidentais recentes — Obama, Biden, Merkel, Macron, Trudeau, Boris e companhia — não parecem grandes estudiosos de alguém capaz de “possuir o mundo” como Vladimir Putin. O que parecia o menos culto de todos, Donald Trump, foi quem melhor soube lidar com os russos: tratá-los como aliados temporários contra o Estado Islâmico, e ao mesmo tempo bombardear bases sírias quando a Rússia usava seu poderio para favorecer um ditador como Assad. É de fato risível pensar em Macron estudando o eurasianismo, ou em Kamala Harris tentando compreender a relação de Putin com Heidegger ou com a escola perenialista — bases intelectuais da sua política.

Putin não é alguém simples: Obama, por exemplo, acreditava que podia simplesmente deixá-lo feliz com uma política de “reset”, crendo que estaria tratando com um igual em termos do mundo democrático e liberal. Mas Putin — e os russos em geral — não fala literalmente a mesma língua e não tem os mesmos conceitos e objetivos. As relações diplomáticas entre os dois logo azedaram, e o autocrata russo só foi se tornando cada vez mais poderoso.

Putin iniciou a guerra na Ucrânia alegando pensar na “segurança da Rússia” (o que é mais ou menos o mesmo que o Brasil se preocupar com a segurança contra o Suriname). Putin fala até do “direito” dos ucranianos de se submeterem à Rússia. Mas, enquanto o Ocidente poderia ter feito muitas coisas contra o projeto militar, cultural e político de Putin se começasse a estudá-lo e compreendê-lo, os russos simplesmente anexam cidades e invadem países com bombas.

Alguma hora será urgente que o Ocidente se preocupe menos com banheiros trans, identidade de gênero nas Forças Armadas e pronomes neutros (a emissora de televisão norte-americana CBS chegou a reclamar da “transfobia” que mantinha uma “mulher trans” em Kiev por conta de leis discriminatórias) e mais em entender o que de fato está matando as pessoas. Talvez esta guerra seja mais urgente para salvar a humanidade do que painéis solares para evitar o aquecimento global.

Revista Oeste

A Rússia é culpada, sem adversativas




Por Carlos Alberto Sardenberg (foto)

Como não dá a menor atenção a questões ambientais, sociais e de sustentabilidade, o presidente Putin não percebeu a enorme mudança ocorrida nas corporações privadas ocidentais: a era da responsabilidade social. E, assim, cometeu o maior erro de cálculo de seu ataque à Ucrânia: não imaginou que as grandes multinacionais, envolvidas em negócios bilionários com o governo e empresas russas, pudessem aderir de maneira avassaladora às sanções contra o país.

Todas essas multinacionais estão perdendo muito dinheiro. A Embraer informou que não prestará mais assistência aos 30 aviões que voam na Rússia. Nem assistência técnica, nem fornecimento de peças. Logo, deixa de receber dólares por um serviço.

A BP simplesmente cancelou sua participação no capital de empresas petrolíferas russas — assimilando uma perda patrimonial de US$ 25 bilhões e perdendo acesso a importantes reservas de óleo e gás.

Por que fazem isso? Porque, no mundo corporativo contemporâneo, contam muito os valores éticos, a responsabilidade com o público e a sociedade.

Muita gente dizia que isso de ESG — environmental, social and governance — era puro marketing. Uma enganação para parecer politicamente correto. Mas o verdadeiro cancelamento que as multinacionais impuseram aos negócios com a Rússia teve efeitos devastadores. As ações das 11 maiores empresas russas listadas na Bolsa americana Dow Jones viraram pó. Uma queda de 98%!

Perderam riqueza empresas e pessoas russas, mas também empresas e pessoas do mundo ocidental.

As sanções de governos eram esperadas. Mesmo assim, foram mais fortes do que se imaginava e podem escalar com a proibição total de importação de petróleo e gás russos. A adesão tão completa das multinacionais — às vezes, mais forte que as governamentais — é a parte nova desta história.

O isolamento global imposto à Rússia é uma atitude ao mesmo tempo geopolítica e moral. É para dizer: não, a Rússia não pode invadir a Ucrânia e ponto final. A Rússia é a criminosa; a Ucrânia, a vítima. E a ordem jurídica internacional, tal como definida na Carta da ONU, também é vítima. A Rússia viola escandalosamente o princípio de integridade territorial.

São inteiramente equivocadas as análises segundo as quais a Rússia se sentiu ameaçada pelo avanço da União Europeia e da Otan na direção do Leste Europeu, dos ex-satélites soviéticos. Sei que gente bem-intencionada diz isso. Ainda assim, é um grave equívoco. E, sim, equivale a dar razão a Putin.

A Rússia não estava sob nenhuma ameaça militar. O que estava e está se desfazendo é a ideologia sustentada por Putin, segundo a qual os valores ocidentais —liberdade individual, direitos de minorias, imprensa e partidos livres e o modo ESG —estavam em colapso.

A tremenda reação do Ocidente provou o contrário. Assim, pessoal, nada de adversativas, nada de “mas, porém”.

Compreendo que muita gente não gosta de ver que o Ocidente está do lado certo desta vez. Como Lula. Ele disse no México que os presidentes “envolvidos” deveriam cessar a guerra. “Envolvidos” — eis uma expressão marota, para dizer o mínimo. A Ucrânia está envolvida na guerra ... como vítima. É o cúmulo do mau-caratismo pedir que ela, Ucrânia, cesse a guerra. E entregue tudo para o agressor?

Aliás, Bolsonaro também não condena a Rússia.

Também é equivocado — e maneira indireta de dar razão a Putin — dizer que é perigoso acuar o ditador russo. Trata-se do contrário: é perigoso para o mundo deixar que Putin execute seu imperialismo criminoso sem nenhuma oposição.

Os países do Leste Europeu que aderiram ou estão aderindo à União Europeia e à Otan o fizeram livremente. Nem precisa pensar muito para entender por quê. Você preferiria aliar-se a uma Europa democrática e rica ou a uma ditadura imperialista?

As sanções geram uma inflação mundial. Mas, como disse o presidente Zelensky, um dólar a mais no preço da gasolina não parece caro diante do crime cometido contra o povo ucraniano.

Só as sanções podem levar o povo russo a deter Putin. 

O Globo

Ameaça nuclear de Putin não deve ser desprezada pelo Ocidente - Editorial

 




Vladimir Putin tem feito esforço para espalhar o medo. Com uma regularidade quase cronometrada, alimenta o temor do perigo atômico. Ontem tropas russas assumiram o controle da maior usina nuclear da Europa, no sudeste da Ucrânia, depois de provocar incêndio no prédio. Submarinos nucleares russos fazem exercícios militares no norte do país. No último domingo, Putin ordenou que as forças nucleares russas entrassem em alerta máximo. No discurso veiculado no primeiro dia da invasão, prometeu “consequências nunca vistas antes” a quem tentasse impedir o avanço de suas tropas. Teria ele coragem para fazer o impensável?

É inegável que o risco nuclear aumentou. As tropas russas nem tinham cruzado a fronteira com a Ucrânia, e os integrantes do Boletim de Cientistas Atômicos, que criou o Relógio do Apocalipse para avaliar o risco de um cataclismo nuclear, já começavam a mexer nos ponteiros. É verdade que Putin pode estar blefando, mas a própria invasão da Ucrânia comprova que ele é imprevisível. Putin tenta culpar os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas está claro quem começou a agressão.

Essa imprevisibilidade impõe um dilema ao Ocidente. De um lado, qualquer reação mais forte aumenta o risco de um revide nuclear. De outro, quanto mais Putin insiste em suas ameaças, mais claro fica que deve ser confrontado. Ceder agora só adiará o problema. Na ausência de freios, ele certamente será encorajado a atacar com mais força.

Por isso, ao mesmo tempo que mantém a pressão, o Ocidente deve evitar que o conflito saia de controle. Os russos não precisam de seu arsenal atômico para derrotar os ucranianos. O risco é se sentirem ameaçados e decidirem pelo emprego de armas nucleares de uso tático, bombas construídas para uso em campos de batalha. Dependendo da força de explosão, elas podem destruir uma grande aglomeração de soldados e até uma cidade.

Líderes ocidentais precisam ser claros na comunicação para evitar confusões. “Intervenção” para os paranoicos militares russos tem vários significados. Voluntários vindos da Europa Ocidental para lutar na Ucrânia podem ser vistos como soldados disfarçados. Movimento de tropas em países da Otan pode ser interpretado como preparo ao combate. Nessa hora, canais diretos de comunicação são cruciais.

Mesmo que restrito, o uso de bombas nucleares jamais deve ser tolerado. A última vez em que isso ocorreu foi em 1945. Os desdobramentos, sabe-se desde então, são apocalípticos. O momento em que a humanidade esteve mais próxima da extinção foram duas semanas em 1962, durante a crise dos mísseis em Cuba. Hoje, um confronto nuclear ainda é improvável. Mas é preciso garantir que continue assim.

O Globo

Ocidente impotente perante campanha assassina de Putin




Deve-se agir com ainda mais cautela com Putin, por temores nucleares, ou detê-lo o quanto antes? Amargo é assistir de braços cruzados à morte da Ucrânia. Ou, pior ainda, cofinanciá-la.

Por Barbara Wesel (foto)

'Apesar de toda a solidariedade oferecida pela Europa, ucranianos estão tendo que lutar sozinhos'

Se fosse possível transformar manifestações de solidariedade em tanques blindados, lança-mísseis ou aviões de combate, talvez a situação da Ucrânia fosse menos desesperadora. Como está, vemos um excesso de grandes palavras e uma carência de ajuda militar efetiva. E nossos políticos nos preparam para aceitar que as atuais imagens de horror do país invadido são apenas o começo.

Após seu telefonema mais recente com Vladimir Putin, a formulação do presidente francês, Emnanuel Macron, foi quase literalmente a mesma que a do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na sexta-feira (04/03): "Vai ficar ainda pior."

Os militares partem do princípio que em breve o exército russo intensificará os bombardeios e os disparos contra a população civil. Pessimistas temem que Putin vá reduzir Kiev a destroços e cinzas, seguindo o modelo da destruição total de Grozny, em 1999, quando, sob comando do senhor de guerra, as forças armadas russas transformaram da capital tchetchena num deserto de ruínas.

Otan não pode atacar

Com esse pesadelo perante os olhos, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem apelado repetidamente por uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. E a Otan repetidamente tem que responder: "Não podemos!" Isso significaria a confrontação militar direta com a Rússia, e eclodiria a Terceira Guerra Mundial.

Putin já nos lembrou de suas armas nucleares e insinuou que talvez chegue às últimas consequências para tornar realidade seu desvario de um reino pan-russo, com a anexação da Ucrânia. No entanto, a aparente irracionalidade do chefe do Kremlin, sua loucura real ou fingida, não passa de mais um recurso para nos deixar inseguros.

Alguns observadores acham até que a aliança ocidental deveria se comportar com cautela ainda maior, a fim de evitar o apocalipse nuclear. Putin poderia interpretar até mesmo o fornecimento de armas como uma ultrapassagem da "linha vermelha", dizem.

Em contrapartida, os Estados Unidos creem ser preciso deter o lider russo agora, para que ele não abra a "caixa de Pandora", com ainda mais guerra e instabilidade, como disse o secretário de Estado Antony Blinken. Do mesmo modo que muitos europeus, ele parte do princípio que Putin atacará ainda outros países europeus: Geórgia, Modávia e os Estados bálticos.

As nações ocidentais reagiram com as sanções econômicas mais duras e mais imediatas de sua história. Mas se quisermos deter a campanha de destruição de Putin, vai ser preciso apertar mais ainda os parafusos. Para o início da segunda semana de fevereiro, a União Europeia anunciou a suspensão de ainda mais bancos, do tráfego marítimo e de diversas importações.

Ocidente financia a guerra de Putin

Depois disso, como último recurso, só restará sustar as importações de petróleo, gás e carvão mineral russos, No entanto, a medida abalará tanto as economias nacionais quanto a paz social de nossos países. Mas em caso de dúvida, teremos que encarar isso, já que todas as outras opções são piores.

Pois, continuando a comprar petróleo e gás russos, estamos financiando a guerra de Putin. Mesmo que a primeira rodada de sanções já tenha paralisado o Banco Central da Rússia, Moscou embolsa centenas de milhões de dólares por dia em seus negócios conosco.

Só se fecharmos essa torneira, deixando Putin sem nenhuma fonte de divisas e sem acesso a suas reservas, talvez ele se sente à mesa de negociações. Entretanto nem mesmo tais sanções extremas servirão à Ucrânia no curto prazo.

Assistindo à morte da Ucrânia

Em todos os outros aspectos, a UE, com frequência tão conflituosa, supera todas as expectativas: sem burocracia, ela oferece proteção a todos os refugiados, e a gigantesca solidariedade humana é emocionante e afetuosa. Os europeus fornecem dinheiro, armas e prestam ajuda humanitária ao povo do país vizinho sob ataque.

Nos limites do possível, as cidadãs e cidadãos da Europa fazem tudo, também por perceber que essa guerra é um ataque contra todos nós, nossa forma de vida liberal, democrática. E porque a inimaginável valentia dos ucranianos sacode quem acredita que a partir do sofá da sala possa dar a sua contribuição pela segurança do nosso futuro.

Contudo, se a intenção de Putin for, de fato, arrasar à base de bombas a capital ucraniana, com suas cúpulas douradas, seu palácio do governo, o heroico presidente Volodimir Zelenski e seus mais de 3 milhões de cidadãos, no fim de contas só vamos mesmo poder assistir.

E essa sensação de nossa impotência, de sermos observadores de mãos atadas da campanha assassina de Putin... vai ser terrivelmente amargo.

*Barbara Wesel é jornalista da DW. 

Deutsche Welle

Onde ficam usinas nucleares da Ucrânia?




Um prédio administrativo da usina nuclear de Zaporizhia foi danificado após o ataque.

O ataque russo à usina nuclear Zaporizhia, no sudeste da Ucrânia, foi considerado um ato sem precedentes.

Uma ação militar, em meio à invasão da Ucrânia, deixou "vários mortos e feridos", segundo o Ministério das Relações Exteriores do país.

"Sobrevivemos a uma noite que poderia ter interrompido o curso da história, a história da Ucrânia, a história da Europa", disse o presidente Volodymyr Zelensky.

O fogo foi controlado, e a integridade da planta está garantida, segundo autoridades e especialistas. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que a radiação é mantida em níveis normais.

Zaporizhia é uma das várias usinas nucleares da Ucrânia. No total, são quatro plantas ativas, com 15 reatores: 4 em Rivne, 2 em Khmeltniski (outros dois estavam em construção), 3 na Sul da Ucrânia e 6 em Zaporizhia.

Em seu território, também estão os restos da usina soviética de Chernobyl, com seus quatro reatores, hoje desativados.

O local está sob proteção especial após a desastrosa explosão de 1986, que causou a liberação de radioatividade em grande parte da Europa e deixou dezenas de milhares de vítimas.

Na Ucrânia, a energia nuclear tornou-se cada vez mais importante para o fornecimento de energia do país.

Em 2014, grupos separatistas apoiados pela Rússia assumiram o controle da grande região produtora de carvão de Donbas, no sul. Até então, o carvão gerava 41% da energia do país.

É por isso que o país recorreu à energia nuclear, bem como a outras fontes renováveis, para compensar o déficit. A energia nuclear atualmente gera quase metade da eletricidade que a Ucrânia usa.

O país também possui locais de descarte radioativo que armazenam resíduos de operações de usinas nucleares.

O que aconteceria em um ataque direto ao reator?

Claire Corkhill, especialista em materiais nucleares da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, diz à BBC que existem vários mecanismos para evitar riscos de radioatividade.

"Se houvesse um incêndio dentro do prédio do reator, os sistemas automáticos de segurança o extinguiriam instantaneamente", explica ele.

"Os próprios prédios dos reatores são bastante robustos, então o combustível nuclear deve ser bastante seguro lá.

Uma explosão só aconteceria se houvesse um colapso nuclear, que poderia ser causado por uma falha no fornecimento de eletricidade para o local e danos nos geradores de reserva.

Somente se isso acontecer em uma usina nuclear em funcionamento, "poderia haver uma explosão como a que aconteceu em Fukushima" em 2011.

Se o reator - o dispositivo que gera energia em uma usina nuclear - e o prédio que o abriga foram danificados, isso pode causar o superaquecimento do reator e derreter o núcleo.

Se as pessoas forem expostas a essa radiação, isso poderia causar sérios impactos imediatos e de longo prazo em sua saúde, incluindo câncer.

Foi o que aconteceu em Chernobyl, no pior incidente nuclear da história.

'Russos assumiram o controle da extinta usina nuclear de Chernobyl, pior acidente nuclear da história'

Em Zaporizhia, apenas o reator 4 estava operando com 60% da capacidade no momento do ataque. Foi então desligado, o que significa que um colapso nuclear não poderia ter ocorrido depois.

Os reatores 5 e 6 estavam "em espera", que é um regime de baixa potência, informou a AIEA.

As usinas são um alvo?

O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, assegurou que as tropas de seu país assumiram o controle da usina Zaporizhia para "garantir" eletricidade para os civis.

No entanto, desde o início do conflito, a Ucrânia expressou preocupação de que Moscou esteja tentando obter o controle das usinas e seus materiais nucleares.

Graham Allison, especialista em segurança nuclear da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, disse à BBC que, em vez de um ataque direto à usina nuclear, era mais provável que as forças russas estivessem tentando "cortar o fornecimento de eletricidade na área circundante".

Para Corkhill, o que está acontecendo é perigoso. "Falando de forma mais geral, devemos nos preocupar que as instalações nucleares sejam alvos militares, porque existem riscos reais de um acidente nuclear."

BBC Brasil

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